Monthly Archives: Abril 2013

Balanço do 25 de Abril

Passadas as comemorações do FDS prolongado de 25  de Abril, urge fazer um balanço tranquilo dos benefícios que este trouxe à nossa sociedade. Resumidamente só podemos estar gratos pela Democracia. Deu-nos a liberdade para fazer muita merda! Literalmente…

Pessoas com Deficiência

Bem fisgada!

Na Ditadura: os deficientes eram tratados como opositores ao regime e encarcerados em prisões e instituições para não darem má imagem do país.

Hoje: talvez devido a essa convivência no pré-democracia, a maioria dos nossos governos eleitos foram deficitários.

Fome

Epá… comer engorda.

Na Ditadura: os Portugueses tinham fome e mais nada.

Hoje: os Portugueses têm emprego, casa, carro, smartphones e também fome. Mas muito bem disfarçada. Aliás até se fazem programas de entretenimento a explorar os esfomeados como o Big Brother VIP.

 Emigração

Por Portugal!

Na Ditadura: entre 1958 e 1974 emigraram 1.5 Milhões de Portugueses. Dá uma média de 93 000 por mês.

Hoje: Em 2011 e 2012 emigraram 100 000 Portugueses por ano.

Polícia

Não fui eu!

Na Ditadura: os suspeitos de crime eram denunciados à PIDE e nunca mais eram vistos.

Hoje: a própria polícia apanha ladrões e violadores em flagrante delito. Os acusados aguardam julgamento em liberdade. Alguns no parlamento ou em conselhos de administração de grandes empresas.

Multidões

Penso logo existo

Na Ditadura: mais do que duas ou três pessoas eram consideradas um perigo. Palavra puxa palavra e germinariam ideias progressistas que punham em causa o regime. TOCA A DISPERSAR!

Hoje: É permitido o ajuntamento de multidões. Ouve-se falar de bola, big brother e cumer e buber. Não há perigo de surgirem ideias progressistas.

Riqueza

1 para ti 1 para mim

Na Ditadura: não se produzia riqueza suficiente. Salazar não distribuia o que não produzia.

Hoje: não se produz riqueza suficiente. A Democracia distribui a riqueza que não produz.

Liberdade

Preso em casa

Na Ditadura: pouca ou nenhuma.

Hoje: diz-se que conquistada com cravos. É mentira. Foi cravada. E agora que estamos a pagar o empréstimo está a esvair-se das nossas mãos.

Greve

Viva o livre arbítrio!

Na Ditadura: greve de estudantes abala regime.

Hoje: greve de trabalhadores paralisa país.

Sofrimento

Eu aguento!

Na Ditadura: milhões de Portugueses sofrem com de carências sócio-económicas. Toda a nação queria uma vida melhor.

Hoje: milhões de Portugueses sofriam com uma série de carências sócio-económicas. 40% dos Portugueses não querem saber e não comparecem nas urnas.

Quase 40% dos Portugueses exercem a liberdade alheando-se da política e não exercendo o seu direito de voto. A liberdade extrema do deixa andar pode vir a matar a Democracia.

A Europa Chipruda

Afinal há dois ralos vazadouros da liquidez monetária de qualquer um. Um, sobejamente conhecido, é o da tributação fiscal com capacidade de mutação capaz de fazer inveja a qualquer H1N1, o outro é um camaleão que sempre se perfilou como uma caixa forte  hermética e que agora se começa a revelar.

Chipre demonstrou que se necessário as poupanças dos cidadãos podem a qualquer momento ser usadas como argamassa para soldo de buracos. Porque é preciso para evitar cenários piores. O plano inicial distribuia o mal pelas aldeias contudo, devido à convulsão social e temores em toda a Europa, acabou por optar-se por uma penalização sobretudo aos grandes depósitos, já tolerável  pela maioria dos europeus. Quem percebe do sistema bancário retirará as suas conclusões  e será forçado a ajustar-se às movimentações que esta solução irá originar. Os depositantes limitam-se a especular qual a quantia máxima que faz sentido manter no banco, !hoje em dia 10 000 € pode ser considerado um grande depósito em Portugal!,  e a readquirir respeito pelos sábios que nunca abandonaram a confiança no seu colchão.

