Ucrânia – pico de incoerências

Noutro tipo de análise, ao cruzar as grandes tendências de opiniões sobre esta guerra com a defesa dos valores contemporâneos, é possível identificar algumas lacunas na dimensão ética, moral e ideológica das milhentas reacções pessoais partilhadas online. Procuro aqui demonstrar a confusão de valores em que nos encontramos actualmente. Se não é possível manter a sua coerência em situações limite talvez seja preciso ajustar conceitos sobre os mesmos. Caso contrário qual o critério para sua aplicação agressiva numa moderna e cada vez mais comum política de cancelamento?

A aceitação do Negacionismo fará parte da recém-adquirida admiração do povo ucraniano? Efectivamente são um dos menos vacinados no continente Europeu, sendo referência como “mau comportados” no que diz respeito ao uso de máscara, respeito do confinamento e confiança nas vacinas. Efectivamente o contexto de guerra atirou para 2º plano a questão pandémica, tanto na luta pela sobrevivência como na recepção aos refugiados. O que quer dizer que talvez @s ucranian@s tenham razão na forma como abordavam o tema antes do conflito… Ou serão forçados à adopção de comportamentos sanitários nos países/casas de acolhimento? Estarão aqueles que os recebem mais tolerantes ao “negacionismo” Ucraniano em comparação com o inaceitável “negacionismo” dos seus compatriotas?

O fim instantâneo da pandemia ditado pela agenda mediática e não pelos acontecimentos no terreno. Todos aceitam o aliviar de medidas sem se questionar como é possível que de um dia para o outro tudo o que era usado como justificação indiscutível fosse deitado por terra de forma imediata. O vírus saiu da agenda numa altura em que queimava em lume brando vários líderes mundiais (pex Canadá, USA, UK, França) que se vêem salvos pelo protagonismo dado no assumir de uma máscara de liderança dura e firme ao lidar com temas militares. Ao mesmo tempo informação confidencial da Pfizer é libertada por ordem judicial, e os discursos ajustam-se para reforçar que a ciência à data não poderia ter certezas de resultados nem de efeitos adversos. Assistimos ao pioneiro da vacinação obrigatória na União Europeia a anular essa medida, antes mesmo de iniciar a sua implementação… Na Alemanha abafam-se evidências constatadas em análises independentes feitas por seguradoras no ramo da vida e saúde. E um estudo preliminar indica que, ao contrário do que era afirmado, a informação genética da vacina se pode integrar no DNA do tomador de vacinas mRNA e tornar-se uma ameça à integridade do genoma do hospedeiro com efeitos adversos prejudiciais à saúde. Interessará mesmo a tod@s acompanhar estas notícias relacionadas com tema da gestão pandémica? Ou será preferível acreditar, por esquecimento, que chegámos ao seu tão desejado fim?

A (i)legitimidade da declaração de guerra é negada à Rússia, que não tem direito a invadir sob pretexto de defesa dos seus interesses e segurança nacional, prevenindo afirmação de potência nuclear agressiva na sua fronteira. No entanto as guerras recentes no Médio Oriente, a milhares de Km das fronteiras de USA e UE, tendo por base uma suspeita não confirmada de desenvolvimento de armas de destruição massiça, foram relativamente bem aceites e consideradas justas pela opinião pública (ou pelo menos assim nos foi passado pelos media). Poderão ver a expressividade das mesmas em termos de baixas para comparar com o que se passa hoje na Ucrânia. Por exemplo na primeira semana estimam-se menos de 600 baixas civis na Ucrânia quando no Iraque ocorreram mais de 4000 baixas civis nos primeiros dias de guerra.

Incitamento a Ódio tolerado nas redes sociais, desde que a visada seja a Rússia, continuando a censurar de forma veemente essas formas de expressão tendo como alvo outros povos e etnias. Deveríamos ter plena liberdade de expressão ou quais os critérios para aceitar este tipo de censura?

Glorificação da Violência expresso nos likes, adoros, força, admiro-te, e outros elogios feitos a homens e mulheres que postam, nas suas páginas pessoais do Linkedin e universo Meta, fotos de si próprios em equipamento militar e/ou armados, declarando-se como alguém que abandonou tudo o que tinha para ir combater. Alguns inclusive regressaram da emigração para o efeito. Colegas e amigos dos países ocidentais entram em extâse com tamanha demonstração de alma e coragem, como se matar ou morrer se banalizasse como mais um elevador social. Se matar e ostentar que o fez receberá gratificações? Se morrer receberá smiley de lágrima no canto no olho?

