Monthly Archives: Janeiro 2012

Da Rua para a Presidência

Ligo a televisão e sobressai o fim dos feriados do 5 de Outubro e do 1 de Dezembro. Manuel Alegre a ressurgir comentando isso e o último episódio de Cavaco Silva. Parece que já há marcação de posição para a eventualidade de movimentos e petições como esta (com mais de 37 000 assinantes) levarem o Presidente da República a submeter-se a um voto de confiança por parte do eleitorado.

Sigo para a leitura da Visão da semana passada, a falta de tempo dá nisto, e leio que na Grécia são às centenas as crianças abandonadas pelos pais subnitridos que não têm condições de ficar com elas,  que a taxa de suicídio aumentou 40% e que os pais se entristecem por ver os filhos com piores perspectivas de vida do que eles em 20 anos de ditadura. Com estes números a agitação social nas ruas até parece coisa pouca…

Depois vêm todas as medidas do diploma de concertação social que diminuem custos com desempregados e trabalho extra-ordinário bem como agilizam despedimentos. Logo depois entrevista a Carvalho da Silva da CGTP que está de saída. Diz que no documento original estava a frase depois retirada “o Estado deve servir as empresas na óptica do serviço ao cliente”. Começo a ler a sua entrevista, o seu percurso de vida e o que dizem amigos e inimigos e de repente cai-me a moeda.

Em vez de irmos para a rua manifestar-nos levemos a rua para o Palácio de Belém. Se o governo agora está tão focado para as empresas precisamos de um contra-balanço focado no cidadão / trabalhador. De certeza que teríamos diálogo e discursos constantes da mais alta figura do estado. E seria deveras interessante apimentar a vida política de Portugal com um pouco de contra-corrente para partir a loiça toda.

As agências de rating eram capazes de não gostar mas estamos a chegar ao momento em que isso começa a já não interessar. Era um pouco 8 ou 80. Mas desta vez passávamos austeridade a quem a anda a distribuir de bandeja sem o puxão de orelhas devido.

Não me levem a mal mas não estou a querer apoiar um futuro candidato. Apenas estou farto das opções do costume e a forçar-me a pensar out-of-the-box. Sempre é melhor do que ir para as ruas descarregar para depois ver que a cobertura nos media está suavizada, tem pouca dura e resolve pouco. Ao Carvalho da Silva vejo-o nas ruas há tanto tempo que seria um seu bom representante. Além de que me daria um certo prazer tê-lo a picar os miolos a quem anda a fazer picadinho de nós. Os homens da luta também seriam bons mas se não prestam para ganhar o festival da canção também não prestam para isto.

Como cai um Presidente da República?

O Primeiro Ministro de Singapura, Lee Hsien Loong, vai sofrer corte de 36% passando a ganhar 1,33 milhões de euros ano.

O Presidente de Singapura, Tony Tan, vai sofrer corte de 51% no salário passando a ganhar 907 mil euros ano.

Cavaco Silva, Presidente de Portugal, ganha 84 000 € ano.

Hu Jintao, Presidente da China, ganha 14 130 € ano.

Os dois primeiros ganham fortunas mas têm o seu salário indexado a indicadores económicos que são os seus objectivos como gestores da nação. Conseguiram um crescimento do PIB a quase 15% e uma taxa de desemprego a 2%.

O nosso Presidente não ganha para as despesas mas tem a sorte de viver actualmente num país classificado como lixo com muitas oportunidades de recorrer  à coleta de bens deitados fora que podem ser reciclados como por exemplo um banco, parte de uma companhia de electricidade ou uma companhia das águas. Um rendimento extra garantido e bem apreciado.

O Presidente da China à proporção é um miserável, mas capaz de organizar umas poupanças para ir comprando umas pechinchas que um dia há-de voltar a vender banhadas a ouro e cravejadas de diamantes com alta percentagem de chumbo.

