Monthly Archives: Novembro 2014

Apocalipse Now

Talvez seja apenas poeira levantada pelos pontapés de vento de uma tempestade de areia, talvez em breve se dissipe e depois de umas varridelas a normalidade volte a aziar a nação. Por agora, estranheza. Os tempos recentes têm sido estranhos em termos do desenrolar de imbróglios  económicos, fiscais e judiciais.

A implosão consentida do Grupo Espírito Santo, a pressão fiscal sobre os colossos da energia Galp e REN, a frieza com que se lida com o caso PT colocando um resgate/nacionalização de parte, o desenrolar dos Vistos Gold, a detenção de José Sócrates, a condenação de Duarte Lima, tudo são sinais de que há fios da teia que se quebraram.

Independentemente da cor política é inegável que há um suceder de acontecimentos que espontaneamente nos desenham um sorriso de regozijo. Em alguns casos até um surpreendente reconhecer que neste ponto o governo/estado foi corajoso e esteve bem.

O que me deixa a pensar se Pedro Passos Coelho terá visão que lhe permita fazer a leitura de que esta pode ser a fórmula para a sua revitalização. O de ir às gavetas mofadas, que constituem o arsenal judiciário e mediático da guerra política suja, para delas lançar para a praça pública todos os processos duvidosos perpetuados por antigos governos.

Transformar-se-ia assim num paladino, defensor obstinado da rectidão, capaz de sacrificar cabecilhas de qualquer cor política, incluindo da sua e da do seu parceiro de coligação. Se o fizer é certo que, mesmo mantendo este nível de austeridade, obterá o reconhecimento do povo como um líder forte capaz de executar a tão almejada limpeza da República. E na minha opinião só essa faceta seria suficiente para, numa reviravolta inesperada, conceder-lhe o direito a mais um mandato.

Passos Coelho está na posição ideal para o fazer. Os objectivos contabilísticos do governo em vias de serem atingidos, o ser praticamente orfão de apoios de barões, a força do parceiro de coligação que pode ser submergida devido a danos colaterais, uma oposição às aranhas com um único caso que poderá ser destroçada por muitos outros ocorridos nas últimas legislaturas, o aproximar de um final de mandato em que o caos judicial e político, gerado por uma acção de limpeza desta magnitude, manteria nas sombras muitos daqueles que preferem navegar mares menos tempestuosos. O que é uma vinculação à Tecnoforma comparada com o que se encontra no valioso acervo de casos de gestão pública danosa, conflitos de interesses e corrupção?

Diz a bíblia que o apocalipse será o juízo final, em que todos serão julgados, os culpados condenados, os justos poupados e mesmo ressuscitados. Provavelmente muitas cabeças teriam de rolar até que se desse o milagre da ressureição de Pedro Passos Coelho. Há que ter fé, acreditar na eventualidade de um mundo melhor. Afinal um milagre é algo passível de acontecer a qualquer momento. Assim o queira Deus e um homem, corajoso, sem nada a perder, o faça num esforço épico. Por mais absurdo que isto pareça a verdade é que desde o início dos tempos que a história se escreve por linhas tortas. Faço desde já aqui uma jura, não uma promessa, uma JURA, que se tudo isto acontecer, se Portugal castigar quem de si abusou e fôr ressarcido de parte dos danos, doa a quem doer, o meu voto será consagrado a este menino sagrado/profano.

Basta mudares PPP!

Seara que canta para o Mundo

Hoje, e após meses de enxurradas de escândalos e sapos que não conseguem mais estar debaixo do tapete, eis uma boa noticia: O Cante Alentejano é Património da Humanidade! Na verdade isto nem tem assim tanta importância, tem mais importância para nós e no dever de conservarmos esta parte da nossa cultura e do nosso património. Para além disso dá-nos mais uns pózitos de visibilidade lá fora e mais uma razão da exploração do turismo no Alentejo.

Isto é parte daquilo que somos, raiz de muitos portugueses, é o cante do povo, de um povo cuja história foi dura, vida de agruras e muito trabalho e exploração. Curiosamente o Cante Alentejano é elevado a Património Imaterial da Humanidade um dia depois dos 39 anos do 25 de Novembro de 1975, data que marca o fim do PREC… Quem comemorou Abril chorou Novembro, quem comemora Novembro chorou Abril… Passados 39 anos, quem construiu Novembro continua a governar-nos. Por isso, a todos os alentejanos que choram Novembro, esta é uma prenda merecida.

