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Inspiração
A Greta já chegou, velejou através do Atlântico e só por isso já merece a minha simpatia (bem, na verdade é inveja…). Dá o exemplo enquanto luta pelo planeta, é de louvar! Está contudo refém da causa, cativa da emergência ambiental. Não duvido das suas convicções, mas não ignoro que é um produto mediático. Fizeram dela o símbolo da revolta da geração que herdará as consequências dos desmandos e da ganância do bicho homem. Aparentemente, foi esta a missão que escolheu.
Desembarcou, ruma à cimeira. Está apenas de passagem, mas a expectativa gerada é gigantesca. Perspectiva-se uma grande cobertura jornalística, intensa e detalhada, mas não obstante o alvoroço, arrisca-se a ser a primeira criatura à face do planeta a quem será negada a selfie com Rebelo de Sousa. Marcelo, prudente, repudia qualquer dividendo político que possa advir deste filme. Os ídolos, caídos em desgraça, arrastam consigo todos que com eles partilharam a ribalta e o nosso perspicaz Presidente sabe disso.
A pequena Thunberg está e estará sob severo escrutínio, o mais pequeno erro, a mais pequena distracção facilmente deitarão por terra toda a imagem. Basta um simples papel para o chão, um bife com batatas fritas ou qualquer outro mundano deslize para que caia com estrondo do altar da moral onde a colocaram. A sua vida arrisca transformar-se num clássico, qual remake de “Inspiração”, o filme de 1931, protagonizado por Greta Garbo e Robert Montgomery, um melodrama que relata a vida de Yvonne, a mulher objecto que renuncia à felicidade por amor a André. Let’s look at the trailer…
Espelho Meu
Haverá alguém mais virtuoso do que eu? Eis a pergunta que Cavaco nunca fez a si próprio. Na sua mente, não há, nunca houve, lugar à dúvida. Sendo que errar humano é, foi o próprio por exclusão de partes que se declarou inumano. Para o ex-presidente e ex-primeiro ministro, a definição de virtude é um singelo e simples “Eu”. Nunca observou virtude que não fosse ao espelho. Ao espelho ou num ecrã de televisão. A imagem que tem de si é a do mais virtuoso ser do universo, seja entre vivos ou mortos.
Depois do Heliocentrismo de Nicolau Copérnico, o Cavacocentrismo. É ele o centro em torno do qual tudo gira, tudo gravita. Um Deus Sol à portuguesa, a mais falsa das modéstias, a maior das soberbas de Boliqueime. Marafado, tem obviamente todo o direito à ilusão, à sua alucinação. Mesmo que por sua iniciativa se tenha tantas vezes exposto ao ridículo, manterá para sempre intacta a convicção de perfeição. Tal como a qualquer um de nós, humanos, o som da nossa voz parece estranho quando a ouvimos gravada, a Cavaco a realidade parece outra coisa, algo que pode até ser semelhante, mas é paralela e muito alternativa.
Não imagino o que pensa quando contempla a longa lista de bandidos que condecorou, mas ouvi-lo discursar com tamanho desdém sobre a actualidade em geral e sobre os políticos em particular deixa-me a certeza que está atento. Analisa e disserta, sabe do que fala, só não sabe que fala de si próprio!
Silly Reason
Meus amigos, temo que a perdida tradição da “silly season” venha progressivamente a ser substituída por uma nova época, a da “silly reason”.
Cada vez mais os acontecimentos sucedem-se sem tréguas, talvez desregulados pela indefinição climática que desconstrói a outrora estável e acolhedora estação do Verão. Inesperadamente, na preparação ou mesmo em plenas férias, há situações graves a acontecer a todo o momento, a concentrar atenções do público, a exigir prontas reacções de governo, entidades e oposição. E quem paga por isto? A razão. A pressa de justificar, relativizar, retirar do radar mediático, leva ao atropelo da razão absoluta por manadas de razões desorientadas, vindas dos atalhos por onde deambulam fragmentadas, espantadas por precários caçadores de meias-verdades.
Também eu gostaria muito de encontrar A razão de cada acontecimento. Para contribuir na sua busca deixo algumas questões pisteiras. Haja faro e bom-senso!