Nas últimas eleições presidenciais tinhamos um governo PS a preparar-se para driblar a nação com um conjunto de PECs, um nome diferente para pacotes ou medidas de austeridade. O nosso Presidente assanhou-se e deu indicadores que para um segundo mandato iria ser interventivo e moderador do impacto das medidas na vida dos seus Portugueses não facilitando a vida a José Sócrates. A alternativa era Manuel Alegre, um candidato independente da família socialista, que tinha um discurso mais agressivo e parecia ir chocalhar as águas políticas num momento de pré-crise, ou de crise camuflada, onde qualquer distúrbio poderia empurrar-nos para onde estamos hoje.

Em acréscimo, a tendência das últimas eleições diz que os Portugueses gostam de ver forças políticas distintas nas cadeiras de Primeiro Ministro e de Presidente da República. E assim naturalmente Cavaco Silva ganhou o seu segundo mandato.

Entretanto com o PS a entrar em contradição e a ser forçado à aplicação das medidas necessárias para corrigir as contas, surge um descontentamento social crescente e rapidamente reaprendemos como cai um governo com a concertação dos partidos da oposição que avaliaram ser aquela a hora H para reconquistar as rédeas do poder.

E de repente tudo mudou. Uma guinada à direita, sacudir o capote para a esquerda, fazer o contrário do prometido na campanha eleitoral, a soberania económica de fachada e o caos social instalado. Um retrocesso das condições de vida e do ânimo de viver para milhões. E um Presidente que mudou. Um Presidente que defendia o “deixem-me trabalhar” parece agora gozar com quem trabalha mais por menos. Um Presidente que prometia ser interventivo quanto baste, limita-se a avisar para a inconstitucionalidade e injustiça social de algumas medidas que aprova depois sem o mínimo burburinho, mais não seja que um vetinho estéril para português ver.

Sei que a capacidade de intervenção direta do Presidente é limitada mas os seus discursos podem ser galvanizadores daqueles que estão a ser acossados por medida atrás de medida. Que vinque que o carácter das medidas excepcionais deve ser temporário, que reflita em atos simbólicos as suas críticas prévias sobre as leis que lhe são entregue para aprovação. Parece que a única “força de bloqueio” actualmente em acção é a força das suas mandíbulas cerradas. Temo que tanta ausência de discurso prático o tenha feito perder o discernimento no discurso improvisado. Pior, temo que por improvisação saia o seu pensamento direto sem a censura dos seus acessores de comunicação.

Desculpei os ganhos em bolsa com o BPN, desculpei as giga-jogas com as escrituras da casa na santa terrinha, desculpei os ‘amigos’ envolvidos em casos de corrupção, desculpei um primeiro mandato de mudez mas neste momento não há mais margem de manobra para desculpas a não ser talvez para um Alegre, ou mesmo para um Nobre, que sendo menos politicamente corretos talvez fossem mais socialmente certeiros. Foda-se, pá! Votei em ti, merda! Mea culpa! Mas era para acossares o José Sócrates e não para andares com meninos da família ao colo! E que raio de vícios tens tu que não podem ser sustentados com 10 000 € mês?

Obrigaste-me a aprender como cai um Presidente da República. Aparentemente só é possível a sua destituição via uma de duas formas:

  • Mediante Responsabilidade Criminal com condenação de crime praticado.
  • Por Renúncia feita pelo próprio em mensagem dirigida à Assembleia da República.

A primeira está fora de questão mas esta segunda só depende do próprio. Haja uma suficientemente grande manifestação social para a sua destituição e acredito que sejas homem para o fazer. Pelo menos o Sócrates foi.

