Category Archives: Heróis da BD
Arte sequencial que conjuga texto com imagens, narrando histórias de múltiplos géneros e estilos.
Ucrânia – sinais dos tempos
Este não é um post fácil de digerir. Tem o objectivo consciente de provocar, oferecendo uma perspectiva de choque, na esperança de despertar pensamento crítico sobre tudo o que nos é comunicado. Desanima-me muitas vezes ver pessoas com o sentimento adequado, compaixão para com as vítimas, mas o entendimento completamente adulterado, ódio incondicional para com a Rússia, como se o mundo Ocidental não tivesse grandes responsabilidades no que está a acontecer neste e noutros temas.
Em caso de indignação ou altercação por favor saltar para última secção.
Enquadramento Histórico
É comum ouvir ao vivo, ou ler em posts contemporâneos, palavras de sentida e completa diabolização da Rússia, colando uma civilização milenar ao seu actual líder, ou aos horrores presentes nos seus últimos 100 anos de história (algo similar ao que também acontece com a China).
Antes de reagir, tomar posições firmes e verbalizar palavras sentidas, seria um bom exercício que cada um(a) aproveitasse este momento para explorar o passado, antigo e recente, procurando adquirir uma percepção informada daquilo que dele se reflecte hoje neste presente, que não deixa de ser um certo deja vu do acontecido com a Crimeia do ponto de vista estratégico e geo-político.
Depois desse trabalho de casa verifica-se facilmente que mais uma vez os media ocidentais gostam de cozinhar uma narrativa, com omissões grosseiras, que induza uma tendência forte de entendimento e sentimento generalizado.
Sinais Preocupantes
Durante a juventude intelectual é normal que tenhamos uma certa soberba, de olharmos para os problemas do mundo detectando de caras as decisões idiotas que conduzem a conflitos ou catástrofes de várias naturezas, de acharmos que os representantes e decisores de altas instâncias são profundamente incompetentes. Mais tarde, com a continuidade e instalação de humildade, percebemos que o desenrolar dos acontecimentos é desenhado e conduzido de forma magistral, com muita minúcia, formatando a opinião pública para a aceitação, advocacia e apoio das linhas gerais de acção/reacção desejadas. Deixo aqui alguns pontos à (re)consideração.
A batalha pela mente acentua-se, sendo designada de guerra de (des)informação. Não me levem a mal mas é óbvio que ambos os lados manipulam os acontecimentos para tentar conquistar a opinião pública. É essencial ter acesso a ambos para identificar discrepâncias que merecem ser investigadas para perceber onde está a verdade. A aceitação da censura do acesso à informação emitida pelo “inimigo” é mais preocupante e perigosa do que os perigos de ter contacto com propaganda grosseira. Estão basicamente a dizer-nos “não se preocupem, as entidades competentes farão a filtragem dos conteúdos informativos sobre este conflito, confiem absolutamente em nós que somos os guardiões da verdade e da justiça”. Um exemplo é a acusação trocada de combate a fascismo e nazismo. De caras a Rússia é ensacada nesse estereótipo mas depois percebemos que existe algo na Ucrânia chamado Batalhão Azov com alta influência em temas de defesa e militares, ficando então mais complicado de definir a quem aplicar o esterótipo de forma exclusiva. Deixo alguns canais Telegram onde ainda é permitido cruzamento com informação diferenciada, que também deve ser consumida e filtrada com cautela: Coach Red Pill, Storm Clouds Gathering, O Informante.
A promoção da guerra vs a promoção da defesa. Temos países europeus a oferecer armamento a uma das partes de um conflito armado às portas da União Europeia, a unir-se num isolamento económico-digital nunca visto à Rússia e aliados, a lamentar que uma das partes não seja já membro da UE e/ou NATO tentando congeminar formas de o conseguir concretizar de forma benemérita para assim legitimar políticamente uma intervenção no terreno (que basicamente seria o oficializar da 3ª Guerra Mundial envolvendo potências nucleares de ambos os lados). Tudo isto tem consequências gravíssimas e impacto mundial a todos os níveis, sendo claro que depois de criado um ambiente de repulsa para com um dos lados se apelou a que uma guerra “moral” contra o agressor terá custos elevados que a população tem de estar preparada para suportar. Estaremos mesmo cientes e preparad@s para todas as possíveis consequências, inclusive de um envolvimento directo?
