Dune

Agora que a campanha começou, digamos, oficialmente, pareceu-me apropriado recordar o filme “Dune”.  Baseado no livro de ficção científica de Frank Patrick Herbert, “Dune” é um clássico do cinema do século passado, uma enorme salganhada de efeitos mais ou menos especiais, uma estória de predestinação misturada com audácia e ímpeto. Embora o enredo seja o de uma monarquia, a analogia com a nossa república é no mínimo pertinente. Há um imperador que afinal não manda nada, subjugado e temente a um poder maior – um bicho esquisito que vive num aquário de secção oblonga e que se faz acompanhar por gente tão ranhosa e repulsiva como incompreensível no seu dialecto materno. Os leitores que se recordam do filme compreenderão o que descrevo, aos outros bastará a descrição menos surreal e mais sucinta da organização que dá pelo nome de União Europeia. Ou seja, tudo gira em torno da Especiaria, essa maravilhosa substância que faz girar o Universo. É incrível a assertividade da narrativa deste grande clássico de 1984 com o sistema de criação monetária actual. A metáfora dos Vermes resulta em pleno.

Esta obra-prima do mestre do surrealismo, o realizador David Lynch, é sofisticada na forma, mas simplicíssima nos processos: Os bons trajam ao estilo prussiano, os maus têm borbulhas. Os títulos nobiliárquicos também ajudam: Do lado da virtude o Duque e o seu herdeiro, do lado da infâmia o Barão e seus sobrinhos, um deles famoso por em tempos entoar o poema policial intitulado “De Do Do Do, De Da Da Da”.

Resumido, os maus partem com o desejo de voltar, os bons chegam com o desejo de mudar. Entre os que vão e os que chegam, estão os nativos, os senhores da situação. Muito embora não pareçam, são eles e elas os verdadeiros protagonistas. Todos, mas todos sem excepção são independentes! Não se sabe muito bem de quê ou quem, mas parece ser esse o estatuto preferido. É o caso da governanta Maria de Ninguém Independente.

Se o leitor entretanto se perdeu, não se preocupe, a culpa não é sua… Lembre-se, é o surrealismo.

Shadout-Mapes

About Gonçalo Moura da Silva

... um homem ao Leme. "A minha alma é uma orquestra oculta; não sei que instrumentos tangem e rangem, cordas e harpas, timbales e tambores. Só me conheço como sinfonia. "

Posted on Janeiro 11, 2016, in Clássicos do Cinema and tagged , , , , , . Bookmark the permalink. Deixe um comentário.

Deixe uma Resposta

Preencha os seus detalhes abaixo ou clique num ícone para iniciar sessão:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Imagem do Twitter

Está a comentar usando a sua conta Twitter Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s

%d bloggers gostam disto: