Monthly Archives: Abril 2012

25 de Abril nas Cabeças dos Portugueses

O 25 de Abril pôs fim a uma ditadura opressora. Antes do 25 de Abril passava-se fome e imperava a lei da rolha. O 25 de Abril pôs fim à guerra colonial. O 25 de Abril foi o parto da democracia em Portugal. A democracia é um regime de governo em que o poder de tomar importantes decisões políticas está com os cidadãos (povo), direta ou indiretamente, por meio de representantes eleitos.

Vamos a caminho das 4 décadas de democracia em Portugal. Nesses 38 anos surgiram dezenas de partidos. E a cadeira do poder foi tomada sobretudo por dois partidos políticos. PS e PSD. Por vezes com uma muleta de um outro partido sendo a mais frequente a muleta CDS/PP. Em 38 anos de democracia temos sensivelmente 18 anos geridos por PS e 18 anos geridos por PSD. UAU! TKO!

Portugal teve a sorte de entrar na União Europeia. De receber milhares de milhões de euros de apoios ao desenvolvimento. Que foi realmente muito apoiado. Só que o dinheiro foi também desbaratado a uma escala magnânima. Milhares de milhões de desperdícios em desvios mais ou menos claros. Só que vivia-se bem! Corrijo! Vivia-se MUITA BEM! E o povo comia, bubia, ria e cantava. Dava para todos. Para mostrar trabalho e para roubar. Que se lixe.

Em Oeiras e na Madeira, alvos de maior turbulência mediática e escarafunchar de cambalachos, vive-se assim descaradamente há décadas sem que o povo se indigne. São os focos de atenção perfeitos. Não só servem de manobra de diversão como não provocam danos reais aos visados que se mantêm em funções alegremente e com júbilo dos seus eleitores.

Só que agora a torneira fechou, a fachada ruiu, os media são megafones de lobbies políticos e económicos, o sector energético é privado, as águas de Portugal hão-de ser, as estradas edificadas não são baratas de usufruir, a educação pública não tem condições para todos, a saúde tornou-se um simples centro de custos, o emprego precário é uma benção dos deuses e temos velhos e desempregados a mais que corroem a sustentabilidade da segurança social. Décadas de crescimento contínuo do nível de vida desabam em apenas um ou dois anos. Volta-se a ter fome. Pode-se conversar em ajuntamentos públicos mas não há alegria nas conversas. Volta-se a não ter esperança. Instiga-se os que estão mal a emigrarem. Culpa-se a classe política.

A nossa democracia está uma merda. Mas a culpa não é dos partidos. Esses são apenas os testas de ferro, representantes dos cidadãos que os elegem. Nunca faltaram vias alternativas. Só que as coisas estavam bem apesar de sabermos que roubavam. Estamos comodistas e temerários de seguir por ângulos que não os da Direita, Centro ou Esquerda.  Já lá vai o tempo em que armazenávamos provisões nos porões, soltávamos as velas e olhando para terra, num primeiro fôlego de saudade, nos deixávamos levar pelos ventos sem saber onde iríamos parar e o que iríamos descobrir. E a ousadia de enfrentarmos exércitos vizinhos mais numerosos nem que à força de pazadas de padeiro? Seremos capazes de reconhecer e reagir a exércitos inimigos internos que precisem de igual tratamento? Ou estaremos já formatados por décadas de facilitismo e boa-ventura?

Agora temos medo e vergonha. Vergonha de ousar votar em desconhecidos sem um CV bem elaborado e sem o amparo de avalanches de referência em canais de media. Temos preguiça de procurar informação noutros canais que não a TV, rádio e jornais que montam as suas hábeis campanhas de condicionamento de pensamentos e opiniões. Assustam-nos discursos disruptores e fraturantes que apressadamente catalogamos como utópicos para nos serenar a consciência e justificar a não adesão e não lutar por aqueles ideiais.

Somos COBARDES por não ir votar ou votar em branco. Ambos são levar ao colo os moços do costume.

