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Gladiator

Um grande e longo filme, um enredo épico, uma desventura na antiguidade, um clássico do cinema moderno, um relato sobre a cruel natureza humana. A história conta-nos a vida de um guerreiro caído em desgraça, feito escravo e obrigado a lutar como gladiador em pleno auge do grandioso Império Romano. A narrativa começa com uma fenomenal demonstração de força da Legião Romana, da sua implacável brutalidade e sagacidade de manobra. Liderado pelo General Matteo e sob supervisão do bondoso e velho Imperador, o exército romano esmaga o inimigo numa grandiosa batalha. Embora os guerreiros germânicos sejam corajosos e destemidos, o exército bárbaro sucumbe à eficácia da Legião Romana, essa invencível máquina de guerra que impôs ao mundo de então a sua paz. Sem alternativa!

Morto o velho Imperador, o bom, assume o trono o seu filho mimado, o mau. Temendo o poder do General, o Imperador mimado ordena o seu assassinato às mãos da muito zelosa guarda pretoriana. Este, guerreiro feroz, consegue escapar e tenta em vão salvar a família. Perdido, é capturado e feito escravo. Levado para muito longe, é forçado a lutar pela vida e embora inicialmente desmotivado, lá aprende a apreciar a ovação do publico enquanto massacra os adversários na arena. Ave Draghi qui morituri te salutant

Sem entes queridos, o seu único propósito é o desejo de vingança, oportunidade que o destino acaba por lhe oferecer, conduzindo-o até ao circo de Roma para um referendo. Ironicamente, a sua sobrevivência depende mais da armadura que do gládio!

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Wirtschaftsnachrichten

O canal televisivo SAT.1 acaba de anunciar a contratação de um dos maiores especialistas económicos nacionais, quiçá o mais valioso activo (“asset” em “economês”) da comunicação nacional, José Gomes Ferreira, aceitou o convite da estação privada alemã para liderar uma rubrica de comentário e notícias de negócios. As extraordinárias competências do nosso concidadão não passaram despercebidas aos germânicos e nem a barreira linguística parece ter demovido os responsáveis. A convicção com que apresenta números e multiplicadores é tal que a linguagem corporal valerá por si. A direcção de programas da estação explica num sucinto comunicado que os dotes argumentativos e o domínio dos modelos matemáticos por parte do nosso Zé, muito embora ponderados, não foram os factores decisivos para a escolha, mas sim a sua prestação na explicação à população nacional portuguesa sobre a robustez do extinto BES. Está também prevista a edição de um inédito e despretensioso livro intitulado “mein Regierungsprogramm“…

Os rumores sobre as dificuldades do Deutsche Bank terão igualmente contribuído para justificar as alterações ao critério editorial da estação, nomeadamente a necessidade de preparar as mentes não só dos contribuintes germânicos, mas igualmente dos futuros lesados do Deutsche, tarefa para a qual o perfil do nosso compatriota constituiu garantia para uma resposta de excelência.

Tal como cá, a guerra pelas audiências é implacável, e ao que consta a estação rival, a RTL já terá sondado um tal de Camilo Lourenço para responder à altura. Muito embora até ao momento não se conheçam quaisquer desenvolvimentos, diz-se que não será piegas.

wirtschaftsnachrichten

Nadar com Porcos

As Bahamas, um arquipélago de ilhas paradisíacas e terra natal do povo Taíno, são deste a chegada de Colombo em 1492 um território condenado à patifaria. Logo no inicio do século XVI toda a população indígena foi escravizada e enviada para outras paragens. Extraída a mão-de-obra, os espanhóis partiram, deixando o arquipélago completamente deserto durante mais de um século.

Os britânicos começaram a chegar na segunda metade do século XVII, mas só em 1718 as ilhas se tornaram uma colonia britânica. De entre os súbitos de sua majestade, provavelmente o mais celebre de todos os colonos foi Edward Teach, um famoso empreendedor que ficou conhecido como Barba Negra, o pirata.

A independência chegou no século XX, no excelente ano de 1973. Foi em Janeiro desse ano, graças a uma acção de “sedução, roubo e fotocópia” (digna de um filme do 007), a autoridade fiscal norte-americana conseguiu obter de um imprudente funcionário bancário uma lista com o nome de mais de 300 cidadãos americanos. A estes cobrou coercivamente mais de 50 milhões de dólares em impostos não pagos. As quatro décadas seguintes foram absolutamente tranquilas.