A construção do grande herói. Zelensky está a ser retratado como homem dos tomates de ferro, o verdadeiro líder patriota, a encarnação da coragem e despertador de libido na sua legião de nov@s admiradores. Zelenksy é um político, isso só de si já diz muito. Imaginemos um líder altamente competente, com capacidade de análise estratégica geo-política, conhecedor de acordos históricos recentes e do impacto das suas decisões no saudável equílibrio das relações com nações vizinhas. Terá decidido consumar uma aproximação à UE e NATO, certamente tendo conversas de altas instâncias onde lhe terá sido garantido apoio (in)condicional. Empoderado por esse apoio ousa desconsiderar sérios avisos de uma nação vizinha historicamente poderosa, influente, quiçá mesmo ameçadora, esquecendo o recentemente ocorrido no episódio Crimeia. Um conjunto de palavras e actos geram uma avalanche de acção/reacção que resultam em invasão militar e isolamento no terreno, pois afinal as suas costas não estariam tão quentes como pensaria. Apressa-se a fazer apelos de ajuda, a chamar de fracos e brandos à UE e NATO que, segundo ele, se acobardam vergonhosamente perante o abraço do urso, recusando-se a pronta intervenção militar moralmente defensável. Ao mesmo tempo proíbe os homens dos 18 aos 60 de sair do país, iniciando um armamento massivo indiscriminado de civis que instiga a combater por todos os meios possíveis. Colocando de parte a aprumada gestão de imagem, o eficiente marketing digital, os monólogos bravos, emotivos e eloquentes, se nos focarmos antes na sua agenda de acção/reacção, é claro que instiga o iniciar e escalar do conflito a nível mundial, criando as condições para uma ainda maior catástrofe de perda de vidas humanas ao promover que civis confrontem forças militares profissionais. A situação não é fácil, claramente é desesperante para quem está no terreno, mas parece-me faltar algum discernimento em todo o processo, juntado-se à equação de que se a Rússia quisesse poderia ter arrasado completamente o país numa semana ao invés de fazer ataques e capturas cirurgícas. Ao contrário do reportado, as forças Russas não estão a ser incompententes ou altamence rechaçadas por heroismo Ucraniano, é provável que simplesmente estarão a exercer uma estratégia de ocupação com progressão lenta, cercos controlados e tentativa de diminuição de baixas de civis, pois é fulcral não aumentar ódio inflingindo baixas desnecessárias (sobretudo se a ocupação for o objectivo). Do meu ponto de vista, um herói não instiga o escalar do conflito, nem “obriga” a sua população a permanecer no terreno para defesa incondicional do seu país. Um herói moderno tem de ter a capacidade de retrair, renegociar, fazer o que é necessário para minimizar perdas ao enfrentar um agressor que é praticamente imparável do ponto de vista militar sem ajuda externa. Poderia ter tido a inteligência de o fazer muito antes do conflito estalar, mesmo que isso atrasasse as suas pretensões de aproximação ao Ocidente. Seja como fôr, temos um herói em ascensão, uma nova referência ocidental do líder ideal em momentos de crise, engrandecido como o grande influencer do momento. (por onde andará Ghandi e a sua inspiração?)
Solidariedade para com vítimas de guerra
Independentemente de tudo que foi escrito acima, de onde está o ónus da culpa, há algo que é inquestionável: o sofrimento humano atroz provocado a vítimas directas ou indirectas de qualquer acto militar. Desde os civis aos próprios soldados que muitas vezes são programados ou forçados a obedecer/reagir sem reflectir sobre os seus actos e pensamentos. De ambos os lados.
Neste momento é a Ucrânia que infelizmente se junta aos vários conflitos activos no mundo, sendo de louvar o genuíno sentimento de compaixão e movimento de auxílio, quase instantâneos, para com esse povo repentina e inesperadamente tão necessitado às portas da UE.
Para quem queira e não conheça aqui ficam dois links para chegar a plataformas que servem de ferramenta para exercício de vários tipos de auxílio.
- 5 Instituições destacadas pelo Expresso
- We Help Ukraine – uma plataforma de gênese Portuguesa que liga de forma directa quem quer ajudar a quem precisa
Onde está o Kim Jong Un?
Em tempos de pandemia, os noticiários são monotemáticos, qual festival gastronómico, o bicho é servido numa variedade tal que pouco espaço sobra para qualquer outro tema. Covid assim, covid assado, grelhado, cozido, mas sempre covid, de início a fim. Uma singela excepção, o off-topic do momento chega-nos curiosamente do único país do mundo sem casos de infecção pelo “novo corona vírus”. Sem relato de pelo menos um doente, a Coreia do Norte ficava fora do alinhamento, não era ponto de passagem na “volta ao mundo em covid” diariamente transmitida, ad nauseam.
