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Procuro um Álibi
O Revivalismo está na moda. O Kitsch é o novo Clássico e hoje todos clássicos são Pop. São ciclos, ora virtuosos, ora viciosos. Recordo hoje essa grande artista portuguesa, esse vulto da lusitanidade que é Manuela Passos Guedes. Vinda da terra das matrafonas chegou à ribalta como locutora de continuidade na televisão, mas também foi radialista, jornalista, deputada e até comentadora. Multifacetada, cedo revelou talento para cantar. Foi em 1979 que lançou o seu primeiro disco, o single – “Conversa Fiada”. Premonitório, ou não, a sua carreira musical não ficou por aqui. Teve o seu zénite poucos anos mais tarde, em 1982, com o álbum – “Álibi”. Uma obra-prima em doze temas, um LP que fica para a história. Quem poderá esquecer cantigas como “A Hora do Lobo” e “Prova Oral”, ou a mais imortal de todas as odes – “Foram Cardos, Foram Prosas”?
Mas é outra a canção que hoje interpreta com mais sentimento, com mais emoção – “Procuro um Álibi”. É essa a aposta. Senhora de uma rara extensão vocal, de soprano a baixo, a artista prepara a próxima digressão com empenho e amor: Após meses de esperança e boas noticias, os indicadores económicos vão murchar. Será o “Equinócio De Outono”. A culpa, claro está, não será do executivo anterior, será isso sim, de quem o novo não viabilizar. É este o isco, o Álibi perfeito, a “Flor Sonhada”, porque “Fortuna é…” uma nova e absoluta maioria. Descansem os fãs, a “Cruela” campanha vai continuar…
TTIP – Chega de Notícias!
Como consumidor televisivo compulsivo que sou, sobretudo durante dias de mau tempo, estou profundamente indignado. Julgo merecer melhor serviço informativo. Pelo menos mais diversificado, menos repetitivo. A guerra pelas audiências provoca muitas vezes a exaustão de temas. Os exemplos dos incêndios no Verão ou mais recentemente das migrações de refugiados, ilustram bem a causa da minha revolta. Digamos que cansa. Deixa de ser notícia para passar a ser castigo. Muitas vezes me questiono qual terá sido a travessura que fizemos para merecer tal punição. Pior é constatar a ineficácia deste tipo de correctivo. No caso dos incêndios florestais parece que merecemos a advertência ano após ano. Reincidimos, parece.
Não compreendo no entanto, que mal fizemos nós este ultimo fim-de-semana para merecer este massacre a propósito de uma arruada em Berlim: Telejornais, canais informativos, programas de opinião e comentário não falaram de outra coisa! Foi terrível! Sempre, constantemente, segundo a segundo, repetindo que cerca de um quarto de milhão de pessoas saiu à rua na capital da Alemanha para se manifestar contra o acordo transatlântico TTIP. Foi no Sabado. Diz quem se manifestou que algo está a ser feito nas nossas costas, que os dirigentes europeus não estão mandatados para fechar tal acordo.
Mas se nós por cá, bem comportados como sempre, nada temos a opor, por que motivo havemos de ser massacrados com isto? Não teremos nós direito a conhecer mais pormenores sobre a vida privada dos jogadores ou treinadores de futebol nacionais? E na falta de noticias sobre desporto, não existirão factos da nossa política doméstica ainda por noticiar? De tudo isto somos privados devido à monopolização do tempo informativo pela manifestação anti-TTIP. Uma vergonha.
Estamos perante mais um nítido caso de excesso informativo, pois com certeza que o tema é irrelevante… Chega, parem de dar a mesma noticia!