Plano Companhia Mercearia

Foi recentemente lançada uma nova campanha de acefalia em massa. Refiro-me obviamente ao Plano EDP Continente. A sonae capitaliza notoriedade benemérita. A filantropia não tem fim naquela casa. Depois das acções com os heróis da pequenada Pópóta e Leopoldina, chega-nos agora o plano para os mais crescidos. Desta feita, ao invés de algum anónimo necessitado, ajudamo-nos a nós próprios. Finda a época natalícia, a caridade perdeu adeptos. Regressamos à expressão “já demos” e ao foco no umbigo. É para ele que o Plano aponta. Os tempos são de crise, e nenhuma outra mensagem tem tanto impacto como a empatia: Compreendemos a dificuldade e propomos ajudar. Valha-nos a publicidade! Sem ela estaríamos condenados à depressão, pois a média entregou-se à trilogia do momento: crise, divida e medo, muito medo. A mais pequena migalha de esperança é bem recebida, sobretudo quando aparenta compensar o recente aumento do IVA sobre a electricidade.

“Conte com a nossa Energia, 10% da Electricidade volta em compras”. Apelativo, é certo, mas como sempre a realidade fica aquém da expectativa gerada. Parece que o desconto será directo sobre o valor da factura da EDP, mas não é bem assim. Observadas as condições, constatamos que o desconto não pode incidir sobre os impostos, daí “10% da Electricidade” e não “10% do valor da factura”. São uns malandros estes Publicitários Ocidentais, dirão os novos accionistas da EDP. Ternurenta a ingenuidade asiática. As referidas condições são igualmente profícuas no que toca a alertas e a esclarecimentos adicionais, nomeadamente a cristalina informação que o plano não trará vantagem a quem tenha um “consumo em vazio inferior a 44%”. Seja qual for o significado da expressão, ou respectiva quantificação, é meu dever enaltecer a iniciativa em clarificar a oferta. Assim se mantêm a tradição de comunicação transparente da companhia. Tenho alguma reserva quanto à duração da mesma: o desconto sobre o valor da electricidade consumida, em função da potência contratada, apenas estará em vigor até ao final deste ano, leia-se Dezembro de 2012. O que é bom não dura para sempre, dirão os parceiros da iniciativa…

Ao engano do desconto em cartão, ou cupão, acresce o abandono voluntário do mercado regulado, onde uma entidade supostamente reguladora, define o valor das tarifas de electricidade. Quem o fizer, fá-lo-á de forma irreversível. Para além de aderir ao financiamento do negócio da mercearia, antecipa a adesão ao mercado liberalizado. Este mercado liberalizado de concorrência permitiria, pelo menos teoricamente, a livre escolha do fornecedor de electricidade, em função da competitividade da oferta, ou seja, o melhor preço, o melhor serviço ou a melhor relação entre ambas. Tudo óptimo. Tudo desejável. Um problema: Não existe verdadeira opção à companhia, logo a liberalização será apenas dos preços. Tal como ocorreu no mercado de combustíveis, onde existem diversas marcas na distribuição, mas há apenas um refinador (por acaso também é distribuidor). Por mais que a entidade reguladora nos diga que não há “cartelização” de preços, na prática há um monopólio no sector, e consequentemente não existe a desejável guerra de preços. Talvez por isso, a galp invista milhões em patrocínios às selecções Nacionais, esforçando-se para nos convencer que de alguma forma é “nossa” e não dos seus accionistas.

Em troca de um pouco de ânimo na comunicação, o Plano Companhia Mercearia tenta criar um monopólio onde ele não existe (hipermercados), e ao mesmo tempo antecipa a liberalização dos preços num mercado monopolizado. Bem sei que durante o ano de 2012, a tarifa será igual em ambos os mercados de energia eléctrica, mas exactamente por isso, questiono: Se há défice tarifário na tarifa normal (mercado regulado), como é possível a companhia suportar o desconto adicional? Será que a energia tem custos de produção diferentes em função do tipo de contrato com o cliente final?

Se a tudo isto acrescentarmos a obrigatoriedade do débito directo em conta como método de pagamento à companhia, julgo apropriada a classificação do Plano como um roubo com consentimento da vítima.