Esta situação demonstra que a Europa é cada vez mais uma fachada de direitos e valores sociais. Chipre entrou na Europa em 2004 e foi depois dessa entrada que se afirmou como um paraíso fiscal e um oásis para investidores estrangeiros. Sem grande preocupações em saber a origem do capital que acolhia Chipre engordou muito para além da linha. E a Europa sabia-o, e a Europa deixou-o. Assim como sabe que existem, e continuarão a existir, no seu seio esquemas financeiros para lavagem de dinheiro e enriquecimento de uns poucos à custa dos direitos e valores de muitos.

No momento da ‘punição’ eis que germinam argumentos justificativos de que a maioria dos milhares de milhões de Euros em Chipre provêm de actividades ilícitas, levadas a cabo por máfias de dimensão global. Querem maquilhar este acto de confisco cego como uma certa justiça divina através de um merecido ajuste de contas. Não. Este acto é o corolário do crime. Aqueles que deviam impedir a prática de actividades ilícitas, juntam a sua inabilidade policial e judicial à tolerância para com o resultado dessas práticas. A Europa ao invés de rejeitar tacitamente o contacto com esse tipo de dividendos assume uma postura de “Nós sabemos o que vocês fazem, não conseguimos prová-lo e só por isso permitimos que depositem no nosso sistema financeiro os vossos milhares de milhões de euros, seus safados!”

A droga interceptada é destruída, os produtos contrafeitos são destruídos, já o dinheiro sujo é simpleslmente lavado e reciclado. Dinheiro é dinheiro. Dinheiro é presente e futuro. Não há passado no dinheiro. Não há exploração sexual de mulheres e crianças, não há escravatura humana, não há comércio de armas, não há crimes de sangue, não há mercado de drogas, não há expropriação de recursos de povos e nações, há apenas e só DINHEIRO.

E agora  é exigido com gáudio o uso desse dinheiro sem passado para corrigir os erros de decisores Europeus.

Neste momento a Europa dos mais altos direitos e valores sociais mais não é do que uma cúmplice descarada da sua antítese.

Upgrade ao Salário Mínimo

Recentemente Belmiro de Azevedo disse “Diz-se que não se devem ter economias baseadas em mão-de-obra barata. Não sei por que não. Porque se não for a mão-de-obra barata, não há emprego para ninguém.” Deu o exemplo do sector primário /agrícola onde Portugal tem oferta excessiva de mão-de-obra logo deve ser barata. Apesar de tentado a explorar o tema de como o eucalipto Sonae procura secar as margens dos produtores, estrangulando-os ao ponto de praticamente oferecer a sua produção para a engorda dos intermediários e distribuidores, não vou entrar por aí. Vou focar-me no tema da mão-de-obra barata.

Uma mão-de-obra barata é por inerência uma mão-de-obra não qualificada. Trabalhadores pouco instruídos para executar tarefas pouco exigentes. Só que nas últimas décadas assistimos ao seguinte em Portugal:

  1. O salário mínimo subiu 2 939% entre 1974 (16,50 €) e 2012 (485 €);
  2. O investimento em Educação subiu 38 381% entre 1972 (22,3 M €) e 2010 (8 559,2 M €)
  3. A descida da percentagem de trabalhadores com Ensino Básico ou inferior de 91,7 % em 1985 para 63% em 2009
  4. O aumento da percentagem de trabalhadores a auferir o salário mínimo nacional situando-se actualmente perto dos 11% da população activa (mais de meio milhão de trabalhadores com aumento de 115% entre 2007 e 2011)

O que isto evidencia é que o país investiu fortemente na Educação e formação dos seus cidadãos sem que houvesse um acompanhamento condizente a nível de salários. Em grandes organizações, como as do senhor Belmiro de Azevedo, existem com certeza vários tipos de postos de trabalho que não necessitam de grandes habilitações para o seu desempenho. Por exemplo os ‘simples’ caixas de supermercados. A máquina faz o trabalho aritmético, aquilo é praticamente passar os produtos e ensacar.