O Cante Alentejano é o cante da classe trabalhadora agrícola, cujo único bem que possuía era a força do seu trabalho aplicado nos latifúndios. Trabalho duro, quase escravo, em troca do insuficiente para viver. O Cante Alentejano que às vezes é um lamento outras vezes uma brincadeira, às vezes é de amor, outras de saudade de quem partia para a guerra. É também o canto entoado pelos trabalhadores enquanto ceifavam, animando-se debaixo do escaldante sol alentejano. É o canto dos trabalhadores que se animam e descobrem que é na união que está a sua força. É o canto de quem foi explorado, de quem teve a coragem de gritar “A Terra é de quem a Trabalha”.

Hoje, passados décadas da Reforma Agrária, e do PREC ser tantas vezes desmentido e outras tantas demonizado, depois da devolução dos latifúndios aos seus originais proprietários, e depois do processo de desruralização do país por via do natural progresso tecnológico, o Alentejo é diferente daquele que é cantado nas canções. Hoje existem terras abandonas e um claro desinvestimento na agricultura que obrigou muitos alentejanos ao êxodo. Os trabalhadores agrícolas que laboram nos belos campos alentejanos são cada vez mais estrangeiros que aceitem salários baixos e condições de trabalho algumas tão precárias como há 60 anos, como por exemplo trabalhar à jorna. Não é possível negar: perderam-se algumas batalhas e esperam-se dias melhores. Urge entretanto conservar a cultura destas gentes, que encontra neste canto a ligação entre si e entre cada um deles e as suas origens.

Que a esperança, a capacidade de resistência e a coragem do Alentejo saiam hoje revigoradas e inspirem o mundo. Porque hoje o Cante Alentejano deixou de ser de Portugal e passou a ser da Humanidade.

 

 

Placebo

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Placebo é um fármaco, tratamento ou procedimento cirúrgico dissimulado, inerte, sem principio activo. Trata todo o tipo enfermidade e baseia-se na reacção psicossomática dos pacientes. Pode de facto promover um efeito benéfico real e físico.

Não consultei nenhum simpósio terapêutico, não sei se a doença existe, mas suspeito que vivemos um surto de grave défice de cidadania. Eis as questões de teste e diagnóstico:

  • Quem é que quer saber da venda da TAP quando há tanta e tão relevante informação em Évora?
  • Quem quer saber do Orçamento de Estado para 2015 quando há teorias da conspiração para denunciar ou subscrever?
  • Quem quer saber da reposição das subvenções vitalícias (não contributivas) quando há apostas a fazer sobre quem será o próximo a ser detido?

A resposta a qualquer uma das questões é: ninguém! Ninguém quer saber. Porquê? Bem, na verdade, é muito simples. É o efeito placebo. Mais uma teoria da conspiração? Negativo, é apenas o egoísmo colectivo a funcionar. Eis como:

Sem subscrever a teoria do bode expiatório, constato o reflexo da detenção preventiva nos Sistemas Límbicos dos telespectadores. Continuamos sem nada saber sobre a acusação, mas tal pouco importa. Cada um de nós tem a sua própria acusação! Eu, por exemplo, guardo com carinho um velho rancor. Remonta, imaginem, a 2011. Fatídico ano em que uma medida de excepção ao orçamento de estado desse ano me atribuiu um corte seis vezes superior ao previsto. Pequeno contratempo que está aliás na génese deste blog. É este abrangente e democrático critério que explica a euforia, a alegria que vivemos. É irrelevante a causa, cada qual escolhe a que quer. Importante é saber que há um castigo. Preventivo que seja, estamos perante a cura de muito descontentamento e revolta.

E os crentes, aqueles que acreditam na inocência do detido? Bom, para esses o placebo tem o mesmo efeito terapêutico, uma vez que toda a sua atenção está igualmente desviada. Ora testem lá as perguntas de diagnóstico novamente.

 

 

Die Zauberflöte

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Mas que bela opereta esta. Já sabemos tudo, mas sempre com prefixo: Alegadamente. O Libretto está escrito há algum tempo. Diz-se que é obra maçónica. Teorias da conspiração não faltam, mas concreto, nada. O público vibra com emoção. Uns indignados outros em êxtase. A transformação dos estados de espírito é mágica. Será que ouvimos a Flauta Mágica?