Prefiro não fiar ao continente e permanecer no mercado regulado.

Censurem-me!

Não há pastel…

O governo tenta agora a mensagem positiva, a chamada boa nova. Fraca atenção ao detalhe, ou estratégia deliberada? O raio do logótipo dos pastéis de Belém tem lá escrito “desde 1837”. Na verdade, já em Novembro do ano passado Barack Obama manifestou preocupação sobre a temática do Pastel, ou da falta dele… A revolta dos pastéis de nata está iminente, mas de fazer propaganda não podemos acusar o nosso primeiro. Nem de mau gosto, porque os pastéis são divinais!

Do além chegou-nos também o acordo de concertação social. O Álvaro de pronto falou aos mercados, mas nem tratado por tu os mercados o querem. A empatia não acontece. Contudo, lá ganhou a guerra perdendo a batalha. No movimento sindical não se lê Sun Tzu, nem se aprecia pugilismo… Pena.

Quem terá sido o espertalhão que avançou o isco da meia hora? Terá sido o Relvas, ou foi mesmo obra do Álvaro?…

A Sedução Abrangente

marketingTodos nós gostamos de ser seduzidos, de uma ou outra forma, já todos o tentamos pelo menos uma vez na vida, especialistas e estudiosos da matéria dispensam largos períodos da sua vida tentando descobrir novas técnicas e modelos, algumas são levadas ao extremo com consequências excepcionais para uns, podendo ser ao mesmo tempo nefastas para outros.

A economia de mercado dita as suas leis, estas muitas vezes, tal e qual as outras, limitam o direito de livre escolha de cada um, conseguindo mesmo, ser tanto mais persuasivas, quanto mais dependentes são os seus alvos.

As grandes máquinas de marketing, estão montadas para seduzir os consumidores, que afinal somos todos nós, diariamente somos confrontados com promoções em cadeia, descontos num sistema de pescadinha de rabo na boca, abasteça aqui e ganhe um brinde com os pontos, ou mesmo, compre aqui e utilize o ágio no abastecimento, depois volte cá com o cupão que lhe deram lá, tentando generalizar a indução ao consumismo desmesurado controlado muitas vezes pelas datas de caducidade dos benefícios.

Este mecanismo está baseado no princípio da meritocracia, pois ganhará a equipa que melhor souber aliciar o consumidor, práticas pensadas dentro dos grupos empresariais, tentando através da sua tenacidade, fidelizar uns quantos.

Eis que, indo ao encontro de ideologias recentes, em que muito bem, instigam ao cérebro empresarial Luso a ter uma visão global e até exportar os nossos famosos doces, é dado o momento em que é posta em prática, uma ideia muito mais abrangente.

Abarca-se de uma só vez, um número considerável de consumidores, com um desconto direccionado para um operador de mercado, grande ideia, nunca antes pensada, ou talvez sim, mas nunca antes permitida.

Quem sabe mesmo se estará para breve, campanha idêntica por outro qualquer operador, em que por cada passagem nas vias agora portajadas, dará imediato acesso a um benefício nas pipocas da próxima sessão de cinema.

Conscientes dos hipotéticos ganhos, a liberdade de escolha está causticamente condicionada a cada dia que passa, impelindo-nos, embora sub-repticiamente a ir ter onde não queremos, mas sim, onde quase somos obrigados.

Os mercados estão cada vez mais controlados pelos grandes “players”, que mantêm a sua força por inerência dos números que geram e/ou dos postos de trabalho que mantêm, mas certamente acompanhada pelo sentimento de um espírito de cleptocracia cada vez mais institucionalizado.

A apetência invejável de transferirem ilustres figuras das máquinas partidárias para as empresas e vice-versa, devia apenas ser equacionada com pretensão de trazer vantagem a todos, e não só a ambos, bastava somente aprender com estes métodos de dissuasão.

