Monthly Archives: Abril 2015

Nau Taforeia

As últimas semanas têm sido pródigas em “factos” políticos: candidaturas, propostas macroeconómicas, coligações, relatório da comissão de inquérito, celebrações e discursos. De tudo um pouco. Haja abundância, haja diversidade, haja campanha. É certo que atenua o cinzentismo reinante. Embora animada, não alegra. Nem um pouco. Revela apenas que tipo de eleitorado somos. Ao conteúdo, alguns chamam eleitoralismo. Eu chamo-lhe palha. São fardos e fardos de palha!

palha

As campanhas eleitorais dizem-nos mais sobre nós próprios do que sobre quem se candidata. Tendemos a não pensar muito nisso. Talvez seja melhor assim. Preferimos palha e estamos no nosso direito. Os candidatos agem em conformidade, servem-na aos elegantes e dóceis puro-sangue Lusitano. Bem sei que a abstenção tem subido a cada votação, mas tal mais não é que a medida do sucesso dos candidatos – Quantos menos votarem, melhor, mais fácil se torna a manobra.

Será que o navio aguenta? Sim, que remédio, mas verdade seja dita, a outrora opulenta Nau Portugal tem vindo a ser reformada e ajustada a novas missões. Tal como outro Albuquerque no passado, a actual visa importantes objectivos além-mar. Para o conseguir, necessita de um navio próprio para o transporte dos eleitores. A manobra nunca será fácil, pois todos os equinos tendem a temer a água. O embarque não se faz pela escada de portaló. Ferrados ou não, os cascos não são compatíveis com degraus. A rampa é a solução. Cabeção e determinação rampa acima no embarque.

Chegados ao destino, desembarcaremos rampa abaixo numa qualquer praia paradisíaca. Nessa altura, não restará palha na coberta, mas manobrada com perícia, a Nau Taforeia estará apta a embarcar mais eleitores para uma nova e emocionante viagem.

Nau Taforeia

Quem dá Cavaco à Presidência da República?

Ok, desisto. Se os senhores dos canais de (des)informação querem que eu consuma as presidenciais de Janeiro de 2016, ao invés de me elucidarem sobre o que anda o governo a fazer ou ajudar-me a definir a minha escolha para as legislativas de Outubro de 2015, então eu regurgitarei presidenciais.

Temos N nomes em cima da mesa, concretos, possíveis e imaginários. Oh Meu Deus! Qual deles o melhor? O mais adequado à nossa situação? Ao cenário ainda não existente pós-legislativas? Tantas perguntas sobre ses para gerar ladaínha comentadorista de encher chouriço e dispersar o pensamento do que realmente interessa.

Pois bem, então deixem-me colocar as coisas de outra maneira. Temos em funções um Presidente da República com índices de popularidade a pique, que preferiu relativizar os temas fracturantes que poderiam ter levado ao uso legítimo da ‘bomba atómica’, que sempre defendeu uma coligação alargada ao maior número de partidos possível para estabilizar governação sem actuar com veemência nesse sentido, que se vê envolvido nos escândalos da praça financeira, que elogia mais os números financeiros do que lamenta os indíces sociais, e que apesar de tudo isto mostra-se sempre um homem calmo e sereno, um observador pacato, talvez por se encontrar na segurança do olho do furacão.

Devido ao desacerto ocorrido com o antecipar de eleições no passado é ainda este o Presidente que vai decidir quem é o próximo primeiro-ministro convidado a formar governo. De certa forma é este Presidente, impopular, conformado, já em fim de funções, que vai ainda influenciar directamente o rumo dos próximos 4 anos e condicionar o início de mandato do seu substituto.

Ninguém tocou ainda neste ponto. Talvez seja considerado um dado adquirido, o cumprir do mandato sem surpresas. Garantidamente existe uma corrente de desconsideração e desprezo pelo actual Presidente, pelo que talvez uma saída em grande da sua parte fosse a sua saída imediata provocando a antecipação de eleições presidenciais. E quando digo em grande digo de grande consideração pelos Portugueses e pela Democracia. Devolver aos Portugueses a oportunidade de decisão do tipo de Presidente que querem para este momento. Se um homem do sistema, que cumpra o protocolo e tenha em consideração estrita os resultados oficiais das legislativas, se um homem mais afoito, com mais fibra e coragem, que dê relevância aos níveis de abstenção e opte por forçar um entendimento e uma composição mais abrangente do novo governo.

Sr. Presidente, por favor tenha em conta esta sugestão. Há outros homens capazes que partilham das suas vontades sem estar ainda manietados pelo seu próprio historial político. Dê-lhes, dê-nos,  a oportunidade de ter maior influência sobre a mandatação do próximo governo. Demonstre neste derradeiro acto a sua verdadeira humildade e desapego ao poder.

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A Chusma

Peripécias várias, tropelias múltiplas, a embarcação manteve o rumo. O vento e as marés alteraram muitas vezes a rota, mas a experiência de cabotagem do comando providenciou as correcções necessárias. Haja quem enfrente os problemas e sem receios ou subterfúgios diga qual a solução.

A Chusma da Galera moderna e competitiva quer-se magra. Sem gorduras. Linda até morrer!

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De acordo com a tradição, a Chusma da Galera portuguesa é composta por três tipos diferentes de contribuinte: Os escravos, os condenados e os livres. Como o padre Fernando Oliveira nos ensinou no seu livro “Arte da Guerra do Mar“, a Chusma não deve ser constituída apenas por escravos e condenados. Não é prudente. Assim aconselha a experiência. Quando não são livres, os remadores tendem a combater pelo inimigo sempre que a Galera é abordada, pois “o inimigo do meu inimigo, meu amigo é”. Eis porque desde o séc. XVI, a maioria dos remadores das nossas Galeras é livre, isto é, remunerado pelo seu trabalho. É este o verdadeiro problema! É Chusma, mas não é abundância, é custo.

