Monthly Archives: Junho 2013

Não Pagamos! A análise de risco é um risco

Está confirmado! Pior do que ser um fdp é ser pai de uma PPP! Só no sector rodoviário o buraco pode chegar aos 9 mil milhões de euros. As PPP são mecanismos complexos e algo opacos em que é difícil perceber se é ou não vantajoso para o Estado um corte abrupto de despesas com as PPP, ou mesmo a sua privatização. Duas das maiores justificações para as derrapagens são a ausência de estudos, que suportassem a decisão de as concretizar, e a inflação das estimativas para os volumes de utilização e/ou níveis de serviço necessários a garantir.

Temos entidades privadas que, ingenuamente e num acto de fé, acreditaram piamente nos números facultados pelo Estado (não confundir com encomendados) para justificar a necessidade e viabilidade o investimento de milhares de milhões de Euros. O Estado não age com um driver lucrativo, procura sim o progresso e desenvolvimento do país.

Muitas vezes até não terá em funções governativas, e decisivas, as pessoas com as melhores capacidades. Já as entidades privadas só pretendem uma coisa: o lucro, se possível com garantia de mama a longo prazo.

São essas entidades que têm a obrigação de contratar os melhores gestores, os melhores analistas de risco, os melhores estrategas, que lhes permitam apostar o seu capital em apostas seguras e viáveis. O preço de um bom gestor é alto. Bons gestores são caros mas compensam o investimento. Um bom gestor não seria ludibriado por estudos adulterados, um bom gestor saberia analisar os factores de risco crítico e blindar o projecto contra decisões amadoras de governantes menos capazes ou mesmo menos honestos. Ao confirmar-se a conivência de grandes gestores com grandes incompetências governamentais fico com a ideia de que há muitos gestores caros simplesmente porque o preço da alma está upa upa.

Para ajudar à festa temos advogados e consultores que dançam em negociações das PPPs entre a defesa dos interesses do Estado e a defesa de entidades privadas, elementos pertencentes a antigos governos que ao sair passam a exercer altos cargos nas entidades que beneficiaram de grandes PPPs com rendimento garantido por décadas.

Tudo isto cheira mal porque está podre.

Está na altura dos gestores perceberem que nós compreendemos que não fizeram bem o seu trabalho e que a sua análise de risco ‘ignorou’ um risco que pode fazê-los perder muito dinheiro. O risco de surgirem governantes com níveis de ética, honestidade e justiça que os levem a anular ou renegociar brutalmente as PPPs lesivas para o Estado actualmente em curso. O facto dos antigos governantes, decisores, serem mestres nas artes da fantasia e da fábula não significa que todo um povo deva ser perpetuamente prejudicado porque os gestores de entidades privadas fingiram acreditar nas histórias das carochinas.

Está na altura de sermos sérios. Custe o que custar. Doa a quem doer.

O mesmo se aplica aos credores internacionais. Outro embuste com rating AAA. Os milhares de milhões de euros que nos foram emprestados no passado, e de cujos juros somos agora reféns, podem ser usados como chicote em vez de garrote estrangulador. Porque quem nos emprestou o dinheiro nunca fez uma análise de risco apurada para perceber 1) que vão fazer com tanto dinheiro!? 2) vão ser capazes de nos pagar de volta?

Aparentemente os casos denunciados de corrupção, desvios, esbanjamento foram meros fait divers. Os nossos credores só se preocuparam em garantir que parte do empréstimo fosse devolvido quase de imediato, em negócios de contra-partidas, e em que continuássemos com dependência externa em vários sectores. Desde que sejamos bons pagadores o dinheiro pode jorrar.

Quando no cenário actual o não pagamento dos juros de dívida poderia ser um grande elemento de estabilidade porque não exigi-lo para podermos pensar em mais do que pôr o pão na mesa? Um período de carência, de um ou dois anos, em que nem pagávamos dívida nem recebíamos mais empréstimos. Uma reflexão sobre tudo o que foi mal feito. Uma reestruturação tranquila que não se assemelhe a tiros no escuro, a soluções não estudadas, a amputações desesperadas para evitar  septicemia e hemorragias maiores. O fim deste tapar de buracos com medo do risco sistémico que uma entidade possa ter sem considerar o risco sistémico que é ter milhões de portugueses sem poder de compra nem apoio social.

Ironicamente um simples não pagamos pode ser o caminho para voltarmos a ser honestos, íntegros e justos.

PS – este post deu-me tamanhas securas que vou beber um copo de água enquanto posso!

