Monthly Archives: Julho 2016

Regente Agrícola

A sátira de hoje é sobre a desilusão manifestada pelo regente agrícola que preside ao Eurogrupo, o indivíduo cujo impronunciável nome é Dijsselbloem. Rapaz católico nascido em terra protestante, é um tipo importante! Ele assim pensa. Preside ao encontro mensal e informal dos Ministros das Finanças dos países do euro, reunião à qual alguém teve a original ideia de atribuir um nome próprio, como se de uma instituição, que não é, se tratasse. Mensalmente, aqueles que gerem o destino financeiro dos países do euro reúnem sob o comando de um especialista em agricultura, mas não é por isso que lhes chamam nabos…

Após as tradicionais ameaças, desta feita sem sequer disfarçar a chantagem, afirmou que a submissão nacional o levaria a intervir de forma benevolente. A tirada aparentemente paternalista foi apenas mais uma manifestação de soberba. Por isso lhe inchou o ego. Mas a desilusão não se deveu apenas à vaidade, deveu-se sobretudo à sua inabalável ideologia, à sua profunda crença no modelo de negócio e de gestão da virtuosa Vereenigde Oostindische Compagnie, empreendimento que entre nós ficou conhecido como a Companhia Holandesa das Índias Orientais. Estudioso destas coisas da economia agrária, tem particular admiração pela condução do negócio das especiarias no inicio do sec XVII nas longínquas ilhas Molucas. A cultura que mais o fascina é a do Cravo-da-índia, daí recorrer a métodos semelhantes aos de então. Parece porém, que este valiosíssimo intelectual tem vindo a cavar a sua própria cova. Não é suposto haver espaço para veleidades dos nativos…

MestreAgricola

Dão-se Alvíssaras

A detalhada, profunda e rigorosa investigação jornalística ao denominado “escândalo” dos “Panamá Papers” decorre com normalidade. Pelo menos até prova em contrário… Aguardemos, afinal, se chegámos ao Verão sem novidades de relevo, podemos perfeitamente esperar mais uns tempos. Pelo menos até à mudança da estação. Por certo que mais dia, menos dia, mais semana menos mês, importantes conclusões serão noticiadas, sem precipitações ou sensacionalismos, como é salutar! Entre nós não há acusações infundadas, nem processos de intenção, nem pensar. Credo! Tanto Pokémon para caçar, tanto disparate para noticiar, porquê antecipar?

Decididamente, não há pressa. A curiosidade inicial perdeu-se, dispersou-se por outros temas, é verdade, mas pelo sim, pelo não, ou na falta de motivo válido, talvez por palermice e infantilidade, possamos, quiçá, lançar uma campanha lá para o Natal, um apelo aos investigadores para emergirem, respirarem um pouco de ar puro e connosco partilharem o fardo, o tenebroso peso do conhecimento à tanto tempo sob reserva. Aqui deixo a ideia, dêem-se alvíssaras a quem conseguir fazer chegar alguma informação, por pouca ou escassa que seja, ao Ministério Público.

A menos que tudo não tenha passado de um embuste, de um truque de entretenimento, um falso escape à indignação com a liberdade oferecida aos capitais. Será? Façamos o teste, analisemos o que mudou desde então, desde do momento em que estoirou a bronca, o dia da revelação! Há legislação nova? Novos meios ao dispor das autoridades, ou está tudo na mesma? Também aí se dão alvíssaras! Alguém nos diga qual foi a evolução.

Dao-se-alvissaras

Caça à Raposa

O Coup d’etat em directo! Virtude dos tempos modernos, da sociedade mediática, mal os blindados saíram à rua, entraram em nossas casas. Maravilhosa tecnologia esta que nos aproxima. A inevitabilidade deu lugar à esperança quando também nos mostraram a vontade popular. Milhares saíram à rua em defesa da democracia, da pluralidade. O directo prossegue, o governo garante que os revoltosos serão severamente punidos, que o poder ainda está sob controlo dos eleitos. Nestas circunstâncias, sendo verdade ou mentira, é normal. Tão normal como os boatos tornados notícia que davam o Sultão em Teerão ou a caminho da Alemanha em busca de asilo. Disparates normais nestas ocasiões.

Sobre a operação militar em si, algumas falhas inexplicáveis. Falta de preparação, escassez de meios ou simples incompetência? Num país versado na censura digital, esperar-se-ia outra eficácia. Será que o segundo maior exército da NATO não dispõe de meios para a chamada guerra electrónica? Estranho não é? Não abafam nem se mostram. Quem lidera o golpe? Reviralho sem líder não existe. Não há uma cara? Nada!

