Monthly Archives: Fevereiro 2015

Todos diferentes, todos iguais

AS: Olá António, como vais companheiro? Vi-te na TV e fiquei perplexo quando disseste que Portugal estava melhor do que há uns tempos atrás…

AC: Olha! Ainda estás vivo meu homónimo? Estás como os outros!? Eu não disse que Portugal estava melhor! Atenção! Eu disse que Portugal estava DI-FE-REN-TE….

AS: Hum… quer dizer que está pior?

AC: Não, sendo franco pior também não está…

AS: Então!? Se está diferente tem de estar pior ou melhor, não? Caso contrário estaria igual!

AC: Não necessariamente. Sabes, para perceberes o meu ponto de vista vou-te contar algo íntimo. Quando eu era míudo havia aqueles que me tomavam por indiano e me chamavam monhé e havia aqueles que me tomavam por preto e me chamavam escarumba. Até que um dia tudo mudou com a campanha “Todos Diferentes, Todos Iguais”. De repente deixou de haver melhores e piores! Passei a ser em simultâneo diferente e igual! Pelo menos até ser reconhecido como um político igual aos outros e passar a ser chamado apenas de FDP… Em todo o caso tenho toda a coerência ao dizer que Portugal está diferente não estando nem pior nem melhor. Porque podemos estar diferentes estando iguais, percebes?

AS: Não, não percebo, mas sei o que é isso de ser chamado de FDP… e até de te chamar FDP… Só que há outro assunto que me faz confusão.

AC: Então?

AS: Foste enaltecer o apoio dos chineses!? Uma ditadura que alimenta oligarcas do partido e tritura os direitos dos seus trabalhadores, dos seus cidadãos! Vendeste-te!? Ou crês que o seu regime político e social é a fórmula de sucesso a aplicar em Portugal? Um Portugal mais chinês seria melhor?

AC: Não…nem pior… seria diferente!

AS: Oh valha-me Deus… és melhor cowboy de rodeos do que alguma vez fui!

AC: Isso é verdade. Em relação a tudo em comparação contigo sempre fui o melhor!

AS: Melhor não, nem pior, és diferente.

Costa e Seguro, duas faces da mesma moeda?

 

Lassie

Provavelmente o mais ternurento filme de todos os tempos, Lassie foi lançado em Technicolor pela Metro-Goldwyn-Mayer em 1943. Relata a história da amizade entre uma criança e uma cadela de raça Rough Collie. Na verdade era um cão travestido de cadela, de seu nome “amigo“. A acção desenrola-se em Baden-Württemberg, na casa da humilde mas mui séria família Schäuble. As dificuldades financeiras criadas pela crise obrigaram a família à mais dura medida de austeridade: vender o seu adorado animal de estimação. Foi um rude golpe para o mais jovem membro da família, o pequeno Wolfgang. O swap foi concretizado com o nobre Duque.

O novo dono nutria grande admiração pelo animal, mas não o mesmo afecto. Mantinha-a em cativeiro, presa no canil. Felizmente, a amizade foi sempre mais forte que o cativeiro. Lassie fugia regularmente para se encontrar com o pequeno Wolfgang à saída da escola. Escusado será dizer que estas manifestações de afecto não colhiam a simpatia do nobre Duque, o qual decidiu cortar o mal pela raiz. Enviou a Lassie para longe, para sua propriedade na região de Hamburgo. Contudo, a distancia e a saudade não matou a amizade.

Obstinada, Lassie percorreu milhares de quilómetros, passou fome, superou tempestades e até pessoas más, mas consegui regressar a casa. Nunca nenhum outro canino revelou tão apurado faro, tão determinado empenho, nem tão cega dedicação a seu dono. Uma enternecedora história de amor.

lassie

Detox Grego – Jogo limpo

Drug DetoxDe um lado temos os dealers que tentam proteger o valor de mercado do seu produto, do outro temos os toxicodependentes que decidiram iniciar um programa de desintoxicação. Uns querem continuar a emprestar e a decidir como deve ser gasto, outros querem continuar a receber empréstimos e passar a ter autonomia de decisão no seu gasto. Meus amigos, assim não vamos lá!

Permitam-me que me apresente. Nuno Faria, humilde benemérito mediador de imbróglios pessoais, nacionais e/ou internacionais. Apesar da magnitude da dívida este é um problema muito simples que pode ser resolvido com o habitual exercício de nos colocarmos nos sapatos dos outros para vermos a situação com outros olhos.

Utilizando uma simples metáfora circense o cenário é simples.

O Circo está montado!

