Seara que canta para o Mundo
Hoje, e após meses de enxurradas de escândalos e sapos que não conseguem mais estar debaixo do tapete, eis uma boa noticia: O Cante Alentejano é Património da Humanidade! Na verdade isto nem tem assim tanta importância, tem mais importância para nós e no dever de conservarmos esta parte da nossa cultura e do nosso património. Para além disso dá-nos mais uns pózitos de visibilidade lá fora e mais uma razão da exploração do turismo no Alentejo.
Isto é parte daquilo que somos, raiz de muitos portugueses, é o cante do povo, de um povo cuja história foi dura, vida de agruras e muito trabalho e exploração. Curiosamente o Cante Alentejano é elevado a Património Imaterial da Humanidade um dia depois dos 39 anos do 25 de Novembro de 1975, data que marca o fim do PREC… Quem comemorou Abril chorou Novembro, quem comemora Novembro chorou Abril… Passados 39 anos, quem construiu Novembro continua a governar-nos. Por isso, a todos os alentejanos que choram Novembro, esta é uma prenda merecida.
O Cante Alentejano é o cante da classe trabalhadora agrícola, cujo único bem que possuía era a força do seu trabalho aplicado nos latifúndios. Trabalho duro, quase escravo, em troca do insuficiente para viver. O Cante Alentejano que às vezes é um lamento outras vezes uma brincadeira, às vezes é de amor, outras de saudade de quem partia para a guerra. É também o canto entoado pelos trabalhadores enquanto ceifavam, animando-se debaixo do escaldante sol alentejano. É o canto dos trabalhadores que se animam e descobrem que é na união que está a sua força. É o canto de quem foi explorado, de quem teve a coragem de gritar “A Terra é de quem a Trabalha”.
Hoje, passados décadas da Reforma Agrária, e do PREC ser tantas vezes desmentido e outras tantas demonizado, depois da devolução dos latifúndios aos seus originais proprietários, e depois do processo de desruralização do país por via do natural progresso tecnológico, o Alentejo é diferente daquele que é cantado nas canções. Hoje existem terras abandonas e um claro desinvestimento na agricultura que obrigou muitos alentejanos ao êxodo. Os trabalhadores agrícolas que laboram nos belos campos alentejanos são cada vez mais estrangeiros que aceitem salários baixos e condições de trabalho algumas tão precárias como há 60 anos, como por exemplo trabalhar à jorna. Não é possível negar: perderam-se algumas batalhas e esperam-se dias melhores. Urge entretanto conservar a cultura destas gentes, que encontra neste canto a ligação entre si e entre cada um deles e as suas origens.
Que a esperança, a capacidade de resistência e a coragem do Alentejo saiam hoje revigoradas e inspirem o mundo. Porque hoje o Cante Alentejano deixou de ser de Portugal e passou a ser da Humanidade.
Posted on Novembro 27, 2014, in Ideias para o País. Bookmark the permalink. 1 Comentário.
Já com 32 anos de vida comemorei Abril e com a experiência VIVIDA de uma tentativa de me imporem uma nova ditadura, comemorei Novembro! Que a honra prestada ao Cante Alentejano (que alegra todos os alentejanos e não apenas alguns!) não sirva para glorificar um regime que provou não “ser o Sol na Terra”. Combata-se com todas as forças a porca ditadura das finanças a que estamos a ser sujeitos, mas não me proponham, de novo, mais “iluminados” que dizem falar sempre em nome do povo.