Monthly Archives: Dezembro 2014

TAPada de luva branca

Uma greve anunciada para um período de pico de actividade culmina com uma requisição civil imposta pelo governo a fim de impossibilitar a sua ocorrência. Pelo meio vejo uma entrevista a um sindicalista da TAP onde o jornalista lhe atira de forma agressiva “Acha moralmente ético os sindicados agendarem a greve para esta altura do ano provocando prejuízos de milhões de euros, dando má imagem ao país e afectando o Natal e Ano Novo de milhares de famílias portuguesas?”

A resposta foi pronta, denunciadora de que a falta de moral e ética tem estado na gestão da TAP, apontando as negociatas concretas em que a TAP foi utilizada como peã de negócios ruinosos. Perante a resposta imediata e esclarecedora que fez o jornalista? Explorou essas acusações? Não, isso seria pedir demais, limita-se a repetir a sua pergunta uma e outra vez como se não fosse importante o que levou a tão grande demonstração de intransigência por parte dos trabalhadores da TAP.

Voltando ao desfecho, a requisição civil, pergunto-me se ela também ocorreria caso a TAP fosse já uma empresa privada. Porque no fundo o que se passou foi um patrão ‘especial’ a utilizar os seus super-poderes para contornar uma situação delicada naquela que é a sua especialidade, os limites da constitucionalidade. No fundo estão a negar aos trabalhadores o seu direito à manifestação justificando que permitir-lhes a concretização da greve teria resultados catastróficos para a empresa e para o país.

A meu ver os trabalhadores estão a ser tratados como um bando de egoístas, imaturos e inconscientes que, focados no seu benefício pessoal, não pensam nem protegem o interesse corporativo e nacional. O que só vem realçar a debilidade da nossa democracia. Uma democracia em que permitimos, toleramos com excessivo poder de encaixe, que uma mão cheia de gestores e políticos arruinem bancos, atirem ao tapete a maior empresa de telecomunicações nacional da qual dependem várias infra-estruturas tecnológicas nacionais, contraiam contratos de PPPs ruinosos com vinculação de décadas, desperdicem milhões de fundos europeus distribuídos de forma corrupta, etc, tudo isto com impacto de milhares de milhões de euros na economia portuguesa.

Faltará algum mecanismo similar à requisição civil para obrigar estes gestores e políticos a executarem as suas funções sem colocarem em greve uma série de competências, valores éticos e morais cuja ausência atenta claramente aos interesses das suas empresas e nacionais?

Se as elites podem tomar decisões ruinosas para o país porque não poderá hipoteticamente a classe trabalhadora de uma empresa cometer um acto lesivo para a mesma? Aos sindicatos devem ser fornecidas pelas administrações as informações que permitam aferir da saúde e estado da gestão das suas empresas. Em posse dessa informação caberá a si decidir como agir. Porque não há-de ser possível a um sindicato decidir cometer um acto lesivo a uma empresa? Será um privilégio apenas reservado ao topo da pirâmide? A que propósito?

Vivemos um tempo conturbado em que os trabalhadores esperam que no mínimo os seus sacríficios se reflictam em respeito pelos mesmos e na condução de uma gestão exemplar. Se a greve é o expoente máximo da indignação, da insatisfação, não é uma requisição civil que vai contribuir de todo para a apaziguação. Vem apenas confirmar que para este governo mais do que sermos um povo capaz de suportar a austeridade mantendo produtividade e empenho há que parecê-lo a qualquer custo, mesmo que o de mais uma lasca da nossa democracia.

Resistir à requisição civil anti-democrática contra os trabalhadores da TAP!

TAP – Take Another Plane

De um lado o (des)governo, do outro os trabalhadores da companhia aérea de bandeira. Curiosa, ou talvez não, é a coincidência de argumentos. As partes, ditas contrárias, apresentam as mesmas razões. Tudo se resume a “porque sim”. O executivo privatiza porque sim. Os sindicatos fazem greve porque sim. Extraordinário! Interesse nacional? Interesse da própria empresa? Nada disso é relevante para os protagonistas. Comove-me o empenho de ambas as partes em fazer jus à alcunha que a companhia (infelizmente) tem: TAP – Take Another Plane.

Confesso que não sei o que será mais estúpido, a privatização ou a greve suicida nesta altura do campeonato. Será assim tão difícil compreender que a greve fragiliza a posição dos funcionários da TAP. Será difícil entender que é mais fácil reunir apoio de todos nós se não morderem o isco da greve?