Das Auto…
Conduzi um automóvel pela primeira vez em 1983. Já lá vão mais de trinta anos, mas lembro-me como se fosse hoje. Recordo-me até do padrão do forro da almofada que o meu avô materno me colocava nas costas, pois de outra forma não chegava aos pedais. Com saudade e muita ternura aqui relato essas tardes bem passadas, num antigo campo de treino da Carris que então existia na margem direita do rio Tejo, precisamente onde hoje estão os pilares da ponte Vasco da Gama. Foi um segredo que guardamos a três durante largos meses. O terceiro cúmplice era um Carocha 1200, Branco-Frigorífico, 100% alemão, construído na fábrica de Wolfsburg em 1959. Ostentava o brasão da cidade que o viu nascer, símbolo que a par do logótipo do fabricante, faz parte do meu universo dos afectos. Era “muito” potente, 36 cv imagine-se! Suportou toda a minha falta de perícia. Dele era a única matrícula que até hoje memorizei: LC-57-47. À época não me preocupava por ai além com o ambiente. As preocupações ambientais de então estavam relacionadas com o civismo básico. Bastava colocar o lixo nos locais apropriados. Não se falava de aquecimento global e muito menos de pegada ecológica.

Este relato prévio explica porque motivo sou suspeito para comentar a questão da viciação dos testes de emissões poluentes por parte da Volkswagen. Sinto-me até tentado a desenvolver uma coerente teoria da conspiração, talvez envolvendo engenheiros de nacionalidade grega ou lusitana. Os primeiros são famosos pela tendência para a adulteração de números e os segundos pela tendência para a pieguice e para o ócio. Mas mais importante que identificar culpados, talvez seja mais útil compreender as dinâmicas. Uma boa teoria da conspiração deve abraçar um espectro mais amplo, ter uma maior profundidade de campo. Resumido, é sabotagem. Houve sabotagem, não dos resultados, mas sim do segredo que até então foi mantido sobre a viciação dos testes. Todos os fabricantes o fazem. Será uma questão de semanas até que tal seja um facto comprovado. Julgo que o ataque não é a um fabricante em concreto, mas sim a um combustível, o gasóleo. Talvez seja até um contra-ataque da gasolina.
O “meu” adorável Carocha, poluía e envenenava porque usava gasolina com chumbo (essa extraordinária invenção de Thomas Midgley que entre outras “coisas boas” inventou os CFCs). Muito embora os efeitos do envenenamento com chumbo sejam conhecidos desde (pelo menos) o inicio do século XX, a gasolina sem chumbo só foi banida da sofisticada Europa no ano 2000. O cosmopolita estado Português fê-lo no ano anterior, 1999. A maior economia do mundo, os Estados Unidos da América, baniu o uso da gasolina com chumbo em 1996, muito embora os primeiros alertas para o risco de plumbismo tenham ocorrido mais de setenta anos antes. Bem vistas as coisas, estamos a melhorar e muito. As denúncias que outrora demoravam décadas a surtir efeito, têm hoje impacto ao fim de apenas alguns meses. São os mercados a operar livremente, os reguladores a regular e os consumidores a consumir, tudo é esclarecido e ninguém é enganado…
Solidariedade por Cotas
Quando a pedagogia do exemplo é fugaz, quando as portas se escancaram num dia, para logo se fecharem com estrondo compreendemos que a solidariedade é apenas uma palavra, uma arma para impor aos outros a própria vontade. É egoísmo.
Concordo e saúdo que cada estado membro possa determinar aquilo que lhe convém. É justo. É soberania. Só lamento que entre a nossa união, apenas um país preserve esse direito. Está errado? Não, errados estão todos os outros.
Por todo o lado se promove a tomada de posição, contra ou a favor. Contudo, a migração está em curso. Acontece, independentemente das opiniões! Qual a relevância de ser contra? Zero! O mesmo afirmo em relação ao entusiasmo em receber. Os factos ultrapassam constantemente este estéril debate. Tomar posição é simplesmente uma forma de alijar preocupação. Soluções?
A esmagadora maioria dos migrantes pretende rumar ao centro, à mais pujante economia europeia. Pudera. Perante tal preferência, as cotas. Imponham-se as ditas! Critérios? Aliviar o centro. O problema é como disse, demasiado complexo e urgente. Carece de expediente. Proponho que as cotas sejam determinadas visando a equidade entre estados membros à luz de um único indicador económico, o PIB per capita, i.e., em função do rendimento médio anual por habitante. Cada país acolherá o número de migrantes que a sua economia pode suportar. Simples! Nem teremos de lavar roupa suja sobre quais os países que bombardearam outros países, quais os países que venderam armas ou quais os países que até hoje têm fingido que o problema nunca existiu.