Deixando a minudência aos especialistas, imaginemos que por uma improvável ordem do acaso, o imensurável operador de mercado chamado Estado devolvia uma percentagem do total das despesas anuais com a restauração de um qualquer cidadão, em tikets de refeição, ou empregava método idêntico na saúde, ao estilo, traga o recibo e leve cheques dentista.

Medidas abrangentes e psicologicamente atractivas!

cheque prenda

Os truques do Downsizing

Aumento da taxação de impostos, retenção de subsídios durante dois anos no estado, empresas públicas e similares, aumento das taxas moderadoras sobre serviços de saúde, encerramento de unidades de saúde pouco rentáveis, diminuição de participação em medicamentos, fim das SCUTS, diminuição de montante e/ou prazo de pagamento de reformas e outros tipos de subsidiação (entre outros o do desemprego), privatizações de empresas estatais monopolistas que fornecem serviços básicos à população,  etc. Tudo isto para quê?

Em 2012 aumentam os preços de uma enorme gama de produtos alimentares, com IVA revisto, fala-se de aumentos de pelo menos 4% em gás, electricidade e água e os produtos petrolíferos encontram-se em nova espiral de subida de preços. Somando a isto o aumento do custo com portagens e o aumento das despesas de saúde para quem delas necessite, como quantificar a perda real do poder de compra tendo em conta todas estas variáveis? Para muitos Portugueses o orçamento familiar vai ser alvo de revisão forçada e será preciso escolher se se vai destapar os pés ou a cabeça.

Numa altura caracterizada por desemprego de longa duração a diminuição do período de apoio só irá aumentar o número de desempregados sem subsídio. Com a diminuição de serviços médicos e o aumento das listas de espera, que curiosamente estavam em contracção, quantas pessoas correm risco de vida ou prolongamento de vida sofrível porque os tempos não estão de feição? Quantos pensionistas deixarão de fazer medicação adequada com a reformulação em baixa da reforma e da comparticipação em medicamentos?

E o impacto das SCUTs terá sido bem avaliado? Foi estudada a dinâmica social e profissional dos seus utentes? A maioria não poderá suportar estes custos e voltará às velhinhas nacionais aumentando tempo de deslocação, acidentes e transferindo a despesa de manutenção de estradas para a já tão esburacada Estradas de Portugal. E os concessionários das SCUTs com menos tráfego e necessidades de manutenção terão o seu quinhão garantido com as compensações acordadas com o Estado para o caso do volume de utentes não ser o esperado. É como se pagássemos duas vezes sem ter o benefício da melhor solução de deslocação. Será que esta correlação será feita em análises futuras?

Diria que para um governo frio e calculista apenas o grupo dos desempregados poderá ser problemático. Porque é gente activa que fica sem ocupação, capaz de se indignar e ir para as ruas estrilhar. Os outros, pensionistas e utentes regulares do serviço nacional de saúde, a médio prazo têm grande probabilidade de deixar de fazer número. Afinal com menos 42 mil cirurgias entre Setembro e Novembro de 2011 vs Setembro e Novembro de 2012, diminuição de 20% da actividade cirurgica num ano e o bastonário da Ordem dos Médicos a alertar que se está a acumular mensalmente atrasos de semana e meia nas listas de espera, não devem haver muitos pacientes em espera capazes de sobreviver a tal austeridade. Pelo lado social e familiar é mau mas para os números do OE é coisa para ajudar bastante.

Quando uma pessoa está há demasiado tempo sem ter oportunidade de produzir começa a ficar irrequieta e capaz de se mobilizar, sobretudo porque não tem nada a perder para além de um certo anonimato. Talvez por isso o governo tenha emitido fortes sinais de que para os próximos tempos o melhor é mesmo emigrar, procurar soluções no exterior. Com um certo paternalismo, é certo, mas com o sincero desejo de que desta forma consigam diminuir despesas com estes ‘fardos’ e ao mesmo tempo manter uma certa aparência de satisfação e paz social.

