Monthly Archives: Setembro 2014

Um ano de transportes públicos, Grátis!

Gosto muito de publicidade, especialmente da televisiva. Toca-me a profundidade da mensagem, mas aquilo que verdadeiramente me emociona são as cores. Gosto dos tons com que os publicitários pintam os seus quadros. Contemplá-los é simplesmente sublime.

Os tempos são difíceis, e até a arte publicitária se vê privada de meios. São hoje raras as aguarelas ou óleos. Sim, a serigrafia é a receita. Sejam séries grandes ou pequenas, é arte para todos. Belo e democrático.

Até as pequenas empresas chinesas que entre nós empreendem se renderam a esta arte, barata, mas que nos aguça a sensibilidade e enternece o ego. É mesmo muito bonito! De tudo isto, é bom exemplo o mais recente anuncio desse grande mecenas que é a EDP, qual casa de Sabóia dos nossos dias. Só lhe faltam os tons de azul no logótipo.

Muito para além da generosa oferta de 1 Ano de Energia Grátis, há todo um bem-estar que desperta. Digo-vos sem ironia, só me apetece andar de transportes públicos! Quero aqui agradecer a todos quantos contribuíram para este meu despertar, ao mecenas, aos artistas criativos e aos modelos que fazem pose. É preciso ser muito estúpido para não andar de autocarro no nosso país. Obrigado por me recordarem quão maravilhoso é o nosso quotidiano.

EDP_2014

A aventura da Escócia

Na década de noventa do século passado, era eu miúdo, fui à Escócia. Deambulei pelo campo entre cidades. Não fui piegas. Em vez da praia no Algarve, procurei trabalho na apanha da fruta. Empreendedor, parti à descoberta de oportunidades. Não fui sozinho. Ao meu lado, dois irmãos que a vida me deu a escolher, i.e., amigos daqueles cuja empatia, cumplicidade e afecto se mantém até aos dias de hoje. Um longe nos fiordes, o outro perto, connosco a bordo da nau Portugal. Um abraço aos dois!

Falava-vos da Escócia rural, de aventuras que vivi e que nunca esqueci. Por lá apreciam a audácia, talvez por isso nos tenham acolhido com curiosidade e consideração. Recém-chegados a Blairgowrie, fomos desafiados a tentar um salto (supostamente muito perigoso) sobre as águas do rio Ericht. Fomos. Chegados ao local, o lendário Donald Cargill’s Leap, saltámos. Pareceu-me banal, mas no regresso percebi que todos os escoceses que saltaram depois de nós o tinham feito pela primeira vez. Até esse dia, o salto era um exclusivo do mentor da iniciativa, o bom do John-Paul. Naquela tarde, o clube exclusivo acolheu novos membros e tornou-se Luso Escocês. Na verdade, senti-me em casa.

Como nós, os escoceses são competitivos. Especialmente no desporto. Lembro-me de um aceso debate com um jovem amplamente tatuado que gritava “I’m a real Scott from Dundee”. Era uma ameaça. Debatíamos um lance de futebol, onde alegadamente eu lhe teria pontapeado a canela. Se lhe toquei foi sem querer, mas foi marcada falta. O resto do jogo foi durinho, mas leal. Marquei o único golo da minha fugaz carreira de jogador de futebol de 11. Safei-me sem mazelas. Ainda hoje acredito que o salto no Cargill’s Leap abonou a meu favor. Ah, o jovem escocês era um tudo nada menos jovem que eu, e também bastante menos pequeno. Este meu “amigo” rebelde tinha um comportamento curioso. Reparei que ele, tal como a maioria dos escoceses que comigo colhiam framboesa nos campos, curvava-se numa respeitosa vénia sempre que um determinado helicóptero nos sobrevoava a baixa altitude. A chefe da quinta, a maternal mas exigente Leena, explicou-nos que se tratava de nada mais nada menos que o helicóptero de sua majestade a Rainha Isabel segunda. Espantoso, pensei, têm a alma dividida. Como sabem que ela vai lá dentro, perguntei. A resposta foi esclarecedora: “Não sabemos”.