O Armistício
A semana começou com a noticia do armistício. O acordo demonstrou a inconsequência prática da democracia. Não, não me refiro à vontade dos gregos, refiro-me à vontade dos alemães. Os contribuintes alemães não querem enviar nem mais um cêntimo para a Grécia. Irrelevante vontade que será olimpicamente ignorada. Curiosa esta sintonia entre a vontade popular e a acção dos governos de cada país. Os gregos não querem austeridade, mas tê-la-ão. Os Alemães não querem pagar, mas pagarão. Se os primeiros ignoram a insustentabilidade da sua vontade no contexto da moeda que querem manter, os segundos ignoram quão lucrativos são estes empréstimos para o seu Erário Público. Pelo menos enquanto o ciclo não se quebrar. Sendo evidente que cedo ou tarde quebrará, os seus governantes procuram obter garantias, de preferência totalmente sob o seu controlo. Alguns afirmam que tal descaramento visava apenas a recusa da outra parte, a qual afinal aceitou. Perde quem ganha e quem perde nada ganha, nem tempo. Haverá propósito? Não creio.
Se até aqui apenas alguns suspeitavam do défice democrático na União Europeia, hoje todos temos a certeza que tudo é feito à revelia da nossa vontade. Queiramos ou não, o nosso voto é irrelevante no contexto desta União Europeia feita ao centro das conveniências e nas costas das populações. O único órgão europeu cuja eleição é democrática, o Parlamento Europeu, foi apenas palco de propaganda. Nada de decisivo por lá se passou. Apenas o informal Eurogrupo parece existir. Mandam os ministros das finanças e em todos eles manda um, o alemão. A união transformou-se no contrário daquilo que se propunha ser. Não promove a paz, promove o conflito.
Este Armistício não resolve nada, e por isso não vigorará muito tempo.
El Corralito
Por certo que o exemplo do incumprimento Argentino nos será servido em abundância nos próximos tempos. Contar-nos-ão as consequências de um fenómeno que ficou conhecido como “el corralito”, nomeadamente a contestação social, a indignação e a revolta das populações. As causas, essas, ficam na gaveta da sapiência dos comentadores da situação. Não são nem ideológicas, nem técnicas, embora quase tudo possa ser explicado dessa perspectiva, a questão central é a distribuição da riqueza. Sempre foi. Assim, em detrimento das consequências, abordarei as causas.
Recuemos até ao século XVI. Os territórios que hoje designamos por República da Argentina tinham então uma densidade populacional muito baixa. A fundação daquela que ainda hoje é a capital, foi apenas um de muitos equívocos, mas uma vez identificadas as fontes e os meios para a extracção de riqueza, foi refundada. Buenos Aires era o centro do poder económico e político do colonialismo espanhol na América do Sul. Por lá passava a prata de Potosí rumo à Europa. A economia local servia esse negócio: produzia essencialmente alimentos e animais para o trabalho naquelas tristemente famosas minas Bolivianas. As definições territoriais evoluíram. O Vice-Reino do Rio da Prata, as Províncias Unidas do Rio da Prata e a República da Argentina, todos partilharam a mesma capital. Dir-se-ia que a Argentina sempre foi “só” Buenos Aires, e que tudo o resto era Caudilhismo. A riqueza extraída viajava obviamente para a Europa.
A densidade populacional manteve-se baixa até aos fluxos migratórios do século XIX. Com eles chegaram os ecos da revolução francesa. Os movimentos revolucionários visavam não só a independência da Coroa Espanhola, mas também de Buenos Aires. Nela residia a população de origem europeia, não mestiça, que controlava a produção de produtos alimentares, cuja exportação era o novo negócio. A prata tinha nova rota. As últimas décadas do século XIX foram de tal forma prósperas que Buenos Aires era então conhecida como a “Paris da América”, com as suas amplas avenidas e os seus edifícios de arquitectura Art Nouveau. A cidade era então o expoente máximo da cultura urbana da Belle Epóque. Tudo graças à produção agrícola. O resto do território continuou à mercê dos caudilhos, cada um dos quais mantinha o seu privilégio não atacando o privilégio da capital. Séculos de paz podre. Não obstante a assimétrica distribuição de rendimento, a Argentina era à entrada do século XX, e até às vésperas da primeira grande guerra mundial, um dos países mais ricos do mundo!