A próxima revolução não tem de ser na rua nem no parlamento.

Tem de ser na nossa cabeça tacanha.

Se não nos identificamos com nenhum dos partidos só temos duas opções. Ou infiltrarmo-nos na política e tentar fazer passar a nossa visão ou escolher aqueles com que mais nos identifiquemos mesmo que isso não aconteçaa a 100%. A democracia veio pôr fim à ditadura mas é curioso que não exista governo que se assuma capaz de governar em condições sem ter maioria absoluta. Se não a teve por algo foi. E tê-la alavancada em 40% de taxa de abstenção é uma mentira só possível por quem contibui para essa percentagem.

Democracia é participação.

Não usufruir dela é demonstrar-se confortável com uma qualquer ditadura que não passa apenas por uma forma de regime político como se verifica nos dias de hoje.

25 de Abril todos os dias! Até às próximas eleições…

PPP Lusitânia

cunard_logo_2950No início da Século XX, a famosa Cunard Line perdia a hegemonia comercial na rota transatlântica. Para além das companhias Alemãs, a entrada do magnata JP Morgan  no negócio, motivou a fusão de vários concorrentes de menor dimensão, criando um gigante no sector. Sem meios financeiros, a privada Cunard estava impossibilitada de responder à altura das circunstâncias. É neste contexto que em 1904, o governo britânico decide apoiar a Cunard. Em época de preparação para aquela que viria a ser a primeira guerra mundial, o governo de sua majestade viu com bons olhos a possibilidade de no futuro requisitar novos e rápidos transatlânticos. Nascera uma Parceria Público Privada (PPP). Materializou-se no desenvolvimento e construção de novos navios, o primeiro dos quais foi providencialmente baptizado em memória da antiga província Romana, a Lusitânia.

O desenvolvimento e construção do RMS Lusitânia fizeram justiça à memória e tradição do nome de baptismo. Foram respeitados os valores e virtudes dos herdeiros de Viriato, a megalomania por exemplo: Com projecto ultramoderno, o novo transatlântico seria motorizado por turbinas a vapor. Tamanha inovação, qual via verde para o atlântico norte, ditou um processo de construção nada ortodoxo. A construção da popa do navio aguardou a conclusão dos desenvolvimentos das revolucionárias motorizações, enquanto a construção da proa prosseguiu a todo o vapor. O método tradicional deu lugar à nossa ancestral metodologia “em cima do joelho”. Qual portagem em scut.

Concluída a construção, múltiplas características imergiam como retumbantes provas da identidade Lusitana: era o maior e melhor navio do mundo, era o mais rápido e o mais faustoso. A decoração da primeira classe (estilo rococó) valeu-lhe a alcunha de Versalhes dos Mares. Menos majestosa, a decoração da segunda classe era ainda assim opulenta. Já na terceira classe, a madeira de pinho polida estava omnipresente, luxo a que os passageiros deste estrato socioeconómico não estavam habituados, pelo que lhe enalteciam a beleza e a comodidade. A todo este estratificado conforto, estava também associada outra característica Lusitana, o defeito de fabrico: a alta velocidade a vibração gerava uma ressonância insuportável nos aposentos de segunda classe. Analisado o problema, encontrada a solução. O defeito foi declarado feitio, merecendo apenas ajustamentos: reforço de estrutura, adendas à decoração e está concluído. O último acto da Lusitanidade no berço não resolveu, mas abafou. Típico.

A viagem inaugural em 1907, decorreu sem glória ou desonra. Mediana sorte, obviamente Lusitana. O nevoeiro não permitiu a velocidade necessária para reclamar a “Blue Riband”, conquista apenas concretizada na segunda viagem transatlântica. O tesouro Britânico pagou, a Cunard explorou, milhares de passageiros usufruíram de rapidez e conforto. Ninguém perdeu. A PPP era um sucesso, ao navio faltava-lhe o Fado.