De Inverness a Edinburgh constatei a contradição entre o orgulho nacionalista e a veneração à Rainha. Connosco partilham os paradoxos das velhas nações – Orgulhosos mas resignados. Somos mesmo parecidos. Divergem e muito na expectativa que têm sobre a gestão dos dinheiros públicos. O bom do John-Paul deu-me sobre este tema uma lição que à data não percebi o alcance. Certa manhã, após partirmos da quinta em que trabalhávamos (propriedade de uma simpatiquíssima e nobre senhora inglesa, cujo nome e titulo nobiliárquico não me recordo), seguíamos de autocarro por uma estrada local, estreita e tortuosa, que não obstante não tinha um único buraco. Parecia uma pista! Comentávamos isto entre nós, em português. O espanto com que o fazíamos atraiu a atenção do nosso maior cúmplice local. Após tradução, a naturalidade e convicção com que John-Paul nos respondeu foi marcante. Peremptório disse “claro que não há buracos. Como pode haver buracos quando pagamos impostos para a manutenção das estradas?” Disse-nos tanto em tão poucas palavras. Na sua simplicidade rural, na sua resignada mas orgulhosa cidadania disse-nos o obvio. Após tantos anos, constato que por cá continuamos sem compreender algo tão simples: Pagamos IVA sobre imposto automóvel (dupla tributação); aproximadamente metade do que pagamos por cada litro de combustível é imposto; pagamos portagens ao atravessar pontes; pagamos portagens para circular em auto-estradas; pagamos imposto único de circulação (único!!); pagamos o estacionamento na via publica nas grandes cidades, e em breve pagaremos também portagem para nelas entrar. Sim, pagamos múltiplas (demasiadas) vezes para o mesmo fim, mas mesmo assim, não faltam buracos nas nossas estradas! Só me atormenta a nossa resignação perante tal contra-senso.

Na Escócia hoje, qualquer que seja o resultado do referendo, o orgulho e alma dos escoceses vão sair reforçados do processo. O resultado ditará a independência ou maior autonomia, nunca menos. O consenso é virtude britânica. O velho império sempre fez da hipocrisia uma arte. Em Londres, a tradição imperial não morre. Nota-se quando comparamos as criticas que tece à União Europeia com os argumentos que apresenta em prol da manutenção da Grã-Bretanha. Estou pela independência, quero que o mundo mude, mas se a Grã-Bretanha ainda existir amanhã, os Escoceses serão garantidamente mais autónomos.
Observemos os níveis de abstenção.

Bandeira da Escócia

Regresso às Aulas

Hoje foi a abertura oficial do ano lectivo. E como neste último ano algumas coisas me têm levado a pensar e a questionar o nosso sistema de ensino, decidi escrever sobre ele hoje. A crise do país, este sentimento de inevitabilidade, esta sensação de impotência, esta sensação de ser levado na corrente e depois esta vontade do não querer saber, do não querer ouvir mais, este esgotamento de uma situação que parece não ser ultrapassada… Que futuro existe para um país onde os jovens não encontram futuro? Às vezes ponho-me a pensar o que, dadas as circunstâncias, a crise no ensino e as duras batalhas dos professores, terão eles a dizerem aos alunos? Que futuro mostrarão os professores aos seus alunos? Que futuro verá um professor nos alunos se tiver em casa um filho licenciado que não consegue encontrar trabalho? Ou se tiver o cônjuge desempregado? Que esperança transmitirá um professor se ele mesmo apenas conseguir sobreviver com o seu salário, sem saber se para o ano será colocado?

