Category Archives: Ancora
Crucial instrumento náutico. Permite fixar navios em posições sob fundos rochosos, lodosos ou arenosos. Geralmente fabricada em metal, é constituída por uma haste principal. Numa das extremidades são ligados os braços pontiagudos para penetração no fundo ou fixação sob rochas. Na extremidade oposta da haste, o arnete permite a fixação da amarra que liga a âncora ao navio.
Soltura dos Coelhões!
Mais um ano passou, é chegada a altura do coelho sair da toca. Existe no entanto algum receio de que este possa estar contaminado com zoonose perigosa, pelo que ainda se avalia se será recebido a foguetes de celebração ou a tiros de exterminação.
Mas chega de futurologia. Centremo-nos por agora naquele que foi o nosso passado recente.
NOTA: este post resulta de uma compilação do que de mais significativo se passou relativamente à gestão pandémica. Para mais detalhes e resumos semanais deve ser seguido o nosso canal telegram https://t.me/aoleme
Em Portugal
O ano começou com a aplicação em barda das doses de reforço, que chegaram às 6 milhões, centenas de milhares de testes diários e mais de meio milhão de pessoas em isolamento profilático. Apesar do cenário pandémico, as eleições foram consideradas o mais importante, com o direito de voto a sobrepor-se às medidas de prevenção.
Progressivamente, até meados do ano, foram abandonadas praticamente todas as medidas e restrições, o que muito agradou ao país, apesar de desagradar a alguns especialistas. Para os colocar no lugar, o nosso querido Marcelo faz questão de relembrar que as decisões a respeitar são as do poder político, não o opinanço dos especialistas. Em Maio, apesar da alta taxa de vacinação estavamos na frente do pelotão de casos activos. Em Setembro considera-se que a maioria da população tem anticorpos activos e que por isso podemos estar mais descansados. Em Outubro dados do Infarmed indicam que foram registados 38.000 casos de reacções adversas à vacina. Tendo em conta que apenas 1% a 10% dos casos são reportados, podemos de forma grosseira multiplicar no mínimo por 10 este número. Em início de Dezembro a DGS recomenda a vacinação de crianças dos 5 aos 11 anos para logo na semana seguinte alertar para possíveis sintomas de miocardite e pericardite em crianças, até 14 dias depois da toma, pedindo também para espaçar com toma de outras vacinas já que não se conhece ainda a interacção entre elas. As urgências ao longo do ano tem estado assoberbadas, agravando-se no final do ano com especial incidência nas camadas jovens.
Em Abril começou a notar-se uma tendência anormal de mortalidade excessiva, reforçada em Maio, justificada pelo calor em Julho, mais escrutinada em Agosto, voltando a referir-se os números diários muito anormais em Dezembro. Ou seja, estamos a falecer bastante, até 40% acima da média, não se sabe bem porquê mas também não é muito importante, sobretudo se não se der destaque a isso, não vão as pessoas começar a usar a cabeça para tentar perceber que causas potenciais poderão afectar a maioria da população.
Em Maio foi publicado o documento resultante do Anteprojecto de Lei de Protecção em Emergência de Saúde Pública, que basicamente procura agilizar e legitimar a adopção de algumas medidas de emergência sanitária, que hoje atropelam direitos constitucionais. Em Julho o Tribunal Constitucional conclui que foram declaradas quarentenas e confinamentos de forma inconstitucional. Eis que em Novembro a revisão da constituição é repescada para a ribalta, com enfoque também na actuação em emergência sanitária. Mais ou menos na mesma altura em que são anuladas as multas, passadas pela ASAE, por não conformidade com regras decretadas durante a pandemia. Em Dezembro Marta Temido, que atravessou toda a gestão pandémica, é nomeada para vice-presidente da comissão de eventual revisão constitucional.
A Nível Internacional
Tal como em Portugal o ano começou intenso, ocorrendo um progressivo desagravar das medidas e restrições em vigor, até meados do ano. Velocidades diferentes em cada país e continente, convergindo no sentido de deixar de ser uma preocupação urgente. Vários países passaram inclusive a desaconselhar a toma de vacinas a várias faixas etárias.
Ocorreram ao longo do ano manifestações significativas (Alemanha, Reino Unido, Áustria, Bélgica, Austrália, Canadá, etc) por saturação para com medidas restritivas, recusa ao uso de certificado digital e à possibilidade de decreto de vacinação obrigatória (sectorial e/ou total). Na Áustria a lei de vacinação obrigatória esteve em vigor menos de um mês sem qualquer impacto no aumento das taxas de vacinação. Na Nova Zelândia foi considerada ilegal. Parte significativa do pessoal da área de saúde recusa também a toma das vacinas, apesar da coação e ameaça de despedimento.
