Monthly Archives: Novembro 2016

Apollo 13

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Uma aventura que deu para o torto, um clássico do cinema sobre a exploração do espaço, a corrida tecnológica entre as potências mundiais, um filme sobre o engenho e perseverança humana.

A Lua, brilhante e altaneira, nosso satélite há milhões de anos, embora sendo o planeta mais próximo, permaneceu inalcançável durante uma eternidade. Parecia impossível, mas aquilo que (aparentemente) foi um pequeno passo para um homem, foi um salto gigante para a lusitanidade. O impossível aconteceu, o homem chegou lá. Após o êxito da missão Apollo 11, a humanidade assistiu emocionada e expectante à partida da missão Apollo 12, mais uma vez bem-sucedida. Subitamente o impossível pareceu banal, pareceu fácil. Todos os riscos, todos os perigos passaram a parecer rotina.

Sentados num poderosíssimo foguetão Saturno 5 mil milhões de euros e mais uns trocos, a equipa da missão Apollo 13 treinava há meses para mais uma alunagem, mas em vésperas da partida surge o problema da declaração de património e rendimentos. A questão ficaria, aparentemente, entregue ao supremo, que a seu tempo diria de sua justiça, posição à qual a tripulação responderia em conformidade, dando tempo ao tempo, isto é, arrastando. Mas os tempos não estão para esperas, a assembleia decidiu, antecipou-se e o piloto escalado viu-se obrigado a ficar em terra…

Alguém resolveu dar a ordem para agitar os tanques de oxigénio, houve faísca e a coisa começou a correr mal. Subitamente, um assunto banal e corriqueiro passou a drama nacional. A tripulação rondará a lua, mas não sabemos se voltará com vida.

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USS Zumwalt (DDG-1000)

Recentemente adicionado ao efectivo, o ultra moderno e complexo contratorpedeiro da marinha norte-americana USS Zumwalt (DDG-1000) partiu da costa leste em direcção à sua futura base na costa oeste, em San Diego. Atravessava o canal do Panamá quando, vítima da sua sofisticação avariou e parou, sem capacidade de se mover. Já no passado mês de Setembro a mesma avaria obrigou a uma reparação de dez dias, operação que ditou o cancelamento de alguns dos testes de mar agendados, por forma a cumprir com a data de comissionamento prevista, o que ocorreu a 15 de Outubro deste ano. Lá estiveram muitos ilustres e claro, as madrinhas, as filhas do antigo Chefe de Operações Navais, em honra do qual o navio foi baptizado, o Almirante Elmo Zumwalt. Houve festa, música e champanhe. Ouviu-se o tradicional “Man your ship and bring her to life”. Assim fez o capitão James Kirk – deu ordem à guarnição para embarcar e dar vida ao navio, qual Star Trek a remos.

O primeiro de apenas três navios da classe, não terá ainda bem definida a sua missão. Concebidos para operar perto da costa, sobretudo apoiando acções de desembarque, estes navios não estão preparados para combate em águas profundas. Por outro lado, o elevado custo (22 mil milhões de dólares) constituí uma generosíssima fatia no orçamento da Marinha americana, ditando o adiamento ou mesmo cancelamento da modernização das frotas de Contratorpedeiros e Cruzadores lançadores de mísseis (Classes Arleigh Burke e Ticonderoga), condenando-os a uma obsolescência precoce por incapacidade de se defenderem dos novos mísseis balísticos e de cruzeiro supersónicos das marinhas Chinesa e Russa.

Carenciada de navios de superfície para integrar os grupos de combate liderados pelos seus porta-aviões nucleares, dir-se-ia que a US Navy está hoje refém de brinquedos caros e inúteis…

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Welcome to the new world disorder

Contra as previsões dos especialistas e analistas eis que Trump emerge vitorioso, conseguindo ultrapassar todas as adversidades colocadas no seu caminho. Esses mesmos especialistas e analistas, que não viram a sua competência e confiança abaladas pela sua falha na previsão da eleição confortável de Hillary, parecem agora umas baratas tontas ressabiadas, prevendo uma série de cenários catastróficos potenciados pelas futuras e hipotéticas políticas de Trump. Acusam-no ainda de ter sido eleito por uma enorme base de brancos estúpidos e racistas, não se lembrando de responsabilizar quem assim os formou nas últimas gerações.

Mas afinal quem é Trump? O que sabemos sobre a sua verdadeira personalidade e capacidade? Tudo o que vimos até ao momento foi a persona Trump que soube dominar como ninguém o mediatismo inerente a uma corrida à Casa Branca. Qualquer um que tivesse visto os três debates de frente a frente entre si e Hillary perceberia que o homem tem estofo e é muito mais do que os sound bites a que o tentaram reduzir. Quem tenha vista os documentários sobre a sua ascensão  desde os anos 70 perceberia que um Trump idiota jamais conseguiria alcançar o que alcançou no mundo dos negócios. Trump é pouco ortodoxo mas tem foco, sagacidade e inteligência. Em campanha fez o que tinha de fazer para alcançar a posição que alcançou, explorou um sistema que nunca o recebeu de braços abertos, agora irá fazer o que faz qualquer gestor de topo. Enquadrar-se, analisar o cenário real, as possibilidades e redefinir estratégias. O verdadeiro Trump só será conhecido meses depois da sua nomeação em Janeiro de 2017.