Pus-me a pensar nisto tudo e noutras coisas. Pensei em algumas conversas que tive com professores que conheço. Um dizia-me que o ensino actualmente é castrado de ferramentas do pensamento e da transformação. A história política é passada para segundo plano, e isto é corroborado por outro professor que conheço. O programa de história, dizem ambos, não tem interesse. O primeiro luta contra o que diz ser um determinado tipo de programas e afirma querer ensinar os seus alunos a pensar, a questionar, quer dar-lhes ferramentas de análise, transmitir-lhes as linhas do pensamento e das diferentes ideologias que tantas vezes estão escondidas e por desvendar. É professor de filosofia. O segundo diz que o programa de história não tem interesse, que o ensino da história cada vez perde mais importância e que os conteúdos são cada vez mais práticos e pouco contam sobre os períodos quentes de transformação política (que é o que ele mais gosta), mas cada vez falam mais de transformações tecnológicas. É, como será fácil de perceber, professor de história. A sua visão para o país é desesperançosa, seremos sempre um país de tolos diz, e transmite aos seus alunos que o futuro estará lá fora, pensa que na Ásia se ganha bem e será um bom destino para os alunos, ou quiçá para o filho que frequenta o 2º ciclo. O primeiro, o professor de filosofia, quer ao contrário, acreditar num futuro melhor, mas a sua situação laboral é difícil, o ensino público está em processo de destruição, vive e sofre com o desrespeito pela sua classe que perde autoridade em frente dos alunos. Com as turmas maiores sobram professores, e o desgaste dos anos já ele o sente na pele, e afirma quase resignado, que o ensino já não tem lugar para ele. Perdeu o encanto pela sua profissão. Cansado de lutar contra os programas e de ensinar tanto para lá deles, sentindo muitas vezes represálias por isso, e agora esmagado pelas condições sociais, sente-se vencido! Mas sei que no fundo do seu coração existe aquela chama de esperança na transformação social, e sei que, por mais triste e esgotado da luta por um ensino que forme acima de tudo cidadãos, nunca mas nunca deixará de passar aos seus alunos a certeza da mudança na sociedade.

E a propósito destes dois exemplos, lembrei-me do poema da Natália Correia, Queixa das Almas Jovens Censuradas, que na voz do José Mário Branco marcou uma geração e é o lamento dos jovens a quem é cerceada a liberdade e representa uma critica ao ensino no tempo do Salazar. O que até vem a propósito, uma vez que tenho ouvido aqui e ali, do Durão Barroso, do Crato e de outros membros do governo, afirmações de que o ensino no tempo do Estado Novo era mais eficiente e servia melhor as necessidades do país, ou que o ensino dual é o que melhor responde às necessidades do mercado de trabalho e da economia. O tipo de ensino dual que a democracia veio quebrar, servia de facto melhor algumas necessidades, não certamente a dos estudantes nem as do país, mas as de uma classe que dominava a economia. Reprodutor social, canalizava para a escola comercial os filhos das pessoas ligadas ao comércio, e para a escola industrial os filhos das classes ligadas à industria. Apenas uma taxa muito pequena chegaria à universidade, a maioria seguindo as pisadas dos familiares. Ou seja, os filhos seguiam as pisadas dos pais, que normalmente lhes arranjavam trabalho. É o que existe na Alemanha! Reprodutor das classes e das desigualdades, praticamente congelou a ascensão social. Ao contrário, a democratização do ensino possibilitou uma promoção social nunca antes pensada, filhos de operários que se tornavam em doutores, filhos de comerciantes que viraram médicos… Uma verdadeira transformação social. Uns dirão que isto é um país de doutores, mas a mesma legitimidade teríamos para dizer que isto seria um país de analfabetos em 2001, aquando dos censos (página 14), cuja percentagem de população com um diploma académico era similar à população analfabeta. É uma espécie de inveja social, até porque a realidade é que em termos de escolaridade ainda continuamos atrasados, apesar do rápido desenvolvimento que a democracia trouxe. Mas temos que ver que partimos de uma base extremamente baixa.