O palhaço rico montou a sua grande tenda na Grécia, há cerca de 5 anos, emprestando dinheiro a jorros em troca, não apenas dos juros devidos, como do segurar firmemente as rédeas da governação. Foi como o alugar de um país inteiro para produzir um espectáculo circense assente em performances experimentais. Que quer manter em exibição por tempo indeterminado.

sad clown design by dmrottenPor sua vez o palhaço pobre, farto de tantos anos de austeridade, decide que é altura de mudar. Banir de vez este circo vampírico que ao invés de manter a alegria do seu povo lhe sugou toda a vitalidade e razões de viver. Com uma condição: o circo vai-se, libertando as rédeas da governação,  mas os empréstimos continuam se faz favor.

Como é perceptível as posições não são de todo compatíveis. Por um lado o rico não quer emprestar ao pobre se este deixa de estar alinhado com as suas orientações. Por outro o pobre não quer dar ouvidos às orientações do rico mas quer que este abra mão do seu dinheiro.

A solução? Porque não ser fiel à palavra ‘desintoxicação’ e aplicar uma mistura de privação e metadona? O rico seria privado do pagamento dos juros de empréstimos passados por período idêntico aquele em que teve grande influência sobre a governação da casa do pobre. O pobre seria privado de empréstimos por parte do rico durante esse mesmo período. Os montantes libertos não são suficientes para governação? Então seja autorizado o uso de metadona.

A Grécia teria assim esta legislatura para voltar a servir de laboratório, talvez mais arriscada, em que o próprio cientista se utiliza como cobaia. No final seriam avaliados os resultados. Em caso de sucesso na recuperação económica teríamos um novo case study de políticas e medidas de sucesso alternativas ao actual rumo de austeridade. Em caso de fracasso a Grécia teria de sucumbir às evidências da ressaca e submeter-se aos caprichos do rico que aparentemente teria toda a razão no formato da sua ajuda.

O irónico é que temos de um lado um palhaço, pobre e desesperado, disposto a arriscar tudo para encontrar a fórmula de sucesso. Do outro temos um palhaço, rico e abastado, temente do potencial sucesso de qualquer receita de tratamento que trilhe caminhos diferentes dos por si apontados.

Fico mesmo sem saber qual dos dois precisa de maior ajuda e atenção.

Felizmente, tal como todos os Europeus, eu tenho duas mãos.

Drug Detox – Alcohol, Opioid, Nicotine Detoxification

A ajuda de Xerxes

Trinta e dois súbitos apelaram ao Rei Xerxes por mais simpatia para com a Grécia. Soberano, Xerxes explicou o equívoco. Esclareceu os ignorantes que o Império Aqueménida é aquele que mais ajuda a Grécia. O esforço do império em prol dos gregos é em termos relativos o maior do mundo. Magnânimo, encerrou o assunto. Eis demonstrada a vantagem de quem tem acesso privilegiado à informação e ao saber. Infalível!

Ou não? Terá Xerxes cometido um erro? Uma não-verdade? Aposto que não. Por certo que a explicação existe. Humildemente, lanço o meu apelo: Ó grande Xerxes, tu que tanto tens reformado o estado, tu que estabeleceste os limites, tu que nunca nos mentiste, esclarece-nos com o teu conto para adultos.

xerxes

Milho aos Pombos

Ele garante que lhe garantiram, ele surpreende-se com o que já sabe, ele fala quando nada tem a dizer e cala-se quando muito há por explicar. Atempadamente nos explica e avisa. Apela aos consensos em geral e à continuidade da paz podre em particular. É um legitimo porta-voz da subserviência ante os mercados. milho-ao-pombosCelebra os feitos nacionais e critica despudoradamente os inventores da democracia. Lá na sua azáfama consegue condecorar os seus, e borrifar-se para o galardoado com um Grammy. Ninguém fala nisso porque não só está no seu direito de preservar ódios de estimação, como (reconheço) é brilhante na gestão do tempo. Normalmente basta-lhe fingir de morto um mês. Compreendo, é o presidente da minoria que nele votou (aproveito para agradecer a quem se absteve).

Enfim, tanto que fica por relatar sobre o seu rasto. Juro que a cada dedicatória penso: é a ultima, já não há pachorra. Eu bem tento, mas hoje não contenho o ímpeto. Não é que o homem resolveu dar milho aos pombos? Já se sabe que quem o feio ama bonito lhe parece, mas há limites, ou pelo menos deveria haver. Saberá quão perigosas podem ser estas aves?