Apesar do incentivo à vacinação continuada, as doses de reforço acabaram por deixar de ter tanta procura com centenas de milhões a terem de ser destruídas a nível mundial, por falta de adopção pela população. Estranhamente países com baixa taxa de vacinação, como Nigéria e Ucrânia, não são assolados por picos de infecção nem de mortandade. Nesta última, devido a condições impostas pela guerra, esperava-se uma catástrofe epidémica que felizmente não se verificou.
Autoridades de vários países, até a própria OMS, adoptam narrativas que estigmatizam e demonizam os que se opõem a medidas restritivas da liberdade e não aceitam imposição de testes e vacinação sobre si, rotulando-os de anti-vaxxers, termo que colam a extrema-direita, radicais, terroristas, etc. Além de declarações públicas é feito o cancelamento digital com anulação de contas em várias plataformas e/ou censura de conteúdos. Estes grupos estimam de forma científica e estatística que existem já dezenas de milhões de mortos devido a vacinas.
Em Outubro Presidente da Pfizer não comparece em audiência requerida por Comité do Parlamento Europeu. A representante por si enviada pouco desenvolveu nas respostas às questões colocadas, mesmo assim foram dados sinais preocupantes da forma como foi conduzido o processo de desenvolvimento, aprovação e contratação das vacinas. Por exemplo foi assumido que não se testou se a vacina funcionaria como meio de paragem da transmissão e não se explica como as vacinas foram investigadas e desenvolvidas antes do surgimento do vírus.
OMS criou este ano um comité para rever e optimizar procedimentos a aplicar em futuras pandemias. Esperam reestruturar e criar um guião de resposta internacional coesa que possa ser aplicada já em 2024.
Tal como em Portugal a mortalidade excessiva é um flagelo que está a atingir várias partes do mundo como USA, Alemanha, Austrália, Reino Unido, etc, sendo o síndrome de morte súbita, que engloba todas as mortes repentinas sem explicação causística, apontado como o principal responsável.
Neste momento a anulação da política Zero Casos praticada pela China, tão criticada pelo Ocidente, aparenta ter despoletado um descontrolo de novos casos, hospitalizações e óbitos naquela nação. O que deixa o mundo algo apreensivo devido ao simbolismo de ali, em 2019, mais ou menos na mesma altura, assim se ter iniciado a pandemia. Passados quase três anos ainda não existe um alinhamento sobre o que fazer relativamente a voos oriundos da China. Ou seja, no virar de ano somos assombrados pelo fantasma da repetição de tudo o que esquecemos nos últimos 6 meses.
Além de tudo isto em Fevereiro inicia-se a invasão Russa da Ucrânia, que perdura até hoje, sendo a grande influenciadora da disrupção energética e financeira mundial, sobretudo a nível europeu. Projecta-se que o real impacto dos efeitos colaterais desta guerra só serão sentidos em 2023.
A importância deste balanço é o tomar consciência de que, infelizmente, este é um tema que vai estar presente em 2023, ao contrário da promoção de uma apaziguadora amnistia, temos a obrigação moral de buscar o pleno entendimento de tudo o que foi decidido, como o foi, e suas repercussões futuras.
De 2020 a 2022 descobrimos que grande parte do mundo está disposta a atropelar direitos de soberania individual, impondo a adopção de actos médicos ineficazes e/ou experimentais, sob pena de discriminação legitimada ou mesmo criminalização a quem se recuse a fazê-lo. Para uma minoria foi um choque perceber isto, que existe uma ténue linha a servir de fronteira entre a sã convivência e uma tirania totalitária. Depois do choque inicial nada mais há a fazer do que encarar o acontecimento como um estímulo à transformação pessoal e colectiva, que permita criar as ferramentas capazes de travar, de forma mais salutar e eficaz, as futuras tentativas de abusos similares.
2023 será seguramente um ano complexo durante a primeira metade. Esperemos que a segunda metade seja auspiciosa e o verdadeiro virar de página de um dos períodos mais deprimentes da nossa geração.
2020 – O Reset
Este foi sem margem para dúvidas o ano de arranque da refundação da nossa sociedade e economia. A engrenagem parou de forma voluntária, supostamente doesse a quem doesse, apesar de acabar sempre por doer mais a uns do que a outros, sectores e investimentos completamente arrasados, coletes salva-vida apetrechados, numa espiral descendente de troca de direitos e liberdades fundamentais, tudo por uma prometida/ilusória preservação individual e coletiva.
