Monthly Archives: Janeiro 2018

Leite malparado

Portugueses e portuguesas, tenhamos calma, não faz qualquer sentido clamar pelo exorcismo leiteiro! Abracemos com euforia a era da informação disponível para todos a qualquer momento, onde aqueles que ousam colocar em causa a grande muralha da propaganda oficial têm a capacidade de nela abrir brechas fatais, pelo simples alterar dos seus hábitos de consumo individuais para no mínimo experimentar as estranhas teorias alternativas que dizem que o parar de consumir lacticínios é a melhor opção para o planeta, para a saúde humana e para os animais.

O desconforto gerado não é pela alteração de hábitos de consumo mas sim pelo facto de esta ser orgânica, não ‘guiada’ por agentes políticos ou económicos. Isto significa que em termos económicos irão ocorrer transferências significativas de fluxos de capital, de volume de empregos, tendo apanhado de surpresa quem mais devia estar ao corrente desta tendência, já com alguns anos de existência. Ao contrário do que afirma o nosso solícito Presidente não estamos perante uma ameaça a um sector primário da economia mas sim perante uma oportunidade/necessidade de evolução para conquistar um novo nicho de mercado de crescimento imparável a nível mundial.

Ao invés das medidas proteccionistas do passado abram-se linhas de investimento para conversão das linhas de produção de leite animal e incentivo à criação de uma nova indústria de leite vegetal em Portugal.

Um aviso de simpatizante Sr. Marcelo, antes de tomar partido nesta luta, faça o devido enquadramento sobre o que se passa a nível mundial e escolha muito bem qual a sua posição. Pense em algo mais do que na economia,  na preservação artificial de um sector que terá de se adaptar à realidade emergente. Use a sua faceta reikiana escondida, pense no que significa esta substituição alimentar. Saiba de antemão de que poderá ter do lado dos produtores de leite as reacções passionais mais mediáticas mas que do outro lado da barricada terá muita compaixão alicerçada em estudos recentes, conhecimento e muita vivência empírica dos que foram pioneiros nesta mudança por uma questão de ética e consciência.

Espero que opte por ser progressista numa questão fulcral para as gerações futuras, mesmo que à custa de alguns pontos de popularidade.

Le Service National Universel

Na Europa dos impérios, os primeiros anos do século XX caracterizaram-se por grandes contrastes de percepção, sobretudo no que à guerra dizia respeito. As populações, esquecidas dos horrores da guerra, deslumbradas pelo progresso tecnológico, viviam confiantes e tranquilas, seguras da paz. Já os governos não. Os mais avisados, que não o nosso, lançaram-se numa corrida às armas que para história ficou conhecido como o período da Paz Armada. A Europa nada temia senão a si própria. O centro do poder económico e militar do planeta era Europeu. O resto do mundo pouco contava, a China dormia, os Estados Unidos da América firmes e convictos nas virtudes do isolacionismo e o Japão dava os primeiros passos na era moderna após a revolução Meiji. Surgido o pretexto, tudo se precipitou tal e qual a explosão sucede ao atear do rastilho. Superficial e sucinto, foi este o contexto que precedeu o primeiro conflito mecanizado da história. Mesmo quando para as populações se tornou evidente a iminência da guerra, prevaleceu a ilusão que a modernidade precipitaria um rápido desfecho, que o tumulto seria violento mas breve. Como sabemos, a realidade foi bem diferente. Tudo mudou, a Europa deixou de ser o centro político do mundo. O conflito entre os poderosos da Europa revelou-se fratricida. Todos perderam.

Pouco mais de um século volvido, eis-nos novamente confrontados com o mesmo tipo de ameaças. Populações convictas da paz assistem passivas a um novo período de paz armada patrocinado pelos seus governos. A França de Macron deu hoje um sinal claro, anunciou o regresso do serviço militar obrigatório.

A Ordenha Postal

Depois do alvoroço por encerramento de agências bancárias no ano passado, o novo  ano começa com alvoroço pelo encerramento de postos dos correios em várias localidades. O motivo é igual em ambos os casos, o ratio de rentabilidade, a optimização da rede.

A vida começa a ficar complicada para aqueles que vivem em localidades não rentáveis,  sem apetência ou aptidão para abraçar as maravilhas das tecnologias digitais. Parece que o estar online é a nova competência exigida a todos os cidadãos. Cabendo-lhe o ónus financeiro da sua formação, contratação dos serviços e aquisição dos equipamentos tecnológicos que lhe permitam ajustar-se à nova normalidade.

Ainda pensei que fosse um sinal dos tempos, o impacto do digital no envio de correio físico, só que ao dar uma vista de olhos na actividade operacional a coisa não é tão evidente. Há uma baixa progressiva dos serviços de pagamento e dos envios de cariz publicitário ou de comunicação empresarial, no entanto o volume de correio expresso e de encomendas até cresceu. Ao mesmo tempo continuam consolidadas as subscrições de poupanças e seguros tendo ainda o ano passado sido lançado um novo serviço bancário que pode crescer muito, alicerçado na relação de proximidade com a população.

Em termos de futuro cada vez trocaremos menos cartas físicas mas faremos muito mais compras online, será uma questão de saber gerir a transição não permitindo que outros players se apropriem da distribuição de encomendas. Em termos publicitários o físico terá sempre um papel importante, todos aprenderão a configurar filtros anti-spam em e-mail e notificações de telemóvel, pelo que não reduzirá além de um certo ponto.

Posto isto, apesar da necessidade de ajustamento, seria assim tão crítico dar no imediato este sinal de retracção de uma das mais míticas redes nacionais, neste momento uma âncora essencial à população mais idosa e/ou com iliteracia digital?

Deparei-me então com este artigo de opinião e seus comentários através dos quais percebo que provavelmente a culpa de tudo isto é a árdua dedicação necessária para cumprir a difícil entrega de uma encomenda privada, muito especial, o leitinho que tem de chegar ainda fresco ao Sr. Accionista.

ctt-2017