HSBC – Reportagem em directo

JRS_Genebra

Formatado na BBC, pivô de noticiário televisivo há mais anos em actividade, o homem-sensação, aquele que em directo nos relatou a primeira guerra do golfo, mantém hoje intactas as qualidades de sempre.

Esteve na Grécia. Acompanhou as eleições, mas teve tempo para mais. Para muito mais. Sério, integro e vertical, trabalhou! Relatou as descobertas após intensa investigação. Descobriu paralíticos que andavam, corrupção diversa e o ócio generalizado. Não fica calado perante a verdade. Doa a quem doer. Nada teme. Escreve livros sobre tudo, mas não diz nada. Não obstante, como jornalista é um exemplo de seriedade.

Hoje está na Suíça. Consta que pernoitou junto à margem do rio Ródano, em plena doca “des Bergues”. O telespectador merece e corresponde ao espírito de sacrifício do jornalista. Aguardamos (todos!) com enorme expectativa o imparcial e rigoroso relato que esta noite nos fará sobre a criatividade helvética, bem como o nome dos nossos 200 concidadãos que se deixaram enganar pelos malandros de Genebra. Aposto que também nos falará dos perdões fiscais domésticos.

Decididamente um directo a não perder…

O parecer ser Português

Neste novo Portugal

há que parecer ser infeliz para garantir RSI

há que parecer ser alguém prestes a morrer para ter alguma hipótese de viver

há que parecer ser verdadeiramente especial para ter direito a acompanhamento especial

há que parecer ser uma actividade profissional para ter direito a remuneração

há que parecer ser inocente para afastar toda e qualquer suspeita

há que parecer ser Charlie para estar acima de todos os Charlies

há que parecer ser o menino certinho para continuar a ser o preferido da mamã

há que parecer ser o menino rebelde para tentar ser o preferido dos portugueses

há que parecer ser uma economia em crescimento para enriquecer a nação

E afinal o que é o novo ser Português?

Espero que acima de tudo apenas o parecer do velho “estou-me cagando”

MENSAGEM DE REFLEXÃO: VOCÊ É ESPELHO

Concorrência

Entre nós, país civilizado, ocidental, democrático e genericamente “livre”, existem os chamados reguladores sectoriais. São muito importantes, pois garantem a equidade entre os agentes dos diferentes sectores, bem como a salvaguarda dos direitos dos consumidores. Sobre todos eles paira a soberana Autoridade da Concorrência (AdC). Assim é há 12 anos. É ou não é uma maravilha? Haverá algo mais bonito que o regular funcionamento das instituições?…

Fomos ontem brindados com um extraordinário exemplo de zelo por parte da AdC. Em ano de eleições, e que por mera coincidência antecede a liberalização dos mercados energéticos, eis a coima inspiradora. Não é todos os dias que uma empresa é penalizada por conduta imprópria. Nada de sensacionalismos, nada de precipitações. A AdC observou pacientemente a actuação do prevaricador durante os últimos 15 anos. Saliente-se, a penalização é uma medida extrema, mas ponderada. O valor da coima não foi definido arbitrariamente, e muito menos tendo em vista os títulos dos jornais. Nem pensar. Apesar de o comunicado não explicar os critérios na definição do valor, estou certo que a AdC não está a fazer concorrência a nenhuma das instituições nacionais. Seria um contra-senso, aliás, inédito entre nós!

Bom, e então qual o crime? Parece que uma grande e poderosa empresa tem feito batota. Impede os seus revendedores de competirem entre si. Já se sabe, as pequenas e médias empresas em Portugal são sempre muito rentáveis. É. Pagam milhões em IRC. E porquê? Bem, porque têm margens de comercialização imorais. Uma vergonha! É necessário, é urgente promover a concorrência entre elas. Só assim poderão baixar os preços. Bem, a AdC sempre vai avisando que tal pode não acontecer, mas ninguém lhe poderá retirar o mérito de tentar. Aposto que a grande empresa vai pagar a coima (se é que já não pagou), e vai obviamente alterar as suas más práticas o quanto antes.

Estou de tal forma animado com a faceta inclusiva das nossas instituições reguladoras e de supervisão, que até já estou entusiasmado com o futuro. Só de pensar que daqui a (apenas) uma dúzia de anos a ERSE ou mesmo a AdC vão descobrir que o Sistema Petrolífero Nacional (SPN) apenas dispõe de duas refinarias, e que só por mero acaso são ambas da grande empresa agora severamente penalizada. Sejamos humildes, primeiro corrigem-se os grandes males, como o cartel da venda de botijas do gás, só depois nos poderemos debruçar sobre essas questões menores a montante, como a transformação de matérias-primas.

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