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Selfie Solidária
Está para fazer quase três anos que Portugal escancarou as suas portas aos mais necessitados. Estávamos dispostos a receber 10 mil refugiados! O dobro do pedido pela União Europeia.
Feitas as contas foram recebidos perto de 1 500 mais de metade dos quais não quiseram permanecer no nosso território.
Quer isto dizer que continuamos com mais de 9 mil vagas para receber refugiados, acenando uma bonita e sentida bandeira de oferta solidária que nos deixa muito bem na fotografia, mesmo que não usufruída.
A outras latitudes outras fotografias demonstram que talvez pudessemos disponibilizar estas oportunidades a outros povos, igualmente massacrados e desesperados.
Será melhor fazê-lo o quanto antes porque uma selfie internacional tem muito mais impacto do que uma selfie nacional, e existe o perigo efectivo de alguém fazer contas e perceber que as 5 000 vagas a mais disponibilizadas seriam suficientes para dar resposta aos menos sexy cidadãos nacionais em situação de sem abrigo.
Lembrei-me disto porque o Natal é a altura perfeita para ajustar a distribuição dos presentes, deixando de os dar a quem não os valoriza, reforçando a dádiva a quem mais precise.
E assim enfeitar as nossas walls com uma tremenda selfie solidária.

De refugiados a emancipados
Ao cruzar os números da vergonha europeus com os números da vergonha americanos é impossível não ficar completamente indignado com a perpetuação do problema e todo o desperdício de verbas e vidas humanas.
Temos grandes potências mundiais a embarcar em guerras libertadoras que depois abandonam os povos libertados num caos político, militar e social, que os condena ao êxodo ou subjugação às acções de novos grupos organizados que parecem surgir do nada.
Para além da destabilização directa dos países que sofrem intervenção no terreno, criam-se focos de problema nos países circundantes com a pressão inerente ao acolhimento de enormes massas de refugiados. Posteriormente as mesmas potências beligerantes lavam as suas mãos gastando verbas exorbitantes através da ONU na criação de zonas tampão denominadas “campos de refugiados” onde são garantidas as condições mínimas de sobrevivências.
Aparentemente tudo isto é uma máquina muito bem oleada. Certamente que alguém lucrará com o contínuo esforço financeiro inerente à guerra e à sustentabilidade dos campos de refugiados.
Certo é que passaram décadas onde se comprova que existe um ciclo contínuo de miséria humana e destruição de estados soberanos. Talvez porque a guerra noutras paragens, por ideais comuns mas em terras que não as nossas, é desprovida do verdadeiro sentimento de reconstrução e compromisso ad eternum, do deixar de herança às próximas gerações um território e uma sociedade evoluídas. Estas são o tipo de guerras de toca e foge. Basicamente destrutivas e incapacitantes de um pretenso inimigo que acarreta ao mesmo tempo o desamparo e desnorteio por parte dos que residem naquelas paragens.
Julgo que tal como acontece a muitos outros níveis é chegada a altura de repensar como melhor investir estas verbas gastas em guerras ciclícas infrutíferas e no estancar/cuidar de populações em fuga. Do meu ponto de vista deveria ser criado um organismo mundial militar que ao invés de fazer a guerra em territórios alheios permitisse sim capacitar uma população de o fazer de forma autónoma. Formação militar e de engenharia (para a reconstrução), instrução de valores sociais e democráticos, capacidade de resistir a incursões terroristas. Como? Simples. Em casos de ameaças a estados legítimos, através do poderio de força militar, este organismo mundial teria legitimidade para criar um campo logístico no próprio território do país em perigo. A criação do campo de refugiados, da zona tampão fortificada, seria executada no próprio território e não num país vizinho. Um forte de defesa intrasponível, possível devido ao poderio de uma coligação mundial. E dentro desse forte ao invés da população refugiada marinar em desesperança poderia ser instruída e capacitada para a realização autónoma da defesa e reconstrução do seu país.
Com isto transformaríamos refugiados em emancipados capazes de lutar as suas batalhas, ganhar ou perder as suas guerras, mantendo a sua dignidade e o seu orgulho nacionalista. Dispostos a morrer na luta pela sua nação ao invés de pela miragem da salvação do bom acolhimento por parte de países desenvolvidos.
As grandes potências ocidentais já demonstraram ser boas a ganhar guerras mas muito más a criar condições para a manutenção de uma paz e estabilidade duradouras (parece que só funcionou nos territórios onde vivem). Talvez esteja na altura de acreditar que dados os meios adequados também outros povos serão capazes de resolver os seus assuntos de forma definitiva pelas suas próprias mãos.