Tamino e Papageno cumprem o ritual iniciático, o silêncio. Para uns o detido é Monostatos, para outros é Sarastro. Tenho dúvidas. E se a obra for outra? E se é ópera bufa? Nada sabemos.

Não estou certo que seja este o caminho da virtude, mas confesso que gostava de estar enganado. Temo precoce toda esta celebração da mudança. Tantos outros que vimos passar esta fase e que hoje se passeiam alegremente, impunes.

Entre nós, a Rainha da Noite vence sempre. Aguardemos pelo concreto.

Isto só vistos!

Wrecking Ball SwingOs acontecimentos eclodem em catadupa! Portugal suspenso em suspense com a justiceira bola demolidora a ricochetear nos labirínticos alicerces da República, ora à esquerda, ora à direita, qual das fundações se desmoronará em primeiro lugar?

Por agora vou-me focar na situação dos vistos dourados, segundo as regras estipuladas atribuídos a estrangeiros oriundos de fora da União Europeia que criem dez ou mais postos de trabalho em Portugal, comprem imóveis de valor igual ou superior a 500 mil euros ou façam transferências de capitais de montante igual ou superior a um milhão de euros. O primeiro visto tem a duração de um ano, podendo ter duas renovações subsequentes com o período de 2 anos, ao fim de 6 anos a Nacionalidade Portuguesa é adquirida. Para ser válido os seus detentores necessitam de residir em Portugal pelo menos 7 dias por ano. É verdade, muitos dos nossos novos emigrantes podem corroborar isto, actualmente bastam viver 7 dias por ano em Portugal para que no final da nossa ausência de 358 dias bata cá uma saudade! 8 dias sucessivos da nova realidade Portuguesa seriam demais, estragaria o encanto e só ao fim de 716 dias seria sentida a tão lusa saudade.

http://saudades-portugal.ifrance.comÉ inegável que o Visto Gold é um processo rápido que pode ser visto como interesseiro, por de forma mais ou menos encapotada vender autorização de residência e livre circulação europeia, ou como um sistema de recompensa a quem investe de forma responsável em Portugal.

Ora se o processo é ágil, com regras claras, como raio poderia surgir corrupção na sua envolvência? Nada que o engenho Português não resolva e rapidamente se montou um esquema de angariação de potenciais clientes a imobiliárias que tentavam escoar os seus imóveis, a preços inflacionados por forma a entrar no segmento necessário. O jogo seria a gestão dessa fatia entre o preço justo e o preço que permitia a venda do imóvel a milionários ávidos do desenvolvimento pessoal inerente ao germinar da sua alma lusa. Aaah, que melhor começo do ser Português do que ser vítima de um esquema como este? Ou melhor ainda, ser parceiro no esquema,  caso o interesse fosse pagar um valor um cadito mais baixo pelo seu imóvel.

Independentemente de tudo o que ocorreu e do carácter duvidoso de alguns dos (re)vistados julgo que esta pode realmente ser uma medida salutar com alguns ajustamentos. Mantendo os seus objectivos principais: recompensar quem gera valor e preservar postos de trabalho. Como? Mudando as regras e deixando de realizar uma venda directa dos nossos valioso vistos. Passo a sugerir novos mecanismos simplificados para atribuição de Vistos Gold.

Quem é elegível?

  • Importadores, não europeus, consumidores de produtos ou serviços nacionais no valor de mais de 500 000 €
  • Exportadores, não europeus, de bens e serviços consumidos em Portugal no valor de mais de 500 000 €
  • Investidores em imobiliário nacional no valor de mais de 1 000 000 €
  • Investidores em mobiliário nacional no valor de mais de 1 000 000 €
  • Investidores em indústria ou serviços geradores de mais de 50 novos postos de trabalho com salário superior em 25% ao salário mínimo e com vínculo laboral de pelo menos um ano.

Regras de Atribuição?

  • Aos investidores em imobiliário e mobiliário nacional 1x Visto Gold com duração de um ano;
  • Aos restantes:
    • 3x Vistos Gold com duração de um ano que ficam afectos directamente a 3x pessoas devidamente identificadas.
    • 10x Vistos Gold com duração de um mês que podem ser requisitados com um mês de antecedência.

Vantagens deste Formato?

