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Tribalismo viral
Tenho dado conta de que com o passar dos dias o confinamento tem resultado em cada vez maior refinamento ideológico.
Depois das eleições assistimos nas redes sociais à abertura da caça ao facho, em que vários foram os convites públicos de desamigamento Facebookiano voluntário, endereçado a quem tenha ousado votar no Chega, culminando num pedido formal de ilegalização de um partido “com ideias perigosas”, por parte de uma candidata vencida que o tinha prometido caso fosse eleita.
Patriotas, activistas, defensores da liberdade lusa, não hesitam em censurar e oprimir uma força política diametralmente oposta. #$%&%! Não fosse o confinamento era certinha uma guerra civil para limpeza ideológica!
Que tristeza considerar que o perigo está na expressão de certas ideias. Que desconsideração pela liberdade em ser bronco. Ser bronco não é fácil nos dias de hoje, deu muito trabalho passar por um sistema de educação, conseguir a inserção num mercado de trabalho, integrar a adoção de um modelo de sociedade onde a realização pessoal assenta no consumismo, voyeurismo e narcisismo egocêntrico. Foram anos de participação num projecto político e económico, construído por forças ideológicas benevolentes, resultante num grande número de mártires sociais amparados por suporte de vida em contínuo. Como poderá esta fórmula de sucesso ter resultado num terreno fértil para implantação de um egóico, divisionário, discurso de ódio?
E se a sociedade portuguesa decidir usar a democracia para valorizar forças normalmente associadas à sua destruição? Não será mais vantajoso à sociedade saber com o que conta? Dar expressão parlamentar ao que é o sentimento de parte significativa dos eleitores? Não seria mais perigosa a insurgência inesperada de força clandestina crescente por impedimento preventivo da sua representatividade política? Não seria anti-democrático, ou pior, uma maquilhagem da sociedade real, aplicar limitações aos possíveis resultados nefastos de uma plena democracia?
Renegar os que desesperaram é atitude fraternal? Desrespeitar os resultados eleitorais não é coisa de facho? Findar o diálogo por pura cegueira ideológica não é coisa de bronco? Temer ideologias é demonstrar fraqueza, uma descrença absoluta nos valores e ideais opostos, como se não houvessem argumentos cabais capazes de desconstruir populimos oportunistas.
O distanciamento social está a quebrar a sociedade. Da deriva num oceano de gente, em constante troca de ideias e experiências, fomos amedrontados, acossados, reduzindo a navegação aos que nos são mais próximos, alguns chegando mesmo ao pleno isolamento em naufrágio individual. Por força das circunstâncias a nossa tribo foi reduzida, com isso prejudicando a nossa tolerância, sabedoria e ponderação. A abertura de horizontes tem sido tentada no mundo online, aumentando os que são reféns de algoritmos ilusórios, criadores da ideia de que o “meu” sentimento é o sentimento de uma maioria pujante, dando força e alento para rugir, censurar, obliterar de forma ameaçadora sem ter noção da fragilidade dos seus alicerces.
Sei que pareço um
ladrãofacho…Mas há muitos que eu conheço
Que não parecendo o que são,
São aquilo que eu pareço
Adaptação do original de António Aleixo (sem facho e sem rasura)
Updating…
Tipicamente, um dos mais entediantes e banais momentos dos nossos dias começa naquele instante em que o nosso computador, tablet ou telemóvel nos diz que necessita de uma actualização. Defraudados no nosso ímpeto de acesso, desapontados com esta faceta menos simpática da tecnologia, anuímos ao aborrecimento em troca da alegada melhoria, seja desempenho, segurança ou correcção de anomalia entretanto descoberta. Evolução a cada actualização, o equipamento torna-se mais rápido, mais capaz e seguro, mas não lhe é acrescentado valor, tão só uma sucessiva (nunca acabada) supressão de defeitos e fragilidades, desejavelmente ao ritmo que são detectadas, mas em rigor apenas e só à medida que a implementação se torna economicamente viável.
