Verde Brutus

Boost green taxes for economic growth, says EUA fiscalidade verde chega-nos agora vendida como um instrumento benéfico essencial ao fomentar da mudança de hábitos e comportamentos para que dêmos o passo em frente rumo a uma sociedade mais sustentável e eco-responsável.

Não discuto que teoricamente seja um instrumento válido e justo, no entanto, a forma como este tipo de medidas são tomadas, tendo em conta o histórico da aplicação destas taxas ‘transformadoras’ no passado, só vem realçar dois pontos que acho particularmente interessantes.

O primeiro é forma pautada e predatória como sucessivos governos caçam tostões nos bolsos dos seus cidadãos. Por exemplo, durante décadas foi criada uma horda de fumadores, dando mais relevância aos benefícios de empregos e receita gerada do que a estudos clínicos sobre perigos do tabagismo. Até que um dia, ao aproximar-se o ponto da curva em que as despesas derivadas de doenças tabágicas seriam maiores do que a receita de consumo, foi necessária a aplicação de taxas sucessivas sobre o tabaco, incutindo a diminuição do consumo de forma equilibrada que permitisse o manter de níveis de receita interessantes. Recentemente permitiu-se surgir no mercado os chamados cigarros electrónicos que começaram a ser adotados como alternativa barata e hipoteticamente menos perigosa para a saúde. Agora é-lhes aplicada uma taxa simpática que talvez sirva para alertar os consumidores de que não serão assim tão seguros?

O segundo ponto interessante é a mentalidade vingente, de defesa cega e vigorosa de vícios e hábitos pessoais versus abertura para a adequada informação e ponderação sobre o que implicam para si, para os que se encontram em seu redor e para o meio ambiente. Por exemplo os fumadores conquistavam os espaços públicos desconsiderando quem se sentia incomodado porque afinal quem está mal muda-se. No entanto a aguerrida forma como se batiam nestas pequenas querelas sociais foi completamente desmantelada com aplicações legais de condicionamento de espaços de fumo e agravamento do custo do tabaco. Dois atentados à sua liberdade pessoal que, por serem lei, foram acatados sem distúrbios. Ironicamente a força da razão sobrepõe-se à razão da força pela aplicação da força bruta.

Temos tido sucessivos governos que não informam os cidadãos do real impacto dos seus hábitos de consumo, cidadãos que não procuram sabê-lo, ambos capazes de olhar de lado e vilipendiar os ‘maluquinhos’ que quebram esses hábitos porque se informam e não querem fazer parte do circuito nocivo instituído. Os próprios governos incutem e protegem alguns destes hábitos, exploram o seu filão, até ao momento em que decidem ter chegado o momento de mudar o status quo geral. Fazem-no não através de uma campanha informativa e pedagógica, inerentemente de médio a longo prazo, mas sim com a aplicação a curto prazo de medidas duras que visam penalizar os ‘ignorantes’ por si criados levando-os, em reacção, a adoptar os novos métodos e hábitos classificados como o novo circuito a seguir, o novo filão a explorar.

Com uma agravante que torna todas estas taxas uma grande farsa. O facto das receitas obtidas não serem totalmente aplicadas para exactamente criar condições que acelerem as transições necessárias. As receitas com impostos são enormes, sobre o tabaco tem andado na ordem dos 1 000 milhões de euros anuais, sobre os combustíveis tem sido na ordem dos 2 000 milhões de euros anuais (mesmo 3 000 M€ antes dos anos de crise). Onde foram aplicadas estas receitas? Se a sua coleta é relativamente estável só é demonstrativo que os níveis de consumo de produtos supostamente nocivos se mantém a um nível altíssimo e/ou que têm falhado hipotéticas medidas aceleradoras da mudança necessária. Se estas taxas são criadas com um objectivo específico as suas receitas deveriam ser canalizadas praticamente na sua totalidade para o atingir. Não ser desviadas como tapa buracos para outras zonas dos sucessivos orçamentos de estado.

Depois do tabaco temos agora os sacos de plástico, o abandono de combustíveis fósseis na transição para veículos eléctricos e em breve começarão a ocorrer medidas similares até nas opções de alimentação. Dizem que somos um povo de brandos costumes, talvez até seja verdade, pois em termos de condução das mudanças dos nossos hábitos e comportamentos só o fazemos quando nos taxam à bruta completamente indiferentes ao porquê e à escolha do momento. Aparentemente somos meros brutos consumidores que ficam vermelhos de raiva pela aplicação de impostos verdes.

De entre o nosso cascalho brotará a verde esperança do futuro que já deveria ser o nosso presente há décadas, assim o quisessem realmente os governos, assim se importassem realmente os portugueses.

Japan rolls out environment tax

About Nuno Faria

Nascido em 1977, informático por formação, vegano por convicção, permacultor por transformação. Desde cedo que observo e escuto atentamente, remoo pensamento até por fim verbalizar a minha opinião e entendimento, integrando o que faz sentido do que é argumentado por quem de mim discorda. Não sei como aconteceu mas quando dei por mim escrevia sobre temas polémicos, tentando encontrar e percorrer o tão difícil caminho do meio, procurando fomentar o pensamento crítico, o livre-arbítrio e a abertura de coração e consciência. Partilho o que ressoa procurando encorajar e propagar a transmissão de informação pertinente e valores construtivos e compassivos.

Posted on Novembro 10, 2014, in Ideias para o País. Bookmark the permalink. 1 Comentário.

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