Apesar do alívio de uma vindoura e progressiva salvação vaciNacional este rolo compressor de pânico ainda não terminou. A primeira metade de 2021 continuará com as ondas de choque pandémicas antes do momento de refundação sócio-económica.
Que exigente será 2021 para cada um de nós! Quão difícil será manter a sagacidade, encontrar a informação fidedigna e isenta de quaisquer interesses. 2020 foi o ano em que descaradamente ficou evidente a manipulação instrumentalizada por canais “informativos”, a filtragem delineada por ferramentas sociais, numa pretensa boa acção na ótica da defesa do bem estar comum, da proteção dos cidadãos da sua suposta imbecilidade e vulnerabilidade às sofisticadas “fake news”. Vivemos um longo período de perfeitamente seguras “right news” que garantiram confinamentos a larga escala sem contestação de relevo.
Para trás ficam outros factos, outros entendimentos, outra informação sobre saúde. Não são necessários, já temos vacina, poderemos tê-la todos os anos em resposta a novas estirpes, acima de tudo poderemos facilmente criar mecanismos para proteger os bons cidadãos dos mais incautos.
E assim começou o grande Reset. O momento em que se definirá o futuro. Este será baseado em acefalia crente nas narrativas de entidades “de confiança” ou na irreverência intelectual dos que ousam questionar a solução imediata, requerendo confrontação de factos e projecções. Apesar da clara vantagem da primeira creio que a segunda se tem vindo a fortalecer, podendo vir a afirmar-se de forma inesperada na hora H.
Uníssona será apenas a celebração de hoje. Brindemos por um novo e melhor ano! Que vença a facção mais acertada e produtiva para a construção de uma melhor humanidade.

Lições Confinadas
Os telejornais voltam a dar prime time aos crimes, ao futebol, aos escândalos popularuchos, é um bom sinal, de retoma da anormalidade pré-pandémica.
Foram largos dias de isolamento social, propícios ao cultivar de pensamentos por aqueles que conseguem escapar aos grilhões dos media e sua fábrica de realidade desejada.
No decorrer desse processo passei por estas estações de raciocínio.
Dissonância Imunitária
Os maiores grupos de risco padecem de más condições de saúde, associadas a continuados maus hábitos de vida ao longo de décadas. Estima-se que milhões de Portugueses compõem estes grupos de risco.
A solução não tem passado por promoção da correcção de hábitos de vida, sobretudo alimentares, mas sim por uma promessa de vacina que possibilitará que tudo volte ao normal, o retomar de uma voracidade egocêntrica que mina corpo e planeta. Estão dispostos a sequestrar Portugal até que a vacina obrigatória seja aplicada a nível mundial. Revelam-se autênticas bestas mediáticas no domínio das redes sociais
Na ponta oposta existe população Portuguesa, consciente do seu impacto no mundo e do que é cuidar do seu corpo, de forma natural e saudável. São pessoas estranhas que não entram em histeria colectiva, confiam no seu sistema imunitário e não temem as circunstâncias da vida. Acham ridículo que o medo de um inimigo invisível se sobreponha à alegria de um mundo palpável. Desligaram TV, cumprem ao mínimo as medidas impostas, apenas para não alarmar em demasia os demais. Não se dá por eles a não ser talvez no bronze, sorriso despreocupado e brilho nos olhos.
Estes dois grupos chocaram em conversas informais, a nível social ou familiar, podendo muito bem ter-se definido um novo tema fracturante muito mais poderoso do que a discussão de futebol, religião ou política.
O Despertar da Animália
A maioria de nós fará vida num raio de dezenas de kilómetros, percorridos de viatura própria ou transportes. Neste momento a maioria passou semanas no seu reduto de poucos m2. A neura está instalada. Anseia-se por esticar as pernas, sol, ar, liberdade.
Ao mesmo tempo que animais silvestres invadiram espaços urbanos, fazendo uso da oportunidade proporcionada pelo confinamento humano, outros animais “selvagens” continuam confinados nos zoos urbanos. Animais que no seu habitat natural percorrem centenas ou milhares de km pelos seus próprios meios, em espaços amplos e serenos.
Será esta uma oportunidade para que o animal humano sinta empatia para com os animais que aprisiona? Far-se-á um click de conexão sempre que passe a observar um animal enclausurado para divertimento ou exploração humana? Ou continuará a considerar que a liberdade é um direito reservado à divina espécie humana?