Ora, não obstante o nosso empenho em actualizar sistemas operativos, antivírus e firewalls, os nossos equipamentos nunca estarão 100% imunes. Por exemplo, neste preciso momento, a sua máquina pode já estar contaminada com um vírus “ainda sem nome”, cuja acção é imperceptível. Não sendo conhecido à data, não significa que não existe, apenas não foi detectado. Tão pouco se saberá como se transmite, consequentemente a forma como ocorreu o contágio. Terá entrado num email, numa actualização de um programa gratuito ou terá sido naquele site apagado do histórico de navegação?
Este mesmo vírus, sendo aparentemente inofensivo para a sua máquina, poderá criar problemas complicados, quiçá fatais, a equipamentos mais antigos ou frágeis, situações em que a derradeira falha será diagnosticada como o natural e expectável fim de ciclo de vida.
Contudo, o vírus “ainda sem nome” poderá entretanto manifestar-se num importante servidor central de uma qualquer organização relevante, dotada de poderosos recursos técnicos e para a qual possa constituir ameaça real. Nesse mesmo dia, o vírus será baptizado e classificado como “Novo”. Dias, senão horas depois, a sua definição constará de todos os antivírus deste mundo e consequentemente terá início uma vertiginosa contagem de infectados. Face ao aparente ritmo de contágio, assustados ou explorando uma oportunidade de negócio (qual bug do milénio), talvez seja declarada pandemia…
Psicologia do Cumprimento de Cenário
Lançado em 1982, o USS Vincennes (CG-49) foi um Cruzador da Classe Ticonderoga, terceiro navio da US Navy equipado com o sistema de combate Aegis. Em 1988, em plena guerra Irão-Iraque o navio foi enviado para o Golfo Pérsico, missão durante a qual se tornaria tragicamente célebre, ao despropositadamente abater um avião comercial a 3 de Julho de 1988. A aeronave, um Airbus A300 da Iran Airways, matricula EP-IBU, realizava o voo 655, com origem no aeroporto de Bandar Abbas no Irão e com 290 pessoas a bordo. Nenhum sobreviveu.
Importa explicar que o aeroporto em causa também é utilizado pelos militares iranianos. Acresce que a região era, é e será um dos pontos mais “quentes” do planeta (assim continuará enquanto o mundo se mover a petróleo), pelo que o contexto em que o navio operava era bastante hostil, logo propenso a precipitações e mal-entendidos. Como sempre acontece nestas tragédias, as nações envolvidas trocam acusações, negam responsabilidades e apresentam dados contraditórios. Qualquer entendimento, reparação de danos ou pedido de desculpa leva anos, podendo até nunca acontecer. No caso, as famílias das vítimas foram indemnizadas pelos Estado Unidos da América, os militares envolvidos foram condecorados e nunca foi apresentado nenhum pedido formal de desculpas. Para a história fica a explicação que foi dada para o sucedido – Scenario Fulfillment, em português Cumprimento de Cenário, i.e., o fenómeno psicológico que precipita a concretização das condições exaustivamente treinadas: Perante situações similares, os automatismos tomam o controlo do discernimento. Assim foi, aquilo que a guarnição e o comandante viram nos seus monitores não foi aquilo que o sofisticado sistema Aegis lhes mostrava. Reagindo ao treino que receberam, tomaram a decisão que deles se esperava.
Por vezes este tipo de fenómeno ocorre no conforto das nossas casas, quando mesmo sem todos os factos, tomamos como certo aquilo que os dados não confirmam.
O Aprendiz
O Sr. Chega disse Basta! Basta do Chega? Ambas, embora acabe por não ser nenhuma! Confuso? Nem pensar, é produto mediático. Hoje dizem-se “Experiências Sociais”, outrora chamavam-lhes “Reality Shows”. A media é mesmo assim, uma indústria que se reinventa sistematicamente. Uma perpétua transformação, que tudo mantém igual, perfeitamente imutável. Aos mestres deste mundo da mudança, chamamos Produtores. O mestre de todos os mestres, é aquele que para além de produtor, é o protagonista. Ninguém como ele domina o momento mediático.
Diz o que pensa ou aquilo que o seu alvo quer ouvir? Ora, frases há, que pela sua simplicidade, resultam sempre – “É uma vergonha” exemplifica bem esta formula de sucesso. Quem disser o contrário é conivente, é beneficiário do sistema, é um situacionista. Bem, se tudo fosse perfeito no nosso país, fosse esta uma terra de equidade, justiça e bem-estar, sem burocracia, corrupção e compadrio, então garantidamente não teria audiência. As sondagens demonstram-no à saciedade. “Um escândalo!”? Não será sempre? Obviamente que sim.
