Monthly Archives: Junho 2016

Preparada para este referendo hoje?

Em dia de referendo decisivo para o futuro de seus súbitos, sua alteza real, a Rainha Isabel II foi passear de manhãzinha. Foi abordada por um repórter que sem a reverência que lhe é devida perguntou de forma impertinente: “Preparada para este referendo hoje?”. Magnânima, sua majestade simplesmente sorriu e acenou. Disse tudo. A monarca com o reinado mais longo da história britânica está nitidamente preparada! O critério editorial do género sensacionalista é registo banal e antigo entre os anglo-saxónicos. A população gosta, a coroa aceita. Sabe lidar com o fenómeno sem perder dignidade. Muito britânico! Apesar da sua ascendência germânica e da legitimidade hereditária, a rainha sabe que a verdadeira soberania reside nos cidadãos. Age em claro contraste com a soberba típica da união tecnocrática que hoje será sufragada.

Quanto a prognósticos, aposto no empate. Sabemos que a vitória é possível empatando. No fim, avançam para a fase seguinte, nenhum favoritismo será lembrado e tudo será perdoado. Poderá até ser uma forma de salvar a face e assim evitar o regresso de outras pretensões separatistas. Confesso que palpito a contragosto. Gostava de um resultado claro e contundente. Prefiro a ruptura. Creio contudo, que este meu desejo não será atendido pelos britânicos que hoje votam. A eles e apenas a eles compete a decisão. Seja qual for o resultado, será democrático, qualquer que seja o desfecho, a eles, cidadãos da Grã-Bretanha, a questão foi colocada, a opção ponderada e a decisão tomada. A nós por cá, ninguém nos perguntará nada!

brexit

 

Artur Virgílio

Após conturbados processos de privatização e posterior renacionalização, a TAP está finalmente a renovar a sua frota. No longo curso, não contará com modernices ou excentricidades do tipo Airbus A350, nada disso! Eficiência é a palavra de ordem. A aposta será em material com provas dadas. Já chegou o primeiro, um Airbus A330-243. Anteriormente registado como PR-AIY (AZUL Linhas Aéreas Brasileiras), e antes disso como VH-XFA (Virgin Blue/Virgin Australia), que por sua vez foi precedido pelo registo A6-EAB (Emirates Airline) e que ainda assim não foi o primeiro, pois no século passado, a 25 de Outubro de 2000, aquando do voo inaugural, foi registado pelo fabricante como F-WWKB.  É novo, como atesta o Curriculum Vitae da aeronave. Em breve chegará outra com idade e trajecto semelhante, já registada CS-TOT, mas deixemos os atrasos para outra ocasião…

Foquemo-nos no novo avião, aquele que já chegou. Embora tenha praticamente o dobro da idade média dos restantes catorze A330 da frota da TAP, é o único que ainda não foi baptizado. Tradicionalmente, os aviões da TAP são baptizados em homenagem a grandes personalidades da nossa história. Mesmo sem nome, coube ao novo avião a grande honra de inaugurar a nova rota para Boston, com o presidente da TAP a bordo e tudo. A chegada foi apoteótica mas parece que o regresso se atrasou. Quanto ao nome para baptismo, julgo que a personalidade cujo perfil e obra mais se adequa à novíssima aeronave, bem como às circunstâncias da companhia, é a de Artur Virgílio Alves dos Reis.

Artur-Virgilio

Nada a Temer

Até à estreia da selecção no Europeu de Futebol, a nação estará num imperturbável estado de graça. Grande é a esperança! Défice só em polémica, daquela boa e inconsequente. Apenas uma pequena diferença de opinião quanto às necessidades de capitalização do banco público e a reedição do convite à emigração dos docentes, parecem trazer algum sal a estes dias insonsos. Somente a constituição do onze para mais logo interessa! O nosso oponente, aquele que por mais de uma vez se bateu pela sua Zona Económica Exclusiva, e pelo direito de nela decidir quem pesca, diz-se preparado. Compreende-se. Não uma, nem duas, mas por três vezes travou a Guerra do Bacalhau, fazendo frente ao nosso velho aliado, vencendo sempre, mesmo quando aos britânicos se juntaram belgas e alemães. Nada ficou em águas de bacalhau, o que significa que connosco tem apenas uma afinidade, o apreço ao fiel amigo.

Perante tamanha tranquilidade, para exercer a minha sátira, sou forçado à travessia transatlântica. Recorro ao contraste. Os nossos irmãos brasileiros estão com o moral em baixo. Foram ontem eliminados da Copa América, prova congénere áquela onde hoje nos estreamos. Com a agravante de o golo que ditou a eliminação ter sido marcado com o braço. Como uma tragédia nunca vem só, a economia mantém a trajectória descendente e o panorama político continua negro. Qualquer ditadura parece inclusiva por comparação. Como grandes importadores da ficção brasileira, não conseguimos imaginar a realidade que por lá se vive. Somos levados a crer que não há nada a Temer…

Nada-a-Temer

Isto está lento, está!

Decididamente, o nosso sistema educativo, público ou privado, necessita de ser revisto e repensado com urgência. É decisivo que o façamos, sob pena de arcarmos com consequências bem mais penosas que as mais recentes e virais polémicas. Bem sei que a tragicomédia é um dos pilares da lusitanidade, mas julgo que o humor negro se quer mais ágil, muito rápido e instantâneo, senão perde-se o gáudio. Haja pelo menos um prazo de validade! Bem sei, e concordo, que quem não se sente não é filho de boa gente, mas quiçá haverá algo mais além do óbvio. Talvez um contexto próprio. Será? Averiguemos com o rigor que o momento e a circunstância exigem. Vamos aos factos.

Passados apenas meia dúzia de anos, uma inaudita entrevista do líder sindical dos roqueiros a um canal de paródia televisiva, despertou uma intempestiva reacção. Não há disco de platina que o proteja, nem longevidade de carreira que o salvaguarde. Nem pensar! O artista que outrora despudoradamente se despiu para ilustrar uma das suas múltiplas obras, está hoje no centro do maior problema inter-regional das últimas décadas. Não haverá nem apelo nem agravo. Já nos bastam os tópicos em fila de espera, tudo aquilo que aguarda processamento colectivo, sejam eles portáteis para as criancinhas ou gorduras do estado. São tantas as prometedoras soluções cujo fracasso tarda em gerar reacções. Curiosa assimetria esta, entre orgulho local e mentira nacional.

Avancemos para a conclusão. Vamos às culpas! Não sei se os supracitados fenómenos sociais são resultantes de compreensão lenta ou de memória curta generalizadas, mas não hesito em responsabilizar o sistema de ensino pelo categórico falhanço – A população não está preparada para este nível de exigência cognitiva. Nem com cábulas vamos além da graçola simples e brejeira sobre a alegada preguiça alentejana. Regionalização pois então… Ou talvez não!

Isto-Estalindo-está