É incrível como a educação varia em função da ideologia. Num período de democratização, o ensino expandiu-se para todos. Muitos dirão que esta expansão teve como custo a diminuição da exigência, mas isso não é um fenómeno só português. Na verdade a questão da exigência vista de perto pode parecer grave, mas se nos distanciarmos perde importância. Mas é um custo, mas baixo quando está em causa a expansão para a inclusão de mais pessoas, e a educação para todos é algo que não tem preço! Com a democracia instituiu-se o direito ao conhecimento! Vivemos hoje sob o paradigma mundial do “life long learning”, por isso desinvestir na educação é não querer que as pessoas estejam dentro do paradigma, é chutá-las para a margem, é dizer que elas não têm lugar naquilo que é tido como pensamento dominante. Por isso, quando governantes põe em questão o desenvolvimento do nosso sistema de educação que foi e ainda é um dos melhores, é dizer que esta inclusão foi mal feita, foi ilegítima. Dizer que o sistema de ensino não serve as necessidades da economia, significa tão somente que a economia e os empresários não acompanharam os tempos e que continuamos numa economia atrasada com elevadas necessidades de mão-de-obra não qualificada. E isto só pode ser explicado por uma realidade, é que os empresários portugueses são muito pouco qualificados e descapitalizados. E é dizer que os colossais fundos estruturais que deveriam ter consolidado de uma vez por todas a nossa Industrialização (mais do que atrasada) mais não fizeram do que adiá-la definitivamente para um depois de uma terciarização já consolidada, mas cuja riqueza criada fica muito aquém das nossas reais possibilidades e necessidades. Isto não significa que o ensino não possa ser reformado, mas para melhor, não deixando para segundo plano umas áreas do conhecimento e determinado tipo de temas para passarem à frente de outros. A matemática é fundamental, mas a filosofia também… ambas são fontes de raciocínio. O inglês é importante mas a história também. Conhecer a Revolução Cientifica é importante mas saber da Revolução Francesa é fundamental!

E é por isto que este saudosismo do ensino dual fez-me pensar no actual ensino e no quanto ainda falta para ele se cumprir e no papel fundamental dos professores numa sociedade. Porra pá, estão a tentar destruir aquilo que ainda não se efectivou! Já parece a nossa Industrialização! O ensino deve dar ferramentas de pensamento, de reinvenção, de transformação. Eu frequentei uma escola cujo lema era “formar bons cristãos e virtuosos cidadãos”, e o lema de ensino deve ser efectivamente formar virtuosos cidadãos (vamos deixar cair os cristãos, que o ensino é laico e muito bem)! E o que é um virtuoso cidadão? Virtuoso cidadão vai para além de votar, vai até ao transformar. Mas para transformar é preciso sonhar! E há que saber que não só é permitido sonhar como que é possível transformar sonhos em realidade. É possível transformar! E mesmo que o sonho não se concretize por completo, o que for feito para a sua concretização já é transformação! E é preciso que saibam que isso não só não é pouco, como é muito, muitíssimo, e que vale sempre a pena! É preciso saber acima de tudo aquilo que se quer da sociedade. Transformar é trabalhar todos os dias para uma sociedade melhor, no trabalho, na família, nos amigos, no café, no super-mercado. É espalhar uma ideia! Mas é mais do que isso! É mais do que fazer! É acreditar! É negar as inevitabilidades! Na sociedade elas não existem! Não existem inevitabilidades! Não existem! Isto não é um fado a que estamos condenados! Mas isto que vivemos também não é uma fraude! É um caminho que se escolheu. Mas por alguém um dia ter escolhido este caminho não significa que por aqui continuemos a caminhar! Nem se quer tem que significar que o caminho estava errado, pode simplesmente querer dizer que este caminho já nada tem para nos oferecer! E podemos sempre escolher outros caminhos, e trilhar novos rumos e novos caminhos. E é nesta crença no futuro, nesta negação das fatalidades, nesta certeza de que podemos sonhar e trabalhar por um amanhã com um futuro que vale a pena que os professores são fundamentais. Os miúdos não se podem sentar nos bancos da escola a pensar que o seu país os educa para emigrarem, que aqui não haverá trabalho, que aqui não há lugar para serem felizes! Não há lugar nenhum onde valha mais a pena trabalharmos e sermos felizes do que no país em que nascemos, a nossa terra! Não se podem sentar crianças na escola a pensarem que o seu futuro será viver longe de tudo o que no presente os rodeia. Se o futuro lhes reservar a emigração como destino, que seja por opção e jamais por não terem opção! Porque aqui existem opções! Existem! E senão existirem nada melhor do que as criarmos!