Eis a genialidade do modus operandi – apelar à indignação que habita dentro de todos e cada um dos portugueses, aquilo que faz de nós uma “colectividade pacífica de revoltados”. Claro que se ao invés de Torga, citar Eça, dispara nas intenções de votos. Julgar é sempre mais fácil que reflectir. Haja polémica! Na falta dela, perante a escassez de ajudas, ele próprio a criará! Dirá, “Basta!”. Deixará o palco político, a ribalta mediática? Nunca! Demissão logo seguida de candidatura. Uma espécie de noite das facas longas, mas à luz do dia e sem facas. Apenas um sublinhar de quem manda. Extrema-direita? Sem doutrina coerente, é simplesmente um déspota, e no que à media e à comunicação moderna diz respeito, bastante esclarecido.
Nem O Aprendiz original se teria lembrado de algo tão brilhante como despedir-se a si próprio.
Serena, Katar Moreira
Serena, Katar Moreira, disputa com a direcção do Livre o derradeiro ponto do primeiro Set. Anunciado o Set Point, fez-se silêncio, apenas se ouve o bater das bolas no fundo do corte. Ninguém sobe à rede. Entretanto, o plano de jogo não foi cumprido, o treinador diz-se surpreendido, os fãs mostram-se profundamente desiludidos. Errou no serviço, fez dupla falta: não só se absteve no voto de condenação como falhou a pancada mais emblemática do seu jogo, a Lei da Nacionalidade. Erro de principiante, a falta de pé ao servir poderá eliminar a tenista logo na primeira ronda do torneio.
Resta saber quem se está a tentar ver livre de quem…
A diversidade na representação parlamentar é bem-vinda, quando mais amplo o espectro, melhor. Contudo, a regeneração do sistema político por vezes começa pela regeneração das próprias forças regeneradoras, tumulto que poderá muito facilmente conduzir à sua própria extinção. Tipicamente o eleitor que neles vota é aquele que não se sente representado pelo sistema dito tradicional, tem expectativas elevadas, desiludi-lo é letal. Assim foi com o “Partido dos Reformados”. Ora, quando a eleita não marca a agenda pelo conteúdo, mas sim por sucessivos episódios de superficialidade, como sejam indumentárias de assessores ou considerações de desamor em debates quinzenais, não se lhe augura grande futuro no exigente mundo do ténis profissional. Foi tempo perdido em faits divers, uma presença em Court desperdiçada. A oportunidade para uma primeira boa impressão foi arrasada.
Pior só se resolver a frustração com a cartada do racismo.
And Now For Something Completely Different: OE2019
O que levará alguém a abdicar de uma vida normal e abraçar a vida circense? É sabido que o mundo é das crianças e talvez por isso se diga que os palhaços são as estrelas da companhia, mas nem só de gargalhada se faz o espectáculo. Outros artistas brilham, tais como acrobatas, contorcionistas, domadores de feras ou ilusionistas, mas tal como o estado precisa de orçamento, o circo carece de malabaristas. Sendo um número já visto, a destreza exigida ao artista é competência rara e se o talento por um lado ajuda, por outro só a prática permite atingir a perfeição.
O público é implacável e não perdoa erros – Quando a cascata falha e a bola cai ao chão, a vaia é garantidamente estrondosa. Coisas da democracia, aproximam-se as Eleições Legislativas e muito embora metade do público não participe, todos tecerão a sua crítica, ou porque é eleitoralista ou porque não é suficientemente generoso e redistributivo. Provavelmente todos terão a sua razão, mas o seu a seu dono, o malabarista continua sem deixar cair nenhuma bola.
O verdadeiro artista é assim, sabe gerir a expectativa do seu público, sabe que não pode falhar, mas também sabe que nada supera o impacto de uma correcção in extremis, vulgo cativação. Orçamenta-se, mas não se gasta. Em finanças públicas, tal como no circo, usam-se estas técnicas antigas, gastas, mas eternamente actuais. É caso para dizer… e agora algo completamente diferente: absolutamente nada. Desmonta-se a tenda e parte-se rumo ao próximo destino. São nómadas!