Ora, o súbito sumiço do grande líder norte-coreano tem de facto todos os elementos para se tornar no boato perfeito, a questão sem resposta que tanta falta nos fazia. A aritmética de um boato é bem simples, é um produto, uma multiplicação entre o interesse e a ambiguidade. Basta que um seja zero, para que o boato se anule, é o chamado elemento absorvente.
No caso, perante o omnipresente covid, qualquer variação em tema, por mais irrelevante que possa ser, desperta naturalmente curiosidade. Logo, o primeiro factor verifica-se, nunca é zero, há interesse. Quanto à ambiguidade, é perfeita! Afinal não existe nenhuma forma de verificação da informação face ao total isolamento da Coreia do Norte. Junte-se umas fotografias de satélite-espião ao comboio ultra-secreto da família do querido líder norte-coreano e temos os ingredientes perfeitos para perpetuar a pergunta, até porque depois de devidamente enquadrada a questão tem como única resposta possível a especulação e a renovação da inquietação. Onde?
Looney Tunes
Costumavam ser duas épocas bem distintas, demarcadas por fronteiras muito nítidas, mas distinguir a Silly Season da Rentrée Politica é cada vez mais difícil. A tradição já não é o que era. Vulgarizámos o disparate ou baixámos a exigência? Estou inclinado para a segunda: Depois das viagens para assistir a jogos de futebol (oferecidas por quem não devia a quem não as podia aceitar), depois de revelado o acesso da Administração Tributária a algumas contas bancárias e após as inovadoras alterações ao Imposto Municipal sobre Imóveis, julgámos esgotado o estado de graça do actual executivo, mas não, o indulto parece garantido. Porque será? Será magia? Qual o segredo?
Nem magia nem segredo, simplesmente não existe qualquer oposição, apenas pretendentes, bonecos que a cada instante vaticinam a desgraça colectiva. Ignoram, coitados, que os seus planos de emboscada estão para a realidade como a pretensão do Coiote apanhar o Bip-Bip está para a fantasia. Por mais infalível a armadilha, o resultado é sempre o mesmo, isto é, nenhum. Seria até divertido se não fosse tão trágico. Nada pior do que não existir alternativa.
Retemperadas as mentes e reconfortados os espíritos, as personagens desta série de aventuras estão aptas a novas estórias de tragédia e gargalhada, humor negro do melhor que o mundo conheceu. Os protagonistas dos Looney Tunes lusitanos, a saber, António Sylvester Costa, Jerónimo Daffy Sousa, Margarida Tweety Martins, Pedro Bugs Coelho e Assunção Lola Cristas, aguardam, a partir de amanhã, a chegada do seu companheiro de aventuras, o Diabo da Tasmânia.
Pensar além do Pikachu
Há poucos dias defrontei-me com o fenómeno do momento: de repente, pessoas na casa dos 30, a jogarem no telemóvel aquilo que depois vim a saber que era o jogo dos Pokemons. Assisto a conversas para lá da minha capacidade de compreensão: portais, andar de carro a caçar pokemons, não ter mais dinheiro para andar por aí, “ir lá jogar é caro!”, o gajo perdeu aquela zona, ele ganhou aquela zona toda, acabou com o jogo na região… não sei se era tudo acerca do pokemons ou não, mas era sobre uma realidade num mundo virtual. Alertaram-me que estes jogos são bons porque obrigam as pessoas a mexerem-se, a saírem de casa… para jogar, e a ir a sítios para…jogar!
Quando andava na faculdade sabia de colegas meus que jogavam horas e horas no computador, faltavam às aulas, estoiraram playstations por excesso de uso etc… Não quero impôr o meu ponto de vista a ninguém, mas naqueles tempos li livros que me abriram uma visão do mundo, que moldaram as minhas escolhas futuras, que faziam o contrapeso com aquilo que estudava. Li romances que ainda hoje recordo com saudade, li poemas que ainda hoje sei de cor, apaixonei-me pelo Carlos da Maia, vibrei com o Primo Basílio, sorri com a imensa beleza do Adriano, chorei Por Quem os Sinos Dobram e enfureci-me com as Vinhas feitas de Ira mas tive Esperança com a Dignidade Humana.