  • Serão recompensados aqueles que efectivamente geram valor para Portugal em termos de dinâmica comercial, manutenção e criação de emprego;
  • Não existe um privilégio específico a uma determinada área de actividade económica, tornando mais difícil o montar de esquemas e evitando o deturpar do mercado com inflacção artificial de nichos específicos;
  • Os 3x Vistos Gold com duração de um ano permitirão mobilidade acrescida aos decisores dos importadores/exportadores/investidores permitindo-lhes estadias de negócio ou lazer alargadas. Benéfico tanto do ponto de vista comercial como turístico;
  • Os 10x Vistos Gold com duração de um mês dão a flexibilidade ao importador/exportador/investidor de realizar acções comerciais não previstas ou simples acções de recompensa/cortesia cedendo-os por exemplo aos melhores clientes e/ou melhores gestores. Para Portugal seria benéfico pelo menos do ponto de vista turístico.

Isto sim, seria recompensar quem claramente investe na relação com Portugal independentemente da forma como o faz.

Por fim, em tom de provocação proponho um novo tipo de Visto, o Visto de Liberdade Incondicional, um género de carta da sorte para sair imediatamente da cadeia que pode ser usado sempre que o seu detentor, por infortúnio de uma justiça Portuguesa cada vez mais audaz e funcional, vá parar à cadeia. Não sei bem que condições de atribuição lhe poria estando apenas certo que por este andar poderia vir a ser uma das maiores fontes de rendimento do Estado Português.

E com estas fórmulas está dada a minha contribuição para que cada vez mais Portugal seja o nosso verdadeiro e singular lar doce lar.

Vistos Gold: chineses denunciam burlas em Portugal

Quem gera mais postos de trabalho?

Em tenra idade injustiçado, foi discriminado entre laranjas. Alegadamente, o jovem não respeitara a bicha para a casa de banho da discoteca. O cavaquistão era então demasiado sombrio para quem tinha tanta ambição. Alistou-se como O Independente na trincheira contra tudo – Contra quem nunca se engana e raramente teve dúvidas, contra a Europa e não menos vezes contra a verdade. A mentira deu então alguma cor à indústria do entretimento nacional, dita imprensa. Foi giro.

Certo dia, apanhou boleia num táxi. Conduzia o Monteiro enquanto o jovem estudava itinerários alternativos (ainda não havia GPS). Eram do contra. Trocaram de eufemismo: o Centrismo deu lugar ao Populismo. Também foi giro. Contudo, não chegaram ao destino. A culpa? Do motorista. Despedido o condutor, avançou o timoneiro. Deixaram terra e fizeram-se ao mar. O jovem líder deu então largas à simpatia e à ternura. Partiu do Caldas e visitou todas as feiras, sem nunca esquecer a lavoura. O arraial foi tal, que nem demos conta que já não era do contra. Viva a Europa! Para melhor muda-se sempre, não é verdade?

Quem espera sempre alcança, e a oportunidade surgiu quando quem não sabia fazer contas fugiu do pântano. Fomos então brindados com quem não estava preparado para aquilo. O Jovem estreou-se então no sentido de Estado. Coube-lhe a pasta da Defesa Nacional. Comprou os Submarinos certos, da forma errada. Ter-se-á esquecido da manutenção. Como o país estava de tanga, poupa-se onde se pode, menos nas fotocopias. Chamado para outros voos, o primeiro de então é substituído pela vedeta que estava no banco. Ouviram-se depois os concertos para violino de Chopin. O Cenoura não gostou e pôs fim à festa. Ainda houve tempo para mais uma prova de apreço à lavoura – Lá se foram os sobreiros. Eram tempos da Santa dinastia. O jovem, que entretanto já não era, nem jovem, nem do contra, foi dar aulas. Enquanto esteve na terra dos bravos e na casa dos livres, deixou o Ribeiro ao Leme do bote até à mudança da maré.

Regressou na preia-mar e deu ao Ribeiro o destino do Monteiro, o esquecimento. À doutrina da lavoura acrescentou a protecção dos reformados e transformou o Caldas no ultimo bastião do contribuinte. Com convicções não se brinca! Esteve na primeira linha de todas as batalhas contra os desprotegidos. Cinéfilo confesso, fez os seus filmes com relativo sucesso. Vivíamos então acima das nossas possibilidades. Venha a ajuda. Chegada a dita, regressou coligado ao sentido de Estado. Abraçou a diplomacia económica, tarefa que justificou a ausência da ribalta domestica. Apesar do amor à lavoura, não partilhou o protagonismo tauromáquico. Acabada a faena do matador de touros, fez birra. Irrevogavelmente demissionário, foi promovido a vice e já desse posto anunciou a salvação da nação – a venda dourada de vistos. Tem jeito para publicidade.