Anti-Especialíssimos
Para um leitor atento, que se sirva várias fontes de informação, que tenha acompanhado a situação nacional e internacional, é claro que a governação e comunidade científica patinaram em muitos aspectos, focando-se em fazer algo rápido e vistoso em detrimento de entendimento detalhado da situação e tomada de decisões ponderadas.
Existem prémios nobel a favor e contra o confinamento e reclusão social, existem países que fecharam a economia, países que não fecharam e países ainda perdidos no meio, estatísticas a serem interpretadas e comunicadas pelo prisma que mais corrobore as opções tomadas.
O motor de todas as decisões são especialistas, parece que cada governo tem os seus e que podem ter conclusões muito distintas, algo estranho para exercício de ciência.
O mundo não pode estar na mão de um punhado de “especialistas” nomeados, o mundo deve aproveitar o oceano de especialistas existente, fornecer-lhes a informação necessária, promover discussão e deliberação como uma consciência colectiva. Não pode haver um, dez ou vinte, haverão centenas ou milhares só em Portugal, gente de laboratório, gente académica e gente de terreno. Será um desafio para o futuro auscultar este saber distribuído e não confiar meramente em especialíssimos especialistas.
Isto não quer necessariamente dizer que se chegue a consenso e definição de uma única rota, que bom seria ter um mapa de múltiplas rotas, cada uma das quais indicada como a mais curta, a mais rápida, a mais económica, etc.
Desmascarar
Tendo em conta o atabalhoamento e pressa não posso deixar de sentir que o uso coercivo de máscaras e desinfectantes made in portugal são uma forma elegante de compensar um pouco a economia, se consumirmos muito esses consumíveis pode ser que aqueles que se adaptaram consigam prosperar e manter empregos até isto se ajeitar.
Quando os analistas de fundo fizerem o seu trabalho, reavaliarem taxa de mortalidade e perigosidade do vírus, desempenho dos países que confinaram vs os que mantiveram actividade, custos económicos e de vidas das opções tomadas, veremos se caiem as máscaras aos nossos especialistas e a todos os que cegamente seguiram as directrizes do terror.
Psicologia do Cumprimento de Cenário
Lançado em 1982, o USS Vincennes (CG-49) foi um Cruzador da Classe Ticonderoga, terceiro navio da US Navy equipado com o sistema de combate Aegis. Em 1988, em plena guerra Irão-Iraque o navio foi enviado para o Golfo Pérsico, missão durante a qual se tornaria tragicamente célebre, ao despropositadamente abater um avião comercial a 3 de Julho de 1988. A aeronave, um Airbus A300 da Iran Airways, matricula EP-IBU, realizava o voo 655, com origem no aeroporto de Bandar Abbas no Irão e com 290 pessoas a bordo. Nenhum sobreviveu.
Importa explicar que o aeroporto em causa também é utilizado pelos militares iranianos. Acresce que a região era, é e será um dos pontos mais “quentes” do planeta (assim continuará enquanto o mundo se mover a petróleo), pelo que o contexto em que o navio operava era bastante hostil, logo propenso a precipitações e mal-entendidos. Como sempre acontece nestas tragédias, as nações envolvidas trocam acusações, negam responsabilidades e apresentam dados contraditórios. Qualquer entendimento, reparação de danos ou pedido de desculpa leva anos, podendo até nunca acontecer. No caso, as famílias das vítimas foram indemnizadas pelos Estado Unidos da América, os militares envolvidos foram condecorados e nunca foi apresentado nenhum pedido formal de desculpas. Para a história fica a explicação que foi dada para o sucedido – Scenario Fulfillment, em português Cumprimento de Cenário, i.e., o fenómeno psicológico que precipita a concretização das condições exaustivamente treinadas: Perante situações similares, os automatismos tomam o controlo do discernimento. Assim foi, aquilo que a guarnição e o comandante viram nos seus monitores não foi aquilo que o sofisticado sistema Aegis lhes mostrava. Reagindo ao treino que receberam, tomaram a decisão que deles se esperava.
Por vezes este tipo de fenómeno ocorre no conforto das nossas casas, quando mesmo sem todos os factos, tomamos como certo aquilo que os dados não confirmam.
O Aplauso dos Inocentes
Em resultado da fuga a todo o custo, do contrair de enfermidade severa, é a febre da cabine que avança, indomável sobre a guarnição. Nem toda, pois alguns bravos garantem a flutuabilidade, o guarnecer das refeições, o alinhamento de velas e leme para que não se perca o rumo.