Dissipada a neblina mediática, a apoteose do líder que resiste. Foi então revelada a missão dos caças: Afinal estavam lá para escoltar o avião do Sultão no momento do seu heróico regresso. Golpe de estado? Sim, mas não naquele dia. Está em curso! Naquele dia foi apenas início da caça à raposa, o mestre soltou a matilha para forçar as raposas a saírem da toca.

Adorável mundo este, pleno de mistérios e contradições, e porque não dizê-lo, tretas!

Caça-à-raposa

Um português de cherneira

Curioso que num período de tão grande exultação nacional aos feitos desportivos das últimas semanas, tenhamos como antítese o sentimento de vergonha, quiçá nojo, por um português assumir um alto cargo numa das maiores instituições bancárias do mundo.

Durão Barroso, o homem que fez questão de estender o tapete vermelho para o lançamento da guerra necessária, o patriota que se sacrificou pelo bem maior, um dos principais arquitectos e lutadores pela Europa de hoje.

Ao contrário do sentimento de indignação internacional, tenho cá para comigo que esta poderá ser uma excelente oportunidade de, a médio prazo, caminharmos para um mundo melhor. Vejamos, Barroso ‘patrocina’ uma guerra que 10 anos depois se revela desastrosa, toma a decisão de abandonar o governo de Portugal por estar garantida a situação económica do país que 10 anos mais tarde bate no fundo, por fim dirige a comissão europeia durante 10 anos e pouco depois da sua saída a Europa parece estar à beira da implosão.

Repararam nestes ciclos de 10 anos? Pelo que tenho esperança de que, conseguindo manter-se no novo cargo durante tempo suficiente, daqui a 10 anos tenha enfraquecido a Goldman Sachs ao ponto de poder vir a ser engolida por, digamos, um nacional Caixa Quase Novo Banco! Será a vingança perfeita, o culminar de um complexo plano secreto de décadas, delineado pelo próprio, ao estilo cavalo de tróia neo-liberal. Ouçam o que digo! Ainda o carregaremos em braços para o panteão nacional por tal golpada de mestre. A recuperação de milhares de milhões de euros, de ética, de justiça e de toneladas de vergonha!

Não me venham cá com teorias da conspiração, não acredito nessa treta dos grupos secretos que tentam manipular o destino do mundo para proveito próprio. Grupos que nomeariam para altos cartos a título de recompensa por serviços prestados e capacidade já demonstrada para escolher o lado certo sempre que exista um inevitável conflito de interesses.

Não, eu acredito que a história do Homem se faz pela mão de cada homem. Força Durão, tu és o tuga no local certo, afinal, quando se está há tanto tempo no tanque dos tubarões, só saber nadar não chega, há que ganhar guelras e ter olho vivo.

Eu acredito em ti. Acaba com eles!

PS – não vás ter fraca memória de curta duração reforço que falo da Goldman Sachs, não dos teus conterrâneos lusos e europeus, ok?

Um-português-de-cherneira

Pesca à Francesa

Ao contrário do que é popular, não só reconheço a necessidade, como apoio a capacidade submarina da nossa Marinha. Bem sei que o processo de aquisição da quinta esquadrilha não deixou saudade a ninguém, sendo fácil lançar torpedos sobre o tema, mas julgo que a separação entre o processo de compra e a necessidade que lhe está na origem é no mínimo salutar. Sei que é fácil aderir ao facilitismo e validar ideias absurdas como “não precisamos de submarinos para nada”, mas basta observar a extensão do nosso território Atlântico para compreender quão desprovida de sentido é a contundente e popular afirmação. Um nítido problema de avaliação. O Mar como desígnio da Nação, nunca será uma realidade enquanto não for um desígnio individual de cada um de nós. Nunca seremos todos marinheiros, mas não é essa a questão. Enquanto individualmente não valorizarmos o desígnio Atlântico como um propósito que nos une, a superficialidade e ligeireza de conclusões prevalecerá.