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Juntos Podemos

Decorreu neste fim-de-semana a Assembleia Cidadã da qual saiu o movimento JUNTOS PODEMOS, por onde passaram talvez umas duzentas e tal- trezentas pessoas e onde se debateram muitas ideias, algumas repetidas mas muitas novas reflexões sobre as quais deixo aqui algumas notas:

– Ao longo do fim-de-semana foram muitos os que se dirigiram ao ISPA para darem o seu contributo ou simplesmente para ouvirem, algumas pessoas com intervenções passadas ou presentes em outros movimentos sociais, com histórico partidário e cultura política avançada, outros que certamente vinham pela primeira vez e isso é importante, e que constituíram uma assembleia heterogénea em termos de idades;

– Houve vários assuntos e grupos de trabalho com vertentes até aqui novas neste tipo de movimentos e fundamentais para dar várias dimensões ao activismo social, como a corrupção, a habitação, o TTIP (que é a porcaria do Tratado Transatlântico que basicamente e muito resumidamente se for aprovado isto vai ser uma m**da) com o compromisso de virem a ser tratados para futuro debate e desenvolvimento de actividade. Mas não só, a economia, o mercado de trabalho, as privatizações, o serviço público não foram esquecidos e relembrados como transversais a todo o movimento. Adicionalmente foi aprovado uma actuação no sentido de defesa da TAP como empresa fundamental e estratégica para o país, e o compromisso de todos nos solidarizarmos com os funcionários que neste momento travam a dura batalha não só de manter o seu emprego como manter a empresa sob alçada do Estado.

– Das intervenções dos convidados destaco a presença dos companheiros espanhóis do Podemos, que vieram enriquecer-nos com a sua experiência, principalmente a Carolina Bescansa, e que nos permitiram não só ver semelhanças e diferenças sobre a realidade portuguesa e espanhola como nos ajudaram a pensar um pouco o nosso país. Destaco também os convidados nacionais, o José Bateira que trouxe o debate sobre a economia e deu alguns contributos para uma ideia da qual me tenho vindo cada vez mais a aproximar e que há uns anos atrás eu acharia idiota, que é a questão das nossas possibilidades dentro do Euro e fora dele, e que apesar de não ser uma questão vinculativa não é um debate que deva estar fora não só da agenda de futuras assembleias como até do debate nacional. Assinalo também a intervenção da Raquel Varela, dentro do seu estilo muito próprio mas que elevou o debate para questões fundamentais como a dignidade no trabalho e do trabalho, o pensamento critico sobre o modelo económico em que vivemos e as possibilidades que podemos vislumbrar; assinalo também a intervenção da Paula Gil e do seu contributo para algo importante, que é a questão do papel fundamental de uma cidadania mais interventiva para uma mudança efectiva!

– Da votação final da Assembleia, saiu a data de uma nova assembleia, dia 24 de Janeiro de 2015 e a possibilidade do movimento evoluir para um partido, começando desde já a recolha de assinaturas para a eventualidade de ser essa uma das formas que o Juntos Podemos poderá assumir.

– Por último alguns pensamentos:

a) Parabenizar quem organizou durante meses esta assembleia e conseguiu trazer elementos do Podemos para que connosco estivessem;

b) Não sendo eu apologista da tomada enquanto partido, admito as vantagens e os inconvenientes que daí resultam. Por um lado a formação enquanto partido deveria ser uma decisão madura e só e apenas se a disputa pelo poder e eventual tomada se revelasse essencial e última alternativa para a defesa dos direitos. Mas como sempre os tempos são diferentes, não há tempo para maturar, não há tempo a perder, e o tempo eleitoral está a decorrer e com ele a esperança de mudança ou o medo da não-mudança. Todavia mais importante do que termos mais um partido, porque partidos interessados em defender o denominador comum que ali juntou tanta gente existem, o que não existe são as bases sociais de uma cidadania que defenda de forma dinâmica este mesmo denominador comum. Por isso creio que as energias se deverão concentrar na mobilização de todos aqueles que se queiram juntar para defender aquilo que nos poderá unir num movimento: a habitação, a escola pública, a água. Por outro lado existe uma maioria que não se sente representada e que anseia essa representação. Urge igualmente fazer tremer os partidos do arco da governação e evitar danos maiores, e aí a formação do partido é um acto de desespero. Mas esse desespero não deverá nunca ser aproveitado para a exaltação de alguns egos, que em política e em poder sempre aparecem. Apesar de não se ter tratado de uma participação de massas, podem ser construídas pontes de entendimento e enriquecimento mútuo entre o BE e o PCP, afinal alguns dos que ali participaram neles militam e outros tantos por lá passaram;

c) Por último um apelo a todos os que se queiram juntar ao Juntos Podemos que o façam. Será criada uma plataforma na web, de acesso livre e com toda a informação, havendo agora apenas a página no facebook, e os contactos reunidos na assembleia passada. Este será um movimento que vive para e da participação dos cidadãos na construção de um Portugal melhor, porque Juntos Podemos muito mais do que aquilo que imaginamos!