Não quero impôr a minha visão a ninguém, e não sou pelo utilitarismo de todas as opções. Não existe nada mais delicioso do que poder fazer algo simplesmente porque gostamos, sem utilidade futura, apenas para nosso imenso prazer de gastarmos um tudo em troca de nada simplesmente porque sim e sermos felizes com isso.
Mas não posso deixar de olhar à minha volta e de, dadas as devidas distâncias em termos de preferências entre mim e as outras pessoas, me questionar sobre as imensas formas de alienação social existentes. Programas da manhã e da tarde, onde se discutem assassinatos e violência doméstica em famílias completamente disfuncionais, onde se falam de casos concretos de pessoas que dizem “não quererem trabalhar”, onde se questiona uma bruxa na televisão sobre problemas pessoais, traições do marido ou o futuro de um filho doente. E onde aparece um psicólogo a atacar “ciganos”, num dia banal de degradação televisiva e não muito diferente do habitual, e de repente todos se indignam! Apenas aparece a indignação nesta e noutra situação especifica. As pessoas indignam-se com o ataque aos ciganos mas não se indignaram quando bairros inteiros de ciganos foram destruídos para que os mesmos ciganos fossem metidos em prédios nos quais não queriam viver! Por alguns dias, a caça aos Pokemons teve competição em Portugal com a caça ao psicólogo que ataca ciganos.
A indignação ditada pelas redes sociais é também um meio de promoção do jogo do caça pokemons… de repente a sociedade está infantilizada pela caça de pokemons. A revolução tecnológica que tem incontornáveis vantagens e que revolucionou a nossa vida, trouxe também veículos não só de partilha de informação e distracções conseguidas de forma muitas vezes imediata, sem dificuldades, evasivas e viciantes porque fáceis e envolventes. A dedicação de várias horas diárias a uma realidade virtual é uma forma de alienação social, que desformata o processo de socialização e afasta o individuo da sua realidade e do que o envolve. Obviamente que o processo não é exterminador como os profetas da desgraça proclamam, e encaixa na perfeição na sociedade que construímos actualmente.
Pretendem-se raciocínios curtos e imediatos orientados para o resultado mais eficiente no curto prazo e que encaixa na ideia de encurtamento do tempo e na obtenção da eficiência. Não se pretendem analises muito profundas, daí as noticias serem curtas e rápidas sem grande enquadramento e estrategicamente colocadas para servirem um objectivo: informar e construir uma opinião pública que não ponha em causa a ordem vigente. Promoção de evasões sociais consumíveis facilmente: um programa de televisão onde se apresenta a opinião de terceiros, um reality show aludindo à intimidade humana no grande ecrã, um jogo no computador ou até no telemóvel, com aplicações de fácil acesso com objectivos mais ou menos acessíveis de progressão no jogo e por isso atractivo e viciante. As aplicações que envolvem jogos e internet tem ainda outros perigos, nomeadamente a aceitação de termos onde se cedem dados e informações pessoais a empresas privadas sem que haja um controlo sobre o que é feito com tais informações e sem que haja uma legislação eficiente acerca disso.
Grande parte do que nos é hoje oferecido gratuitamente e de fácil acesso não o é tão gratuitamente e de uma forma ou de outra, mais tarde ou mais cedo, saberemos a conta. A tecnologia está popularizada mas apenas parcialmente socializada. Os meios e os fins da tecnologia, os produtos finais consumidos e vendidos ainda não servem a maioria da população na medida em que quem os controla tem interesses bem diferentes de quem os consome. A distracção de um simples e mero jogo inofensivo que ganha milhões de fãs deve levar-nos a pensar além do Pikachu.
Yabba-Dabba-Do
Os pré-históricos Flintstones foram hoje à periferia da capital lusitana, mais concretamente à cidade da Amadora, inaugurar a nova estação de metropolitano da Reboleira. Vieram no seu automóvel, a conhecida Geringonça de tracção pedonal pelos ocupantes, veículo ecoeficiente e 100% reciclável. Salvem o planeta, reciclem! Nunca é cedo demais para mudar o que está mal, o que está errado. Culturalmente estamos conversados, o desporto vai pelo mesmo caminho e na defesa a coisa está negra, mas adiante que nem Willian Hanna nem Joseph Barbera tiveram imaginação que chegue para isto. Ninguém ousaria a tanto em tão pouco tempo. Avancemos que a agenda está cheia.