“Dão-nos um lírio e um canivete
e uma alma para ir à escola
mais um letreiro que promete
raízes, hastes e corola.

Dão-nos um mapa imaginário
que tem a forma de uma cidade
mais um relógio e um calendário
onde não vem a nossa idade.

Dão-nos a honra de manequim
para dar corda à nossa ausência.
Dão-nos um prémio de ser assim
sem pecado e sem inocência.

Dão-nos um barco e um chapéu
para tirarmos o retrato.
Dão-nos bilhetes para o céu
levado à cena num teatro.

Penteiam-nos os crânios ermos
com as cabeleiras das avós
para jamais nos parecermos
connosco quando estamos sós.

Dão-nos um bolo que é a história
da nossa história sem enredo
e não nos soa na memória
outra palavra que o medo.

Temos fantasmas tão educados
que adormecemos no seu ombro
somos vazios despovoados
de personagens de assombro.

Dão-nos a capa do evangelho
e um pacote de tabaco.
Dão-nos um pente e um espelho
pra pentearmos um macaco.

Dão-nos um cravo preso à cabeça
e uma cabeça presa à cintura
para que o corpo não pareça
a forma da alma que o procura.

Dão-nos um esquife feito de ferro
com embutidos de diamante
para organizar já o enterro
do nosso corpo mais adiante.

Dão-nos um nome e um jornal,
um avião e um violino.
Mas não nos dão o animal
que espeta os cornos no destino.

Dão-nos marujos de papelão
com carimbo no passaporte.
Por isso a nossa dimensão
não é a vida. Nem é a morte.”

Natália Correia, Dimensão Encontrada, 1957

Queixa das Almas Jovens Censuradas foi escrita num tempo de ditadura e de censura, e é o que vos trago para pensarmos no nosso sistema de ensino e no que ele não nos trouxe para o momento actual. Este é o lamento de toda uma geração que, mais do que a minha, foi obrigada a receber (daí a repetição ao longo do poema do “dão-nos”) uma educação (ir à escola) destinada a produzir bonecos (“manequins”, de “corda”) sem alma (“nossa ausência”, “vazios”), sem ideias próprias (“penteiam-nos os crânios com as cabeleiras dos avós”), sem identidade (“onde não vem a nossa idade”), sem nada! Uma educação que procurava fazer dos jovens cadáveres adiados (” a nossa dimensão, /não é a Vida nem a Morte”).

A antítese “lírio/canivete”, na primeira estrofe, anuncia duas ideias que estão em permanente tensão no poema: vida e morte. Tensão reflectida também no título por “almas jovens censuradas”: a juventude é já por si revolucionária; enquanto a censura esgotava os seus paradigmas num terreno infértil. A liberdade revela-se cerceada no poema: “e uma alma para ir à escola”. Se a alma é sinónimo de desprendimento, a escola tem o significado de educação, pedagogia, uma espécie de condicionamento da alma.

A repetição ao longo do poema “dão-nos” é aquilo que a censura dava aos jovens. Dava-lhes uma educação que os formatava para serem obedientes (uma contradição face à inerente rebeldia da juventude), retirando-lhes assim a garra, e não lhes davam as ferramentas para mudarem o seu futuro: “Mas não nos dão o animal que espeta os cornos no destino”. Os esquartejamento das parte dos corpo (“Dão-nos um cravo preso à cabeça / E uma cabeça presa à cintura” “Penteiam-nos os crânios ermos / Com as cabeleiras dos avós / Para jamais nos parecermos / Connosco quando estamos sós.”) é a deformação que a censura provoca nos jovens.