O Equívoco

Juan Diaz de Solis

Piloto e cartógrafo da Casa da Índia, o navegador português João Dias de Solis fugiu para Espanha em 1506. Procurado pelo assassinato da sua mulher, não foi piegas, emigrou e consigo levou o Regimento do Astrolábio. Mudou de nome. Foi recebido de braços abertos. Detinha o desejado saber da arte de navegação. Não evitou polémicas, mas chegou a Piloto-Mor do reino de Espanha. Após uma década a leccionar, Juan Díaz de Solís comandou uma pequena frota de três navios numa expedição cartográfica à América do Sul. Em 1516, Solis foi o primeiro ocidental a contactar com os Querandis, os nativos do norte da Argentina, mas foi a sua tragédia pessoal a norte dessas paragens que o conduziu à glória póstuma. Foi-lhe atribuída a descoberta do Uruguai. Após o desembarque numa ilha situada num amplo estuário, Solis e oito dos seus homens efectuaram uma trágica incursão exploratória. Foram mortos à paulada por um bando de locais: os Charrua, nativos do actual Uruguai. Os exploradores sobreviventes regressaram a Espanha. Sem riquezas do novo mundo, apostaram no relato da barbárie dos indígenas. Mentiram quando lhes atribuíram a prática do canibalismo, pois o sensacionalismo da notícia ajudaria a camuflar o fracasso da expedição. Resultou. Ao rio chamaram “Rio Solis”. A ilha chama-se hoje “Martín García”.

Uma década depois, em 1526, chegado ao mesmo estuário, Sebastião Caboto, genovês ao serviço do reino de Espanha, atribuiu o nome de “Rio de La Plata”, pois os indígenas ostentavam vários objectos em prata. O entusiasmo inicial revelou-se infundado. Deu lugar à decepção. Rapidamente se constatou que o metal precioso fora importado, ou melhor, tomado a navegadores portugueses, que à época e à margem do tratado de Tratado de Tordesilhas, também exploravam a região.

O incumprimento de tratados e o perpétuo adiamento de metas é prática antiga entre os lusos.

A expansão colonial espanhola prosseguiria em busca de metais preciosos e de mão-de-obra barata, isto é, gratuita. No estuário do rio da prata nenhuma das duas seria encontrada. Os indígenas eram caçadores recolectores, dispersos por pequenos bandos sem hierarquia ou regras. Não forneciam alimentos aos colonos, e quando capturados recusavam-se a trabalhar para eles. A prata só existia muito mais a ocidente, nos Andes, nos territórios Incas.

martin_garcia_island

O equívoco da prata daria ainda nome a um país, a Argentina, do latim Argentum, a prata.

Quase duas décadas após a morte de Solis, Pedro de Mendoza estabeleceu a primeira colónia espanhola na margem sul do estuário do rio da Prata em 1534. Fundou a cidade de “Buenos Aires”. Apesar dos bons ares que por ali se respiravam, as dificuldades mantinham-se, nomeadamente a fome. Os Querandis não colaboravam, recusando-se a fornecer qualquer ajuda aos colonos, atacando-os com paus, pedras e flechas. Explorar o novo mundo estava longe de ser vida fácil.

Em 1537, uma expedição liderada por Juan de Ayolas a montante do rio Paraná, estabelece contacto com um povo sedentário, os Guarani. Cultivavam o milho e a mandioca. Ao contrário dos Charruas e dos Querandis, eram numerosos e tinham uma sociedade hierarquizada. Muito mais relevante, a sua elite estava disposta a impor sacrifícios aos seus concidadãos, garantindo a manutenção dos seus privilégios, ou seja, Ajustaram. Foi pela primeira vez encontrada a mão-de-obra que os colonos Espanhóis necessitavam. Juan de Ayolas fundou a cidade de “Nuestra Señora de Santa María de la Asunción”, no local da actual capital do Paraguai, Assunción. Os fundadores da cidade de “Buenos Aires” mudaram-se para a nova cidade. A mão-de-obra disponível permitiria a criação de Encomiendas, a instituição económica que legalizou o Trabalho Forçado. Apesar das condições meteorológicas favoráveis, Buenos Aires é completamente abandonada em 1541. Permaneceria deserta até 1580. Tudo não passou de um equívoco.

Fogos de Artifícios

Faz mais de um mês que não escrevo. Tenho estado a olhar entretido para os fogos de artifícios que invadiram os nossos media. O país está pausado. Nada avança, nada recua, nada se discute, nada se decide. Preciso de me situar. Estou em Portugal e estamos na merda!

Recapitulando, esta história começou há muito tempo com um conjunto de estudiosos das matérias prementes a chegarem-se à frente para solucionar os problemas do país. Progressivamente foram demonstrando afinal não ter estudado assim tão bem os dossiers e, sem tempo a perder,  optaram por recorrer ao facilitismo das soluções mais básicas e imediatas, sem análise de riscos nem projecções de impacto a médio-longo prazo.

