Monthly Archives: Maio 2012

Novas oportunidades ou os cinco minutos de fama.

Numa das minhas incursões desastradas a um centro comercial, dou por mim estarrecido e estupefacto ao ver uma dezena e meia… talvez mais, de senhoras entre os quinze e os cinquenta anos, avolumadas junto a uma loja, estranho ver uma quantidade significativa de pessoas generosamente alinhadas e perfiladas, como se de algo estivessem á espera.

Primeiramente, numa veloz fracção de segundo pensei… Mais uma promoção daquelas que o marketing fez o favor de preparar e bem, ou os resultados não estariam á vista, mas aquela visão de relance fez-me fixar algo de estranho, mas comum a todas as presentes.

Tinham realmente mais que um pressuposto que as unia, sem com certeza se terem cruzado na vida antes, tinham um adereço comum, muito provavelmente prévia e cautelosamente preparado, todas empunhavam um curriculum vitae.

Estava portanto a assistir a poucos metros, a uma sessão no mínimo sui generis, pondo simples desempregadas á merce de penetrantes olhares indiscretos, simultaneamente com empregadores sujeitos a comentários algo desenquadrados.

Senti-me ali como um condutor viajando por uma qualquer autoestrada, que se depara com um aglomerado desajustado de peões imóveis, quando deveriam todos estar em circulação, mesmo que com velocidades díspares, mercê do objectivo final da viagem, ver montras para ocupar o tempo ou analisar o produto para depois o adquirir.

Parei por uns instantes, com a finalidade de, como uma máquina, fazer parar o tempo e ter a certeza do que estava a presenciar, efectivamente estas humildes criaturas, algumas com um olhar tão incrédulo quanto o meu, sentindo-se invadidas pelas expressões de quem tinham de se desviar, formavam uma fila em volta de um daqueles sofás utilizados para ver quem passa, saborear o gelado que se comprou numa área de serviço da mesma via rápida, ou tão somente, esperar alguém que foi numa rapidinha fazer uma compra.

Mantinham uma distancia, sem que precisassem de nenhum dístico dizendo, “aguarde aqui a sua vez”, era mais ao estilo de barreira psicológica, para não interferir com a actividade nem perturbar as já mais que pasmadas candidatas.

Faziam-se ali mesmo, no sofá do meio da avenida, entrevistas de emprego, num ambiente cosmopolita pois então, que isto do desemprego é mesmo uma oportunidade, permitindo aos candidatos conhecerem métodos inovadores, oferecendo-lhes de imediato a preparação para as condições de trabalho sobre pressão, começando desde o primeiro minuto de contacto com uma eventual entidade patronal a perceber que nos dias de hoje, tudo corre ao minuto e á vista de todos.

Entendo que desta forma a entrevistadora se aperceba imediatamente das mais valias da candidata, ou não fosse a função pretendida a de empregada de balcão, daí talvez esta primeira forma de abordagem, confrontando estas pessoas com uma exposição mediática ao primeiro momento, permitindo-lhes assim os tais “cinco minutos de fama”.

A isto podem também chamar de empreendedorismo, pois inovar é preciso e emprego é coisa que hoje em dia faz efectivamente, falta a muita gente.

Contrariando todas as práticas de seleção e métodos de entrevistas, de quem se quer concentrado no que vai dizer e atenção de quem está a ouvir, podendo mesmo por em causa ambas as partes, o candidato por nervosismo e o empregador por má análise, eventualmente perdendo quer uma, quer outra, uma fulcral parceria lucrativa.

A sociedade gestora daquele centro comercial, que certamente controlará até ao mais ínfimo pormenor toda a logística e operacionalidade das lojas, deve ser felicitada por apoiar tamanho evento, pois deu o seu contributo para a dinamização da economia local, não tendo cobrado, penso eu, aluguer do espaço.

Ser Europeu porque quero e não porque preciso

Um-dó-li-tá, a Grécia fica, a Grécia sai, Portugal logo se vê e quem fica ficará!

