Monthly Archives: Fevereiro 2012

Bacalhaus e Submarinos

Nascido “Elite”, ao bacalhau dedicado, dos Lusos foi o primeiro no arrasto. Decorria o ano de 1909. A Europa vivia dias de “Paz Armada”, um eufemismo para a corrida às armas. Não entrámos. Fomos à pesca por arrasto.

Em 1914, morto o arquiduque Francisco Ferdinando, precipitou-se a Guerra, das grandes a primeira. Entramos desta feita. Como nunca fomos piegas, não lamentámos a falta de preparação para a beligerância: do arrastão de pesca, fizemos um navio de patrulha oceânica. Para tal bastou à Armada requisitar a sofisticada embarcação ao seu dono, a Parceria Geral de Pescarias Lda. Engenho quanto baste, está feito: Canhão à proa, outro à popa. Óptimo. Não mexe.

Rebaptizado “NRP Augusto de Castilho”, assumiu funções como escoltador oceânico. Até ao derradeiro ano das hostilidades, 1918, o arrastão convertido em navio de guerra deu uso às suas armas. Atacou submarinos alemães, tendo registado importantes vitórias, obrigando por duas vezes o inimigo a submergir e partir em retirada.

Tal bravura não passou despercebida ao Almirantado da Kaiserliche Marine. O insolente navio Lusitano seria punido. A “missão” foi confiada a Lothar von Arnauld de la Perière, o às dos ases. Com ascendência Francesa, natural da (hoje) Polónia, Lothar era contudo bisneto de um General Prussiano, tendo dele herdado o inflexível código de conduta. Ao melhor comandante de submarinos de todos os tempos, foi confiado o comando do U-139. Simplesmente o maior e melhor submarido construido à data.

Navio de Transporte São Miguel

O inevitável embate ocorre a 14 de Outubro de 1918 (um mês antes do armistício de Novembro do mesmo ano). Em defesa do Vapor “N/T S. Miguel“, sob o comando do primeiro-tenente José Botelho de Carvalho Araújo, o “NRP Augusto de Castilho” atacou o “U-139“, acto com o qual garantiu a oportunidade de fuga do navio mercante. Contudo fatal. O combate vitimou o comandante e cinco elementos da guarnição. O caos resultante ditou a rendição e consequente ordem para abandonar o navio. Antes de ser desferido o golpe final, entrou em acção o código de conduta dos homens do mar. Aos sobreviventes, foi permitido regressar a bordo e resgatar botes salva-vidas nos quais chegaram à ilha que deu nome ao navio mercante por eles salvo, São Miguel. Esta benevolente iniciativa do comandante Lothar la Perière, foi certamente inspirada pela tradição militar prussiana. A ele, a minha sincera homenagem, pois ao seu gesto devo a minha modesta existência: Entre os sobreviventes que chegaram aos Açores a 19 de Outubro de 1918, estava o 2º Sargento Enfermeiro Acácio Alves de Moura, meu bisavô (ainda solteiro), avô materno de quem meus filhos são netos, senhor meu pai.

Observada a história, explicada a ligação pessoal, constato a analogia deste passado com o futuro da minha prole. Não é que um século depois continuarão à mercê do carácter Germânico? E se no lugar de um integro e vertical Prussiano nos calha um “Schettino” que por lá tenham por engano?

Incontornável é também o eterno desacerto Lusitano: Em 1909 necessitávamos de Navios de Guerra, mas compramos Navios de Pesca, os quais por necessidade convertemos em alvos para submarinos Alemães. Paradoxalmente, necessitamos hoje de Navios de Pesca, mas comprámos submarinos Alemães. Teremos nós o engenho necessário para inovar a arma o suficiente para com ela pescar por arrasto?

E se parte da solução fôr mandar tudo pelos ares?

Com tantos indicadores contraditórios os desempregados já não sabem se hão-de emigrar para um estrangeiro longíquo, com economias emergentes, ou se hão-de por cá permanecer e enveredar pelo caminho mágico do empreendedorismo (que no passado deu azo a muitas PMEs que hoje são alvo da política de saneamento das ‘más’ empresas que contaminam a nossa economia como já foi dito por agentes do actual governo, inclusive pelo nosso Primeiro Ministro).

Portugal pode realmente beneficiar do empreendedorismo levado a cabo pelas centenas de milhares de jovens desempregados com muito sangue na guelra e muita formação qualificada. Num país reconhecido internacionalmente como tendo tendência de early-adopter em várias inovações tecnológicas, um país onde existem mais telemóveis que habitantes,  temos ainda um grande calcanhar de Aquiles comparativamente a outros países. O estado da Internet gratuita via Wi-Fi em espaços públicos e comerciais.

Em Portugal a conectividade móvel está predominantemente associada a hot-spots e planos tarifários que afastam muitos dos potenciais utentes, que possuem os terminais capazes para o acesso à Internet, mas sem € nos bolsos que lhes permitam tornar o acesso móvel à Internet como algo trivial no seu quotidiano. Existe actualmente uma vincada preocupação com custos e seu impacto no actualmente parco orçamento pessoal.

Lá fora, em muita Europa, USA e Ásia é já corriqueira a existência de pontos de acesso à Internet gratuitos suportados por estabelecimentos comerciais ou entidades públicas. Seja dentro de estabelecimentos comerciais seja em espaços públicos é possível ligarmo-nos à Internet sem pagar.

Num mundo em que cada vez mais o online deixa de ser conotado com o virtual, assumindo-se como uma extensão do social e profissional, estar conetado sem custos a todo e qualquer momento é um potenciador de relacionamento, criatividade e ideias com aplicações comerciais. Se não há volume de consumidores móveis será mais difícil surgirem projetos portugueses que assentem em serviços online que dependem da mobilidade e acesso fácil à Internet a partir de qualquer ponto.

É por isso que o governo deveria encorajar os proprietários de estabelecimentos comerciais a investirem em equipamentos que providenciem Internet gratuita aos seus clientes, e as autarquias a dotarem de Wi-Fi gratuito os espaços públicos com grande afluência. Afinal 4 em cada 5 pessoas considera este acesso um direito fundamental.

Trabalhemos para que os comportamentos de acesso móvel à Internet sejam independentes de custos e surgirão empreendedores capazes de explorar esse nicho. Bem sei que isto afectará uma fatia de facturação de muitas centenas de milhões de euros em 2011 mas quem precise mesmo de melhor qualidade de serviço continua disposto a pagar mais por isso. Além de que em 2011 houve uma quebra de 6% neste tipo de facturação relativamente aos quartos trimestres de 2010 e 2011. Sinal claro de que o custo inibe a utilização?

Os jovens anseiam por isso e criam online registos das agulhas no palheiro que lhes permitem navegar gratuitamente na extensão online da sua vida. Perguntam em fóruns online e criam páginas como esta com um mapa dos locais com Wi-Fi gratuito em Lisboa.

Fomentar o empreendedorismo passa também por criar mais dificuldades a quem tem alguns tipos de negócios garantidos. Será mais penalizante para a sociedade e economia do país não termos esta facilidade de acesso à Internet (para Portugueses e Turistas) ou arriscar prejudicar os operadores que controlam quem tem direito a esse acesso com planos tarifários por si controlados?

Eu mandaria tudo pelos ares. Doesse a quem doesse.