De “Made in China” a “Own by China”

Natal que é Natal não passa sem o facilitismo / pechincha da aquisição de qualquer coisa Made in China. A China há muito que é considerada a fábrica do mundo com o seu atractivo baixo custo numerário em detrimento de um alto custo social e humano. Felizmente, nos tempos mais recentes, as coisas têm vindo a melhorar graças a ONGs que denunciam e pressionam governos, marcas e fabricantes.

Só que o mundo está a mudar rapidamente e os eventos sucedem-se, ou conhecem-se, de forma impressionante. A China, anteriormente vista como um sistema fechado, virado para dentro, encontra-se há algum tempo em expansão contínua de forma subtil. Conquistadora de recursos naturais, marcadora de terreno político, construtora de armas dissuasoras, prepara-se para o assumir de um papel mais activo e preponderante a nível mundial.

Por cá os investimentos sucedem-se, nas ruas vencem claramente o jogo do monopólio da vida real. É impressionante a densidade de lojas chinesas, em detrimento dos pequenos comerciantes que desaparecem em catadupa. A ideia generalizada é a de que a concorrência e as leis do mercado assim o ditam. Os clientes querem barato sendo o preço o seu principal factor de escolha. As lojas chinesas conseguiram criar uma imagem de marca do ter tudo barato a qualidade aceitável captando com isso a preferência de muitos portugueses que fazem compras na onda do desenrasca.

No entanto é ténue a fronteira entre uma imagem e uma ilusão. Senti-o na pele ao comprar uma panela de tamanho XL. Desloquei-me à loja chinesa mais perto, encontrei uma a 20 € e comprei-a sem pensar muito nisso. Na semana seguinte passo num hipermercado e a mesma panela lá estava por 9,99 €! Posteriormente acompanhei colegas a lojas do chinês, com olhar atento, reparando que os preços das roupas estão ao nível das lojas de marcas mais conhecidas dos centros comerciais. Com notória menor qualidade!

Especulo que depois da extinção da concorrência começam a confortavelmente dominar a distribuição local pelo que, beneficiando de diminuição, ou aniquilação, de concorrência, de uma percepção global de qualidade qb e barato, podem agora começar a subir preços testando o limite do suportável pelo cliente. Sendo Portugal hoje em dia considerado por muitas marcas e entidades um laboratório de teste a novos produtos, novas políticas, novas metodologias, temo que também aqui estejamos a ser um bom laboratório de uma ‘invasão’ comercial. Não temos por cá uma típica Chinatown, como acontece noutros países, mas começamos a ser um imenso Chinamarket, acelerador da destruição dos pequenos estabelecimentos de comércio local especializado.

Podemos por exemplo olhar para a nossa tão querida Angola, a fim de um rápido balanço entre o ying e o yang e ponderar que tipo e intensidade de relação queremos com uma futuramente muito mais poderosa China. Porque quanto mais Own by China sejamos menos margem de manobra teremos para qualquer tipo de negociação relativamente a política externa e economia interna.

Como agravante temos ainda o facto dos nossos decisores políticos serem famosos por pensar a um nível de profundidade equivalente ao do seu umbigo, sendo presa fácil para os decisores chineses que são de tal forma estrategos e visionários, em defesa dos seus interesses, que se apossaram até do substantivo “paciência”.

Pré-aviso de que não bastará uma certa serenidade espiritual para os convencer das nossas boas intenções.

CHINA INVESTIU 8 MIL MILHÕES EM PORTUGAL EM DOIS ANOS

Número Primo

primos

Quando factos são infâmias, quando tantos são poucos para tamanha responsabilidade, constatamos que afinal qualquer um de nós poderia tomar posse como administrador bancário. Parece que no fundo ninguém sabe de nada. Há até quem afirme que entra mudo e sai calado. Aposto que assinou presenças e actas.

Nem a densa nomenclatura financeira permite disfarçar o nanismo do regulador. Não é por certo a quantificação anglo-saxónica que o faz pequeno! Já a divulgação de documentação a conta-gotas (e em função das necessidades) demonstra quão defensiva tem sido a postura. Compreende-se, é como regular bolhas de sabão.