Por agora ninguém sabe muito bem e são tão corriqueiras as notícias contraditórias que ninguém quer saber. Que será, será. O projeto europeu era tão sólido que nem se lembraram de criar um guião para o abandono, ou mais concretamente para a expulsão, de um estado membro. O que acontece se um país sair da União Europeia? Nesse país, na União e nas relações entre ambos?

Aparentemente está tudo borrado. Um dos principais medos é a transição de moeda que provocará um impacto no país ‘desertor’ que ninguém consegue medir. O problema põe-se sobretudo a nível das exportações e importações. Se a moeda nacional fôr muito fraca em relação ao Euro o país não conseguirá manter o seu nível de importações actual. Se fôr muito forte os ainda estados membros não poderão manter o nível de importações de produtos fornecidos por ele. A curto-prazo será impossível dar resposta às necessárias transformações no export/import, a não ser que seja um cenário já previamente trabalhado em background. Para além da total reformulação da balança de importações e exportações haveria ainda a questão da gestão da dívida que não desapareceria como que por magia. Seria até mais complicado pois deixaria de haver tanto poder de influência política e de regime.

Este problema coloca-se sobretudo porque a União Europeia está alicerçada numa rede de interdependências em que vários países ‘destruiram’, a troco de subsídios, grande parte dos seus meios de produção em sectores de actividade específicos. Houve uma especialização e/ou quotização da produção nos vários estados membro para tentar criar uma economia fluída em que a necessidade e procura entre membros se complementasse. Mais do que as condições naturais locais era importante o cenário global para desenhar uma sustentabilidade mesmo que com medidas artificiais como subsídios de desincentivo à produção.

Agora, à beira da desagregação, há países em grande embrulhada porque a perspectiva de saída da União Europeia coloca-os numa posição de dependência externa de sectores basilares como a indústria e a produção alimentar. Se a torneira dos subsídios fechar perderam-se décadas de actividade. Máquinas, terras e população activa estão enferrujadas em muitos sectores precisando de anos para voltar a embalar. Num cenário de saída de um país ‘enfraquecido’ da União Europeia rapidamente as prateleiras dos supermercados ficariam vazias e com o motor da fome veríamos espectáculos como o da promoção dos 50% do Pingo Doce a acontecer nas despensas mais próxima.

Não me sinto confortável na coação para ser Europeu apenas porque o sistema está montado de forma a que se não o fôr terei de ser apenas um miserável e faminto Português. Cada país, cada região, cada localidade, deveria ter ao menos a capacidade de produção de alimentos que os tornassem relativamente independentes ao nível alimentar. Desta forma a política seria mais ideológica do que propriamente de subsistência como está a ocorrer hoje. E produzir é empregar.

Todas as projeções de futuro apontam para o continuar do aumento dos preços dos alimentos o que representa um esforço cada vez maior para garantir os níveis de importação actuais. Se há coisa com que não se deve brincar é com comida. E aparentemente há algo a assustar o governo ao ponto de querer apressadamente recuperar as profissões pertencentes aos sectores primários da economia e o amanhar das terras.

Será a temível porta aberta com uma luz ao fundo do túnel que diz EXIT?

Guardar o cachecol, pegar na bandeira!

Numa altura em que os nossos líderes deveriam estar centrados no todo e não nas partes, continuam as guerrilhas de cachecóis, alimentando diariamente as disputas de forças políticas e de interesses, assemelhando-se a um eterno confronto clubístico.

O verdadeiro interesse Nacional parece que á muito deixou de fazer parte das cartilhas governativas, propiciando slogans publicitários, certamente pouco abonatórios mas, verdadeiros.nada funciona

Ávidos nos cortes dos rendimentos de muitos, mas lentos no encolhimento na despesa, condicionados maioritariamente por “lobbies” instalados e necessidades partidárias a que todos querem ter acesso para saberem se estão no lado certo, permitindo um compasso de espera para o qual não existem condições.