O mundo mudou no pós-guerra. De forma indirecta, a Terça-feira Negra precipitou o fim da prosperidade Argentina. O principal cliente e investidor, o Reino Unido, estava em dificuldades financeiras pois estava muito endividado junto do seu desejado aliado, os Estados Unidos da América. A sempre precária estabilidade Argentina foi posta em causa pela assinatura do polémico tratado Roca–Runciman, o qual prejudicou gravemente a balança comercial do país, com a agravante de a Argentina nunca ter desenvolvido um sector financeiro suficientemente forte para substituir o investimento externo. Os investidores locais procuraram sobretudo a renda, manipulando as instituições politicas e económicas por forma a obter riqueza sem a produzir. Uma sociedade até então exclusiva, tornou-se ainda mais assimétrica. O ambiente social que sempre fora tenso, tornou-se explosivo. A Argentina viveu assim um longo período de ditadura militar, por vezes alternada por breves momentos democráticos.
A neutralidade Argentina na primeira grande guerra, foi repetida na segunda. O caos social e económico manteve-se até o final desta. A instabilidade foi terreno fértil para o populismo, o qual apenas ocultou o ciclo vicioso. A economia formal continuou a garantir rendimento a um muito restrito segmento da sociedade. Tudo mudou, para que tudo permanecesse na mesma, igual ao que sempre foi desde os tempos do colonialismo Espanhol. A alternância entre governos democráticos e ditaduras militares manteve-se até final da década de oitenta. Foi no início da década seguinte que o governo argentino tomou uma decisão monetária decisiva, ao estabelecer a paridade do Peso argentino com o Dólar norte-americano. Na sempre especial Buenos Aires, o comércio passou a aceitar dólares e os cidadãos foram até encorajados a abrir contas nessa moeda. Parecia uma boa ideia, pois mesmo que o Peso argentino entrasse em colapso, os aforradores em dólares estariam garantidos. O consequente e instantâneo aumento do poder de compra de toda a população precipitou um significativo aumento do consumo de bens importados, proporcionou crescimento económico, mas agravou o desequilíbrio da balança comercial do país, pois a competitividade das exportações foi seriamente afectada. A paridade durou uma década. A riqueza criada por decreto tornou-se insustentável no final de 2001. Os titulares de contas em dólares foram primeiro restringidos nos montantes a movimentar e posteriormente obrigados a aceitar a taxa de câmbio entretanto estabelecida pela desvalorização do Peso. Na prática, o estado argentino apoderou-se de 75% da riqueza existente em dólares. Quem pagou a crise? Os pequenos aforradores, aqueles que não viveram acima das suas possibilidades. Os grandes “Armadores” de Buenos Aires e os caudilhos ficaram a salvo.
Toda e qualquer semelhança entre esta resenha da história económica da Argentina e a actualidade da Grécia será por isso pura alucinação. Apenas encontro um ponto de intercepção: A má influência grega sobre as boas práticas e procedimentos das companhias aéreas Argentinas. Devo contudo dar nota de um pequeno detalhe: A paridade com o Dólar foi decretada após um período de três anos de recessão, pelo mesmo partido que determinou o “el corralito” e que ainda hoje governa a República da Argentina, o Partido Justicialista (ou Peronista).
Felizmente que Portugal não está à mercê de nada disto, a menos que o dito popular “Portugal é Lisboa e o resto é paisagem” seja mais que um mito. Será?
Contra factos, não há argumentos.