O que tem maior validade? Uma análise demorada, científica, detalhada, do alto volume de informação recolhida, ou uma conclusão de uma investigação policial apressada, sob pressão mediática, ainda durante o decorrer do acontecimento? Poderia a segunda conclusão ser garantida sem a prévia consideração da primeira?
O que surgiu primeiro? A necessidade de guardar armamento ou a tecnologia dos sistemas de vídeo-vigilância?
Uma esquerda que consente cativações, sem exigir o seu detalhe, pode agora descartar-se de responsabilidades? Quando se assina um acordo vinculativo não é costume a definição detalhada de limites e condições a fim de evitar passar cheques em branco?
Numa época em que se batem todos os recordes (menor défice, maior tributação fiscal per capita, maior volume de cativações orçamentais) será desta que veremos uma descida acentuada da dívida pública?
Apesar da reversão de cortes salariais directos, o bater do recorde da colecta fiscal será indicação de que estaremos realmente a ser alvo de uma austeridade encapotada? Tal como afirma o maior especialista nacional do tema? Se quem quis ir além da Troika agora reclama que este governo corta em demasia quererá isto dizer que já estamos além do além da Troika?
Quando motivos éticos não justificam demissões na hora de ministros e secretários de estado, que depois obtém essa justificação tardia por via judicial, será chegado o momento de redefinição da ética em si? Ou bastaria acelerar a justiça?
Por ventura foram alargados os deveres do Presidente da República obrigando-o a ser o relações públicas do governo em funções? Deverá neste mandato ser ele a principal face de todos os acontecimentos? Cabe-lhe agora fazer as primeiras, as intermédias, as últimas declarações? Sempre apaziguadoras ao estilo “Não passa nada”, “Está tudo sob controlo”, “Vamos apurar responsabilidades e melhorar”?
O estranho é que algumas destas questões parecem responder-se a elas próprias, não deixando de ser curioso existirem tantas confusões para chegar à razão evidente. Estaremos a ser governados por tolos que se deixam enganar por razões tontas? Ou por sábios que nos tomam por tolos?
Bad Hombres
Ao contrário da generalidade dos políticos após eleição, o novo inquilino da Casa Branca tem vindo a concretizar as suas promessas eleitorais. Tomar posse e fazer (mesmo!) aquilo que disse em campanha pode ser estranho! É até suspeito! Os eleitores são tolerantes com as contundências do combate eleitoral, relativizam as promessas mais radicais, mais definitivas. Quando, para espanto, o absurdo dá origem ao decreto, o eleitor perde-se entre o pasmo e a estupefacção. Incrédulo, poderá até sentir-se traído. Não era suposto passar de uma promessa vã.
Eis como a mais pura idiotice passa a realidade com o beneplácito dos eleitores. Uns apoiam, estão radiantes, partilham as convicções do eleito. Os outros, coitados, validaram a excentricidade porque tinha piada, avalizaram o espalhafatoso porque não lhes parecia provável e agora perante o rigor e a verdade, recuam, desculpam-se, dizem que não levaram as ameaças a sério. Inocentes, pensaram que era só campanha. Enganaram-se! Alguns queriam vingar-se dos politicos, vulgo “trama-los”, eleger alguém à margem do politicamente correcto para os penalizar pelas promessas não compridas, mas agora, a cada dia parece mais claro que o eleitor castigador é o verdadeiro castigado. A esta causa, a do castigo, aderiram também os abstencionistas, essa massa convicta na revolta do amuo.
Era campanha… Era? Não creio! Tudo aponta para que seja todo um mandato em campanha eleitoral, desta feita global. A digressão vai começar pelo vizinho a sul, o populoso México. Entre a ajuda e a ameaça, a cavalaria avança em perseguição dos homens maus.
