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Ucrânia – pico de incoerências

Noutro tipo de análise, ao cruzar as grandes tendências de opiniões sobre esta guerra com a defesa dos valores contemporâneos, é possível identificar algumas lacunas na dimensão ética, moral e ideológica das milhentas reacções pessoais partilhadas online. Procuro aqui demonstrar a confusão de valores em que nos encontramos actualmente. Se não é possível manter a sua coerência em situações limite talvez seja preciso ajustar conceitos sobre os mesmos. Caso contrário qual o critério para sua aplicação agressiva numa moderna e cada vez mais comum política de cancelamento?

A aceitação do Negacionismo fará parte da recém-adquirida admiração do povo ucraniano? Efectivamente são um dos menos vacinados no continente Europeu, sendo referência como “mau comportados” no que diz respeito ao uso de máscara, respeito do confinamento e confiança nas vacinas. Efectivamente o contexto de guerra atirou para 2º plano a questão pandémica, tanto na luta pela sobrevivência como na recepção aos refugiados. O que quer dizer que talvez @s ucranian@s tenham razão na forma como abordavam o tema antes do conflito… Ou serão forçados à adopção de comportamentos sanitários nos países/casas de acolhimento? Estarão aqueles que os recebem mais tolerantes ao “negacionismo” Ucraniano em comparação com o inaceitável “negacionismo” dos seus compatriotas?

O fim instantâneo da pandemia ditado pela agenda mediática e não pelos acontecimentos no terreno. Todos aceitam o aliviar de medidas sem se questionar como é possível que de um dia para o outro tudo o que era usado como justificação indiscutível fosse deitado por terra de forma imediata. O vírus saiu da agenda numa altura em que queimava em lume brando vários líderes mundiais (pex Canadá, USA, UK, França) que se vêem salvos pelo protagonismo dado no assumir de uma máscara de liderança dura e firme ao lidar com temas militares. Ao mesmo tempo informação confidencial da Pfizer é libertada por ordem judicial, e os discursos ajustam-se para reforçar que a ciência à data não poderia ter certezas de resultados nem de efeitos adversos. Assistimos ao pioneiro da vacinação obrigatória na União Europeia a anular essa medida, antes mesmo de iniciar a sua implementação… Na Alemanha abafam-se evidências constatadas em análises independentes feitas por seguradoras no ramo da vida e saúde. E um estudo preliminar indica que, ao contrário do que era afirmado, a informação genética da vacina se pode integrar no DNA do tomador de vacinas mRNA e tornar-se uma ameça à integridade do genoma do hospedeiro com efeitos adversos prejudiciais à saúde. Interessará mesmo a tod@s acompanhar estas notícias relacionadas com tema da gestão pandémica? Ou será preferível acreditar, por esquecimento, que chegámos ao seu tão desejado fim?

A (i)legitimidade da declaração de guerra é negada à Rússia, que não tem direito a invadir sob pretexto de defesa dos seus interesses e segurança nacional, prevenindo afirmação de potência nuclear agressiva na sua fronteira. No entanto as guerras recentes no Médio Oriente, a milhares de Km das fronteiras de USA e UE, tendo por base uma suspeita não confirmada de desenvolvimento de armas de destruição massiça, foram relativamente bem aceites e consideradas justas pela opinião pública (ou pelo menos assim nos foi passado pelos media). Poderão ver a expressividade das mesmas em termos de baixas para comparar com o que se passa hoje na Ucrânia. Por exemplo na primeira semana estimam-se menos de 600 baixas civis na Ucrânia quando no Iraque ocorreram mais de 4000 baixas civis nos primeiros dias de guerra.

Incitamento a Ódio tolerado nas redes sociais, desde que a visada seja a Rússia, continuando a censurar de forma veemente essas formas de expressão tendo como alvo outros povos e etnias. Deveríamos ter plena liberdade de expressão ou quais os critérios para aceitar este tipo de censura?