Em isolamento social, voluntário mesmo antes do imposto pela capitania, do alto da gávea condicionada, da janela das cabines cerradas, os mais ilustres, os mais afortunados e os mais vulneráveis aplaudem os seus heróis, mesmo antes do início da odisseia que se prevê atribulada e perigosa. Tal entusiasmo só rivaliza na história com o gáudio das elites romanas, ao encorajar as fileiras de gladiadores que entravam na arena do coliseu. Ambos dispostos a dar tudo pelos outros.
Esses “heróis”, que não o escolheram ser, apenas calhou de originalmente exercerem essas tarefas, trabalharão a dobrar, com risco acrescido, compensando as lacunas, satisfazendo a demanda, daqueles cujo ofício não interfere com o cumprir do serviço mínimo obrigatório à continuidade da navegação.
Rumo a 2017
Chega hoje a noite de tréguas. A noite em que se descarta tudo o que se passou no ano transacto, em que acreditamos que o ano vindouro será sempre melhor.
Ao contrário do que aconteceu internacionalmente, a nível nacional 2016 foi um ano aparentemente menos turbulento, talvez porque se mudou a forma de gerir a comunicação governamental, talvez porque se mudou a forma de noticiar, talvez porque estejamos melhores, talvez porque este tenha sido um ano de construção de novas fundações e não de cobrança de resultados.
Nós por cá navegámos em patrulha, contra correntes de pensamento, tentando agitar as águas, disparando os canhões e torpedos à nossa disposição, procurando alertar para os perigosos submarinos que se escondem sob inócuos periscópios sonda da consciência da sociedade civil.
Tão contranatura como a estabilidade da nau Geringonça, tão incompreensível como a manutenção de Passos Coelho ao leme do navio social democrata e tão (ou mais!) inacreditável como a chegada a bom porto da candidatura de Trump nas presidenciais norte-americanas, o crescimento de nosso blog é um mistério absolutamente inexplicável à luz da racionalidade.
Provavelmente, está tudo relacionado e mesmo que nem todos os supracitados fenómenos nos agradem, apraz-nos a recepção tida em 2016 às dissertações da nossa guarnição, com um aumento de 41% de visitas ao blog e de 70% de seguidores em Facebook, pelo que cá estaremos para vos acompanhar na vivência de um novo e maravilhoso ano de navegação e combate marítimo.
Resta-nos desejar uma boa saída de 2016 e melhor entrada em 2017 a todos.
USS Zumwalt (DDG-1000)
Recentemente adicionado ao efectivo, o ultra moderno e complexo contratorpedeiro da marinha norte-americana USS Zumwalt (DDG-1000) partiu da costa leste em direcção à sua futura base na costa oeste, em San Diego. Atravessava o canal do Panamá quando, vítima da sua sofisticação avariou e parou, sem capacidade de se mover. Já no passado mês de Setembro a mesma avaria obrigou a uma reparação de dez dias, operação que ditou o cancelamento de alguns dos testes de mar agendados, por forma a cumprir com a data de comissionamento prevista, o que ocorreu a 15 de Outubro deste ano. Lá estiveram muitos ilustres e claro, as madrinhas, as filhas do antigo Chefe de Operações Navais, em honra do qual o navio foi baptizado, o Almirante Elmo Zumwalt. Houve festa, música e champanhe. Ouviu-se o tradicional “Man your ship and bring her to life”. Assim fez o capitão James Kirk – deu ordem à guarnição para embarcar e dar vida ao navio, qual Star Trek a remos.
O primeiro de apenas três navios da classe, não terá ainda bem definida a sua missão. Concebidos para operar perto da costa, sobretudo apoiando acções de desembarque, estes navios não estão preparados para combate em águas profundas. Por outro lado, o elevado custo (22 mil milhões de dólares) constituí uma generosíssima fatia no orçamento da Marinha americana, ditando o adiamento ou mesmo cancelamento da modernização das frotas de Contratorpedeiros e Cruzadores lançadores de mísseis (Classes Arleigh Burke e Ticonderoga), condenando-os a uma obsolescência precoce por incapacidade de se defenderem dos novos mísseis balísticos e de cruzeiro supersónicos das marinhas Chinesa e Russa.