Os empregados esses têm que se manter com juízo, comer o pão que o diabo amassa, tal é a pressão causada pelos largos milhares disponíveis para ocupar o seu lugar, ainda por cima a melhor preço, e a falta de outras opções. Dois anos sem subsídio são suficientes para criar esquecimento de que alguma vez existiram e gerar conformidade com as necessidades dos novos tempos.  E as horas de produtividade exigidas a mais hão-de vir de algum lado nem que seja das horas dedicadas à esfera familiar, social e pessoal. Talvez a mitológica, famosa e atribulada vida vestibular existente em ambientes hospitalares se comece a extender a outras áreas de actividade.

Os trabalhadores Portugueses assemelham-se neste momento a Lemmings enfileirados a caminho da falésia com a secreta esperança que após o sacrifício do pelotão da frente se chegue à conclusão que o equilibrio no ecossistema está restabelecido e afinal o seu sacrifício pode ser evitado. RIP e obrigado aos menos afortunados.

Mas o pior ainda há-de estar para vir. O SOS China é uma bóia de salvação para o curto prazo mas sendo-lhes concedido suficiente poder de decisão, a médio prazo existe o real perigo substituição de fornecedores e da invasão de uma mão-de-obra barata não tão qualificada, não tão sindicalizada nem ciente dos seus direitos, mas que cumpre prazos e dá brilho aos orçamentos de obras.

Para o estado tudo vai bem. Menos despesas diretas com as SCUT, menos despesa com subsidição de desemprego (com menos inscritos nos centros de emprego), menos despesa com saúde (com transferência de muitos utentes em fila de espera para as estatísticas de óbitos), menos despesa com pensionistas, menos empresas públicas (inclusive as mais rentáveis e base de serviços essenciais à população) , na globalidade um gigantesco downsizing de sucesso para o livro de contas de 2012 e 2013.

Para os Portugueses em geral não se sabe bem. Vão encaixando downsizing atrás de downsizing aparentemente sem sentir grande necessidade para um achocalhante uprising capaz de retribuir um pouco da austeridade.

PS – Resisti ao ímpeto de aplicar downsizing ao tamanho deste post porque considerei que todos os parágrafos produzidos tinham direito à publicação independentemente de terem maior ou menor ROI em termos de leitura.

O Êxodo

Exausto com a abundante e infundada crítica ao filantrópico e mais que avisado conselho à nação, decidi agir. Movo-me, não em defesa do novo messias, nem tão pouco do apóstolo de Alarcão que o antecedeu na doutrina do Êxodo. Enalteço o conteúdo e borrifo-me na forma. A fuga dos Lusos da Europa é uma inevitabilidade e tem fundamento histórico. Quais judeus em fuga do Egipto e da escravatura. A analogia é tão óbvia quanto alucinada.

Não compreenderemos o Êxodo, sem abordar a Génesis da Europa Moderna. Tudo começou em 1948, na urbe que celebra a criança que despudoradamente urina ao vento, Bruxelas. Em 1951, desta feita em Paris, foram tratados o carvão e o aço. A Comunidade nasce em 1957 na cidade eterna, Roma. A fusão ocorreu no regresso a Bruxelas, em 1965. Até aqui, tudo bem, estávamos fora.

Em 1986, um ano após a adesão de Portugal, foi assinado o Acto Único Europeu em Haia e no Luxemburgo. Animados com os fundos estruturais, não ligamos. Aparentemente, já nesta altura a Holanda era um destino desejado. De Maastricht em 1992, partimos para a loucura de Amesterdão em 1997. Falamos, comentamos, mas na verdade continuamos a não ligar. Jorrava, logo, tudo corria de feição. Dividir para reinar foi o lema em Nice em 2001. Novo século, novos membros. Menos, mas ainda jorrava. Eis que chega o sétimo dia e ao invés do descanço, reunimos as hostes em Lisboa. Diz-se desse dia que foi porreiro, pá. Mas não foi, não foi mesmo nada porreiro. Não reparamos na altura, e em boa verdade só agora alguns de nós desconfiam.