Glorificação da Violência expresso nos likes, adoros, força, admiro-te, e outros elogios feitos a homens e mulheres que postam, nas suas páginas pessoais do Linkedin e universo Meta, fotos de si próprios em equipamento militar e/ou armados, declarando-se como alguém que abandonou tudo o que tinha para ir combater. Alguns inclusive regressaram da emigração para o efeito. Colegas e amigos dos países ocidentais entram em extâse com tamanha demonstração de alma e coragem, como se matar ou morrer se banalizasse como mais um elevador social. Se matar e ostentar que o fez receberá gratificações? Se morrer receberá smiley de lágrima no canto no olho?

Celebração do isolamento de um povo deixando-o em teoria à mercê do seu “regime totalitário”. Por um lado criamos mais dificuldades a um povo que poderia agarrar-se ao contacto com o mundo ocidental para alimentar uma aspiração de mudança, por outro ao ver tamanho número de empresas em actividade na Rússia talvez seja um forte sinal de que não estão assim tão isolados do mundo ocidental. É dito que o objectivo é pressionar o governo através da revolta da sua população, o que quer dizer que temos consciência, ou idealizamos, que esta vai ser penalizada e que isso terá grande influência no desenrolar do conflito militar. Assim de repente lembro-me de Cuba e Palestina como sendo alvo de embargos altamente criticados, mas agora estará tudo bem porque é o “nosso inimigo”. Tendo em conta que se invoca o passado “sujo” da Rússia, até para com o seu povo, porque não o fizemos mais cedo?

Discriminação de género na proibição da saída de homens dos 18 aos 60 anos, com liberdade de fuga a todas as mulheres. Por um lado diminui as mulheres, como se nos dias de hoje estas não tivessem capacidade de integrar forças militares, por outro retira autonomia aos homens de decidir por si qual o nível da sua resposta a este conflito armado tornando-os prisioneiros forçados sob ameaça de um recrutamento obrigatório no futuro próximo. Falhou-se uma boa oportunidade de equidade, ora proibindo a saída de homens e mulheres, ora concendendo liberdade de escolha a tod@s.

Racismo na discriminação positiva dos refugiado de guerra da Ucrânia. A União Europeia mostra-se pronta para acolher 5 Milhões de deslocad@s ucranian@s, com total apoio público. A mesma União Europeia que gasta milhares de milhões de euros a construir campos de alojamento precário para conter milhares de emigrantes de África e Médio Oriente por forma a impedir a sua entrada massiva em território Europeu, com total apoio público. Deixo a ponderação dos critérios para tal discrepância a cargo do(a) leitor(a) e se nela não surgem argumentos facilmente catalogados de racistas ou xenófobos. Por curiosidade o sentimento d@s refugiad@s ucranian@s em relação a Portugal parece estar em linha com os dos seus pares de outras geografias.

Escrever posts, manifestar opiniões, expressar sentimentos, sem ter integrado todas estas contradições, batalhado pelo seu equílibrio no juízo da situação actual, não é mais do que permitir que o impulso precipitado tome o controlo, criando uma espiral descontrolada baseada simplesmente em indução por factores externos e recompensa imediata por aceitação generalizada daqueles que giram ao sabor dos ventos mediáticos.

Tentemos que o anseio de pertenção ao maior grupo não nos tolde a visão e discernimento, nem promova a adesão incondicional ao séquito daqueles que ditam o alinhamento de notícias e opiniões. Não o fazer é não exercitar o pensamento, progredindo num perigoso embrutecimento colectivo que será capaz de fazer e dizer exactamente o contrário dos valores que advoga.

NOTA: depois do último post tive contacto com os documentários “Ucrânia em Chamas” e “Donbass”, que permitem reforçar o contexto dos acontecimentos contemporâneos. Recomendo a sua visualização a tod@s.

Ucrânia – sinais dos tempos

Este não é um post fácil de digerir. Tem o objectivo consciente de provocar, oferecendo uma perspectiva de choque, na esperança de despertar pensamento crítico sobre tudo o que nos é comunicado. Desanima-me muitas vezes ver pessoas com o sentimento adequado, compaixão para com as vítimas, mas o entendimento completamente adulterado, ódio incondicional para com a Rússia, como se o mundo Ocidental não tivesse grandes responsabilidades no que está a acontecer neste e noutros temas.