Com o início da primeira grande guerra, o Almirantado Britânico requisitou o navio em 1914, mas devido ao elevado consumo de combustível, foi devolvido ao uso civil. A PPP estava pela primeira vez em dúvida: tal como hoje por cá, o desvio face ao orçamentado foi uma enorme surpresa! Não obstante, a rota transatlântica foi retomada sob austeridade de meios humanos e materiais, o que amputou 30% da velocidade máxima do navio. Persistia contudo a necessidade de justificar a PPP. Foi por isso, com subtileza e descrição dignas do seu baptismo, que o RMS Lusitania começou a transportar munições no trajecto de Nova Iorque para Liverpool. Foi quanto baste para sobre ele atrair a atenção da troika que se opunha à Grã-Bretanha e seus aliados: o Império Alemão, o Império Austro-Húngaro e o Império Otomano. Sobre este último, julgado moribundo, foi planeado um vigoroso ataque naval ao estreito de Dardanelos.

GrandFleetA convicção de vitória era total entre os aliados. Visando partilhar a glória, a Republica Francesa fez questão em enviar os melhores navios da sua Marinha de Guerra, tentando assim ombrear com a maior e mais poderosa Marinha de Guerra da época, a Royal Navy. Curiosa esta tendência francesa para a grandeza a reboque da potência do momento. Mantém-se até aos dias de hoje. Tragicamente, o prognóstico de facilidade revelou-se um enorme erro de avaliação. Modestas minas navais e a poderosa artilharia Otomana impuseram uma pesadíssima derrota às marinhas aliadas. À derrota naval, seguiu-se o desastroso desembarque de Anzacs a 25 de Abril de 1915 nas colinas de Gallipoli. Falhou o objectivo de neutralizar a artilharia Otomana. A dimensão do desastre traduziu-se em mais de meio milhão de baixas registadas de ambos os lados.

Esta pesada derrota aliada ditou a necessidade de envolver os Estados Unidos da América no conflito, sem o qual a vitória da Grã-Bretanha e seus aliados seria impossível. A forte convicção isolacionista do desejado aliado tornava esta tarefa muito difícil. Ao RMS Lusitânia estava reservado o papel principal neste processo, seria esse o seu Fado. O mérito do plano que concretizou o difícil objectivo, ninguém o reclamou, talvez por vergonha ou pudor, mas especula-se que Winston Churchill terá tido um papel determinante: Quer no montar do isco aos Alemães, quer no posterior branqueamento das responsabilidades do Almirantado Britânico (especialmente necessário após a derrota no Mar Egeu).

Desde o início da primeira grande guerra que a Grã-Bretanha impunha o bloqueio aos portos germânicos. A força dos números oferecia esta hipótese à Royal Navy. Apesar de a Kaiserliche Marine possuir navios tecnologicamente mais avançados que a generalidade dos britânicos, a prudência aconselhava evitar um confronto de larga escala. A alternativa estratégica recaiu sobre o uso de uma arma inovadora à época, o submarino. Actualmente, esta arma furtiva encontra paralelo nas agências de notação financeira, as quais torpedeiam as economias mais débeis causando pesadas baixas na guerra económica. O comportamento humano repete-se. As consequentes tragédias também, infelizmente.

Com efeito, após mais de duzentas travessias do Atlântico Norte, o RMS Lusitânia partiria uma última vez da doca da Cunard Line em Nova Iorque a 1 de Maio de 1915, sob o comando do Comodoro William Thomas Turner, com 1959 pessoas a bordo. Entre eles, muitos americanos que ignoraram o anúncio publicado pela embaixada imperial Alemã nos Jornais nova-iorquinos, o qual alertava os cidadãos americanos para os perigos de viajar a bordo de navios britânicos. Peões no xadrez da guerra, que valeram por Rei, Rainha, Bispos, Cavalos e Torres.