Afiança
Pluralidade é para mim sinónimo de qualidade democrática. A diversidade pode até ser a solução contra a abstenção. Mais cores, mesmo recicladas, alargarão a palete de escolhas do eleitor português. Daltonismo nunca mais! Se o nascimento de uma nova força politica mobilizar pelo menos um abstencionista, então para mim já terá valido a pena.
Mobilizai-vos ò empreendedores do meu país, abraçai as vossas causas e avancem! Se causas vos faltarem, não faz mal, declarem princípios. Contraditórios ou não, a mera iniciativa colherá o meu aplauso. Não serei picuinhas, muito menos exigente. Cada vez mais me convenço que a democracia é um “negócio” de volume e como tal a riqueza emerge do somatório de pequeníssimos ganhos. A verdadeira cidadania é pragmática! Haja massa critica, a qualidade cedo ou tarde surgirá. Será o caso com esta nova força que Afiança o tacho a quem dele tenha recentemente sido privado? Não sei, duvido muito, mas nem por isso hesito na convicção das virtudes da diversidade. Venham mais, seja à Direita ou à Esquerda.
E como estão elas, a Direita e a Esquerda? A Direita digere com estóico silêncio a cisão na família, enquanto a Esquerda exulta sem alarido a chegada da nova força politica. A rentrée política foi assim antecipada pela concretização da ameaça há muito velada. Consta que do Largo do Rato à Rua da Palma, passando pela Rua Soeiro Pereira Gomes, muitos se preparam para contribuir na recolha de assinaturas. Eventualmente mobilizados pelo princípio que o inimigo do meu inimigo, meu amigo é…
Vulgaríssimas
Na terra das fundações sem fundo, isto é, sem fundos, cabe ao hospedeiro, leia-se o Estado, garantir a sobrevivência das bem-intencionadas instituições de beneficência e solidariedade social. Uma relação previsivelmente simbiótica, ou seja, benéfica para ambas as partes, oferece o apoio possível àqueles que carenciados de algum tipo de ajuda justificam a existência da instituição benemérita, enquanto não raras vezes, por ausência de verdadeiro espírito cívico, proporciona confortáveis posições sociais e económicas a uma ínfima parcela de indivíduos que as dirige. O escrúpulo, ou a falta dele, é característica presente em todos os sectores de actividade, mas quando o objectivo é o auxílio ao próximo, a sua ausência é absolutamente intolerável.
Contudo, entre nós, há mais do que condescendência para com o abuso, mesmo nas instituições cujo propósito é apoiar quem precisa. Aparentemente, nem sequer chega a ser necessário obra feita para gozar de salvo-conduto quando se usurpa os meios que lhes são confiados. A aparência basta. Juntam-se assim dois factores: a nobre causa e a notoriedade do empreendedor de obra social. Será regra? Quero acreditar que não, quero manter a convicção que há e continuará a haver quem procure fazer a diferença sem visar a vantagem pessoal, seja ela social, económica ou até do ego, mas sei, e não é de hoje, que mesmo as causas mais nobres são frequentemente contaminadas por parasitas. O que mais me choca não é tanto a existência deste tipo de praga, mas sim a complacência com que todos nós, contribuintes e cidadãos deste país a encaramos. Temo que o “escândalo” do momento, ao invés de contribuir para a consciencialização, tenha de facto um efeito anestésico semelhante à picada de muitos parasitas. Face à impossibilidade de por magia por fim às desigualdades, mais nefasto que a indiferença será a descrença na solidariedade. Não nos deixemos contagiar pelo frenesim mediático, tão volátil como sensacionalista, e procuremos analisar além do imediatismo.
Sejamos pragmáticos. Nem todos os desafios se compadecem com o voluntarismo e o trabalho pro bono. Causas há que carecem de pessoas capazes e empenhadas, a tempo inteiro, obviamente remuneradas. Por outro lado, quando a missão solidária visa apoiar um grupo muito restrito de pessoas, que consequentemente proporcionam um baixo retorno político, os poucos votos que directamente mobilizam obrigam à sensibilização e influência. O chamado lobby acarreta obviamente custos, financeiros e outros, os favores. Não sejamos hipócritas, há fins que justificam os meios. Por estranho e paradoxal que possa parecer, estas necessidades de contexto, sendo uma realidade prática, constituem muitas vezes a justificação que encobre o abuso perpetrado por uma espécie vampiresca, a vulgaríssima carraça. Não nos iludamos, erradicar a praga é uma luta tão urgente como eterna, pois nunca hesitarão em matar o hospedeiro.