Chegado o verão de 2014, enquanto outros foram de férias para o sotavento algarvio, ficou ao Leme do executivo. Tão obstinado estava com o bem-estar das populações, que em época de hipertensão a ministra das finanças não o conseguiu contactar. Evitou bem os danos colaterais. Consta que tem horror a seringas, pelo que também nada sabe sobre a injecção. Moral vertical mas ágil de convicções. Uma inteligência viva, um exímio gestor de crises. Foge como ninguém. Tem no dom da palavra uma arma justamente temida pelos adversários, sejam eles parceiros de coligação ou não. É brilhante!

Ontem, precisamente às 18h38, deu-nos um excelente ensinamento sobre como responder a uma questão desconfortável. Como é feio responder a uma pergunta com outra pergunta, responde com duas:

Quem gera mais postos de trabalho? A Remar ou a Bolsa de Excedentários?

o jovem

Jogos sem Fronteiras

Revisto o visto, salta à vista que reluz, mas não é ouro. É pechisbeque. Os vistos foram vistos como uma oportunidade para o verdadeiro empreendedorismo. Daquele que não é para piegas. Compareceram os valentes, só depois alguém declarou abertos os Jogos sem Fronteiras.

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Parece que nós, pequeno país europeu, não somos piores que outros, mas também não somos nenhum Grão-Ducado. Nunca! Jamais facilitaremos, jamais abriremos excepções às pessoas colectivas. Sim, somos muito humanos, pioneiros na abolição da escravatura, sensíveis apenas aos desejos de pessoas, sobretudo quando oriundas de outras culturas. Mais um grande sucesso! Haja dinheiro, tudo se resolverá…

Prescrita Impunidade

Acabou-se a impunidade. Mais que certo. Desta é que é, nada voltará a ser como antes. Nenhum ladrão de fruta poderá evitar o cárcere com manobras dilatórias. Isto porque o roubo de fruta, como todos sabemos, é muito rentável, e como tal os recursos para manobras dilatórias abundam. Quem ajuda a mercearia de bairro que se vê privada da sua mercadoria? Quem? A Justiceira. Pelo menos assim decretou com pompa e circunstância.

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Sitiada pelo Citius, não baixou a guarda. Assumiu a relatividade das responsabilidades, pediu desculpa ao telejornal. Foi bonito. Foi humano. Consequências retirou? Sim, claro que sim: Atacou com uma sindicância aos serviços. O Inquérito decorreu, averiguou e concluiu – foram dois malandros que a soldo do mal sabotaram o sistema. Haja culpa! Age-se em conformidade, envia-se o relatório para a PGR. Lá saberão o que fazer. À justiça o que é da justiça. Separação de poderes pois então. Isto por cá não é a parte leste de um ilha no pacifico. Assim foi. Oxalá não prescreva.

Afinal não, afinal nada há a investigar. “As diligências realizadas” permitiram concluir “não existirem indícios do crime de sabotagem informática”. Mau. Querem ver que foram os russos? E agora? Regressa a impunidade? Não, claro que não, agora a Justiceira ordenará uma sindicância ao inquérito para apurar quem apurou aquilo que afinal não foi. Confuso não é? Vou tentar novamente – Agora, investigar-se-á a investigação feita, para que se possa perceber se há ou não pedidos de desculpa a pedir, a quem e porquê. Entretanto, parece que a Impunidade prescreveu…

Verde Brutus

Boost green taxes for economic growth, says EUA fiscalidade verde chega-nos agora vendida como um instrumento benéfico essencial ao fomentar da mudança de hábitos e comportamentos para que dêmos o passo em frente rumo a uma sociedade mais sustentável e eco-responsável.

Não discuto que teoricamente seja um instrumento válido e justo, no entanto, a forma como este tipo de medidas são tomadas, tendo em conta o histórico da aplicação destas taxas ‘transformadoras’ no passado, só vem realçar dois pontos que acho particularmente interessantes.