Os governantes do mundo, esses, andam desorientados. É compreensível. Há décadas que foi posto em marcha um guião de política e governança mundial, centrado no controlo e gestão do dinheiro, que é agora colocado em causa pelas visões de geo-política manifestadas por este outsider. Trump tem o descaramento de colocar em causa o orçamento e volume da presença militar da América no exterior, de piscar o olho à Rússia, de vacilar quanto ao pagamento da dívida exterma, de anular tratados de comércio internacionais, abalando desta forma os alicerces do mundo como o conhecemos.

Por outro lado a nível interno revelou-se agressivo para com emigrantes, descrente do aquecimento global e suas consequências, persecutório para com opositores, conseguindo dividir os americanos instantaneamente sem direito a período de nojo.

Resumindo Trump é uma carta fora do conhecido baralho viciado. A incógnita é saber se, a seu tempo, se revelará um Às de trunfo ou um perigoso Joker. Para uns essa incógnita representa medo e terror, para outros uma estranha e inesperada sensação de esperança na (boa) mudança.

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Highlander

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Um filme épico, uma aventura de guerreiros e espadachins, Highlander marcou a geração de jovens que nasceram na ida década de setenta do século passado. Conta-nos a história da luta dos guerreiros imortais pelo Prémio, um estado de sabedoria superior que proporcionará ao vencedor a capacidade de subjugar toda a humanidade à escravidão. Quem perder a cabeça é eliminado, pois os imortais apenas poderão perder a vida quando são decapitados. No fim, só poderá haver um.

O herói destas aventuras, Rui MacRio, do clã MacRio, luta desde a antiguidade por manter a cabeça. Com momentos de bravura, amor e desventura, a acção atravessa vários séculos, sempre ao som de uma banda sonora de excepção – A Kind of Magic, uma obra de puro rock’n’roll da autoria dos britânicos Queen, um dos últimos álbuns da banda que contou com a prestação do seu insubstituível vocalista, provavelmente uma das melhores vozes do rock de todos os tempos, o malogrado Freddie Mercury. Quem não se lembra do tema “Who Wants To Live Forever“?

É assim, ao som de guitarradas de primeira que a acção se desenrola. Vindo das terras altas do norte, MacRio vive uma vida dupla de proto-candidato ao Prémio, ameaçando, mas não se chegando à frente, negando contactos e alianças, mas por fim dizendo-se apto para o combate com Passos Kurgan, o malvado. O país e o mundo aguardam o desfecho deste confronto, caso se venha a realizar, pois como está não pode continuar. Mais dia, menos dia, terão de rolar cabeças.

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Titanic 2

Promovida como embarcação inafundável, a candidatura que se propôs levar a bom porto aquela que seria a primeira mulher presidente dos Estados Unidos da América, naufragou pela segunda vez. A gélida realidade democrática, o iceberg da vontade das gentes comuns deixou mais uma vez o apaixonado casal aquém do destino.

Parece que o mundo inteiro insulta os votantes, que coitados sem culpa exerceram o seu direito de acordo com o critério que muito bem entenderam, pois mesmo que tenha sido sem pensar, foi legitimo. Ilegitimo é o nosso palpite, mesmo que a isso tenhamos sido sugestionados por semanas de intoxicação mediática. Indignamo-nos quando Herr Schäuble disserta sobre a nossa democracia, negamos-lhe o seu direito de preferência, mas não nos coibimos de exibir o nosso. Logo nós que por várias vezes elegemos tão sórdidos e tristes figurões, e não contentes, tratámos de reeleger alguns deles.

O ridículo é noção vaga e distante, sobretudo quando invocamos temores quanto ao futuro do mundo. Tantos que vejo e ouço hoje afirmar que este desfecho será terrível, será horrível, mas esquecem, ou não sabem apontar a razão concreta, para além da antipatia, que aliás partilho. Contudo, uma guerra travada sem ideias, centrada em emoções, por mais visceral e brutal que tenha sido, e foi, nada nos disse sobre as verdadeiras intenções ou planos. De parte a parte, diga-se. Tenho dificuldade em compreender o porquê de tanta preocupação, de tanto drama. Não é que subestime a estupidez humana, simplesmente não creio que outro resultado o evitaria.