USS Constitution
Com o fim da Revolução Americana e a Independência dos Estados Unidos, a frota mercante Americana deixou de usufruir da protecção da Royal Navy. Outrora salvaguardada pela dissuasão do poder naval britânico, a nação americana viu-se então, e pela primeira vez, à mercê da pirataria. Em resposta, o Congresso Americano promulgou o Naval Act de 1794, o qual lançou as bases para criação da primeira força naval permanente dos Estados Unidos da América. Foram então encomendadas seis Fragatas, quatro delas com 44 canhões e duas mais ligeiras, “apenas” com 36 peças de artilharia. Construídas em madeira, combinando madeiras secas e verdes, sobretudo Carvalho e Pinho, eram navios robustos, com suficiente poder de fogo para enfrentar qualquer Fragata inimiga. Contudo, nenhum deles podia ombrear com os poderosíssimos navios de linha das marinhas europeias, embate que no entanto poderia ser evitado graças à sua rapidez e agilidade de manobra.
De entre estes seis navios, apenas o USS Constitution sobreviveu até aos nossos dias. Baptizado pelo primeiro presidente americano, George Washington, foi lançado à água em 1797. Combateu corsários otomanos, piratas do norte de áfrica, britânicos e franceses. Em 1812, ganhou a alcunha “Old Ironsides“, após derrotar o HMS Guerriere, fragata britânica cujos projecteis fizeram ricochete no casco do navio americano. O costado em carvalho foi mais forte que o ferro! Com mais de dois séculos de serviço, é hoje o vaso de guerra mais antigo do mundo e curiosamente é de entre todos os navios americanos actualmente no activo, aquele que mais navios inimigos afundou. Foi aliás o único que já o fez, facto que quanto a mim comprova que o rumo da politica externa americana é completamente imune ao desfecho do circo mediático que hoje (finalmente!) termina.
Noddy, Mário Noddy
O prometido é devido, mesmo que a contragosto, eis-me a cumprir com a palavra dada. Hoje sim, é dia do herói principal destas aventuras. Mais tarde voltaremos às outras personagens. São tantas, tão ricas e diversificadas que a tarefa não se avizinha fácil, mas fica a promessa. Vamos ao que interessa, à ordem do dia.
Reuniu ontem o conselho de estado, em virtude de o cargo de Presidente da República ter sido novamente preenchido após longo hiato de uma década. Estamos portanto na chamada fase do “estado de graça”, consequência do alto patrocínio do factor novidade. Tanta é a ternura nesta nova era dos afectos que os conselheiros foram brindados com um convidado especial. Já se sabe que recebemos bem, que os convivas apreciam o clima e a gastronomia, mas nunca a satisfação do turista foi para nós tão importante.
Abram alas para o Mário! Viva! Chegou e disse, falou e foi-se. Reformar é a ordem. Reformar sem reverter, porque as reformas foram todas óptimas. O crescimento económico bate à porta, em linha com a Europa. Olha que bom! Importante por cá, no país dos brinquedos, são os juros da dívida soberana. Soberana? Confesso que não consigo escrever isto sem me rir. Soberana. Trágico, não é? Como podemos sequer usar a palavra quando é o Noddy que tudo faz? É ele, não os mercados, nem as reformas, que faz baixar os juros, logo, é ele, o Noddy quem manda. Gostamos? Não, mesmo nada, mas também de nada nos serve fingir.
O Retrato Oficial
Após algumas semanas de ansiedade, chegou finalmente o dia da apresentação do entediante Orçamento de Estado no Parlamento. Que alivio. Vamos finalmente deixar de assistir ao jogo de parada e resposta entre a dramatização e a desdramatização. O processo apenas serve um propósito – desviar as atenções e banalizar a soberania abdicada. Dirão os euro-crentes que a mesma foi voluntária, que consta de tratados, assinados claro está sem nenhuma arma apontada à cabeça. Uma arma não, mas o Pacto Fiscal Europeu foi assinado em Março de 2012. Por vezes, sobretudo quando conveniente, a emergência financeira é esquecida. Enfim, todo este processo de normalização por anestesia serve apenas para nos habituarmos à ideia do fim da soberania Nacional, para a termos como banal. Para meu profundo desagrado, está a resultar.