Carenciada de navios de superfície para integrar os grupos de combate liderados pelos seus porta-aviões nucleares, dir-se-ia que a US Navy está hoje refém de brinquedos caros e inúteis…
USS Constitution
Com o fim da Revolução Americana e a Independência dos Estados Unidos, a frota mercante Americana deixou de usufruir da protecção da Royal Navy. Outrora salvaguardada pela dissuasão do poder naval britânico, a nação americana viu-se então, e pela primeira vez, à mercê da pirataria. Em resposta, o Congresso Americano promulgou o Naval Act de 1794, o qual lançou as bases para criação da primeira força naval permanente dos Estados Unidos da América. Foram então encomendadas seis Fragatas, quatro delas com 44 canhões e duas mais ligeiras, “apenas” com 36 peças de artilharia. Construídas em madeira, combinando madeiras secas e verdes, sobretudo Carvalho e Pinho, eram navios robustos, com suficiente poder de fogo para enfrentar qualquer Fragata inimiga. Contudo, nenhum deles podia ombrear com os poderosíssimos navios de linha das marinhas europeias, embate que no entanto poderia ser evitado graças à sua rapidez e agilidade de manobra.
De entre estes seis navios, apenas o USS Constitution sobreviveu até aos nossos dias. Baptizado pelo primeiro presidente americano, George Washington, foi lançado à água em 1797. Combateu corsários otomanos, piratas do norte de áfrica, britânicos e franceses. Em 1812, ganhou a alcunha “Old Ironsides“, após derrotar o HMS Guerriere, fragata britânica cujos projecteis fizeram ricochete no casco do navio americano. O costado em carvalho foi mais forte que o ferro! Com mais de dois séculos de serviço, é hoje o vaso de guerra mais antigo do mundo e curiosamente é de entre todos os navios americanos actualmente no activo, aquele que mais navios inimigos afundou. Foi aliás o único que já o fez, facto que quanto a mim comprova que o rumo da politica externa americana é completamente imune ao desfecho do circo mediático que hoje (finalmente!) termina.
Grécia, será que racha?
Eu acho desde o inicio que nem vai nem racha! As negociações sobre a Grécia são confusas, atropelam-se em novidades, em acertos, prolongamentos, indecisões, momentos quentes, negações, ameaças… É um braço de ferro politico! É a Europa a tentar disciplinar um país!
A informação é a toda a hora, e de facto se houve coisa que esta crise em 2008 me fez mudar foi a importância que dou ao imediatismo. Esta urgência dos prazos, este jorrar de informação contraditória, este entendimento seguido de desentendimento, faz com que eu não queira embarcar nesta onda em mar revolto, e fique a olhar para a tempestade a ver a rebentação e à espera que chegue a mim a onda ou acalme para que nela possa mergulhar segura. Toda a informação imediata se desactualiza e nos impede de reflectir sobre ela, porque a seguir vem outra e outra e outra. Para nos ajudar temos opiniões, crónicas e comentadores, que falam em números e pacotes, mas muito pouco naquilo que realmente importa. E assim temos informação, opiniões e conclusões, e não temos que pensar. E o que eu vejo nesta tempestade é um partido de esquerda que ganhou as eleições na Grécia, mas que foi muito mal recebido na Europa. O Syriza, esses loucos da esquerda radical, completamente fanáticos, anti europa e que no final mostraram ser tudo menos radicais, fanáticos e anti europeus. O Tsípras e Varoufakis logo se empenharam em conversar com os parceiros europeus, exporem as suas ideias, num esforço de diálogo e negociações de modo a chegarem a um entendimento. Mas Angela Merkel logo avisou a Grécia.
Desde então o objectivo passou por tentar derrotar todas as possibilidades que poderiam ser levantadas para que o projecto do governo grego fosse a bom porto. Para a União Europeia, a Troika, o FMI, a Alemanha, França, não existem alternativas. A doutrina TINA (There is No Alternative) propagandeada pelos partidos dominantes e representativa dos interesses da alta burguesia europeia, assegura as transferências da riqueza do trabalho e políticas de ajustamento em programas de austeridade que atacam direitos sociais elementares em toda a Europa, mas principalmente nos países intervencionados. E não há alternativa! Nem democracia, como é lógico! A alternância será o financiamento com o banco dos países BRIC’s (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e com todo o interesse para a o governo da Rússia e para alguns russos. A Grécia terá sempre que pagar o que ficar acordado, nos termos que lhe sejam impostos.