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USS Constitution

Com o fim da Revolução Americana e a Independência dos Estados Unidos, a frota mercante Americana deixou de usufruir da protecção da Royal Navy. Outrora salvaguardada pela dissuasão do poder naval britânico, a nação americana viu-se então, e pela primeira vez, à mercê da pirataria. Em resposta, o Congresso Americano promulgou o Naval Act de 1794, o qual lançou as bases para criação da primeira força naval permanente dos Estados Unidos da América. Foram então encomendadas seis Fragatas, quatro delas com 44 canhões e duas mais ligeiras, “apenas” com 36 peças de artilharia. Construídas em madeira, combinando madeiras secas e verdes, sobretudo Carvalho e Pinho, eram navios robustos, com suficiente poder de fogo para enfrentar qualquer Fragata inimiga. Contudo, nenhum deles podia ombrear com os poderosíssimos navios de linha das marinhas europeias, embate que no entanto poderia ser evitado graças à sua rapidez e agilidade de manobra.

De entre estes seis navios, apenas o USS Constitution sobreviveu até aos nossos dias. Baptizado pelo primeiro presidente americano, George Washington, foi lançado à água em 1797. Combateu corsários otomanos, piratas do norte de áfrica, britânicos e franceses. Em 1812, ganhou a alcunha “Old Ironsides“, após derrotar o HMS Guerriere, fragata britânica cujos projecteis fizeram ricochete no casco do navio americano. O costado em carvalho foi mais forte que o ferro! Com mais de dois séculos de serviço, é hoje o vaso de guerra mais antigo do mundo e curiosamente é de entre todos os navios americanos actualmente no activo, aquele que mais navios inimigos afundou. Foi aliás o único que já o fez, facto que quanto a mim comprova que o rumo da politica externa americana é completamente imune ao desfecho do circo mediático que hoje (finalmente!) termina.

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Personagem certa no lugar certo

Depois de um primeiro-ministro, de um ministro, a limpeza curricular chega agora ao nível dos adjuntos e chefes de gabinete, ninguém sabe onde vai parar, até já as empregadas de limpeza vivem inquietas com a possibilidade de verificação se realmente terminaram as formações do centro de emprego que apresentaram no currículo.

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Na verdade quando se é marcado como alvo a abater não há muito a fazer. Mesmo que se apresente um currículo, know-how e experiência inquestionáveis existirão sempre argumentos sofismáveis que colocarão a emoção à frente da razão.

Curioso é observar a aceitação generalizada sobre os ultrajantes rendimentos dos gloriosos, galácticos e/ou special ones da bola. Aceitação esta que não se alonga para tolerar rendimentos assinaláveis por parte daqueles que estão incubidos de gerir milhares de milhões de euros com o máximo de ética e idoneidade. Garantidamente é dada mais importância ao baixo custo dos salários de administradores do que ao custo dos resultados da sua gestão.

É compreensível. O mundo em que vivemos é complicado e sobretudo desconfiado. Nem currículo, nem títulos, nem referências do passado têm força suficiente para convencer a maioria de que se fez uma escolha acertada. Muitos nem querem saber, preferindo refugiar-se num mundo de fantasia, ficção e entretenimento, onde as soluções milagrosas surgem  como que por magia. Este é um mundo onde até a ONU, na dificuldade de uma escolha consensual e acertada, recorre ao divino ficcionado para apresentar uma personagem de virtude inquestionável como sua embaixadora.

Como tal, o governo português não deveria ter complexos em ser pioneiro no alargar do leque de escolha. Perante tal dificuldade em encontrar o candidato idílico, que agrade a tudo e todos, não existe outra solução que não a escolha de alguém que estaria disposto a gerir um banco sem qualquer renumeração, apenas pelo seu amor ao dinheiro e à sua multiplicação.

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Grand Prix

ferrarO cancelamento do Grand Prix de Lisboa causou grande tristeza, desalento e até alguma revolta entre os milhares de Tiffosi que se deslocaram à capital para vibrar com as emoções da competição. Os entusiastas suportaram e sobreviveram a grandes privações e desventuras, como voos lowcost, serviços de táxis ou até à compra de bilhetes de metropolitano para no fim se verem obrigados ao regresso, sem o justo premio do evento desportivo. Mais de duas décadas após a primeira corrida que opôs um Burro a um Ferrari, o conceito comprovou o seu enorme potencial de atracção turística. Diz a sabedoria popular que a forma mais sincera de elogio é a imitação, mas nem sempre é possível reeditar os grandes eventos de outras eras. Burros habituados às condições de stress do transito urbano são hoje raros, pelo menos entre quadrúpedes.

Parece então que alguém se desobrigou de comparecer ao compromisso. Os promotores falam em censura, as autoridades municipais dizem que tudo não passou do regular funcionamento das instituições, no caso as sanitárias e de saúde animal. Preocupações com o estado do tempo e a impossibilidade de ferrar o animal para piso molhado estão na base do aviso das autoridades competentes. Por outro lado, as associações de defesa dos direitos dos animais, acusaram os promotores de atentarem contra a dignidade do animal humilhando-o na via publica. Devo dizer que discordo deste argumento – Se alguém sairia humilhado neste evento, seria obviamente o Ferrari, que aliás, foi bloqueado por falta de titulo de estacionamento válido…

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