Silly Reason
Meus amigos, temo que a perdida tradição da “silly season” venha progressivamente a ser substituída por uma nova época, a da “silly reason”.
Cada vez mais os acontecimentos sucedem-se sem tréguas, talvez desregulados pela indefinição climática que desconstrói a outrora estável e acolhedora estação do Verão. Inesperadamente, na preparação ou mesmo em plenas férias, há situações graves a acontecer a todo o momento, a concentrar atenções do público, a exigir prontas reacções de governo, entidades e oposição. E quem paga por isto? A razão. A pressa de justificar, relativizar, retirar do radar mediático, leva ao atropelo da razão absoluta por manadas de razões desorientadas, vindas dos atalhos por onde deambulam fragmentadas, espantadas por precários caçadores de meias-verdades.
Também eu gostaria muito de encontrar A razão de cada acontecimento. Para contribuir na sua busca deixo algumas questões pisteiras. Haja faro e bom-senso!
O que tem maior validade? Uma análise demorada, científica, detalhada, do alto volume de informação recolhida, ou uma conclusão de uma investigação policial apressada, sob pressão mediática, ainda durante o decorrer do acontecimento? Poderia a segunda conclusão ser garantida sem a prévia consideração da primeira?
O que surgiu primeiro? A necessidade de guardar armamento ou a tecnologia dos sistemas de vídeo-vigilância?
Uma esquerda que consente cativações, sem exigir o seu detalhe, pode agora descartar-se de responsabilidades? Quando se assina um acordo vinculativo não é costume a definição detalhada de limites e condições a fim de evitar passar cheques em branco?
Numa época em que se batem todos os recordes (menor défice, maior tributação fiscal per capita, maior volume de cativações orçamentais) será desta que veremos uma descida acentuada da dívida pública?
Apesar da reversão de cortes salariais directos, o bater do recorde da colecta fiscal será indicação de que estaremos realmente a ser alvo de uma austeridade encapotada? Tal como afirma o maior especialista nacional do tema? Se quem quis ir além da Troika agora reclama que este governo corta em demasia quererá isto dizer que já estamos além do além da Troika?
Quando motivos éticos não justificam demissões na hora de ministros e secretários de estado, que depois obtém essa justificação tardia por via judicial, será chegado o momento de redefinição da ética em si? Ou bastaria acelerar a justiça?
Por ventura foram alargados os deveres do Presidente da República obrigando-o a ser o relações públicas do governo em funções? Deverá neste mandato ser ele a principal face de todos os acontecimentos? Cabe-lhe agora fazer as primeiras, as intermédias, as últimas declarações? Sempre apaziguadoras ao estilo “Não passa nada”, “Está tudo sob controlo”, “Vamos apurar responsabilidades e melhorar”?
O estranho é que algumas destas questões parecem responder-se a elas próprias, não deixando de ser curioso existirem tantas confusões para chegar à razão evidente. Estaremos a ser governados por tolos que se deixam enganar por razões tontas? Ou por sábios que nos tomam por tolos?
Posted on Julho 11, 2017, in Escárnio e mal-dizer and tagged Politica, Presidência, Tonterias. Bookmark the permalink. Deixe um comentário.
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