Após o prolongamento do plano de austeridade em Fevereiro por 4 meses, havia que renegociar agora. O Tsípras e o Varoufakis negociaram. E cederam, e cederam, e cederam tanto que o programa proposto é o prolongamento da austeridade. O programa é já visto como pior que o memorando. E afinal onde está o radicalismo? Eu arrisco dizer que as pessoas tendem a assumir uma posição de classe neste processo negocial entre o governo grego e os credores. Para os que vêm futuro na Europa, as negociações entre o governo grego e a Europa foi um sucesso na medida em que a Grécia se possa manter no euro e as medidas negociadas são mais vantajosas que as inicialmente colocadas em cima da mesa, não colocando em causa a estabilidade europeia. Para quem acha que a dignidade de um povo e de um país não tem preço, este suposto acordo atingido é uma clara derrota. O Tsípras falhou, o Varoufakis falhou, e a Europa mostra que independentemente do governo eleito, as políticas entre os países não mudam e a soberania nacional está completamente subjugada no eixo Berlim-Paris, com a conivência dos demais países e independentemente do que seja melhor para o país em questão. O acordo é um falhanço para várias camadas sociais gregas, um claro ataque aos trabalhadores e aos mais desprotegidos, para além do efeito negativo nas lutas sociais e sindicais por toda a Europa. E eu penso que seja por isso mesmo que Tsípras e Varoufakis decidiram referendar o acordo que lhes foi imposto. Tendo ganho as eleições com a promessa de negociação com os credores e o fim da austeridade (dois pressupostos que se vislumbram incompatíveis, porque lá está, não há alternativa), e sendo este acordo, e segundo eles, uma humilhação para o povo grego, decidiram colocar este acordo a referendo, uma vez que em boa verdade, não têm legitimidade democrática para o aplicar. Estou curiosa no entanto, para saber qual será a recomendação de voto do Syriza. Todavia, este é um acto de honestidade e uma declaração de derrota da parte do governo grego. Mas a Europa é anti democrática, e não aceita o referendo, pois não aceita que os credores sejam colocados sob escrutínio popular, até porque a austeridade só pode ser imposta e não referendada. Esta é, no entanto, uma jogada perigosa tanto para o Syriza como para a Europa. Se a Grécia for para eleições antecipadas este ano, vai ao mesmo tempo que Espanha e Portugal. E em Espanha está o Podemos a apelar ao mau comportamento de voto.
A questão é que a Grécia não consegue reembolsar nos termos que lhe são impostos. E o valor moral de pagamento de uma dívida não deve estar acima de tudo, independentemente do custo social do mesmo. Mas no entanto, não é este o pensamento das instituições europeias mediante um país que elegeu um governo que não é do agrado nem da cor das instituições europeias. Por outro lado, a Europa não quer deixar que a dívida seja colocada em causa, nem o seu pagamento nem a sua origem. As dívidas dos países são um negócio para outros países e para muitos investidores e credores, e os interesses estão assegurados pelos tecnocratas no poder dos países europeus. A perda dos investidores, sejam eles a banca, países ou ilustres singulares, é bastante mais importante do que a perda de dignidade de um povo. Repensar a dívida é repensar toda a economia e a estrutura financeira, e isso não seria uma crise, mas uma revolução!
A Grécia vive uma crise humanitária, que foi falada em tempos na comunicação social mas que hoje é silenciada. O desemprego é um flagelo social, com apoios sociais sucessivamente cortados, quase sem direito à saúde. A miséria instalou-se. O novo acordo só vem piorar ainda mais tudo aquilo que aquela gente já sofreu. Há momentos na história decisivos. Há momentos em que se defende a barbárie, e essa é sempre defendida e legitimada por aqueles que também são vítimas, foi sempre assim que se instalou a barbárie e a exploração. Mas há sempre quem se impõe, quem nega, quem luta, quem diz não! Contudo este não é o momento em que os euro-cépticos ganharam a ideia de que a Europa é impossível, e também não é o momento em que os europeístas convictos e bem intencionados caíram do seu sonho de uma Europa democrática e solidária. Este é apenas mais um momento em que se vê que o grande império europeu, criado sob o signo da paz e da cooperação, foi assaltado por uma ideologia ultraliberal que quer legitimar a exploração das pessoas em nome do sacro santo lucro, juro e propriedade. E assim os países do sul tem sido assaltados, com governos tecnocratas obedientes, sem legitimidade democrática para a implantação das medidas de austeridade e sem legitimidade para a expropriação (através de atractivas privatizações a preço de saldo) de empresas públicas e bens públicos e de direitos sociais conquistados. Esta é a conquista das nações e das populações através da dívida.