Fazedor de Independentistas
Face ao elevado e infelizmente habitual nível de abstenção nacional, ao invés de me debruçar sobre as nossas eleições autárquicas de ontem, opto pelo referendo Catalão. Ilegítimo ou unilateral, conforme as hostes e simpatias, o acto decorreu da pior forma possível. Enquanto os catalães se colocam à mercê dos cassetetes para votar, por cá nem à bastonada acordamos. O contraste só não é engraçado porque em ambos os casos os impactos são dramáticos. Choca-me a indiferença de cá, país com mais de oito séculos, no qual, apesar de recente, a democracia é altamente subvalorizada por quase metade dos eleitores. Como Estado-Nação, nem nos damos conta daquilo que somos!
A Catalunha, Nação secular, subjugada desde o reinado de Isabel a Católica, unificada nesse Estado de várias nações que se chama Espanha, manteve acesa a chama da sua cultura, da sua língua e das suas tradições. Independentemente de quaisquer interesses ocultos, eventualmente pouco justos ou até mesmo discriminatórios e sobranceiros para com as outras nações espanholas, é impossível não sentir alguma simpatia pela luta independentista dos catalães. Se por um lado o coração dita empatia, por outro a razão dita reservas. Assim é, assim será sempre que a ordem estabelecida dá sinais de mudança. Todos teremos, tal como os catalães, uma perspectiva egoísta – Será bom para nós?
Na dúvida, geralmente preferimos manter tudo como está. Talvez por isso, o governo espanhol optou por abordar o tema pela via legal, em detrimento da via politica. Com esta postura, Mariano Rajoy ao invés de guardião da indivisibilidade do estado espanhol, transformou-se no maior fazedor de independentistas. Não percebeu que os melhores e mais importantes aliados da sua causa são os catalães que não querem deixar de ser espanhóis. A estes, não só aos outros, negou o direito de tranquilamente, sem qualquer tipo de ameaça, manifestar em urna a sua vontade. Ontem despertaram muitos independentistas. Nunca a soberania foi outra coisa senão uma questão politica.
Expo Défice
Parece que foi ontem, mas a inauguração da Exposição Mundial – Expo 98 aconteceu hoje, há precisamente 19 anos. Vivíamos então dias de modernização e confiança, de cultura e diversidade, uma festa patrocinada pelo infinito el dorado que se avizinhava! Reinava então o optimismo, a euforia e a crença num futuro risonho. O país dava mostras de dinamismo ao mundo, e este compareceu em peso na renovada zona oriental da velhinha cidade de Lisboa. Foi giro, foi diferente. Depois voltámos às nossas rotinas, ao ancestral lamento e revolta inconsequente. Mas, felizmente apenas meia dúzia de anos depois, outro grande evento, desta feita desportivo. Era a receita de Porter. Estivemos perto, mas não fizemos a festa, na verdade vimo-nos gregos, quer no inicio quer no fim. Ficaram os estádios, e a conta claro! Meia dúzia de anos depois, íamos de pac em pac. Já não foi nada giro, e pior ficou quando nos foi aplicado o castigo. Chamaram-lhe ajustamento. Único e inevitável remédio, para o qual não houve alternativa. Não fomos piegas, e qual óleo de fígado de bacalhau, tomamos o frasco todo.
Já acostumados à terapia, foram chegando as boas noticias, as euforias! O deslumbramento propriamente dito começou com a conquista do campeonato da Europa de futebol. Deslumbrados desde então, vitimas de optimismo irritante, não parámos! Celebramos por menos e sobretudo, gastando menos, mas já voltamos à festa. Depois do crescimento recorde, dos juros negativos, a boa noticia de hoje é o anuncio da recomendação da comissão europeia para por fim ao procedimento por défice excessivo, logo hoje, no dia do nascimento de compositor da Cavalgada das Valquírias, Richard Wagner, o que por certo não será uma mera coincidência.