Construído durante a abundância dos últimos anos do século passado, o Oceanário de Lisboa não foi caro. Nem 5 milhões custou. A extinta Parque Expo, vende-o ao Estado por pouco mais 50 milhões.
Contudo, o Oceanário sai caro aos contribuintes e apenas serve os turistas. Não é justo. Como ninguém o quer, não se vende, concessiona-se. O orçamento de estado para 2015 previa uma receita de 40 milhões. Não existe alternativa, pois dá prejuízo. Se porventura gerasse receita, talvez se pudesse equacionar a sua manutenção na esfera pública, mas como os factos são o que são, como os números não enganam, o governo adjudicou a concessão do Oceanário à sociedade da família Soares dos Santos por 24 milhões, mais uns trocos e uma percentagem do lucro (no caso de um dia existir). Filantropia é isto, é dar sem nada esperar em troca. Aposto que no próximo dia 1 de Maio a entrada terá 50% de desconto. Só vantagens!
Aos críticos desta adjudicação, devo recordar outro caso de sucesso. De entre os múltiplos exemplos possíveis, escolho apenas um: Os Estaleiros Navais de Viana do Castelo. Inviáveis antes da concessão, mas uma vez concessionados foram instantaneamente transformados numa máquina de fazer dinheiro.
Contra factos, não há argumentos.
O Mito da Escapula
Com celeridade analisaram propostas e com denodo anunciaram a salvação. Está garantida a sobrevivência do maior exportador Nacional? Não sabemos. Tudo quanto nos dizem é não existir alternativa a esta solução. É notório o embaraço quanto aos detalhes da operação. A enorme divida da empresa é a justificação recorrente. Mas quem a geriu? Se geriu mal, porque ficou ao Leme tantos anos? E se geriu bem, como pôde a empresa endividar-se até aos mil milhões de euros? Não houve tutela?
Enquanto nos entretivemos a debater se devia ser pública ou privada, o verdadeiro problema da TAP nunca foi abordado: Quais os interesses que o actual e os anteriores conselhos de administração defenderam? Porque foi readquirida a Groundforce? Porque foi comprada a PGA? O que ganhou a companhia com a compra da Varig Engenharia e Manutenção? Existe alguma contrapartida secreta, como a obtenção de rotas ou foi “simplesmente” um mau negócio? À luz do apregoado “interesse Nacional”, os factos são simples: vendemos uma empresa de manutenção aeronáutica com potencial e competência para crescer – OGMA, e compramos uma empresa de manutenção falida e com potencial para fazer falir quem a deter.
Sobre o preço, nada digo, nada sei. Nem sei se alguém sabe. Vendem porque a enorme divida da empresa impede-a de obter financiamento. É necessário injectar capital, algo que o accionista Estado não quer/não pode fazer. O que sabemos é que o vencedor, entre o dinheiro que injecta na empresa e aquele que entrega ao Estado Português, investirá perto de 400 milhões de euros, mas controla a gestão, ou seja, decidirá sobre o destino de cada um desses milhões. A divida fica na TAP S.G.P.S. Significa que o novo dono da TAP investirá o equivalente a menos de 40% da divida da TAP em troca de mais de 60% da companhia aérea. É esta minha simplória aritmética que me leva a concluir: é dada. Aqui chegamos com ajuda do isco que alguns optaram por morder.
Concretizar-se-á a operação? Não sabemos. Há fortes probabilidades de ser um golpe eleitoral do tipo “não nos deixaram”. Certo é que existem dúvidas quanto à legalidade do caderno de encargos, bem como quanto à legalidade do processo de avaliação económico-financeira da companhia aérea. Aguardemos. Há ainda muito por descobrir. Por enquanto a escapula é apenas mais um mito.
Aquário das Guelhas
O “novo” programa da televisão portuguesa, Aquário das Guelhas, pretende dinamizar a economia nacional através de um inovador formato: Aos empreendedores é oferecida a oportunidade de apresentar a sua ideia, patente, produto ou empresa a um conjunto de investidores perspicazes e bem-sucedidos, as Guelhas.