Aparentemente movidos por uma panóplia de interesses, procurando a manutenção de poderes cada vez mais fragilizados, arremessando constantemente acusações desmedidas, perdendo tempo precioso com coisas fúteis, que apenas servem para atrasar decisões que deveriam ser urgentes.

Instâncias superiores suspensas, á espera de nomes ilustres que lhes deem confiança de obediência, para garantir uma Constituição á muito torpedeada, informações privilegiadas trocadas por cadeiras, ou cadeiras simplesmente trocadas, para dar assento a quem possui informações eventualmente comprometedoras ou estratégicas.

Comissões de inquérito que se querem sobrepor aos tribunais, tendo honras de aberturas de telejornais, para que depois fique mais ou menos provado isto e aquilo, sem seguimento prático, mas com muito tempo de antena garantido.

Documentos que ficam esquecidos, fragilizando e fomentando atritos desnecessários mas sempre oportunos á inquietação da salutar convivência, alvitrando comentários e pressões.

juntosInércia que deixa cair processos, mantendo para todo o sempre, a suspeita de corrupção sobre cidadãos que podem até não ser culpados, contrastando com a celeridade na condenação de situações de ocupações ilegais.

Uma panóplia de acontecimentos tornados mediáticos, alguns com a única finalidade de desviar as atenções do realmente importante.

Consequência certa de uma liderança fragmentada, estamos como que “pendurados”, quando deveríamos andar na alta velocidade para o crescimento e reposição de fundos alienados desmesuradamente por anteriores mandatários, que nunca serão verdadeiramente responsabilizados.

Tempos que fazem vir á memória o último líder que passou por estas ocidentais praias Lusitanas, que mesmo não sendo filho do reino, conseguiu com membros de vários quadrantes enfeitar Portugal com bandeiras e fazer esquecer temporariamente os bairrismos clubísticos em prol de uma única figura, a Nação.

Parece não se ter percebido ainda, que o que é preciso é hastear a Bandeira, com a ajuda de todos sem excepção, agarrar a corda para que ela alcance uma altitude tal que ninguém lhe possa tocar, provocando um olhar altivo, inabalável.

A época é de ventos cruzados vindos de outras paragens, águas turvas e revoltas mas se até o cabo das tormentas conseguimos transpor, porque não se consegue agora, mesmo que evocando novamente os audazes, colocar a mão firme no leme e remar todos juntos, mesmo contra a força das marés.

mesmo sentidoÉ tempo para cada uma das partes guarde na gaveta o cachecol para épocas futuras, quando houver condições para jogar novamente na primeira liga, até lá devemos fazer o que já vimos e soubemos alcançar como ninguém, noutras competições…

Olhar num só sentido!

Como sermos superiores na educação superior?

De há uns bons anos para cá o ingresso num estabelecimento público de ensino superior obriga ao pagamento de uma propina de valor variável. Em 2011 variou entre 630 € e 999 €. Não há isenções. Com um pouco de sorte podem ser atribuídas bolsas de estudo que no passado ajudavam ao pagamento de despesas de alimentação, alojamento e material de estudo mas que agora servem para ajudar no pagamento da propina.

Não é preciso pensar muito no assunto, apesar das recentes notícias  de aumento de abandonos tanto em privadas como em públicas ajudarem a fazê-lo, para perceber que o acesso à educação superior está a tornar-se progressivamente inacessível em função de classe social e capacidade financeira em detrimento do mérito. O combate ao fator cunha, ao favorecimento, à displicência não se fará certamente com este tipo de limitação na raiz da preparação dos cidadãos que vão exercer vida ativa nos cargos mais ‘altos’ da vida ativa no mercado de trabalho nacional.