Celebração do isolamento de um povo deixando-o em teoria à mercê do seu “regime totalitário”. Por um lado criamos mais dificuldades a um povo que poderia agarrar-se ao contacto com o mundo ocidental para alimentar uma aspiração de mudança, por outro ao ver tamanho número de empresas em actividade na Rússia talvez seja um forte sinal de que não estão assim tão isolados do mundo ocidental. É dito que o objectivo é pressionar o governo através da revolta da sua população, o que quer dizer que temos consciência, ou idealizamos, que esta vai ser penalizada e que isso terá grande influência no desenrolar do conflito militar. Assim de repente lembro-me de Cuba e Palestina como sendo alvo de embargos altamente criticados, mas agora estará tudo bem porque é o “nosso inimigo”. Tendo em conta que se invoca o passado “sujo” da Rússia, até para com o seu povo, porque não o fizemos mais cedo?

Discriminação de género na proibição da saída de homens dos 18 aos 60 anos, com liberdade de fuga a todas as mulheres. Por um lado diminui as mulheres, como se nos dias de hoje estas não tivessem capacidade de integrar forças militares, por outro retira autonomia aos homens de decidir por si qual o nível da sua resposta a este conflito armado tornando-os prisioneiros forçados sob ameaça de um recrutamento obrigatório no futuro próximo. Falhou-se uma boa oportunidade de equidade, ora proibindo a saída de homens e mulheres, ora concendendo liberdade de escolha a tod@s.

Racismo na discriminação positiva dos refugiado de guerra da Ucrânia. A União Europeia mostra-se pronta para acolher 5 Milhões de deslocad@s ucranian@s, com total apoio público. A mesma União Europeia que gasta milhares de milhões de euros a construir campos de alojamento precário para conter milhares de emigrantes de África e Médio Oriente por forma a impedir a sua entrada massiva em território Europeu, com total apoio público. Deixo a ponderação dos critérios para tal discrepância a cargo do(a) leitor(a) e se nela não surgem argumentos facilmente catalogados de racistas ou xenófobos. Por curiosidade o sentimento d@s refugiad@s ucranian@s em relação a Portugal parece estar em linha com os dos seus pares de outras geografias.

Escrever posts, manifestar opiniões, expressar sentimentos, sem ter integrado todas estas contradições, batalhado pelo seu equílibrio no juízo da situação actual, não é mais do que permitir que o impulso precipitado tome o controlo, criando uma espiral descontrolada baseada simplesmente em indução por factores externos e recompensa imediata por aceitação generalizada daqueles que giram ao sabor dos ventos mediáticos.

Tentemos que o anseio de pertenção ao maior grupo não nos tolde a visão e discernimento, nem promova a adesão incondicional ao séquito daqueles que ditam o alinhamento de notícias e opiniões. Não o fazer é não exercitar o pensamento, progredindo num perigoso embrutecimento colectivo que será capaz de fazer e dizer exactamente o contrário dos valores que advoga.

NOTA: depois do último post tive contacto com os documentários “Ucrânia em Chamas” e “Donbass”, que permitem reforçar o contexto dos acontecimentos contemporâneos. Recomendo a sua visualização a tod@s.

About Nuno Faria

Nascido em 1977, informático por formação, vegano por convicção, permacultor por transformação. Desde cedo que observo e escuto atentamente, remoo pensamento até por fim verbalizar a minha opinião e entendimento, integrando o que faz sentido do que é argumentado por quem de mim discorda. Não sei como aconteceu mas quando dei por mim escrevia sobre temas polémicos, tentando encontrar e percorrer o tão difícil caminho do meio, procurando fomentar o pensamento crítico, o livre-arbítrio e a abertura de coração e consciência. Partilho o que ressoa procurando encorajar e propagar a transmissão de informação pertinente e valores construtivos e compassivos.

Posted on Março 18, 2022, in Geração "à rasca", Mentalidade Tuga and tagged , , , . Bookmark the permalink. Deixe um comentário.

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