No final, a dimensão do eu revela-se outra: nem a vida, nem a morte, mas numa condição exilada “com carimbo no passaporte”. Continua perfeitamente actual… Toda uma geração que se vê condicionada na sua liberdade, só que desta vez não é a censura enquanto instituição que cerceia, são as condições de vida e os direitos roubados, utilizando a democracia como meio de concretização desse roubo, e a dívida como justificação. Vivemos numa liberdade aparente, institucionalizada mas que continua por sentir, por se materializar. A liberdade que a democracia nos trouxe devia ter sido acompanhada por um ensino cada vez mais voltado para a transformação, para a reflexão social! Porque a democracia e a liberdade necessitam de ferramentas para lidar com essa democracia e com essa liberdade, para o efectivo exercício de ambas. É uma questão de escolha de conteúdos. Formar virtuosos cidadãos é dar-lhes ferramentas para enfrentarem o futuro, as adversidades, para verem e criarem as alternativas. Isso é ensinar e dar a liberdade. Mas ainda assim, e ao contrário de ontem, hoje temos mais ferramentas, mais meios, e mais conhecimento para mudarmos o nosso destino, ainda que nos queiram impingir a ideia de uma fatalidade. Temos essa vantagem e essa possibilidade! E por isso e ainda mais intensamente, se mantém viva a esperança no “letreiro” que se ganha com a promessa que ele se metamorfoseará em uma flôr: “raízes, hastes e corola”.

ZEE 2115

A França, terra da liberdade, igualdade e fraternidade, vendeu à Russia dois navios da classe Mistral. Nicolas Sarkozy anunciou o negócio no final de 2010, e os contratos foram assinados no inicio de 2011. Os estaleiros STX France cobraram 1,2 mil milhões de euros pelos dois porta-helicópteros. Apenas 20% mais caros do que os submarinos da classe Tridente que compramos à alemã Ferrostaal. Convêm salientar que o preço não inclui os 16 helicópteros, nem os 40 blindados que cada navio pode transportar. Não houve contrapartidas, nem ajudas. Conseguiram fechar o negócio sem o precioso auxílio duma Escom lá do sítio.

Em Junho deste ano, os norte-americanos manifestaram duvidas quanto à conformidade da primeira entrega com as sanções (entretanto) impostas à Rússia. Propõem a venda ou aluguer destes navios à NATO. França diz que não. O cancelamento é caro, porque os russos já pagaram, e para além disso quer alemães quer britânicos têm vendido armas à Rússia. O secretário-geral da NATO, o dinamarquês Fogh Rasmussen é peremptório – a decisão compete à França. Em Julho, François Hollande anunciou a entrega do “Vladivostok” dentro do prazo (Outubro de 2014), mas qual abstenção violenta, condicionou a entrega do “Sevastopol” à evolução da situação na Ucrânia. Uma posição surpreendentemente lusitana: uma no cravo, outra na ferradura. Apesar de pouco solidário, foi fraternal… Entretanto, a guarnição russa do navio chegou a França. Os testes no cais começaram no dia 6 de Julho, mas antes do inicio dos testes de mar, o volte-face – Hollande anunciou ontem o cancelamento da entrega do primeiro navio. Parece que alguém na NATO ficará com ele. Resta saber quem.

A meu ver, ninguém no ocidente pode acusar a França de inconsistência. É certo que mudou de posição em pouco tempo, mas essa parece ser a prática vigente. Há menos de um ano, o programa nuclear do Irão era uma questão bélica e Bashar al-Assad era a personificação do mal na Síria. São dinâmicas da geopolítica. Hoje, parece que Teerão apenas quer a tecnologia nuclear para fins energéticos e al-Assad é quase (quase) um aliado. Afinal há mesmo terroristas por aquelas bandas. Por cá também, dizem. Exportamos, garantem. Tudo a bem do equilíbrio da balança comercial. Não percam os próximos episódios, o tema promete.

E os navios, quem fica com os navios? Tenho uma teoria, certamente presunçosa, mas julgo que fundamentada: Está para breve o alargamento da nossa Zona Económica Exclusiva; somos o membro da NATO com maior tradição marítima; temos a Escola Naval mais antiga do mundo; ampla experiência no leasing de equipamento militar e claro, somos um povo com uma natureza profundamente voluntária.