Opto então por comentar outro assunto. Prefiro as boas notícias. Preparados? Aqui vai: faltam apenas 28 dias para terminar o mandato do actual Presidente da República! É ou não é uma boa noticia? É excelente! Mas há mais. Há pelo menos mais uma boa noticia: Antecedendo o instante da sentida despedida, será apresentada a mais recente e valiosa peça do acervo do Museu da Presidência da República, mais uma maravilhosa pintura para a Galeria de Retratos Oficiais.
Depois do conservadorismo de artistas como Columbano Bordalo Pinheiro, Henrique Medina e Eduardo Malta terem feito escola, a tradição foi rompida pela originalidade de Júlio Pomar, logo seguido pelo retrato contemporâneo da autoria de Paula Rego. Sei, de fonte insegura, que o Presidente cessante vai manter esta tendência de ruptura com os cânones do retrato presidencial. Vai inovar. Desta feita, a obra fala por si. O autor permanecerá anónimo, mas o seu mérito é inegável. O quadro caracteriza o retratado tão bem como aos seus concidadãos, aqueles que por voto ou omissão o elegeram tantas vezes. Celebremos.
Primeira Volta
As sondagens só acertaram no vencedor. Quanto à proporção de votos nos restantes candidatos, a falha foi total. Diga-se, só não falharam naquilo que todos sabíamos. A noite eleitoral foi de tal forma ligeira que tudo estava despachado à hora das crianças irem para a cama. É o novo tempo dos afectos. Destoou, é certo, o último discurso da noite ser protagonizado por quem nada ganhou, o primeiro-ministro. Tomou-lhe o gosto, será? Diz o protocolo que os últimos são os primeiros, mas enfim. Talvez não tenhamos compreendido o que ganhou ontem. Talvez um aliado, talvez menos inimigos.
Acabou por ser um Domingo tranquilo. O suspense acabou cedo, logo pela hora de jantar. A emoção de uns, o quebrar da expectativa de outros: Não há segunda volta para ninguém! Não há mais fichas, o carrossel eleitoral acabou. Abençoada abstenção. Algo me diz que continuaremos a ser mais de nove milhões de eleitores. Seja. Continuaremos a bater recordes, nem que seja do absurdo. Resta-nos aguardar pelo mês de Março. A oito acaba-se a feira…
Entretanto, procurando ir além dos afectos, imaginamos como será o próximo Presidente da República? Imparcial? Espero que não! A imparcialidade tem protegido a paz podre reinante. Confesso não ter nem grande expectativa, nem grande receio. Diria mesmo, receio algum. Afinal, quem sobreviveu a uma década com o actual inquilino de Belém, não teria qualquer motivo para temores, fosse qual fosse a candidatura vencedora. Por mais ténue, seria sempre uma melhoria. Mesmo não sendo grande consolo, que não é, a criatividade, a alegria que caracteriza o vencedor vai dar mais cor ao panorama Nacional. Não esquecer que o primeiro mandato é sempre um estado de graça, uma serena e tranquila campanha para o próximo mandato. Há sempre uma segunda volta!
Eleições Palhacianas
Após visualização de uma série de debates entre candidatos presidenciais, nos dois formatos, a dois, um contra um, e a três ou mais, nenhum contra nenhum, bem como dos tempos de antena e peças jornalísticas de acompanhamento de campanha, não consigo identificar um claro outsider em quem se possa votar para abanar o sistema.
Ainda predominam os peixes de aquário partidário que procuram relembrar ao eleitorado as responsabilidades políticas de partidos da oposição ou beliscar o carácter e idoneidade de cada um dos restantes peixes de aquário.
Temos depois delatores da corrupção e más políticas vigentes que advogam querer limpar o país e impor a correcção da trajectória estratégica nacional.
Por fim temos a versão madura dos outrora famosos batedores de punho, um terá utilizado a força de punho para calcetar Portugal, outro é pregador dessa corrente punheteira que requer altos níveis de motivação e confiança. Ambos apostam na popularização do argumentário procurando desconstruir complexas situações políticas em dizeres simples e claros.
À partida quereríamos que a cada um fosse dedicado espaço equivalente nos media, a fim de eliminar qualquer suspeita de favorecimentos. No entanto depois de ver alguma da pobreza de ideias e de discurso sou obrigado a reconhecer que isso seria muito mais prejudicial a estas eleições do que a situação desigual actual.
