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Gira-gira giro Portugal

20 de Janeiro e nada. 20 dias de 2014 em que praticamente só se falou de intempéries, de morte e consagração no futebol. Eis que quando as nuvens se dissipavam,  parecendo haver abertura para voltar a anunciar e discutir as medidas políticas em curso, sai da cartola um referendo que volta a armar a tenda do circo mediático. Os spin doctors têm tido uma vida tranquila, com os eventos ‘cortina de fumo’ a eclodirem naturalmente, bastando agora atirar esta granada co-adoptada para queimar mais uns dias preciosos.

Ponderei abordar o tema do asqueroso pantanão nacional acabando por preferir cingir-me ao espremer de algumas das notícias mais levezinhas de 2014.

Arnaut na Goldman Sachs e Gaspar no FMI, é de certa forma assustador porque os ratos só abandonam o navio quando este deixa de ter provisões ou quando o naufrágio está iminente. Não me preocupa tanto que tenham passado para o covil dos vilões da crise, alerta-me para provavelmente não existirem mais jóais da coroa que mereçam a cobiça dos grandes players mundiais e que justifiquem a permanência de testas de ferro para grandes operações financeiras infiltradas.

Reduzir escolaridade obrigatória para o 9º ano vs 4 em cada 10 jovens sem dinheiro para estudar, a Juventude Popular podia ser a esperança de melhores políticos e assume-se como mais do mesmo ou pior. Acredito que para a despesa do estado retirar 3 anos de ensino obrigatório seria um corte simpático, por opção própria de jovens inconscientes, quiçá mesmo encorajados para tal porque o desemprego está repleto de diplomados. O ensino superior tornou-se inacessível para muitos e se não se pode nivelar por cima nivela-se por baixo, certo? Imagino que para os novos patrões, de vários sectores em Portugal, nove anos de escolaridade seja um indíce bastante satisfatório tendo em conta a média de escolaridade no seu território.

Temo que existam visionários a fazer contas, afinal já exportámos grande parte da mão de obra qualificada, outra parte significativa está desempregada e o mercado não terá capacidade da sua absorção tão cedo. Logo não se perde nada se as próximas gerações forem menos qualificadas. Alguém para quem um baixo salário seja uma benção, que saiba sobretudo consumir sem temores, sem consciência nem capacidade aritmética, uma nova manada ainda mais fácil de domesticar mediante futebol e lixo televisivo. Uma legião de clientes perfeitos para a nova economia emergente.

Miró’s quadros bónitos! Pela módica quantia de 35 M leve estas obras no valor de 150 M! Que este governo não quer saber da cultura já não é novidade sendo que aqui é simplesmente escandaloso aceitar tal desvalorização nos activos aceites para resolução do caso BPN.  O povo está-se cagando, até parece que os quadros valem a estátua do Eusébio, cujo corpo o governo sabiamente anuiu em transladar para o panteão nacional ASAP. Ao estilo popularucho.

Por fim até os escândalos amorosos de chefes de estado de outros países ocupam grande parte dos nossos media. Ainda por cima de um país tão liberal no que toca ao amour. Talvez faça sentido se considerarmos que a austeridade, tão em voga, foi sobretudo explorada e desenvolvida em França pelo Marquês de Sade. O que me apoquenta neste caso é que não me lembro na democracia Portuguesa de escândalos amorosos envolvendo governantes em funções. Será isso mais uma demonstração da fraqueza da nossa democracia e sociedade? Ou serão eles tão desinteressantes e obscenos ao ponto de nem surgirem candidatas a amantes reais ou interesseiras deslumbradas pelo poder? Outra hipótese plausível é que desde sempre os nossos políticos mal-interpretem a resposta “isso são brincadeiras de crianças“, que é dada pelos representantes de outros estados quando por eles questionados em privado “Isto de governar no vosso país dá para engatar gajas?”

E assim vai girando o nosso país nas mãos dos garotos.