Com o sistema atual famílias sem posses são forçadas a decidir se trabalham para educar o(s) filho(s), gastando a totalidade ou parte considerável dos seus subsídios de férias e de Natal caso ainda subsistam, se contraiem crédito para suportar a educação ou se simplesmente assumem a sua incapacidade em comportar as despesas. Num país em que a educação é tendencialmente gratuita esperaria-se pelo menos que o valor mínimo de propina fosse um simbólico zero.

As despesas são enormes mas o impacto na sociedade do que se passa a este nível são também críticas. No cenário atual o músculo financeiro esmaga os pobres cérebros. Não existem oportunidades iguais. Escava-se ainda mais o fosso social entre classes. Será que não seria mais benéfico para o país perder algum dinheiro e formar melhores profissionais do que manter um equilibrio orçamental precário à custa de desperdício de potencial de recursos humanos?

Algumas ideias de como trazer mais justiça e também financiamento ao sistema de ensino superior público :

  • Pagamento de propinas apenas exigido caso aluno não atinja níveis de desempenho aceitáveis. Ou seja só existe desperdício no investimento em educação nos casos em que os alunos não correspondem. Se o aluno tiver bons níveis de desempenho beneficia da regalia de isenção de propina. Forçaria desta forma um empenho contínuo dos alunos e um sentimento de recompensa por boa prestação. Em caso de chumbo um aluno só poderia inscrever-se no ano seguinte se pagasse a propina relativa ao ano findado/falhado. Na ocorrência de abandonos pelo menos teria sido dada uma oportunidade e feita uma prova de capacidade e mérito.
  • Cobrança de taxa de propina nos salários dos recém-licenciados durante os X anos seguintes à licenciatura sempre que exerça funções / cargos a que só teve acesso graças à formação que recebeu. Voluntária ou forçada. O importante é deferir o pagamento que ocorre apenas nos casos de sucesso tanto do aluno como da adequação da licenciatura ao mercado de trabalho.
  • Cobrança de taxas de recrutamento aos empregadores. Direta na contratação de recém-licenciados, com valor variável em função do valor demonstrado pelo aluno, ou indireta permitindo acesso privilegiado a CVs / Classificações dos alunos mediante ‘patrocínios’ às Universidades. A Universidade venderia o sucesso da sua formação aqueles que mais dele vão beneficiar no imediato.
  • Patrocínio de Campus Universitário. Tal como vemos bancadas PT, Coca-cola, etc, poderíamos ver edifícios com nomes de marcas em vez de as vermos sobretudo associadas às festas universitárias.
  • Trabalhos final curso incidirem sobre necessidades locais. Durante a sua formação os alunos iriam contribuir para a melhoria efetiva de aspectos da vida e sociedade do país. Há muitos projetos autárquicos e locais que não avançam por falta de verba e poderiam ser os alunos em final de curso os seus executantes desde que as necessidades fossem na sua área de formação. Não seria feito pagamento à Universidade mas existiria um retorno imediato da formação gratuita paga pelo estado.
  • Venda de Serviços de Outsourcing. Já ocorre hoje sobretudo na área de investigação. Não me agrada muito a ideia pois acaba por roubar mercado a PMEs que o poderiam fazer dinamizando o emprego real.

Os maiores activos de uma Universidade são os seus alunos que infelizmente se estão a transformar num misto de clientes de um serviço e de fontes de rendimentos, garantias da sobrevivência da instituição de ensino. A Universidade deveria sobretudo trabalhar para formar recursos humanos de excelência que tragam valor às empresas e ao país. Privilegiando o mérito, esforço e capacidade no ingresso e leccionamento independentemente de classes sociais e capacidades financeiras.

Ao mesmo tempo todo o dinheiro que não seja gasto em propinas  entraria na economia através de outras formas de consumo que incluem as despesas de alojamento, alimentação, transporte e materiais de estudo. E haveriam menos argumentos impeditivos de mobilidade na escolha da Universidade.

Ficaria mais esperançoso num futuro alicerçado na igualdade de oportunidades e na valorização do mérito mesmo que isso representasse despesa adicional no presente.