O seu desrespeito, desprezo e desleixo levam-nos ao vício de formular leis anti-constitucionais, fiando-se no eterno vergar do Tribunal Constitucional às circustâncias da crise. A incompetência é demasiado evidente quando, após o chumbo previsto, não saltam da cartola planos B e C preparados para esta eventualidade. Entretanto durante todo este processo fizeram algum face-lifting, excisando a pustúla que habilmente inflacionaram com vista a um sacríficio para aplacar o descontentamento do povo. Para o seu lugar uma pessoa campeã do consenso que muitos duvidam ser alguém com senso.

E desde esse famoso chumbo que o país está praticamente anestesiado.

Salazar

A primeira quinzena de Maio foi praticamente ocupada pelos jogos  do Benfica. No FDS precedente ao 13 de Maio mais de 50% dos telejornais eram ocupados com Futebol e Fátima. Calhasse de alguma estação ter-se lembrado de juntar o Fado e corríamos o risco de Salazar se reerguer da sua campa com a força da sua fórmula mágica dos 3 Fs.

American Preppers NetworkTambém houve tempo para criar uma grande comoção ao obrigar os alunos do 4º ano, tipicamente crianças de 9 anos, a assinar um compromisso de honra em como não usariam telemóveis nos exames. Sinceramente acho que a inversão da ideia ajudaria bastante o país. Obrigar este governo a assinar um compromisso de honra em como usa cábulas e máquinas de calcular científicas quando faz as suas previsões.

Pinóquio Paulo PortasDe seguida surge a batalha interna sobre a TSU dos pensionistas. Passos Coelho diz que é preciso, Portas diz nunca (“jamais” em Francês) e negoceiam a solução. A medida fica no documento apresentado à Troika como uma hipótese para corte de despesa mas o PSD garante ao CDS que não será aplicada. O CDS finge que não cede, o PSD finge que não é um compromisso, o CDS finge que acredita, a Troika finge que não vê a trapaça para passarmos a 7ª avaliação e continuarmos a fingir que estamos bem e no bom caminho. Só por isto sejam Portugueses e no final finjam que gostam deste post!

Cavaco “palhaço”: Miguel Sousa Tavares admite ter sido excessivo em relação a Cavaco Um dos maiores iluminados da nação vê mais além e dá a dica que uma vez que a aprovação ocorreu a 12/13 de Maio obviamente que foi obra da Virgem Maria. Ela já não aparece aos pastorinhos mas ainda faz uns biscates junto de banqueiros, economistas e políticos. Não será esta a tão falada Santíssima Trinidade?

Pouco depois chamam Palhaço ao senhor acima citado. Eu já conhecia a lei. Sou um insultador precavido. Sempre me referi a ele como Presidente. Felizmente como em todas as Leis Portuguesas é possível usar a rotunda para contornar a lei pela direita. A lei pode proibir-nos de chamar Palhaço ao Presidente mas não pode proibir-nos de chamar Presidente a um Palhaço.

Um brilhante exemplo de empreendedorismo, de um aluno dos Salesianos do EstorilJá com o mês na recta final aparece um puto reguila a usar serviços online para, desenrascado, vender umas t-shirts na escola. Qual não é o meu espanto quando é elevado à condição de empreendedor/herói num bate-boca em que afirma que mais vale ganhar o salário mínimo do que estar desempregado. Este é um dos momentos mais assustadores do mês porque revela que a escola do governo já está a surtir efeito. A postura aplaudida não é a de exigir tratamento digno mas sim o de lutar pelo agarrar da migalha maior. Martim, muito boa sorte para a tua Over It e para o teu lema “a ideia de ser superior, de estar em cima”. Espero não vir a assistir à mudança de branding para Game Over It.

Advogados estagiários acusam Marinho Pinto de Houve ainda tempo para agitar as águas com a questão da co-adopção que vai afectar um número infímo de casais homossexuais mas foi capaz de gerar uma polémica estéril antes do tempo já que ainda terá de retornar ao parlamento para nova apreciação. Vi o bastonário Marinho Pinto com tal dureza de corpo e mente que a polícia deveria substituir os bastões por bastonários. São muito melhores dissuasores de comportamentos e pensamentos antagónicos aos nossos.

Vitor Gaspar External contributorO mês acaba com Victor Gaspar a mostrar o seu lado humano e confessar que tem sofrido bastante com a tragédia do seu Benfica. Finalmente está descoberto o ponto fraco deste Colosso das finanças. Só peço a Jesus que o também meu clube perca com cabazadas todos os jogos da próxima época, numa derradeira tentativa de pôr fim à imortalidade deste super-ministro via uma morte por desgosto atroz.

Posto tudo isto, não há dúvidas que Portugal está assolado por um colossal fogo de artifício, cujos flashs e explosões lançam um denso nevoeiro que nos tolda os sentidos e nos impede de ver, ouvir e gritar por “Terra à Vista!”.

Aparentemente as águas estão calmas mas o que nos espera depois do nevoeiro dissipar?

What is Bonfire Night?