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Inspiração
A Greta já chegou, velejou através do Atlântico e só por isso já merece a minha simpatia (bem, na verdade é inveja…). Dá o exemplo enquanto luta pelo planeta, é de louvar! Está contudo refém da causa, cativa da emergência ambiental. Não duvido das suas convicções, mas não ignoro que é um produto mediático. Fizeram dela o símbolo da revolta da geração que herdará as consequências dos desmandos e da ganância do bicho homem. Aparentemente, foi esta a missão que escolheu.
Desembarcou, ruma à cimeira. Está apenas de passagem, mas a expectativa gerada é gigantesca. Perspectiva-se uma grande cobertura jornalística, intensa e detalhada, mas não obstante o alvoroço, arrisca-se a ser a primeira criatura à face do planeta a quem será negada a selfie com Rebelo de Sousa. Marcelo, prudente, repudia qualquer dividendo político que possa advir deste filme. Os ídolos, caídos em desgraça, arrastam consigo todos que com eles partilharam a ribalta e o nosso perspicaz Presidente sabe disso.
A pequena Thunberg está e estará sob severo escrutínio, o mais pequeno erro, a mais pequena distracção facilmente deitarão por terra toda a imagem. Basta um simples papel para o chão, um bife com batatas fritas ou qualquer outro mundano deslize para que caia com estrondo do altar da moral onde a colocaram. A sua vida arrisca transformar-se num clássico, qual remake de “Inspiração”, o filme de 1931, protagonizado por Greta Garbo e Robert Montgomery, um melodrama que relata a vida de Yvonne, a mulher objecto que renuncia à felicidade por amor a André. Let’s look at the trailer…
Fenómenos Ambientais à Portuguesa
Que refrescante ver a nossa juventude a mobilizar-se para exigir que o governo faça mais pela prevenção/reversão das alterações climáticas.
Portugal está mesmo a precisar de alguma orientação neste sentido. Recentemente tivemos a novela da prospecção de petróleo finda por um movimento cívico. Um ministro vem a público preconizar o fim do diesel, o que parece ser uma boa notícia não fosse o facto de o futuro eléctrico necessitar de muuuuito lítio, que, por acaso do destino, é um mineral em que Portugal é riquíssimo! Claro que a mineração de lítio implica severa destruição ambiental mas alguém tem de pagar o preço ambiental para receber o melhor retorno económico e contribuir para um mundo mais verde, pelo menos até à era da mineração de asteróides ou outros astros.
Talvez nos pudessemos inspirar na China para a abertura de horizontes futuros. Com pragmatismo medidas assentes em estudos científicos impulsionam uma drástica mudança dos hábitos alimentares dos seus habitantes, para o seu bem e o do ambiente. Inclusive criam leis que penalizam a indústria agro-pecuária identificada como uma das principais causas de poluição.
E é aqui que vemos que o nosso Governo não dorme, mais uma vez analisando esta situação age aproveitando a oportunidade. Como? Simples, tornando-se uma enorme fábrica de produção de carne do mercado chinês. Serão mais de meio milhão de suínos a juntar-se às centenas de milhares de animais de outras espécie que se exportam anualmente. Passemos à frente do tema crueldade animal, do que passam esses animais portugueses nas viagens, do que os espera nos países de destino, o foco aqui é o tema ambiental e mais uma vez estamos disponíveis para emitir o CO2 que os outros não querem ou não podem emitir, esgotar os nossos recursos hídricos, desolar os nossos solos e poluir os nossos aquíferos para obter retorno capitalista ou crescimento de dois dígitos na exportação. Somos tão prestáveis que até assobiamos para o lado enquanto esvaziam a nossa biodiversidade desde que para um bom parceiro económico, para corte nos custos de produção agrícola ou para deleite gastronómico local.
Estes temas infelizmente não se estudam, não estão nos cardápios da nossa restauração, é preciso escavar, dedicar-lhe algum tempo para perceber que além das demandas aos organismos governamentais também existem transformações do foro pessoal que podem acelerar todo o processo de melhoria ambiental pois a chave de tudo é o consumo, quiçá, nos dias de hoje, com um poder de transformação global ainda maior do que o do voto.
Aguardo com serenidade a vossa força e sapiência jovens, que não seja mais uma trend, hype, flashmob, para preencher umas insta-stories à maneira porque Portugal, a Terra, precisam de uma mudança consistente e não apenas de mais um dia viral que o Governo e feed das redes sociais consigam rapidamente dissipar.
Sejamos o acelerador da mudança que exigimos aos governantes!
Um sucesso arrepiante
Ainda ardia Monchique conduzia eu rumo a Viseu, agulhado pelo Mondego, ladeado de encostas áridas de tons alaranjados onde sobejam altos finos troncos calcinados e rebentos de eucaliptos militarmente alinhados numa formação que denuncia a mão humana que os ampara.
Pelo segundo ano consecutivo as chamas devoram a densa monocultura florestal humanamente desgovernada. Entre elas habitações, lugarejos, animais selvagens e animais domésticos aprisionados não libertos por aqueles que são forçados a abandonar os seus lares pelas forças de segurança.