O evento correu bem, os convidados compareceram, os protagonistas também. Houve discursos e bons concelhos, animação em geral e muita alegria em particular. Como se quer. Todos os bancos eram bons, excepto para quem viajou de pé. Ora, foi disto que nos falou Fred. Avisou. Eis chegado o momento de mudar, de transformar principescos hábitos em altruístas virtudes. Mais do que não abastecer em Espanha, mais do que não poluir, é saúde. Isso! Fred a Pé anunciou a imediata extinção dos nefastos automóveis das cidades nacionais.
Andar a pé faz bem, eu cá pratico e gosto, mas será que todos podem? Quantos moram perto do trabalho? Não muitos, não é verdade? Esta ideia de a todos enfiar no Metro é coisa de quem nele não passeia há muito. Com a euforia do dia confundiu a abertura de mais uma estação com uma verdadeira rede de transportes públicos, que na realidade não temos.
Noddy, Mário Noddy
O prometido é devido, mesmo que a contragosto, eis-me a cumprir com a palavra dada. Hoje sim, é dia do herói principal destas aventuras. Mais tarde voltaremos às outras personagens. São tantas, tão ricas e diversificadas que a tarefa não se avizinha fácil, mas fica a promessa. Vamos ao que interessa, à ordem do dia.
Reuniu ontem o conselho de estado, em virtude de o cargo de Presidente da República ter sido novamente preenchido após longo hiato de uma década. Estamos portanto na chamada fase do “estado de graça”, consequência do alto patrocínio do factor novidade. Tanta é a ternura nesta nova era dos afectos que os conselheiros foram brindados com um convidado especial. Já se sabe que recebemos bem, que os convivas apreciam o clima e a gastronomia, mas nunca a satisfação do turista foi para nós tão importante.
Abram alas para o Mário! Viva! Chegou e disse, falou e foi-se. Reformar é a ordem. Reformar sem reverter, porque as reformas foram todas óptimas. O crescimento económico bate à porta, em linha com a Europa. Olha que bom! Importante por cá, no país dos brinquedos, são os juros da dívida soberana. Soberana? Confesso que não consigo escrever isto sem me rir. Soberana. Trágico, não é? Como podemos sequer usar a palavra quando é o Noddy que tudo faz? É ele, não os mercados, nem as reformas, que faz baixar os juros, logo, é ele, o Noddy quem manda. Gostamos? Não, mesmo nada, mas também de nada nos serve fingir.
Incrível Hulk
Fruto da criatividade da dupla Stan Lee e Jack Kirby, a personagem de hoje destaca-se das demais criações dos mesmos autores pela fonte da inspiração, algo inédito e totalmente inovador: uma poderosa e explosiva mistura de dois livros, os famosos “Frankenstein” e “O Estranho Caso de Dr. Jekyll e Sr. Hyde”, da autoria de Mary Wollstonecraft Shelley e Robert Louis Stevenson respectivamente.
Esteve para ser cinzento, mas ditou o acaso que fosse verde, numa tonalidade imprevista pelos seus criadores mas que se impôs até hoje. Começou por ser noctívago, transformando-se apenas a coberto da noite, qual lobisomem ou transformista. Não tem penas, nem voa, mas quis o destino que abandonasse esta faceta mais recatada, dando asas ao seu lado selvagem, libertando-o para um quotidiano sem restrições ao mau feitio, revelando-se a qualquer hora do dia ou da noite. Eis como um pacato e tranquilo João Soares se transforma num temível e terrível monstro quando se irrita. Vira bicho! É esta a descrição mais sucinta deste herói da banda desenhada, ele próprio um clássico do cinema, o incrível Hulk, a outra faceta, consequência da exposição a raios gama na moleirinha, redes sociais à mistura e pronto, é quanto baste para que o super-herói da Marvel ameace os seus críticos.
Tanto que poderíamos dizer, tão pouco tempo (e espaço!) para o fazer, de filho pródigo a sobrevivente a desastre aéreo, de autarca a comentador, hoje ministro, um trajecto e pêras. Há quem diga diamantes, mas cuidado, não vá o matulão se enervar….
Sempre-em-pé
Aconteceu ontem, no País dos Brinquedos, a reeleição quase unânime. Sem Sonso ou Mafarrico a baralhar as contas, o processo foi claro, inócuo, mas simples. É assim que os brinquedos gostam. Abram Alas! A seu tempo trataremos do Noddy, o ingénuo mas muito leal e justo protagonista destas aventuras, mas para já vou adiar. Compreendam, tenho um trauma musical. Há temas assim, marcam pela violência como invadiram os nossos lares.