Em caso de indignação ou altercação por favor saltar para última secção.

Enquadramento Histórico

É comum ouvir ao vivo, ou ler em posts contemporâneos, palavras de sentida e completa diabolização da Rússia, colando uma civilização milenar ao seu actual líder, ou aos horrores presentes nos seus últimos 100 anos de história (algo similar ao que também acontece com a China).

Antes de reagir, tomar posições firmes e verbalizar palavras sentidas, seria um bom exercício que cada um(a) aproveitasse este momento para explorar o passado, antigo e recente, procurando adquirir uma percepção informada daquilo que dele se reflecte hoje neste presente, que não deixa de ser um certo deja vu do acontecido com a Crimeia do ponto de vista estratégico e geo-político.

Depois desse trabalho de casa verifica-se facilmente que mais uma vez os media ocidentais gostam de cozinhar uma narrativa, com omissões grosseiras, que induza uma tendência forte de entendimento e sentimento generalizado.

Sinais Preocupantes

Durante a juventude intelectual é normal que tenhamos uma certa soberba, de olharmos para os problemas do mundo detectando de caras as decisões idiotas que conduzem a conflitos ou catástrofes de várias naturezas, de acharmos que os representantes e decisores de altas instâncias são profundamente incompetentes. Mais tarde, com a continuidade e instalação de humildade, percebemos que o desenrolar dos acontecimentos é desenhado e conduzido de forma magistral, com muita minúcia, formatando a opinião pública para a aceitação, advocacia e apoio das linhas gerais de acção/reacção desejadas. Deixo aqui alguns pontos à (re)consideração.

A batalha pela mente acentua-se, sendo designada de guerra de (des)informação. Não me levem a mal mas é óbvio que ambos os lados manipulam os acontecimentos para tentar conquistar a opinião pública. É essencial ter acesso a ambos para identificar discrepâncias que merecem ser investigadas para perceber onde está a verdade. A aceitação da censura do acesso à informação emitida pelo “inimigo” é mais preocupante e perigosa do que os perigos de ter contacto com propaganda grosseira. Estão basicamente a dizer-nos “não se preocupem, as entidades competentes farão a filtragem dos conteúdos informativos sobre este conflito, confiem absolutamente em nós que somos os guardiões da verdade e da justiça”. Um exemplo é a acusação trocada de combate a fascismo e nazismo. De caras a Rússia é ensacada nesse estereótipo mas depois percebemos que existe algo na Ucrânia chamado Batalhão Azov com alta influência em temas de defesa e militares, ficando então mais complicado de definir a quem aplicar o esterótipo de forma exclusiva. Deixo alguns canais Telegram onde ainda é permitido cruzamento com informação diferenciada, que também deve ser consumida e filtrada com cautela: Coach Red Pill, Storm Clouds Gathering, O Informante.

A promoção da guerra vs a promoção da defesa. Temos países europeus a oferecer armamento a uma das partes de um conflito armado às portas da União Europeia, a unir-se num isolamento económico-digital nunca visto à Rússia e aliados, a lamentar que uma das partes não seja já membro da UE e/ou NATO tentando congeminar formas de o conseguir concretizar de forma benemérita para assim legitimar políticamente uma intervenção no terreno (que basicamente seria o oficializar da 3ª Guerra Mundial envolvendo potências nucleares de ambos os lados). Tudo isto tem consequências gravíssimas e impacto mundial a todos os níveis, sendo claro que depois de criado um ambiente de repulsa para com um dos lados se apelou a que uma guerra “moral” contra o agressor terá custos elevados que a população tem de estar preparada para suportar. Estaremos mesmo cientes e preparad@s para todas as possíveis consequências, inclusive de um envolvimento directo?