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Na verdade, apenas os condenados e os escravos são competitivos: remam a troco de nada, um pouco de pão e água. Os livres, esses privilegiados, apenas necessitam de remar a primeira metade do ano para pagar os impostos sobre o trabalho. Na outra metade, tudo que ganham é para si e para as obrigações fiscais que restem, sejam taxas, coimas ou até mesmo contribuições por empatia

A Chusma quer-se treinada, síncrona na voga, submissa e disciplinada. A Chusma aceita o seu karma porque há equidade nos deveres e direitos. Correntes e grilhões para todos, chicotadas para os mandriões. Vida dura, mas nenhum contribuinte é piegas. Não pode.

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Amadores e Contra

Esta segunda-feira detive-me uns minutos a ver o Prós e Contras da semana. O tema “A comissão parlamentar do caso GES”. O segmento a que assisti focava-se no problema criado com a trapaça de induzir grandes e pequenos investidores a investir em larga escala no papel comercial do GES.  Os principais temas em cima da mesa referiam-se à inação dos reguladores, que toleraram este tipo de produto com venda alavancada em acção comercial abusiva, e à flutuação dos termos da resolução proposta para de alguma forma reembolsar os lesados no futuro.

A conversa e polémica não são propriamente novas, com avanços e recuos,  mas o pormenor que me chamou a atenção foi o facto de ninguém do Banco de Portugal, do Novo Banco,  da CMVM, do antigo BES, alguém ligado ao processo, às entidades envolvidas, se ter disponibilizado para participar no debate materializando a facção dos Prós. Ou seja, os defensores da solução encontrada, os executores das partilhas entre o Novo e o Mau, os decisores de quem recebe bóia de salvação e de quem é atirado borda fora como náufrago colateral, não estão dispostos a beneficiar do prime-time para dar a cara, para expôr argumentação justificativa da sua acção e esclarecer directamente os lesados, e o público em geral, relativamente à inevitabilidade e adequação do cenário actual.

Especulo que os administradores de topo destas entidades sejam especialistas em matérias complexas que fogem ao entendimento dos comuns dos mortais. Sobretudo dos clientes das entidades bancárias e financeiras de confiança e falidas. Seria uma maçada ter de lidar com eles assim, aos magotes em praça pública, a falar de fait-divers pessoais. Para estes administradores é difícil traduzir grandes números de capital agregado em infímas parcelas de cumprimento de compromissos assumidos com base em poupanças seguras, parcelas que se traduzem em despesas de habitação, alimentação, medicamentos, etc. Os números são residentes dos sistemas informáticos, ficam lá sossegados quando desligamos o PC, não são inconvenientes a andar atrás de nós na rua a chamarem-nos mentirosos e gatunos. Na verdade eles amam sistemas de informação pois com arte e engenho será fácil construir uma narrativa que conclua que tudo não passou de uma série de bugs informáticos, imputando as culpas a um qualquer operador ou responsável técnico que tenha anuído à execução de ordens superiores.

No fundo eles são os donos disto tudo, que decidem quem vai a jogo e quais as regras, são uns reguilas que quando encostados à parede têm estofo e à vontade para esquivas como “não fui eu” e “não me lembro”.  Para quê reguladores quando temos tão bons reguiladores?

Portugal é muito isto. Uma gestão cobarde e opaca executada por especialistas da complexidade teórica das coisas que se revelam demasiado amadores relativamente à realidade prática das coisas simples.

Amadores-Contra

Espinhas do Ofício

Outorgada a procuração, implementada a equidade geométrica, eis-nos numa nova era da actividade piscatória. Solene e simbólica é uma revolução tecnológica! Mais uma infalível medida da economia planificada, centralizada e formal. Demonstra a sapiência do almirantado. É o liberalismo progressista. O trabalho é um privilégio, logo, nada de ideias ou iniciativas. O armador, coitado, nada pode, por isso nada faz. Conformidade, ora aí está. É assim, porque sim. Alguém pensou em tudo, e se não pensou, azar. Novidade? Surpresa? Nem por isso. A mesma cobardia na rota, o mesmo despropósito do rumo. Mas também, que sabe um pescador de navegação? Nada!…

Assim seja. Trocamos as ilusões fantasiosas do “sol na eira e chuva no nabal” pelo pragmatismo da expressão “Prego que se destaca é martelado”. Sinal dos tempos, a sabedoria popular portuguesa deu lugar à milenar perspicácia chinesa. Haja coragem, haja liderança. Benzido o navio, arranca a campanha. Esperamos Milhões de quintais de peixe salgado e acamado nos porões. A competitiva actividade piscatória assim o exige. Meios? Ferramentas? O isco é pouco, mas há quanto baste. O navio é novo em folha, pouco mais de 10 anos, as máquinas impecáveis, raramente avariam. Por outro lado, poucos navios se aventuram por estas águas, pelos bancos da terra velha. No Rancho, nada de confortos que promovam o ócio, até porque o pescado abunda! Tanto bacalhau à deriva, algum cá virá parar. Basta empatar anzol e lançar o trol. Os meios são escassos, mas os homens são duros: O primeira linha recebe um tronco de eucalipto e um oleado para com eles engendrar uma vela para o seu Dóri. E um par de Remos? Ele não precisa dessa despropositada ferramenta. Os bons ventos o trarão de volta ao navio-mãe. Ou não…

Luxuosa-ferramenta-o-Remo