O primeiro é forma pautada e predatória como sucessivos governos caçam tostões nos bolsos dos seus cidadãos. Por exemplo, durante décadas foi criada uma horda de fumadores, dando mais relevância aos benefícios de empregos e receita gerada do que a estudos clínicos sobre perigos do tabagismo. Até que um dia, ao aproximar-se o ponto da curva em que as despesas derivadas de doenças tabágicas seriam maiores do que a receita de consumo, foi necessária a aplicação de taxas sucessivas sobre o tabaco, incutindo a diminuição do consumo de forma equilibrada que permitisse o manter de níveis de receita interessantes. Recentemente permitiu-se surgir no mercado os chamados cigarros electrónicos que começaram a ser adotados como alternativa barata e hipoteticamente menos perigosa para a saúde. Agora é-lhes aplicada uma taxa simpática que talvez sirva para alertar os consumidores de que não serão assim tão seguros?

O segundo ponto interessante é a mentalidade vingente, de defesa cega e vigorosa de vícios e hábitos pessoais versus abertura para a adequada informação e ponderação sobre o que implicam para si, para os que se encontram em seu redor e para o meio ambiente. Por exemplo os fumadores conquistavam os espaços públicos desconsiderando quem se sentia incomodado porque afinal quem está mal muda-se. No entanto a aguerrida forma como se batiam nestas pequenas querelas sociais foi completamente desmantelada com aplicações legais de condicionamento de espaços de fumo e agravamento do custo do tabaco. Dois atentados à sua liberdade pessoal que, por serem lei, foram acatados sem distúrbios. Ironicamente a força da razão sobrepõe-se à razão da força pela aplicação da força bruta.

Temos tido sucessivos governos que não informam os cidadãos do real impacto dos seus hábitos de consumo, cidadãos que não procuram sabê-lo, ambos capazes de olhar de lado e vilipendiar os ‘maluquinhos’ que quebram esses hábitos porque se informam e não querem fazer parte do circuito nocivo instituído. Os próprios governos incutem e protegem alguns destes hábitos, exploram o seu filão, até ao momento em que decidem ter chegado o momento de mudar o status quo geral. Fazem-no não através de uma campanha informativa e pedagógica, inerentemente de médio a longo prazo, mas sim com a aplicação a curto prazo de medidas duras que visam penalizar os ‘ignorantes’ por si criados levando-os, em reacção, a adoptar os novos métodos e hábitos classificados como o novo circuito a seguir, o novo filão a explorar.

Com uma agravante que torna todas estas taxas uma grande farsa. O facto das receitas obtidas não serem totalmente aplicadas para exactamente criar condições que acelerem as transições necessárias. As receitas com impostos são enormes, sobre o tabaco tem andado na ordem dos 1 000 milhões de euros anuais, sobre os combustíveis tem sido na ordem dos 2 000 milhões de euros anuais (mesmo 3 000 M€ antes dos anos de crise). Onde foram aplicadas estas receitas? Se a sua coleta é relativamente estável só é demonstrativo que os níveis de consumo de produtos supostamente nocivos se mantém a um nível altíssimo e/ou que têm falhado hipotéticas medidas aceleradoras da mudança necessária. Se estas taxas são criadas com um objectivo específico as suas receitas deveriam ser canalizadas praticamente na sua totalidade para o atingir. Não ser desviadas como tapa buracos para outras zonas dos sucessivos orçamentos de estado.

Depois do tabaco temos agora os sacos de plástico, o abandono de combustíveis fósseis na transição para veículos eléctricos e em breve começarão a ocorrer medidas similares até nas opções de alimentação. Dizem que somos um povo de brandos costumes, talvez até seja verdade, pois em termos de condução das mudanças dos nossos hábitos e comportamentos só o fazemos quando nos taxam à bruta completamente indiferentes ao porquê e à escolha do momento. Aparentemente somos meros brutos consumidores que ficam vermelhos de raiva pela aplicação de impostos verdes.

De entre o nosso cascalho brotará a verde esperança do futuro que já deveria ser o nosso presente há décadas, assim o quisessem realmente os governos, assim se importassem realmente os portugueses.

Japan rolls out environment tax

Espião no Sado

Um Golfinho russo, camuflado de Roaz-corvineiro, violou a interdição de pesca no interior da Marina de Tróia. O Ministério da Defesa Nacional emitiu um comunicado, esclarecendo que não chegou a accionar os meios navais da Atlantic Ferries, pois o intruso foi escoltado até Sesimbra pelas Tainhas residentes na Marina…

golfinhorusso