A nossa história fornece bons exemplos de dicotomia entre o que é popular e aquilo que realmente é importante, como foi o caso do popular D. João I, o aclamado Mestre de Avis, e do seu antecessor, D. Fernando. O primeiro é celebrado como aquele que promoveu a expansão marítima, o segundo rotulado como irresponsável e aventureiro que não deixou descendente nem obra louvável. Contudo, foi D. Fernando que promoveu a construção naval e criou o primeiro arsenal português. Tal como hoje, recorreu então à tecnologia alemã, tendo para tal atraído até nós mestres fundidores germânicos, saber com o qual se passou a fundir as peças de artilharia entre nós, ao invés de as importar. Sem os meios e infra-estruturas lançadas por D. Fernando, a dinastia de Avis não teria passado de Ceuta, onde de resto esteve fechada durante 40 anos…

E os submarinos? Pois bem, devíamos ter mais, mas tal como fez D. Fernando, não deveríamos importar, mas sim fabricar. Absurdo? Será? Pois é precisamente aquilo que fazem os Sul Coreanos, compraram não o produto acabado, mas sim o direito de o construir. Tratar as armas como automóveis que primeiro são importados e depois fazem a manutenção na marca, pode ser a medida do possível no contexto e circunstância em que nos encontramos, mas a soberania exige mais. Por fim, mas não por último, queria abordar o factor mais importante e decisivo da capacidade submarina nacional, o humano. O saber acumulado pelas muitas guarnições que operam as 5 esquadrilhas que envergaram o nosso jaque, é um valor sem preço. A qualidade destes marinheiros especiais, os submarinistas, é até hoje ignorada ou desvalorizada pela população. Poucos de nós partilham o entusiasmo e orgulho pela prestação da actual Classe Tridente, e sobre a classe que a precedeu, apenas alguns de nós se lembra do feito do N.R.P. Barracuda (S164), quando em 1983 conseguiu posicionar-se sob o porta-aviões norte-americano USS Dwight D. Eisenhower (CVN69), iludindo toda a cobertura de superfície e área que escoltava este imponente navio, o que lhe permitiu assumir uma posição de ataque simulado com torpedos, sem nunca ser detectado, prestação surpreendente e a todos os níveis meritória, sobretudo porque a quarta esquadrilha à qual pertencia o Barracuda, de fabrico francês e designada por Classe Albacora, era já à época obsoleta por comparação aos meios que nesse exercício defrontou. Inquestionável prova do valor dos nossos submarinistas.

Ciente de tudo isto, talvez por sensacionalismo, mas sobretudo porque já chega de “falar” a sério, relato-vos o mais recente episódio protagonizado pelos nossos amigos franceses. Depois do ataque ao joelho do melhor do mundo, após a despeitosa decoração da torre Eiffel em dia de celebração lusitana, tentaram esta semana levar o nosso submarino N.R.P. Tridente (S160) até à lota de Saint-Brieuc. O ataque perpetrado pelo ligeiro e ágil navio de pesca, o arrastão Daytona (SB.912361), ficará para a história como a “pesca à francesa”, manobra cujo resultado, tal como todas as desconsiderações anteriores, foi um estrondoso fracasso, sem danos a registar, nem materiais, nem humanos. Mais uma vez ganhámos por empate.

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Aldeia Cósmica

Partiu de Cabo Canaveral a bordo de um potente foguetão Atlas V. Após quase 5 anos de viagem, a sonda Juno chegou finalmente à orbita do gigante gasoso, o Planeta Júpiter. O maior planeta do sistema solar e nosso maior protector, recebeu a sonda Juno com um estrondoso e arrepiante rosnar – O som do vento solar ao chocar com a magnetosfera de Júpiter, segundo explicaram os cientistas. Prodigioso! A nossa “cobertura de rede” alarga no Cosmos. Parece que lentamente a ficção cientifica se vai transformando em realidade do quotidiano. Vivemos tempos extraordinários, presenciamos momentos únicos da história da nossa espécie. O Cosmos é o nosso novo horizonte.

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De volta à Terra, constatamos que apesar da nacionalidade norte-americana da sonda Juno, é à União Europeia que cabe liderar o planeta. É verdade, apenas a comissão europeia e apenas ela parece ter acesso aos grandes líderes da galáxia, quiçá do universo, e com eles pode até trocar ideias sobre os mais mundanos dos temas, como sejam as eventuais sanções aos modestos países Ibéricos, ou sobre o divórcio do Reino Unido da União Europeia. Para o provar, Jean Claude Juncker afirmou ontem que os líderes de vários planetas lhe manifestaram profunda preocupação com as consequências do brexit.

Os mal-intencionados dizem hoje que se tratou de um lapso, um eventual resultado da inabalável crença do presidente da comissão europeia nas propriedades hidratantes da bebida tradicional da Caledónia, mas eu discordo. Acredito que ele está mesmo em contacto, ligado ao mais alto nível da liderança cósmica…

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