A construção do grande herói. Zelensky está a ser retratado como homem dos tomates de ferro, o verdadeiro líder patriota, a encarnação da coragem e despertador de libido na sua legião de nov@s admiradores. Zelenksy é um político, isso só de si já diz muito. Imaginemos um líder altamente competente, com capacidade de análise estratégica geo-política, conhecedor de acordos históricos recentes e do impacto das suas decisões no saudável equílibrio das relações com nações vizinhas. Terá decidido consumar uma aproximação à UE e NATO, certamente tendo conversas de altas instâncias onde lhe terá sido garantido apoio (in)condicional. Empoderado por esse apoio ousa desconsiderar sérios avisos de uma nação vizinha historicamente poderosa, influente, quiçá mesmo ameçadora, esquecendo o recentemente ocorrido no episódio Crimeia. Um conjunto de palavras e actos geram uma avalanche de acção/reacção que resultam em invasão militar e isolamento no terreno, pois afinal as suas costas não estariam tão quentes como pensaria. Apressa-se a fazer apelos de ajuda, a chamar de fracos e brandos à UE e NATO que, segundo ele, se acobardam vergonhosamente perante o abraço do urso, recusando-se a pronta intervenção militar moralmente defensável. Ao mesmo tempo proíbe os homens dos 18 aos 60 de sair do país, iniciando um armamento massivo indiscriminado de civis que instiga a combater por todos os meios possíveis. Colocando de parte a aprumada gestão de imagem, o eficiente marketing digital, os monólogos bravos, emotivos e eloquentes, se nos focarmos antes na sua agenda de acção/reacção, é claro que instiga o iniciar e escalar do conflito a nível mundial, criando as condições para uma ainda maior catástrofe de perda de vidas humanas ao promover que civis confrontem forças militares profissionais. A situação não é fácil, claramente é desesperante para quem está no terreno, mas parece-me faltar algum discernimento em todo o processo, juntado-se à equação de que se a Rússia quisesse poderia ter arrasado completamente o país numa semana ao invés de fazer ataques e capturas cirurgícas. Ao contrário do reportado, as forças Russas não estão a ser incompententes ou altamence rechaçadas por heroismo Ucraniano, é provável que simplesmente estarão a exercer uma estratégia de ocupação com progressão lenta, cercos controlados e tentativa de diminuição de baixas de civis, pois é fulcral não aumentar ódio inflingindo baixas desnecessárias (sobretudo se a ocupação for o objectivo). Do meu ponto de vista, um herói não instiga o escalar do conflito, nem “obriga” a sua população a permanecer no terreno para defesa incondicional do seu país. Um herói moderno tem de ter a capacidade de retrair, renegociar, fazer o que é necessário para minimizar perdas ao enfrentar um agressor que é praticamente imparável do ponto de vista militar sem ajuda externa. Poderia ter tido a inteligência de o fazer muito antes do conflito estalar, mesmo que isso atrasasse as suas pretensões de aproximação ao Ocidente. Seja como fôr, temos um herói em ascensão, uma nova referência ocidental do líder ideal em momentos de crise, engrandecido como o grande influencer do momento. (por onde andará Ghandi e a sua inspiração?)

Solidariedade para com vítimas de guerra

Independentemente de tudo que foi escrito acima, de onde está o ónus da culpa, há algo que é inquestionável: o sofrimento humano atroz provocado a vítimas directas ou indirectas de qualquer acto militar. Desde os civis aos próprios soldados que muitas vezes são programados ou forçados a obedecer/reagir sem reflectir sobre os seus actos e pensamentos. De ambos os lados.

Neste momento é a Ucrânia que infelizmente se junta aos vários conflitos activos no mundo, sendo de louvar o genuíno sentimento de compaixão e movimento de auxílio, quase instantâneos, para com esse povo repentina e inesperadamente tão necessitado às portas da UE.

Para quem queira e não conheça aqui ficam dois links para chegar a plataformas que servem de ferramenta para exercício de vários tipos de auxílio.