Pergunto-me qual será o nível médio de habilitações dos caixas de supermercado?

Serão pessoas com o ensino básico? Ensino secundário? Ou mesmo ensino superior dado o estado fatal da nossa economia? Não existe uma formação específica para caixas de supermercados mas certamente que beneficiarão de contratar pessoas com qualificações muito acima do necessário para as funções. E com isso beneficiam de muitos outros aspectos tendo trabalhadores mais perspicazes e mais instruídos, com reflexo imediato na assimilação das suas tarefas,  normas internas da empresa, bem como na interacção com os clientes. Arrisco-me a colocar a mão no fogo que a maioria dos caixas de supermercado são trabalhadores com qualificações muito acima do necessário. Que recebem exactamente o mesmo que as pessoas de qualificações mais baixas que estariam aptas a desempenhar aquelas funções.

Pergunto-me se faz sentido o país andar a investir para qualificar pessoas que vão executar tarefas de mão-de-obra barata e não qualificada!?

Outra vertente é o facto do salário mínimo ser cego e transversal. Num entry-level o salário mínimo de um trabalhador agrícola, sem estudos, é equivalente ao salário mínimo para um informático licenciado. Em teoria as leis do mercado iriam funcionar naturalmente e definir o salário mínimo de cada profissão. Na prática os gestores e patrões portugueses, com habilidade, conseguiram baixar radicalmente o salário de entrada de várias profissões altamente qualificadas. Hoje em dia um informático pode sair da universidade e entrar no mercado a exercer a sua actividade ganhando o mesmo que um caixa de supermercado.

Pergunto-me se faz sentido o país andar a investir para qualificar pessoas que vão exercer actividades complexas sendo tratadas como mão-de-obra barata e não qualificada?

E chego à conclusão que talvez o conceito de salário mínimo necessitasse de um upgrade. Deveria existir um salário mínimo por actividade profissional. E um suplemento mínimo adicional sempre que fosse contratado para uma actividade um trabalhador sobrequalificado.

Por exemplo digamos que para caixa de supermercado tinhamos apontada uma qualificação de Ensino Básico para o exercício de funções. O salário mínimo seria os actuais 485 €. Se o contratado tivesse o Ensino Secundário passaria a +10% e acima disso +20%.

É verdade que apesar de num nível de experiência de ofício zero à partida todos têm o mesmo potencial de evolução. Mas é inegável que a probabilidade é a de que os mais formados tenham mais sucesso e produtividade. Acertos que se realizam rapidamente em revisões salariais ou despedimento dos empregados de qualificações superiores que estão a ganhar mais mas não correspondem às expectativas.

Estas medidas tinham o único objectivo de trazer uma maior justiça ao mercado de trabalho e obrigar os empregadores a compensar o estado pelo investimento realizado na Educação. Estes empregadores são os principais beneficiados pelas maiores qualificações da população Portuguesa. Hoje em dia pelo mesmo custo conseguem contratar trabalhadores que lhes dão mais garantias e proveitos. Com estas medidas os empregadores poderiam perfeitamente limitar-se a contratar as pessoas menos qualificadas para o exercício de certas funções. Mas claro que isso traria efeitos imediatos no nível de serviço e nas necessidades acrescidas de formação e gestão. Caberia aos gestores avaliar da melhor forma a relação custo vs benefícios de cada contratação.

Ao mesmo tempo seria dado incentivo e motivção ao prolongar dos estudos porque os futuros trabalhadores saberiam que cada ciclo completado na sua formação se reflete imediatamente na sua folha salarial. Algo que hoje em dia não é de todo líquido.

E desta forma patrões como o senhor Belmiro de Azevedo e outros poderiam tomar deliberadamente, e em consciência plena, a opção de rechear as suas organizações da mão-de-obra barata em que deve ser assente uma economia forte e saudável.

O melhor de dois mundos.