Efectivamente, a 7 de Maio de 1915, o isco foi mordido pelo submarino U-20, sob o comando de Walther Schwieger lançou um único torpedo sobre o RMS Lusitânia, que ao largo da costa Irlandesa se afundou em apenas dezoito minutos. Mil e duzentas pessoas perderam a vida. As causas e seus argumentos foram esgrimidos entre os intervenientes, com reciprocidade na atribuição de culpa, mas o facto relevante prevaleceu: Os EUA entraram no conflito ao lado da Grã-Bretanha e seus aliados, entre os quais estava a jovem Republica Portuguesa e a sua apetrechada Armada.

Os acontecimentos relatados demonstram que a globalização tem mais de um século. Nada é estanque, ou isento de consequências noutras latitudes. Ao colapso da banca de investimento Americana, seguiu-se a crise financeira na Europa. De pouco serviu a esta declarar-se imune ao colapso Americano. Meras palavras. A frota aliada que atacou o estreito de Dardanelos era à época tão infalível como o sistema financeiro mundial o é hoje. Os bancos de investimento americanos podem ser “demasiado grandes para falhar”, mas a verdade é que falharam de forma tão trágica como a frota aliada no Mar Egeu. Agora, como então, as populações não previram o efeito, da mesma forma que ainda não compreendem as causas. De forma premeditada, ou mero aproveitamento da oportunidade, o RMS Lusitânia foi instrumentalizado, e sua tragédia explorada no recrutamento para a guerra. Enganam-se aqueles que acreditam que este tipo de propaganda não existe nos dias de hoje. É simplesmente mais sofisticada.

O combustível hoje aumentou! – Lado B da Vida

Já não há pachorra para as notícias agressivas sobre todas as medidas opressoras da confiança, optimismo e felicidade. Por isso hoje para variar comento o aumento dos combustíveis de forma ligeira, irónica e bem-disposta. No final deste artigo não vão perceber a gravidade da situação mas ao menos terão um rasgado sorriso que dará férias à cara sorumbática plantada pelos normais noticiários.

 

Preço dos Combustíveis = Retorno das charrettes?

Depois de um burro ter vencido um Ferrari numa corrida no IC-19 em hora de ponta eis que agora começa a ser mais barato sustentar um cavalo do que um automóvel. O mercado de carroças e equídeos prepara-se para a procura que se avizinha.

Perguntámos a Paula Bobone o que acharia do retorno das charrettes e dos cavalos ao que nos respondeu:

– “Não deixaria de trazer um certo glamour às ruas de Portugal e o revivalismo está na moda. Poderiam alimentá-los apenas a arranjos florais para que os seus cócós perfumassem a cidade.”

Já José Castelo Branco foi mais comedido dizendo:

– “Seguramente algo que envolva cavalos e a minha pessoa tem que envolver também uns charrettes porque para acontecer eu teria que estar drogado, D-R-O-G-A-D-O, para não me lembrar de nada do que se passou naquela quinta com o garanhão  chamado Frota.”

 

Empresas de Transportes preocupadas com nível da Matemática em Portugal

Com o novo aumento dos preços, e o perigo do retorno das charrettes, as empresas de transportes desafiam os Portugueses em acções de marketing com problemas matemáticos de nível básico como:
“Se encher o depósito custa 70 € e gasta dois depósitos por mês no percurso casa-trabalho. Quanto gasta por mês? É mais caro ou mais barato do que o passe de transportes de 50 € por mês? E se adicionar o custo do parqueamento?”

Para espanto dos marketeers a grande maioria dos Portugueses não consegue encontrar as variáveis nem fazer as contas e não chega a qualquer resultado. Por este motivo as empresas de transportes exigem mais e melhor Matemática ao Ministério de Educação.

 

Governo cria condições para baixar preços de combustíveis

Derivado à falta de orçamento para investir em políticas de educação o governo,  preocupado com a situação no mercado pretrolífero e o grande impacto social dos preços dos combustíveis, reuniu de emergência com as petrolíferas e gasolineiras nacionais para concertar esforços no sentido de proporcionar períodos de baixa de preços que aliviem os Portugueses.