Crise de Julho

Um venerável ancião, senhor de vastos recursos e riquezas, muito influente junto dos seus vizinhos, foi certo dia afrontado por um pequeno estado soberano. Insignificante quando comparado com o ultrajado império, o insolente reino apoiara os terroristas que assassinaram o sucessor e herdeiro de Francisco José I, Imperador da Áustria, Rei da Hungria, da Croácia e da Boémia. A Casa dos Habsburg-Lothringen, dinastia com mais de dois séculos, vingar-se-ia da afronta. A Sérvia pagaria pela sua ousadia. Violenta e breve, a punição seria exemplar, circunscrita e regeneradora. Outra potência, o Império Alemão, dera o seu aval e incondicional apoio ao plano disciplinador. Aos sérvios foi então enviado “o mais formidável documento”, ponderado e redigido para ser inaceitável, um ultimato com um único propósito, a guerra. Aquela que seria uma contenda local, rápida e decisiva, culminou no primeiro dos conflitos militares mecanizados à escala global, a Primeira Guerra Mundial, a mais mortífera, devastadora e ruinosa até então. Um monumental exemplo de estupidez humana.

Se nas próximas semanas este exemplo com mais de um século parecer actual, não estranhe, é mera coincidência. Corre hoje, noutras e longínquas paragens, um ultimato a um pequeno reino. Insolente, terá apoiado o terrorismo, terá também afrontado uma poderosa dinastia com mais de dois séculos, também ela liderada por outro nobre ancião, rico em recursos e influência. Uma vez mais, perspectivam-se interesses locais e pontuais, negligenciando a imprevisibilidade das consequências à escala global. Esperemos que ao contrário do que afirmou Einstein, apenas o universo seja infinito e a estupidez humana encontre limite a tempo.

A teoria do big bang-bang

Numa única visita o bobo bully americano foi peremptório e esclarecedor. Depois de um lucrativo armar das arábias, lamentar-se num muro tão diferente do que quer construir,  seguiu para estarrecer o Papa, para por fim avisar os seus aliados de que devem pagar mais pela garantia da sua defesa, avisando-os também que terá de repensar  a adesão ao acordo de Paris sobre o clima. Foi de tal forma que nem os experientes líderes europeus conseguiram esconder a sua estupefacção perante os actos e os ditos deste novo líder supremo.

Em resposta Merkel alerta que a Europa deverá deixar de olhar para os Estados Unidos como um amigo do peito em quem se ponde confiar, de quem se pode depender, serão agora mais como um velho conhecido simpático do qual esperamos que não ajude nem atrapalhe. Em arrasto inclui o Reino Unido neste reajuste relacional. Caso isto se traduza em medidas reais falamos de uma potencial revolução da militarização europeia.

Trump é um empreendedor nato, com uma forte mentalidade comercial, o seu discurso passado e presente indicia que por si os custos de intervenções militares americanas, supostamente para defender interesses internacionais ou de terceiros, devem ser partilhados por todos os beneficiados. Desta forma a agenda americana seria executada com muito menor peso na factura orçamental. Uma transição do papel de ‘polícia benevolente’ para ‘mercenário benevolente’.

Por outro lado na Europa existem dezenas de milhares de militares americanos espalhados por centenas de bases. Qualquer tipo de retaliação à nova orientação americana passaria por diminuir radicalmente a manutenção da sua presença militar em solo europeu. Desta forma seria relançada a agenda da constituição de um exército europeu unificado, de uma modernização do armamento europeu, que permitisse a independência plena não só na defesa territorial como na intervenção internacional.

A nível mundial continua o reforço de armamento por parte das grandes potências, como que se preparando para cenários de braço de ferro em que o poder de fogo das suas Forças Armadas será músculo essencial.

Mais uma vez a força parece ser a única via conhecida pelos camelos que percorrem o deserto de ideias sem nunca se cruzar com o lendário oásis verdejante que uns loucos decidiram desmilitarizar.

E assim se eterniza a guerra psicológica, a roçar o terrorista, de imposição da paz pela força das armas ao invés de inviabilizar a guerra pela ausência de armas.

USS Pueblo

Nenhum outro navio em aço permanece no efectivo da Marinha norte-americana há tanto tempo como o USS Pueblo. Concebido como um navio de transporte para o exército norte-americano, foi construído em 1944 no Wisconsin. Esteve ao serviço do exército norte-americano até 1954 e após uma dúzia de anos de inactividade, foi adicionado ao efectivo da Marinha norte-americana em 1966. Serviu como pequeno cargueiro até 1967, ano em que foi convertido em “Navio-espião”.

