Monthly Archives: Fevereiro 2013

Voltar às Bases – Serviço Militar Obrigatório

O buzz do momento é o revivalismo dos cantares revolucionários. O “Grândola Vila Morena” cantado simbolicamente no parlamento e nos eventos onde participam membros do governo. Evoca a revolução dos cravos que apesar de ter tido essa canção como parte da banda sonora foi executada e perpetuada por operações militares. Faz toda a diferença a troca de uma letra em canÇão para canHão. Uma diferença capaz de ganhar batalhas.

Temos milhões de desempregados, milhões de Portugueses à espera de dias melhores. A descrença reina. Os mais espevitados abalam para outros países. Os que ficam marinam numa sopa social indefinida, sem uma concreta definição do seu sentido de orientação e da sua capacidade concretizadora de reais mudanças.

Com um mercado de emprego estagnado há cada vez mais magotes de jovens a sair do seu percurso escolar ou académico com entrada directa no marasmo e falta de oportunidades.

Olhando para toda esta conjuntura e para o recente anúncio de cortes nas despesas militares atrevi-me a pensar num movimento contrário. No final do meu percurso académico fui à inspecção militar obrigatória e ‘escapei’ ao serviço por ter já um contrato assinado para iniciar carreira profissional. Nessa altura o mercado estava ávido de mão de obra qualificada e absorvia praticamente todas as fornadas que saiam das Universidades. Cumprir o serviço militar obrigatório era visto como algo tedioso, um verdadeiro empecilho ao futuro.

Nesta altura isso não se verifica. Não há mercado. E também se perderam muitos valores e muita gana. Já lá vão as gerações offline. As gerações que passavam mais tempo na rua do que na net. As gerações que ao brincar suavam, sujavam, lutavam, choravam e amadureciam um pouco mais rápido. Agora caminhamos para os seres digitais. Alimentados a centenas de canais de TV, a milhares de jogos de computadores/consolas, a smartphones, a relações à distância cada um na segurança e conforto do seu quarto ou de uma redoma bem montada a dar ares de total liberdade e arbitrariedade. As gerações de hoje revolucionam nas redes sociais, deslumbradas com o volume de likes, assinantes de petições e minutos acumulados em reportagens relâmpago nos telejornais. Mas perderam o contacto directo com a Terra, deixou de se sentir com frequência o choque e solidez de uma violenta queda ao solo, deixou de haver a necessidade constante de superação perante condições adversas surgidas do nada e sem ponto de fuga possível. A descrença antes de ser nacional é pessoal. Uma pessoa foi formada toda a vida num ambiente propício para ser X e não crê que possa facilmente ser Y, Z ou XPTO.

E por isso, neste momento particular, parece-me que o serviço militar obrigatório poderia ser uma boa forma de servir de continuidade à formação pessoal dos homens e mulheres  após final do percurso escolar ou académico. Sendo uma fusão de treino militar com escola de ofícios, aumentando a auto-estima dos seus formandos bem como desenvolvendo-lhes novas valências e competências. Uma recruta militar que obrigue os seus formandos a viver mais tempo no mundo offline, a explorar os seus limites físicos e mentais, a cooperar com tudo e todos sem hipótese de fuga para o coito mais próximo.

Em termos de fundos, necessários para concretizar a logística deste programa, poderia ser feito o desvio de verbas aos programas de apoio a jovens desempregados. Para cortar na despesa, e ao mesmo tempo servir de acção formadora, muitas das tarefas ‘domésticas’ e de manutenção seriam executadas pelos próprios, inclusive o cultivo hortícola para o máximo de auto-suficiência. No fundo existiria uma deslocalização de parte das acções de formação para os quartéis. O aumento de consumo de bens como fardas, calçado, alimentos, etc, seria também um incentivo a alguns sectores nacionais que se assumiriam como fornecedores destes novos polos de consumo. Seria um meio de injecção de capital na economia de uma forma distribuída ao invés de concentrá-lo em empresas prestadoras de serviços, como acontece actualmente com muitas acções de formação em que por vezes parece mais importante zelar pelos interesses do prestador do serviço do que pelos interesses reais para os formandos e para o país.

Para concluir não queria deixar de notar que na maior parte dos casos vejo que quem fala do serviço militar cumprido fá-lo com uma certa nostalgia de bons velhos tempos e com orgulho da superação de obstáculos tendo sido um período marcante na lapidação da sua personalidade. Mais, vejo-lhes uma centelha de quem já fez coisas complicadas e estaria preparado para o fazer novamente se assim fosse preciso. Perdido por 1 perdido por 1000.

E esta centelha seria o principal ganho para o país. O de transformar uma manada de insatisfação submissa num enxame de operativos capazes de iniciativa real sem necessidade de grandes holofotes. Homens e mulheres confiantes na sua capacidade de sobrevivência perante qualquer adversidade. Custaria bem menos do que dois submarinos. Seria tão mais produtivo para Portugal. Ter um governo perfeitamente ciente que a maioria da população dispõe das capacidades necessárias para mudar usando as canções meramente como música de fundo.

Para quem naturalmente vá ter fortes anticorpos a esta ideia ‘retro’ só lhes queria lembrar que uma outra canção foi usada na revolução. Pensando em quem disse ou vai dizer adeus ao emprego, adeus à casa, adeus à família, adeus ao país ou simplesmente adeus à vida deixo-a aqui porque também ela é história apesar de menos querida pelos revolucionários.