Isto acontece ou porque a qualidade do candidato é deplorável ou porque o candidato não parece saber a que cargo se candidata, que responsabilidades lhe seriam conferidas nem sequer quais as fronteiras dos poderes que lhe seriam instituídos.
Por um lado é positivo que candidatos extra-partidários consigam entrar na corrida, por outro é assustador que alguns deles sejam nitidamente medíocres e tenham mesmo assim conseguido o apoio suficiente para a candidatura. Sinal de que grande porção dos eleitores não faz a mínima noção da importância e relevância dos mais altos cargos da nação, supondo que se pode dar ao luxo de, numa brincadeira eleitoral, eleger o mais boçal e/ou idiota dos candidatos. Esta derivação do poder para um emergente desconhecido deve ser um tiro certeiro confiado a quem demonstra carácter e capacidade. Caso contrário será um tiro de pólvora seca que funcionará como um tiro pela culatra já que a inoperância de uma chico-espertice incapaz, e possíveis danos ao país por ela causados, criarão a ilusão de que os anteriores maus políticos são apesar de tudo a melhor solução possível.
Espero que os políticos saibam ler nestes sinais duas coisas. A primeira é a de que as rédeas do poder estão fugir-lhes das mãos, para novas forças políticas, novos movimentos de cidadania. A segunda é a de que se não apostarem na formação e educação dos Portugueses, no conhecimento e valorização da sua própria democracia, essa passagem corre o risco de ser uma catástrofe anunciada, por mais divertida e inócua que aparente ser.
Sugiro também adicionar um simples filtro para garantir o enquadramento dos candidatos ao cargo a que se propõem. Um questionário que afira o seu conhecimento sobre a história recente de Portugal, sobre os deveres, poderes e limitações de um mandato presidencial, e sobretudo sobre as diferenças existentes entre o papel de Presidente da República e o de Primeiro Ministro. Quem não sabe ao que vai escusa de aparecer.
Dune
Agora que a campanha começou, digamos, oficialmente, pareceu-me apropriado recordar o filme “Dune”. Baseado no livro de ficção científica de Frank Patrick Herbert, “Dune” é um clássico do cinema do século passado, uma enorme salganhada de efeitos mais ou menos especiais, uma estória de predestinação misturada com audácia e ímpeto. Embora o enredo seja o de uma monarquia, a analogia com a nossa república é no mínimo pertinente. Há um imperador que afinal não manda nada, subjugado e temente a um poder maior – um bicho esquisito que vive num aquário de secção oblonga e que se faz acompanhar por gente tão ranhosa e repulsiva como incompreensível no seu dialecto materno. Os leitores que se recordam do filme compreenderão o que descrevo, aos outros bastará a descrição menos surreal e mais sucinta da organização que dá pelo nome de União Europeia. Ou seja, tudo gira em torno da Especiaria, essa maravilhosa substância que faz girar o Universo. É incrível a assertividade da narrativa deste grande clássico de 1984 com o sistema de criação monetária actual. A metáfora dos Vermes resulta em pleno.
Esta obra-prima do mestre do surrealismo, o realizador David Lynch, é sofisticada na forma, mas simplicíssima nos processos: Os bons trajam ao estilo prussiano, os maus têm borbulhas. Os títulos nobiliárquicos também ajudam: Do lado da virtude o Duque e o seu herdeiro, do lado da infâmia o Barão e seus sobrinhos, um deles famoso por em tempos entoar o poema policial intitulado “De Do Do Do, De Da Da Da”.
Resumido, os maus partem com o desejo de voltar, os bons chegam com o desejo de mudar. Entre os que vão e os que chegam, estão os nativos, os senhores da situação. Muito embora não pareçam, são eles e elas os verdadeiros protagonistas. Todos, mas todos sem excepção são independentes! Não se sabe muito bem de quê ou quem, mas parece ser esse o estatuto preferido. É o caso da governanta Maria de Ninguém Independente.
Se o leitor entretanto se perdeu, não se preocupe, a culpa não é sua… Lembre-se, é o surrealismo.