Mas é em tempos obscuros que a luz da liberdade é acendida e se nega a barbárie e se conquista o futuro. Não sem imensas dificuldades mas com a mais convicta confiança na vitória e no futuro. A transformação só pode ser operada pela mobilização, organização e acção dos trabalhadores, assim como dos desempregados e pensionistas gregos, com a solidariedade de todos os trabalhadores europeus conscientes politicamente do momento actual. O resultado da auditoria cidadã à divida grega espera-se honesto. A origem da dívida deve ser assim apurada e se houver uma parte que seja odiosa não deve ser paga pelo povo que não a contraiu. A dívida deverá ser paga se e quando houver condições para a pagar. Deverá haver coragem para uma profunda transformação das instituições gregas que conduziram à dívida de modo a que mais dívida não seja gerada. Mas também uma profunda transformação nas instituições europeias que fomentaram o apelaram ao endividamento dos Estados em 2008 para salvar a banca e que agora exigem que sejam as populações a pagarem essa dívida. E o Syriza deve manter-se fiel ao povo que o elegeu, sem vaidade nem vitorias pré anunciadas, defendendo os interesses de quem os elegeu e não os interesses dos que se sentam do outro lado da mesa.
Movimento perpétuo em deriva constante
Em Espanha parece que o Podemos pode, na Grécia caminha-se para um fracturante Não Pagamos, por cá parece perpetuar-se o Não Votamos apesar de sermos obrigados a um Pagamos com simples queixume de Não Podemos mais.
A estratégia é a de desinformação, com a ajuda da lei actual que obriga a que se fale de todos ou de nenhum, tendo sido esta última a opção recente dos principais canais televisivos. Para agitar as águas é feita uma primeira ameaça com um asfixiante colete de forças para depois se o aliviar um pouco, transformando-o mais num fato à medida, que mesmo assim parece ainda não assentar confortavelmente.
O Presidente ajuda ao debate afirmando, à leão, que no seu tempo as leis ultrapassadas eram reformuladas, para de seguida assumir o seu lugar de cachorrinho da República sendo obrigado a promulgar uma lei por si vetada sem que tenha sofrido qualquer alteração. A doce ironia de aprovação de uma cópia barata do decreto de lei original…
Apesar de tudo penso que esta lei da Cópia Privada faça todo o sentido. Num país a saque por corsários organizados só pode ser um estímulo tratar todos os Portugueses como piratas. Poderá doer um pouco pagar uma taxa acrescida para prevenção de um crime não praticado mas depois compensa. Porque ao praticar esse crime há a consciência tranquila de já se ter cumprido a pena. O não usufruto do dever de piratear é que poderá criar situações de injustiça da plena responsabilidade do próprio. Não deixa de ser de louvar a preocupação do governo com os direitos da criação, sendo que ainda estou por compreender como é ela conjugada com o seu desprezo pelos criadores e/ou executores das artes.
No sentido contrário surpreende-me a forma como os taxistas lidam com a ameaça Uber, até eles perderam a sua combatividade? Partem para lutas judiciais e digitais? Sempre os vi como os Mad Max tugas, o alcatrão é o seu território onde as leis do volante e da língua afiada imperam. É ainda muito cedo para darem o salto para o combate civilizado pelo que julgam ser os seus direitos. Não estão preparados para lidar com as repercussões de lenga-lengas no mundo digital. Deveriam manter a sua ganância e bandeirada de pirata dentro das suas 5 portas e tejadilho.
Até porque apesar de tudo ninguém quer táxis oficialmente mais caros com choferes transvestidos de realeza. Queremos o típico, o real, a história para contar aos amigos, a certeza do início e fim salpicados pela aventura do meio materializado em percurso desconhecido, a descoberta das estações de rádio manhosas, o alargar do jargão e do vernáculo, enfim um pouco da verdadeira cultura tuga em cada viagem. O que justifica a variação de preço para um mesmo trajecto pode ser simplesmente a qualidade do artista e do espectáculo prestado.
Por fim passo os olhos pela censura, ou pelo ‘censo de prevenção Russo’, e dou por mim a pensar que aquilo que é contra a liberdade de expressão num ponto do globo poderia muito bem ser um esclarecedor para a compreensão do muito que se passa em Portugal em matéria de blogs que surgem e desaparecem à medida das necessidades.
Já este blog não suscita dúvidas. Não é de esquerda, do centro, nem de direita. É um blog de deriva, ao sabor das marés, que se cruza, acenando ou abalroando, ora com uns, ora com outros, até ao dia em que se aviste porto seguro e se possa gritar “TERRA À VISTA!”, esperando que seja ainda terra de Portugal.