Driving Miss Daisy

DrivingMissDaisy_Seguro_CostaSenhora do seu nariz, Miss Daisy conduzia o seu próprio automóvel. Por mais desconcertante a condução, acreditava em si própria, nunca ligando a buzinadelas ou às infundadas críticas dos outros automobilistas. Afinal, uma senhora é sempre uma senhora. Um dia, um pequeno acidente, foi a desculpa  perfeita para o seu SEGURO cancelar a apólice. Foi um rude golpe na autonomia de Miss Daisy. Seus filhos socráticos, ávidos por restabelecer a alegria dos tempos idos, precipitaram uma solução: Miss Daisy teria um motorista, alguém que a conduzisse sem percalços. “Qual a pressa?” questionou Miss Daisy. Pragmática, decidiu fingir aceitar a vontade de sua prole. O voluntarioso Mr. Hoke Coleburn apresentou-se ao serviço. O desdém e antipatia inicial, foram teatralmente dando lugar à empatia e ao profundo respeito. Os múltiplos prémios e distinções atribuídos a este filme nunca ocultaram a singela verdade:

É uma monumental e inconsequente séca!

DrivingMissSeguro

The Matrix

Matrix à Portuguesa

Pedro Morpheus aceitou o destino que lhe fora revelado por Angela Oracle: Seria ele a encontrar o escolhido. Ao leme do hovercraft “Nebuchadnezzar”, Morpheus manobrava pelos esgotos em busca do salvador. A tripulação partilhava o empenho do seu comandante.OracleMerkel Contudo, Álvaro Cypher vivia descontente. Conhecia a verdade, mas sonhava voltar à ignorância. Trinity Portas, sorria em silêncio. Após uma longa busca, Morpheus encontrou Franquelim Neo, o predestinado. Cypher viu então a oportunidade para se pirar e exclamou: “a escolha é minha, o homem até ajudou a desmascarar o enredo insular”. Morpheus de pronto partilhou a responsabilidade na escolha, fazendo aquilo que dissera nunca fazer, comentar trocas de subalternos. Mas o momento era festivo, por isso abriu uma excepção.

Oliveiraecosta

Agora sim, empreenderemos à séria. Nada, nem ninguém deterá o avanço dos salvadores de Zion. José, o Arquitecto não contesta, não questiona. Contempla a sua obra. Está tudo bem. Fica-nos a importante lição de Manuel, o rapaz da colher. “Não tentes dobrar a colher, isso é impossível. Tenta antes compreender a verdade: a colher não existe”.

Manuel Dias Loureiro

Voltar às bases – TV Rural

Recentemente deu-se o buzz TV Rural. O governo levou à discussão no parlamento a sugestão de recolocar na grelha um programa sobre a Agricultura e o Mar que tanto sucesso fez durante 3 décadas entre 1960 e 1990.

Oh a ironia! TV Rural, um programa saído de cena a meio do período do Cavaquismo que governou Portugal entre 1985 e 1995, agora ressuscitado pelos seus herdeiros políticos.

Pudera tudo o que esse senhor matou na altura poder ser assim recuperado de um momento para o outro… No seu tempo acreditava que Portugal se transformaria essencialmente num País prestador de serviços, sem necessidade de produção agrícola e industrial que prontamente desmantelou. Só não esperava que os prestadores de serviços algum dia tivessem de sair em massa de Portugal para poderem exercer a servitude humilde e honrosa no estrangeiro. Como adivinhar que a grande dependência da produção externa nos pudesse um dia fragilizar ao ponto de condicionar a tomada de decisões que afectam directamente a nossa soberania e o nosso Estado?

A oposição portuguesa por tradição é uma oposição do contra procurando sempre focar-se nos aspectos negativos de medidas tomadas pelo governo, mesmo quando aparentemente positivas. Vemos assim os partidos que defenderam as vantagens da manutenção de um canal de televisão pública, para salvaguardar um meio de comunicação que não possa ser instrumentalizado, condenar o uso de influência política para pôr no ar um programa, interferindo assim na normal gestão da RTP.

Ora é exactamente esta a vantagem de ter um canal público. O de contra a lógica comercial substituir uma potencial novela, reality show ou programas da socialite por um programa útil apesar de aparentemente pouco atractivo e com fome de audiências. Apoio e digo que o simples relançamento do TV Rural é pouco. No passado o TV Rural beneficiou do facto de não existirem canais concorrentes e os jovens que acordavam cedo para ver os cartoons matinais acabavam por aprender umas coisas de forma inconsciente enquanto esperavam e viam a única coisa disponível.

Como recolocar o TV Rural no horizonte de interesse dos Portugueses e ao mesmo tempo vincar a aposta nos sectores primários da economia? Simples. Tenham a coragem de colocar nos programas escolares projectos obrigatórios de produção de hortas caseiras. Não como um mero ATL mas como uma disciplina durante um ciclo escolar completo. Através dos jovens e entusiastas alunos ensinem os pais a ganhar maior autonomia alimentar e a aliviar o orçamento familiar produzindo parte da sua alimentação.

Desta forma a prazo teremos garantido que todos os Portugueses passaram ao longo da sua vida escolar por um período de formação em actividades agrícolas que cada um escolherá, ou não, desenvolver no futuro, seja a nível profissional, seja a nível doméstico.

Ensinemos os Portugueses a sujar as mãos,  preparando-os para o colapso do período de dominância do colarinho branco no nosso mercado de trabalho.