Julgo chegado o momento para a concretização de um sonho, o “N.R.P. Fénix“. Será provavelmente adicionado ao efectivo da nossa Marinha, talvez já em 2015. Além do nome de baptismo, passe a imodéstia, proponho o indicativo visual. Na amura ler-se-á “ZEE 2115”, numa tripla alusão a quem vai pagar o aluguer (o Zé), ao ano da ultima prestação, e claro à Zona Económica Exclusiva (ZEE). Talvez seja desta… Bem sei que não será um porta-aviões, nem foi construído em Portugal, mas é um principio!

ZEE2115

Noticiários comuns

Gears machine machinery machines man-made wallpaperA engrenagem estatal aquece os motores preparando o seu arranque após um longo período de férias, as reformas não ajudam e há novas peças que aparentam ainda não ter encontrado o seu lugar e função, surgem, recorrentes e renovadas, queixas de cortes de apoios, falta de pessoal, falta de qualidade de serviço, falta de respeito, em educação, saúde, justiça, etc, o mirrar do estado social, o emperrar da máquina estatal.

Mom Scraps With Her Son’s Classmate On His School Bus  Posted on September 20, 2012 byA geração que cresceu sem a liberdade da rua, porque segundo seus pais, arruaceiros dos seus tempos, estes tempos são outros, mais perigosos para crianças até 14 anos ou mais, organizam agora meets que se revelam cursos demasiado intensivos do que é crescer nas ruas. Os caseiros desconfortam-se com a presença na rua de pessoas que nunca deixariam entrar em casa, quiçá que não permitem mesmo entrar nas suas escolas  e condomínios privados, por raízes sócio-culturais, linhagem familiar ou simples poder financeiro.

Two Butterfly Dark ColoringAnúncios oníricos sobre um abençoado Novo Banco, com um novo começo, com os mesmos 600 balcões, os mesmos 2 milhões de clientes, os mesmos 6 mil colaboradores e, como que por magia, novíssimos 5 mil milhões de euros que dão uma nova oportunidade de todos voltarem a ser felizes.

Banhos gelados com um mediatismo superior a tudo o resto que se vai passando de tal forma que neste post inverto a tendência e apenas lhes dedico esta linha. Ao futebol, entradas e saídas nacionais e internacionais, jogos de nova época, dão e faço igual tratamento.

Lá fora as coisas não andam melhor, pelo menos as que nos contam, com um mundo tão grande e parece que depois do Game Over à Palestina só dá conflito de perder a cabeça pelo Estado Islâmico, guerra fria entre Europa e Rússia pela recém-amada Ucrânia, e surto de Ébola quase, quase, mundial que certamente justificará em breve um programa internacional de armazenagem de vacinas assim que a primeira esteja testada e aprovada.

Ah! Não esquecer uns laivos da luta da Itália contra a invasão de hordas desesperadas vindas do Norte de África. Gasta 9 milhões de euros por mês nessa brincadeira! Mais de 100 milhões de euros anuais num jogo do rato e do gato e do volta à casa de partida. Um louco pensaria talvez em com esse dinheiro realizar investimentos geradores de emprego e riqueza distribuída nos países de origem dos imigrantes? Felizmente a matéria é dada de forma a conter quaisquer loucuras e a saga continua.

Se a nível nacional não há indícios de melhoras a verdade é que a nível internacional existem ingredientes suficientes para, num deslize, eclodir uma guerra ou uma epidemia mundial, ou quem sabe um seu binómio. E no meio de toda a triste displicência, esta iminência acaba por ser um raio de esperança, pois o passado corrobora que, para fomentar a união de esforços e povos a nível mundial, para ganhar a coragem e resolução de enfrentar a tempestade colhendo mais tarde a bonança, não há melhor causa comum do que uma evidente e enorme vala comum.

Jewish mass grave near Zolochiv, west Ukraine