Devido ao peso do equipamento instalado acima da linha de água, o navio tornou-se instável, pois a transformação fez subir o centro de gravidade em relação ao centro de flutuabilidade. O movimento oscilatório do navio tornou-se bastante perigoso, mas não foi o balanço que impediu a guarnição de abraçar novas e perigosas missões. Assim foi no início do ano seguinte, 1968, quando partiu de uma base naval americana no Japão para uma missão de espionagem junto à Coreia do Norte, procurando obter informação sobre a defesa costeira, bem como sobre a actividade da marinha soviética naquela zona. Embora ousada, a missão foi à época classificada como não tendo risco, pois nenhuma missão arriscada poderia ser aprovada pela hierarquia naquela zona. Sendo o segundo navio mais antigo da frota norte-americana, com mais de cinquenta anos de serviço, o USS Pueblo apenas esteve ao dispor da marinha norte-americana durante 652 dias (menos de dois anos!). O navio está na posse do regime Norte Coreano há quase meio século, após ter sido capturado durante a sua missão de baixo risco, a 23 de Janeiro de 1968. Nesse dia, nem mesmo a proximidade do porta-aviões USS Enterprise lhe valeu…

Estável Imutabilidade

O inquilino do número 1600 da Avenida Pensilvânia está empenhado em reconstruir a grandeza americana. Após a inicial e inconsequente euforia legislativa onde decreto após decreto marcou a agenda doméstica, procurou o palco internacional. Montou o circo. De cimeira em cimeira, o mesmo é dizer de ultimato em ultimato, restabeleceu a ordem entre os aliados. A todos exigiu obediência cega e acrítica. Protecção tem um preço, como tal nenhum questionou o regresso à acção unilateral, pelo contrário, todos se apressaram em expressar apoio.

Nem mesmo os rebeldes franco-alemães usaram a reserva moral de outros tempos. No passado exigiram provas, desta feita dão o facto como adquirido, tal qual noticiado pelas televisões. Aparentemente outra coisa não poderíamos esperar do regime sírio senão a “oferta” ao ocidente da justificação perfeita para ser atacado. Ora, faz perfeito sentido, aliás a explicação é óbvia: são estúpidos! E maus, claro.

Muito embora o alvo tenha sido atingido, a operacionalidade da base visada foi retomada poucas horas após o ataque, o que não deixa de ser coerente com a incoerência do mandante, eleito por ser diferente, mandatado para fazer o de sempre – quando em apuros, bombardeia. É lema, é modelo de actuação intrínseco ao cargo. Justificações? As de sempre, bastante simples como se querem, o bem contra o mal, normalmente longínquo e mistificado porque da clarificação não reza a estória. Aos aliados trata como focas amestradas, aos rivais com perigoso despeito e aos potenciais alvos com ameaças e bombas. A grandeza faz-se de retórica de circunstancia e muita hipocrisia.

Peru Recheado

peru-recheado

É por terras do antigo império Otomano que hoje o mundo concentra atenções. Os órgãos de comunicação social não investem, como noutros tempos, nos chamados enviados especiais mas para compensar os espectadores, brindam os mais interessados com um vasto e diversificado naipe de comentadores. Graças a eles, sinal dos tempos, nada nos escapa.

Vamos ao relato, apenas os factos, nada de complicado. Os protagonistas são aviões, turcos e russos. Ao russo, um Sukhoi Su 24, ainda que repetidamente lhe chamem “caça”, é bombardeiro, supersónico é certo, mas já com mais de três décadas no activo. O turco esse sim, um caça, igual aos que por cá temos, um General Dynamics F 16 Fighting Falcon.