A negociação não foi pacífica mas chegou-se ao consenso e a partir de agora os preços dos combustíveis terão 10 casas decimais. Hoje o preço poderá estar a 1,6999999999 mas amanhã poderá estar a 1,6999999998 e no dia seguinte a 1,6999999997 e assim sucessivamente até que progressivamente os preços normalizem para valores razoáveis.

A Europa aplaude atitude do governo e pondera criação da moeda de 0,0000000001 € para facilitar trocos.

 

Victor Gaspar critica aumento dos combustiveis em Portugal

Apesar do desafio de fazer projeções de receitas exatas à décima casa decimal o Ministro das Finanças está indignado com o novo aumento dos combustíveis. Isto porque inviabilizam a subida do ISP e IVA que em conjunto representam apenas pouco mais de 50% do preço da gasolina.

Segundo planos do próprio os Portugueses são capazes de ser austerizados até aos 1,999 € por litro desde que 80% desse valor fosse para os cofres do estado. É incompreensível que cheguemos em breve a esse valor devido a ação das petrolíferas e não à ação direta do governo. Depois da Troika deveria ser o governo e não o sector privado a gerir a economia nacional. “E agora aumento o quê?” disse um desapontado Victor Gaspar.

 

Comunidade de Xuning protesta contra aumento dos combustiveis

Já não bastava a crise a limitar a capacidade de evolução contínua dos nossos veículos motorizados e eis que agora o aumento de combustíveis condiciona também a liberdade de expressão na comunicação via raters, roncos e vibratos de tubos de escape.

Um peidinho ou bufa motorizada está ao preço do ouro e não há quem consiga manter a contínua demonstração sonora das capacidades da sua máquina.

O Xuning silencioso não é Xuning. É meio caminho andado para a degradação desta forma de arte para o estatuto de decoração pirosa só ao alcance de alguns bimbos sem tusto

 

 

Se esboçaste um sorriso que seja faz um like pá. É de borla! (por enquanto)

O que se extingue com a Freguesia?

As freguesias estão na mira de longo alcance. Hoje são mais de 4 000 delas e a reformulação do governo aponta para o desaparecimento de 1 000 a 1 500.

A freguesia onde cresci, Póvoa de Santo Adrião, bem como a onde moro (que não revelo para não receber ameaças como os árbitros do futebol português), estão prestes a ser extintas.

Ontem foi a manifestação de muita gente contra esta revolução da divisão administrativa.

Sempre pensei que o problema fosse uma questão de ‘status’, de perca de um título, downgrade de freguesia para simples vila, aldeia, localidade ou algo assim. Com a humilhação acrescida de passarmos a ser administrados por uma freguesia adjacente com quem normalmente temos grandes rivalidades desde tenra idade. Afinal a linha de separação de duas freguesias é como uma zona de guerra, sobretudo verbal, que muito contribuiu para o desenvolvimento do vernáculo nacional.

Em Janeiro, altura em que recebi um panfleto a alertar-me para a extinção da freguesia onde resido, fui abordado por três velhotas vizinhas a explicar-me como ia ser terrível porque há ali dezenas de idosos que mal conseguem caminhar até  à atual junta receber pensões, pagar água, luz, etc, (a junta faz também de estação de CTT por já ter sido extinta a filial local), quanto mais passar a ir ao local da nova junta que ficaria noutra freguesia a não sei quantos km. Nem têm força nas canetas, nem têm cheta nas carteiras. E que há problemas sociais e tradições que só os locais conhecem e compreendem, e como é com os muitos trabalhadores locais da junta? Vão ser absorvidos? Vão ser despedidos? Ai Meu Deus! Curiosamente hoje, dois meses depois, duas delas já faleceram…

A principal argumentação do governo é a optimização de custos diretos relacionados com as custas com membros das assembleias . Sim, acredito que parte deles sejam apenas uma cambada de chupistas. Uma assembleia de uma junta de freguesia pode ter de 7 a 20 e tal membros dependendo do número de eleitores. As opções de horário para exercício dos cargos são várias bem como os vencimentos aplicáveis. Ou seja há mais do que espaço de manobra para atribuição de tachos em cargos simbólicos.