Assim foi a Génesis. Desprovida de valores democráticos e de genuína representatividade das populações. Aos tristes exemplos dos referendos “até à resposta certa”, acrescem agora as nomeações de novas equipas executivas em Itália e na Grécia. O momento é de acção, não de eleição. Avassalador: voltamos aos métodos medievais. Tal como na idade das trevas, o medo é usado como arma de submissão, a cultura clássica é erradicada e toda a reflexão é relegada para o estatuto de luxo supérfluo.

Entre todas as inconvenientes actividades humanas, a reflexão é sem duvida a menos oportuna. Exactamente por isso, imprescindivel! Façamo-lo então: Todos os dias, pelo menos cinco milhões de euros saem de Portugal, pelo que o Êxodo de capitais é um sucesso. O Êxodo de ex-primeiros-ministros é igualmente um sucesso. Só cá ficaram dois, um dos quais é Presidente da Republica. Concedo, este Êxodo é apenas um sucesso parcial, mas amplamente compensado pelo Êxodo das sedes fiscais das holdings, o que não sendo novidade, goza agora de grande notoriedade mediática. Aparentemente, e desta feita, constitui crime de lesa-pátria. Será que toda esta cidadania participativa e atenta questiona a frequência desta prática? E as suas causas?

Sejamos francos: O conselho é bom, pois os mandamentos só se aplicam a quem fica!

Um chavão à procura de rumo

A “Economia Politica” é um chavão muito utilizado, servindo de argumento desde pequenos textos a exuberantes palestras, assistimos porém a uma mistura explosiva na maior parte das ocasiões em que se juntam estas duas palavras.Agulha no Palheiro

Estes dois vocábulos, cada um com seu significado e a milhas de distância do outro, raramente se poderão juntar devido á sua essência. A prova disso é mais que conhecida, com falhanços constantes na política, por via da economia, ou vice-versa.

Se encontrar um mediano economista na política pode ser mais ou menos frequente, encontrar um bom político que o seja também, em economia, é mais transcendente que encontrar uma agulha num palheiro.

Um economista tem de equacionar uma series de factores e interliga-los de forma a atingir um único fim, dar benefício, requalificar algo que não o dá, e baseia-se nos cálculos numéricos, que em boa justiça lhe darão razão, ou não, mais tarde, enquanto um político tem como preocupação primordial fazer isso mesmo, politica, interagir bem com todos, mesmo com aqueles com que não partilha as ideias.

Nas empresas terão forçosamente de existir os dois, por forma, que todos andem satisfeitos e mesmo assim ela dê lucros, aí é que reside a eficácia, numa separação eficaz de valores.

Terá de ser um País, diferente?

VéniaCom um número significativo de jovens com excelsos cérebros, alguns deles noticiados como magníficos, no exterior e nas mais diversas áreas, poderiam eles ser “aproveitados” para gerir a nação. Ficariam exuberantes por tais préstimos e ainda por cima pagos, bem pagos, por isso.

Num cenário de convivência salutar em que os jovens gestores teriam prémios de desempenho unicamente na proporção dos ganhos, deixando as vénias e palmadinhas nas costas para desempoeirar os fatos, aos que amam a política.

Em tempos como o presente, em que dos é dito que temos de cortar com o passado e olhar em frente, será talvez a única salvação da tal famosa “economia politica” aliando duas palavras que nunca se deveriam ter juntado, ou melhor encararíamos isso como efectivo, pois a separação sempre foi evidente.

Melhor que anunciar ao jovens, o promissor destino da emigração é dar-lhes a oportunidade de mostrar o que valem a quem os ajudou a formar, dando-lhes o privilégio de poder retribuir os ensinamentos.Sucesso