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Amarração de Amor ao Serviço Público

Depois da disrupção de 2019-2022 finalmente estabilizámos no marasmo de sempre, com o país encalhado nas más condições dos serviços públicos de saúde, educação, justiça e transportes.

É enorme a tolerância de governantes e administração pública para com a deterioração dos níveis de serviço e insatisfação dos seus funcionários, relativizando para um “não é assim tão mau como querem fazer crer”. Em resposta crescem o peso dos privados em educação e saúde, o tempo de espera para decisões judiciais, o recorrer a viatura própria nas deslocações quotidianas.

Para resolver os graves problemas existentes precisamos de gente capaz e sensível que, mais do que dominar questões procedimentais, protocolares, de gestão ou administrativas, saiba na pele o que significa ser utente do serviço público, em todas as suas valências. Como podemos ter confiança em decisores, gestores e administradores que, alicerçados na sua esfera de influência ou no seu poder financeiro, contornam todas as dificuldades porque não estão para se melindrar?

Assim sendo deixo aqui uma linha orientadora que poderá salvar o serviço público, seja no facultar das condições necessárias para o seu exercício, seja na devida compensação e respeito aos profissionais que o asseguram. É muito simples. Um decreto de vinculação obrigatória à utilização exclusiva dos serviços públicos de todos os agentes políticos, governantes, administradores públicos e sua assessoria (englobando desde as chefias de topo às chefias intermédias), por si e por todos os membros da sua família directa, sem qualquer priorização ou discriminação positiva face a restantes utentes.

Imaginem. A sua prole a ser forçada a estudar em escolas e universidades públicas, a terem de agendar consultas no SNS respeitando as filas de espera em vigor, a serem privados de viaturas atribuídas tendo de se deslocar usando a rede de transportes públicos. É duro? Sim, mas precisamos de reeducar as nossas “elites” para que voltem a sentir o pulso à vida real das pessoas comuns. Só assim teremos confiança que agem pelo interesse comum, que neste caso é obrigatoriamente o seu.

Relativamente à justiça o caminho seria o inverso, deveria ser dada prioridade de investigação e tramitação a todos os processos que envolvam estas pessoas chave. Se necessário até criar unidades próprias de investigação, despacho e julgamento, com sessões registadas e conclusões sumárias disponibilizadas publicamente para fácil referência futura. Roça o incostitucional mas infelizmente só este acelerador e nível de transparência pode desmontar os artifícios legais utilizados para gerar atrasos entrópicos e a condução de processos à prescrição.

Com este nível de amarração, teríamos a certeza de que só seriam candidatas e executoras destes cargos pessoas 100% dedicadas e interessadas, que iriam aplicar todo o seu amor e carinho no desenvolvimento e aumento da robustez dos nossos serviços públicos. Fica a ideia.

PS – não estamos dormentes mas sim mais activos, num outro formato na plataforma Telegram