Mas apesar de tudo são as juntas de freguesia que estão presentes e se preocupam com a dinamização e planeamento do desenvolvimento local.  Antes da extinção talvez se devesse reformular a composição e regras aplicáveis aos membros das assembleias das juntas de freguesia para reduzir as suas custas e/ou aumentar a sua produtividade? Fará sentido que os ‘gestores’ de uma freguesia o possam fazer em part-time acumulando cargos públicos e privados e rendimentos daí advindos? Não merecerão os eleitores alguém dedicado a 100% mesmo que sejam menos e melhor pagos os membros das assembleias? Talvez se devesse antes apostar na diplomacia e formação local, com os interlocutores atuais, e fomentar a parceria com as freguesias adjacentes na prestação de serviços comuns?

Extinguir freguesias não fará desaparecer a área territorial a gerir e na verdade não pode simplesmente deixar de existir um determinado número de colaboradores e de gastos operacionais. Além de que as fusões devem ter critérios muito específicos pois nas novas juntas de freguesias terão de existir representantes de cada uma das antigas freguesias para garantir que os seus interesses não serão atropelados pelos da nova ‘casa mãe’.

E quais são os critérios? Estritamente quantitativos ou qualitativos? Uma grande freguesia mal gerida vai absorver pequenas freguesias bem geridas passando os maus presidentes a gerir mais território? Ou será premiada a gestão sendo promovido o melhor presidente de junta das freguesias a agrupar? Quem avalia e decide o desempenho da gestão de cada freguesia?

A fusão não vai ser apenas redução cega de custos. Vai ter custos escondidos como:

  • Crispação social pela desconfiança gerada pela deslocalização e afastamento do poder administrativo local;
  • Integração e organização do conhecimento e dos registos documentais das freguesias absorvidas;
  • Remodelação da comunicação feita pelas juntas de freguesia (sites, brochuras, panfletos, cartazes, papel, carimbos, etc);
  • Lidar com a informação online, que se torna errada, sobre freguesias de Portugal. Desde blogs, wikipedia, artigos e diretorios, sobre divisão administrativa, etc, há milhares de artigos online que continuarão a existir com informação totalmente desadequada à nova realidade.
  • Ajustamento nos sistemas informáticos nacionais para reflexo da nova divisão administrativa. Numa altura em que tanto se exige mais produtividade vão forçar empresas e organismos públicos e particulares a ter de criar um processo de migração de toda a informação que inclua a indicação de freguesia bem como adaptar os seus sistemas a trabalhar com a nova realidade. Os custos globais desta operação serão certamente na ordem dos milhões de euros e milhares de horas de trabalho não previsto e sem retorno financeiro pois não está a gerar negócio. Fará sentido este desperdício neste difícil período?

Mesmo assim vejo pelo menos três coisas positivas deste frenesim à volta da reformulação da divisão administrativa:

  • Aumentou o interesse público em perceber quais os gastos administrativos nas juntas de freguesia. O governo propõe a extinção em massa de freguesias mas não liberta dados relativos a despesas concretas que podem ser reduzidas. São os custos com membros das assembleias? São os custos com pessoal? São os custos de sub-contratação de serviços? Afinal quais os desperdícios das freguesias que esta solução vai eliminar?
  • Aumentou a curiosidade sobre a história e estado atual das nossas freguesias do coração.
  • Se o governo não vê problemas em extinguir freguesias com séculos de existência está aberta a brecha para não apoiar financeiramente nem justificar a defesa de tradições com a o argumento da sua secularidade, como acontece por exemplo com as famigeradas Touradas.

A mudança não poderá ser apenas administrativa, terá de existir alteração de legislação, e por agora o assunto está numa embrulhada nebulosa tão grande que  é apenas uma excelente manobra de diversão.