Mais uma que rebentou. Uns queixam-se da falta de tempo, outros acusam quem se queixa. Será criptografia baseada na Teoria dos Números? Será a chave assimétrica? Existirá chave publica? Não. Felizmente que não. É bem mais simples. Desta feita a comissão parlamentar vai mesmo esclarecer tudo devidamente. Todos ficaremos abundantemente esclarecidos. Como então? Bom, tal como Euclides demonstrou há mais de mil anos, estamos perante um Número Primo. Tão só e apenas. Sem ele, a bolha não teria rebentado. É que tempo é dinheiro…

O Comenta dos numeros primos

 

RTP – Rádio e Televisão, Pá

logoPrimeiro era para vender tudo. Depois era para vender só um canal. Afinal nada venderam. Que fazer pensou então aquele cuja força anímica já escasseava. Inovou. Foi pioneiro, foi recrutar ao sector das cervejas e refrigerantes. E assim ficou. Contrato de concessão do serviço público e tudo. Porreiro, sem pá, porque a expressão completa já teve melhores dias. Entretanto a força anímica esgotou-se. Pediu substituição, casou e retemperou no Brasil. Fez bem. A nova administração ficou.

E depois? Foi melhor, foi muito melhor. A vantagem mais evidente à época foi o percurso académico do substituto. Porreiro. Tomou pose. Que fazer? Uma vez que não se pode vender, porque o irrevogável não deixa, vamos despolitizar a concessionária. Excelente. Quando se tem estudos é outra coisa! Conselho Geral, assim se chamou, mas pelo sim pelo não, não fossem os menos instruídos questionar, acrescentaram “Independente”. Um pouco de redundância não assusta os académicos. Porreiro, sempre sem pá. Convidem-se as pessoas e a alta autoridade que se prenuncie. Chega a ser comovente ver as instituições a funcionar regularmente.
Qual a missão do dito CGI? Claro e conciso: “supervisionar e fiscalizar a acção do Conselho de Administração”. Outra importante tarefa deste despolitizado Conselho é o de emitir pareceres sobre “a criação de novos serviços de programas (…) ou alterações significativas aos serviços de programas já existentes”. Cheira a lápis azul. Avancemos.

A administração administrou, o Conselho avaliou. Pago por quem? Esquece, é independente. Não vês no nome? Porreiro, vá de retro o pá. Mas avaliou o quê? O Plano Estratégico da administração da concessionária. Chumbou. Não passou no crivo. Problema? A concessionária entrou num leilão onde uma concorrente privada tinha licitado 40% menos. Oh diabo! Se a independência é para isto, acabe-se com ela. Estão a perverter o mercado. Um pecado! Mas porquê? O investimento é irresponsável? Sem a menor perspectiva de retorno? O Plano estratégico diz que o investimento tem retorno porque potencia a venda de publicidade. Será que não respeita os termos do contracto de concessão? Negativo, respeita na integra. Mau…

Que diz o académico? Diz que nada tem a dizer. O Modelo de gestão é independente (não leste o nome, estúpido?) e como tal, nada tem a dizer. Muito bem. Coerente! Espera. Não vimos já este filme no verão? Creio que lhe chamaram Resolução. O executivo criou legislação, participou e palpitou, mas no fim a decisão é exclusivamente de outros. Porreiro. Deu tão bons resultados que o processo se generalizou. Criam-se Conselhos para decidir em silencio e com a devida reserva aquilo que é da esfera de competência do executivo. É óptimo. “Respeitar a independência do conselho geral” é uma excelente resposta. Mantém-se a pose de estado e em simultâneo a postura de democrata e respeitador. Fica bem. Afinal o problema é mesmo só com a constituição.

E o Conselho que diz? Ataca as perspectivas de retorno do investimento? Não. Aponta não-conformidades com o contrato de concessão? Também não. Diz que foi quebrada a lealdade. Porreiro, mas desta feita estou mesmo tentado à adenda do “pá”. Paro e pergunto: Quem é o dono dessa concorrente privada à concessionária? Alguém conhecido? Alguém que também esteja na corrida para a época final dos saldos que se avizinha? Claro que não. O conselho é geral e é independente… Os factos falam por si, Pá!

miratecnica

Camarate

Hoje, pela hora do jantar, contarei aos mais novos lá de casa, como a queda de um pequeno avião bimotor deu origem ao maior mistério da nossa história recente.

“Apenas” 34 anos depois, ainda não sabemos o que se passou. Sabemos que o pequeno Cessna 421 caiu em Camarate após descolagem. Sabemos a matricula – YV-314P. Sabemos quem nele embarcou, sabemos que dele ninguém saiu vivo. Sabemos tudo isto graças ao dedicado esforço de todos quantos investigaram este indecifrável mistério. Conclusões? Acidente? Atentado? Nada. Centenas de pares de mãos cheias de nada.

Então? Cada qual escolhe por si? Seja. Subscrevo a tese do atentado. Sim, digo-o de forma clara: É um atentado! É, porque ainda está a ser. Múltiplas investigações e perícias, uma dezena de comissões de inquérito e pelo menos outras tantas teorias da conspiração transformaram o sucedido num eterno enigma. Inequivocamente encobrimento. Repito, é um atentado. Um atentado à inteligência de todos os portugueses!

YV-314P