Monthly Archives: Março 2018

Financiamento Democrático

Está feito! A partir de agora o céu é o limite para o financiamento dos partidos nacionais! Que boa nova para algumas máquinas partidárias, que má notícia para a saúde democrática.

Mais financiamento significa mais investimento em meios de comunicação (marketing e propaganda), o que naturalmente irá beneficiar os partidos que têm feito parte do arco do poder pois foram eles que estabeleceram as bases para instalação e perpetuação do sistema vigente, cujos principais beneficiários farão questão de proteger  via simpáticos donativos.

Não existem soluções mágicas mas será mesmo este o caminho? Dar condições para que o resultado de umas eleições possa ser ‘comprado’ através de maior investimento publicitário e volume de acções de campanha no terreno? Uma democracia não se deveria antes preocupar em permitir que diferentes correntes ideológicas se confrontem em pé de igualdade?

Claro que é complicado fazê-lo quando existem mais de 20 partidos políticos inscritos no Tribunal Constitucional, pelo que pela saúde da nossa democracia talvez se devesse ponderar algo mais radical. Ao invés de dar condições para a desigualdade na exposição e comunicação porque não ir pelo caminho inverso? Nivelar todos os partidos pelo mesmo volume de exposição mediática, o mesmo número de outdoors, o mesmo número de minutos de entrevista em rádio e TV, o mesmo número de eventos em instalações públicas, focar os eleitores na qualidade do conteúdo e não programá-los de forma subliminar por enorme quantidade de exposição mediática/publicitária.

Para tal seria necessário reduzir o número de partidos relevantes para metade ou menos, talvez introduzir uma regra que extinga automaticamente partidos que atravessam duas ou três eleições legislativas sem eleger um deputado, limpar o panorama político de ruído inconsequente, abrindo vagas para novos movimentos.

O financiamento continuaria a ser necessário, não para  o ‘ataque’ às eleições mas sim para o período intermédio por forma a permitir aos partidos manterem-se activos e relevantes no preparar do próximo combate eleitoral que poderá efectivamente ser o seu último.

IT Hub: Um Oásis envenenado?

Depois da travessia no deserto Portugal aparenta estar em processo de transformação rumo à conversão num oásis tecnológico. As condições são propícias à instalação de gigantes tecnológicos. Boa localização geográfica, infra-estruturas de excelência, baixo custo de vida, salários muito abaixo dos praticados noutras paragens europeias e provavelmente benefícios fiscais ainda por revelar.

Não há muito tempo a ordem era de desmobilização geral, com muita da nossa mão-de-obra qualificada a emigrar para outras paragens. Agora surgem as oportunidades, vagas e vagas de posições altamente qualificadas por preencher, sem resposta imediata à altura. Provavelmente os salários a praticar não serão suficientemente altos para atrair aqueles que sairam do país encontrando remunerações muito acima das praticadas em Portugal, pelo que só existem dois caminhos possíveis, ou atrair os profissionais insatisfeitos em PMEs e grandes empresas nacionais ou atrair imigrantes de outras paragens para quem os ‘baixos’ salários portugueses sejam vistos como ‘altos’ salários face à sua realidade.

Em termos de emprego, economia e fiscalidade nacional sem dúvida que, a prazo, os ganhos serão muitos a todos os níveis. Poderemos também assistir a uma transformação do ambiente de trabalho das tecnologias de informação para um panorama ainda mais multi-étnico e multi-cultural, o que até casa bem com a nossa portugalidade. No entanto, poderá ser prejudicada a capacidade das nossas empresas. Além do recrutamento agressivo por parte de consultoras, que secando o mercado de talento criam oportunidades para si, as empresas terão agora de competir com gigantes de alto poder de atracção de talento. Existe o perigo real de que percam os melhores profissionais do sector de IT, fragilizando a sua operacionalidade e consequentemente os seus resultados.

Esperemos que, tal como o fizemos na nossa floresta,  não estejamos inadvertidamente a minar este precioso oásis com o plantar de gigantescos e ávidos eucaliptos.