Feitas as apresentações, a ocorrência. O avião russo violou o espaço aéreo turco, e após repetidos avisos, foi abatido. É assim, quem brinca com o fogo queima-se. Coerência? Nem por isso, os gregos que o digam, mas adiante. Neste enredo não há anjinhos. Crispação e diz que disse, ou não disse, esgrimem-se argumentos nos palcos habituais: Nas agências noticiosas e até nas Nações Unidas. Cada qual apresenta factos e provas, pois claro. A Rússia ameaça com consequências, a Turquia defende-se com a violação do seu espaço aéreo e com os múltiplos e ignorados avisos.

Face a todos estes factos, a todas estas comunicações e justificações, questiono como será possível que nenhum dos sempre esclarecidos comentadores tenha ainda colocado esta singela questão:

Se o avião russo apenas voou 17 segundos em espaço aéreo turco, como foi possível alerta-lo durante 5 minutos?

De refugiados a emancipados

Ao cruzar os números da vergonha europeus com os números da vergonha americanos é impossível não ficar completamente indignado com a perpetuação do problema e todo o desperdício de verbas e vidas humanas.

Temos grandes potências mundiais a embarcar em guerras libertadoras que depois abandonam os povos libertados num caos político, militar e social, que os condena ao êxodo ou subjugação às acções de novos grupos organizados que parecem surgir do nada.

Para além da destabilização directa dos países que sofrem intervenção no terreno, criam-se focos de problema nos países circundantes com a pressão inerente ao acolhimento de enormes massas de refugiados. Posteriormente as mesmas potências beligerantes lavam as suas mãos gastando verbas exorbitantes através da ONU na criação de zonas tampão denominadas “campos de refugiados” onde são garantidas as condições mínimas de sobrevivências.

Aparentemente tudo isto é uma máquina muito bem oleada. Certamente que alguém lucrará com o contínuo esforço financeiro inerente à guerra e à sustentabilidade dos campos de refugiados.

Certo é que passaram décadas onde se comprova que existe um ciclo contínuo de miséria humana e destruição de estados soberanos. Talvez porque a guerra noutras paragens, por ideais comuns mas em terras que não as nossas, é desprovida do verdadeiro sentimento de reconstrução e compromisso ad eternum, do deixar de herança às próximas gerações um território e uma sociedade evoluídas. Estas são o tipo de guerras de toca e foge. Basicamente destrutivas e incapacitantes de um pretenso inimigo que acarreta ao mesmo tempo o desamparo e desnorteio por parte dos que residem naquelas paragens.

Julgo que tal como acontece a muitos outros níveis é chegada a altura de repensar como melhor investir estas verbas gastas em guerras ciclícas infrutíferas e no estancar/cuidar de populações em fuga. Do meu ponto de vista deveria ser criado um organismo mundial militar que ao invés de fazer a guerra em territórios alheios permitisse sim capacitar uma população de o fazer de forma autónoma. Formação militar e de engenharia (para a reconstrução), instrução de valores sociais e democráticos, capacidade de resistir a incursões terroristas. Como? Simples. Em casos de ameaças a estados legítimos, através do poderio de força militar, este organismo mundial teria legitimidade para criar um campo logístico no próprio território do país em perigo. A criação do campo de refugiados, da zona tampão fortificada, seria executada no próprio território e não num país vizinho. Um forte de defesa intrasponível, possível devido ao poderio de uma coligação mundial. E dentro desse forte ao invés da população refugiada marinar em desesperança poderia ser instruída e capacitada para a realização autónoma da defesa e reconstrução do seu país.

Com isto transformaríamos refugiados em emancipados capazes de lutar as suas batalhas, ganhar ou perder as suas guerras, mantendo a sua dignidade e o seu orgulho nacionalista. Dispostos a morrer na luta pela sua nação ao invés de pela miragem da salvação do bom acolhimento por parte de países desenvolvidos.

As grandes potências ocidentais já demonstraram ser boas a ganhar guerras mas muito más a criar condições para a manutenção de uma paz e estabilidade duradouras (parece que só funcionou nos territórios onde vivem). Talvez esteja na altura de acreditar que dados os meios adequados também outros povos serão capazes de resolver os seus assuntos de forma definitiva pelas suas próprias mãos.

keep calm and get ready for war