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Bem aventuradas eleições!

Parece que sim, a lei é para cumprir, depois de uns gratificantes Natal e Ano Novo vamos lá celebrar neste Domingo a festa da democracia!

Suis generis campanhas presidenciais em que todos os candidatos foram nivelados pela mínima mobilidade comum. Ponto alto, como não se via há muito tempo, foram os duelos televisionados. Figuras centrais foram Marcelo Rebelo de Sousa, desafiado e confrontado por todos, e André Ventura, o agitador inconveniente.

Foi através de André Ventura que todos foram postos à prova e os portugueses assistiram-no atentamente, divididos por um conflito interno entre o desprezo e o fascínio. Através dele vimos como João Ferreira alternava entre o vendedor e a enguia da lota, assistimos à corrupção do poder, antes mesmo do assumir do poder, com Marisa Matias a jurar que jamais daria posse a um governo apoiado pelo Chega e Ana Gomes a prometer que a primeira coisa que faria seria tentar ilegalizar o Chega, já Marcelo foi levado ao limite, irritando-se em várias insinuações, acabando por justificar a opção política relativa à pena de morte como um grande ato de fé… Ventura conseguiu que todos saíssem do seu pedestal de suposta superioridade ética, política e moral, apesar de no início ter sido um corpo estranho rapidamente passou a ser muleta dos moderadores, apoiando-se em si para ousarem ir mais longe na exploração de temas polémicos junto dos mais consagrados. Por estas revelações inesperadas em situações limite, de carácter e ideológicas, há que mostrar algum agradecimento à impertinência deste recém-chegado diabrete.

Tiago Myan foi a kryptonita de Ventura, por não ter ainda um passado que possa ser explorado, por ter ideias tão disruptoras, face aos modelos económico-sociais habitualmente propostos, que não permitem aos políticos tradicionais defini-los exatamente como extrema-esquerda ou extrema-direita como tanto desejariam. Foi como assistir a agentes da distopia vigente a acusá-lo de ser sonhador de uma utopia que na verdade tem como fim garantir o mesmo desenvolvimento económico e igualdade de condições defendido, e até ver inatingível, pelos primeiros, mesmo depois de décadas de governação ao seu grande estilo.

Vitorino Silva fez-me lembrar um pobre poeta de lugares comuns que não atrapalham nem acrescentam, um queimar desnecessário de tempo precioso com a sua pessoa que aqui não irei replicar.

Depois de um espaço televisivo em que todos conseguiram articular algumas das suas ideias de forma moderada e racional, chegou o período de campanha. Libertos de Ventura a maioria dos restantes puderam recuperar a sua popular elevação e estima, à parte de Mayan e Vitorino que se mantiveram iguais a si próprios. Já Ventura, liberto da presença dos seus adversários regrediu para os seus discursos sectários, punchlines carregadas de Mal para atrair os portugueses do Bem. Escorregando num estranho episódio em que tão ilustre benfiquista comete a gaffe de se revelar ser na verdade um anti-vermelho.

Não tenho ainda reunidas as sete bolas de cristal pelo que deixarei o meu desejo de futuro materializado no singular ato de votar. Com todas as medidas necessárias, como se fosse comprar produtos de mercearia neste novo normal.

Boa compra! (o primeiro item não vale a pena que está esgotado)