27 mil hectares de floresta ardida, zero vidas humanas perdidas, um sucesso dizem eles.
Os especialistas em biodiversidade, as forças de prevenção e combate a fogos, o povo local, todos clamam aos governantes por mudanças na ordenação florestal do território. Estes fingem ouvir, garantem que algo será feito para melhor, mas é notório ao longo de décadas que não são as questões ambientais, logísticas e sociais os principais influenciadores nesta matéria.
Pelo que tentarei descer ao seu nível, entrar no economiquês do tema, talvez me faça sentir mais confortado com a aparente inevitabilidade do advir destas calamidades. Ao que encontrei por aqui parece que o potencial de riqueza da floresta portuguesa é de cerca de mil e trezentos milhões de euros por ano, dos quais 41% (533 milhões de euros) será relativa à parcela relacionada com uso da madeira e seus derivados (muito eucalipto nesta fatia).
O prejuízo médio anual relacionado com incêndios é da ordem dos 360 milhões de euros, no entanto nos últimos dois anos temos Pedrogão com prejuízos avaliados em mais de 500 milhões de euros e agora Monchique que se estima ser um valor muito superior. Com a agravante de que a recuperação das áreas ardidas demora anos, nos quais não existe produção nem rentabilidade e de que não são contabilizados os custos indirectos no turismo local, com a fuga dos visitantes, e no tecido laboral, inerente à ausência prolongada forçada por parte de bombeiros e população afectada.
Adicionando a isto o custo social, ambiental e ecológico chegamos praticamente a um ganho zero na manutenção deste atentado à nossa biodiversidade, deste risco constante de incêndios incontroláveis que arrasam comunidades locais.
Em análise económica e financeira o que se faz quando nos deparamos com uma actividade pouco rentável com demasiado risco associado?
Talvez seja chegada a hora de arrepiar caminho florestal, voltando ao básico, reaprendendo a apreciar e rentabilizar o que é verdadeiramente nosso.
Das Auto…
Conduzi um automóvel pela primeira vez em 1983. Já lá vão mais de trinta anos, mas lembro-me como se fosse hoje. Recordo-me até do padrão do forro da almofada que o meu avô materno me colocava nas costas, pois de outra forma não chegava aos pedais. Com saudade e muita ternura aqui relato essas tardes bem passadas, num antigo campo de treino da Carris que então existia na margem direita do rio Tejo, precisamente onde hoje estão os pilares da ponte Vasco da Gama. Foi um segredo que guardamos a três durante largos meses. O terceiro cúmplice era um Carocha 1200, Branco-Frigorífico, 100% alemão, construído na fábrica de Wolfsburg em 1959. Ostentava o brasão da cidade que o viu nascer, símbolo que a par do logótipo do fabricante, faz parte do meu universo dos afectos. Era “muito” potente, 36 cv imagine-se! Suportou toda a minha falta de perícia. Dele era a única matrícula que até hoje memorizei: LC-57-47. À época não me preocupava por ai além com o ambiente. As preocupações ambientais de então estavam relacionadas com o civismo básico. Bastava colocar o lixo nos locais apropriados. Não se falava de aquecimento global e muito menos de pegada ecológica.
Este relato prévio explica porque motivo sou suspeito para comentar a questão da viciação dos testes de emissões poluentes por parte da Volkswagen. Sinto-me até tentado a desenvolver uma coerente teoria da conspiração, talvez envolvendo engenheiros de nacionalidade grega ou lusitana. Os primeiros são famosos pela tendência para a adulteração de números e os segundos pela tendência para a pieguice e para o ócio. Mas mais importante que identificar culpados, talvez seja mais útil compreender as dinâmicas. Uma boa teoria da conspiração deve abraçar um espectro mais amplo, ter uma maior profundidade de campo. Resumido, é sabotagem. Houve sabotagem, não dos resultados, mas sim do segredo que até então foi mantido sobre a viciação dos testes. Todos os fabricantes o fazem. Será uma questão de semanas até que tal seja um facto comprovado. Julgo que o ataque não é a um fabricante em concreto, mas sim a um combustível, o gasóleo. Talvez seja até um contra-ataque da gasolina.
O “meu” adorável Carocha, poluía e envenenava porque usava gasolina com chumbo (essa extraordinária invenção de Thomas Midgley que entre outras “coisas boas” inventou os CFCs). Muito embora os efeitos do envenenamento com chumbo sejam conhecidos desde (pelo menos) o inicio do século XX, a gasolina sem chumbo só foi banida da sofisticada Europa no ano 2000. O cosmopolita estado Português fê-lo no ano anterior, 1999. A maior economia do mundo, os Estados Unidos da América, baniu o uso da gasolina com chumbo em 1996, muito embora os primeiros alertas para o risco de plumbismo tenham ocorrido mais de setenta anos antes. Bem vistas as coisas, estamos a melhorar e muito. As denúncias que outrora demoravam décadas a surtir efeito, têm hoje impacto ao fim de apenas alguns meses. São os mercados a operar livremente, os reguladores a regular e os consumidores a consumir, tudo é esclarecido e ninguém é enganado…