Como pai, sei que não estou só nesta minha profunda aversão à banda sonora, comum a muitos cuja prole ronda hoje os 15/16 anos de idade. Reconheço, é uma empatia impossível de explicar a quem não partilhou a vivência, por isso avanço para o herói do dia, o mestre dos não assuntos. Diz sempre o que não é, é o que não diz ser, e coerentemente fez sempre o contrário daquilo que prometera fazer. Refiro-me, obviamente ao Sr. Sempre-em-pé. Disse, e foi peremptório, não ser um sempre-em-pé, ou seja, é. Julgo ser esta a regra de desencriptação das suas mensagens. Como sempre, é à excepção que compete confirmar a regra.
Neste caso a excepção manifestou-se na incompreendida declaração da passada sexta-feira. Foi sincero, partilhou o seu entendimento sobre a ética aplicável aos ex-governantes. Disse que não podem ser uma “espécie de eunucos”. A forma mais simples de explicar esta frase obrigar-me-ia a recorrer ao vernáculo, o que recuso, por isso opto por uma explicação menos instantânea: O Sr. Sempre-em-pé entende que depois de mandatado para a prática do coito continuado, deve a população aceitar que o ex-governante mantenha intacto o privilégio de cópula após ter cessado funções.
O símbolo desse privilégio é o pin na lapela…
Wonder Woman
Wonder woman, entre nós Mulher-Maravilha, é a heroína de hoje. Dotada de super saberes e invulgar agilidade argumentativa, possui um poderoso arsenal. A saber, são três as suas principais armas: O Laço Mágico de Afrodite, que subjuga o capturado a obedecer cegamente; As Irrevogáveis Braceletes, que absorvem o impacto de qualquer ataque; e a sua Tiara, a arma de arremesso de eleição. A Mulher-Maravilha é uma guerreira temida. Os adversários não perdem uma oportunidade para a atacar. O aproveitamento politico é recorrente, mas ela responde sempre, ponto por ponto. Explica bem explicadinho, no seu jeito sintético e definitivo que não há incompatibilidades porque a função é não executiva. Sejamos claros, “não executivo” é um eufemismo para inimputabilidade. Que não restem duvidas! Bem, se as houver, a imunidade parlamentar lá estará para garantir o futuro. Se fosse um cargo executivo, ainda vá, mas assim, com o prefixo “não” extinguem-se quaisquer possibilidades de incompatibilidade. É legal! Será Legitimo?
Sabem que mais, é tudo inveja, difamação infundada e torpe. Pois se até o novo patrão afirma que ela tem enorme experiência em cargos públicos, qual é o problema? Não é óbvio que apenas vai aconselhar? Começa na próxima segunda-feira. Por vezes fico chocado com a precipitação do juízo dos meus compatriotas. Senão vejamos. Poucos entre nós são tão sapientes em matéria de dívida como ela, seja a encher os cofres, seja a fazer contratos de permuta, vulgo swap.
Já alguém pensou que vai entrar divisa estrangeira? Será paga em Libras para aportar valor, não para trabalhar! Digam-me, não é este o sonho lusitano?
Pateta de Natal
A personagem de hoje é um dos mais notáveis membros do Olimpo da Banda Desenhada, uma das criações originais de Walt Disney e Frank Webb. Tal como a sua antecessora, é do género canino. O antropomorfismo é comum no cargo. Alto, magro, bem-disposto, engraçado e desengonçado, assim é o nosso herói. Tem na risada um hábito persistente, uma forma de estar, independentemente do contexto ou da circunstância. Esta capacidade de em tudo encontrar graça é complacência a que nem todos reconhecem a virtude. É pena, mas geralmente o eleitor apenas é benévolo com os sisudos.
Com bondade nos falou de esperança, de mudança, do virar da página. Virou ontem, constatou a necessidade da implementação de medidas adicionais que permitam a saída de Portugal do procedimento por défices excessivos. Chocados? Nem por isso. Todos sabíamos que o livro é antigo, a história é a de sempre: um austero e natalício conto sobre a amizade, o amor e a ternura. Democracia, pois claro, mas se e só se o crivo for o mesmo, sejam quais forem as vicissitudes ou contingências do quotidiano. Cumpra-se a meta por uma vez. A ser, será a primeira, uma novidade. Aleluia!
As prendas, comprou-as o Pai Natal, a antecessora embrulhou-as. Por isso tanto se têm rido as renas e restante séquito. Compete agora ao Pateta entregá-las. São três, mas só depois de aberto o embrulho saberemos o que são. Que entusiasmo, que excitação, nunca mais é meia-noite…