Este formato inédito é em si mesmo uma notável demonstração de criatividade. Aposto que o mundo inteiro vai copiar! Para além do salutar entretenimento dos milhões de portugueses que empreendem no sofá, permitirá ainda concretizar projectos que por falta de capital não chegariam a conhecer o sucesso, como por exemplo o navio Atlântida. Foi um memorável episodio, um excepcional instante televisivo: Zé, o empreendedor, começou por explicar às Guelhas que na verdade não é o mentor do projecto, mas como o recebeu por herança, sentia-se na obrigação de lhe dar um rumo, e por isso ali estava. Com desenvoltura apresentou o navio e pediu 29 milhões por 100% da coisa em causa. As Guelhas, claro está, questionaram “Quanto já foi investido nisto?”. A resposta chocou-os – “Quase 50 milhões”. À vez, lá foram dizendo “estou fora”. Os números não batiam certo, mas o navio interessava ao tubarão-azul. Fez uma contraproposta de quase 9 milhões. Zé pediu para pensar e ligar aos sócios. Após alguns minutos reentrou e disse “recebemos uma proposta grega de 13 milhões”. O tubarão-azul sugeriu que o melhor seria aceitar essa proposta, mas ele manteria a sua. Sabia que os gregos tendem ao incumprimento. Estava certo. Chegada à data limite, os helénicos falharam o pagamento e o Zé lá entregou o Atlântida por 8,7 milhões. É a vida.
Fechado o negócio, o futuro do navio seria risonho. Mistico até! Mas, apesar de toda a energia positiva o projecto de intenções foi mudando, até que uma nova oportunidade surgiu. Não será necessário investir um cêntimo, pois parece que há nos fiordes uns comedores de bacalhau dispostos a pagar 17 milhões pelo navio tal como ele está. Tudo está bem, quando acaba bem. Pelo menos é o que dizem…
Exportemos

O desemprego deverá baixar em breve uma vez que as oportunidades além-fronteiras não param de aumentar. Desta feita, foi a vez de um dos mais tolerantes países do mundo apelar às aptidões dos portugueses. É certo que o anúncio não refere a nacionalidade, mas a lusitanidade está subliminarmente implícita. Esta terra de oportunidades e inclusão é nada mais nada menos que a próspera Arábia Saudita. Mas qual é a função? Carrasco. Para já, são apenas oito vagas, mas a entidade patronal prevê o aumento da necessidade, pelo que é emprego com futuro. Nos dias de menor demanda na função maior, poderão os contratados exercitar outras técnicas menos definitivas, como decepar membros a ladrões.
Se o leitor está já a pensar que vou apontar os actuais ou os ex-governantes para o lugar de carrascos nas Arábias, engana-se. É certo que temos tido matadores brilhantes, mas esses têm outras ambições. Se pensa que me vou referir aos “animadores” de alguma celebração recente, ou a algum subcomissário mais impulsivo, lamento, mas vou gorar essa expectativa. Não, nenhum dos anteriores detém a aptidão necessária. Também não vou sugerir os gestores públicos ou privados, nem os pilotos de aviação civil ou os dirigentes sindicais. Negativo. A base de recrutamento é bastante mais alargada, menos exclusiva. Então quem são os mais aptos e virtuosos candidatos a carrascos das arábias? São os eleitores abstencionistas! São eles, que na sua busca do voto convicto, na sua procura por gente séria que mereça o seu voto, na sua ânsia pela verdade e pela justiça, na sua espera pelo messias, não votam, ficam em casa. Imaculadas as consciências de quem nunca votou em ladrões. É assim que nada muda. Aqueles que gostavam de votar por convicção e que por (reconheço) ausência de opção válida, não votam, oferecem o poder da decisão aos outros, aqueles que votam por puro e pragmático interesse. É assim que os abstencionistas executam a nossa democracia. Exportemos a espécie para as Arábias! É a “democracia” mais admirada entre nós, pois há liberdade de consumir sem obrigatoriedade de votar, esse nefasto, maçador e inconsequente acto. É por isso que cada vez mais gostamos da União Europeia e das suas instituições – Quem manda não é eleito.