Destino turístico de elite, detém uma oferta balnear única no mundo! Nas Bahamas, o turista ao invés de ir a banhos com cetáceos, pode nadar com suínos! Esta singular vivência raramente é partilhada pois os banhistas preferem o sigilo. São férias envoltas em secretismo, uma vez reveladas criam embaraço a quem as usufruiu. A ex-comissária europeia para a concorrência, a holandesa Neelie Kroes que o diga… Na União de Europeia de hoje, carenciada de novos e virtuosos exemplos, a omissão pode vir a custar-lhe a pensão de reforma, mas tal como o anterior episódio da saga “Papers“, a sensação do momento dará rapidamente lugar à inconsequência.

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Regente Agrícola

A sátira de hoje é sobre a desilusão manifestada pelo regente agrícola que preside ao Eurogrupo, o indivíduo cujo impronunciável nome é Dijsselbloem. Rapaz católico nascido em terra protestante, é um tipo importante! Ele assim pensa. Preside ao encontro mensal e informal dos Ministros das Finanças dos países do euro, reunião à qual alguém teve a original ideia de atribuir um nome próprio, como se de uma instituição, que não é, se tratasse. Mensalmente, aqueles que gerem o destino financeiro dos países do euro reúnem sob o comando de um especialista em agricultura, mas não é por isso que lhes chamam nabos…

Após as tradicionais ameaças, desta feita sem sequer disfarçar a chantagem, afirmou que a submissão nacional o levaria a intervir de forma benevolente. A tirada aparentemente paternalista foi apenas mais uma manifestação de soberba. Por isso lhe inchou o ego. Mas a desilusão não se deveu apenas à vaidade, deveu-se sobretudo à sua inabalável ideologia, à sua profunda crença no modelo de negócio e de gestão da virtuosa Vereenigde Oostindische Compagnie, empreendimento que entre nós ficou conhecido como a Companhia Holandesa das Índias Orientais. Estudioso destas coisas da economia agrária, tem particular admiração pela condução do negócio das especiarias no inicio do sec XVII nas longínquas ilhas Molucas. A cultura que mais o fascina é a do Cravo-da-índia, daí recorrer a métodos semelhantes aos de então. Parece porém, que este valiosíssimo intelectual tem vindo a cavar a sua própria cova. Não é suposto haver espaço para veleidades dos nativos…

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Aldeia Cósmica

Partiu de Cabo Canaveral a bordo de um potente foguetão Atlas V. Após quase 5 anos de viagem, a sonda Juno chegou finalmente à orbita do gigante gasoso, o Planeta Júpiter. O maior planeta do sistema solar e nosso maior protector, recebeu a sonda Juno com um estrondoso e arrepiante rosnar – O som do vento solar ao chocar com a magnetosfera de Júpiter, segundo explicaram os cientistas. Prodigioso! A nossa “cobertura de rede” alarga no Cosmos. Parece que lentamente a ficção cientifica se vai transformando em realidade do quotidiano. Vivemos tempos extraordinários, presenciamos momentos únicos da história da nossa espécie. O Cosmos é o nosso novo horizonte.

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De volta à Terra, constatamos que apesar da nacionalidade norte-americana da sonda Juno, é à União Europeia que cabe liderar o planeta. É verdade, apenas a comissão europeia e apenas ela parece ter acesso aos grandes líderes da galáxia, quiçá do universo, e com eles pode até trocar ideias sobre os mais mundanos dos temas, como sejam as eventuais sanções aos modestos países Ibéricos, ou sobre o divórcio do Reino Unido da União Europeia. Para o provar, Jean Claude Juncker afirmou ontem que os líderes de vários planetas lhe manifestaram profunda preocupação com as consequências do brexit.

Os mal-intencionados dizem hoje que se tratou de um lapso, um eventual resultado da inabalável crença do presidente da comissão europeia nas propriedades hidratantes da bebida tradicional da Caledónia, mas eu discordo. Acredito que ele está mesmo em contacto, ligado ao mais alto nível da liderança cósmica…

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Laivo de Clarividência

Nem sempre é nítido o contraste entre o absurdo e o óbvio. Vivemos tempos estranhos. Apenas o viral é real. Tudo o mais não existe. O virtual até já impõe agenda aos media, mas grosso modo prevalece o princípio da exclusividade absoluta da verdade: a televisiva. Se o noticiário não relatou não aconteceu.

Exposto o abstracto, vamos ao concreto. O exemplo: Num laivo de clarividência, o presidente da comissão europeia, o homem da terra da competitividade fiscal, o luxemburguês Jean-Claude Juncker disse ontem o óbvio! Por cá não passou, pois foi dia de propaganda sobre avisos e críticas à soberania lusitana, logo não houve espaço mediático. Assim se vende em permanência a ideia que nós, entregues a nós próprios, só fazemos asneiras. Resumindo, em dia de divulgação de ameaças, esqueceram-se de nos informar sobre as palavras de Junker. Que disse ele? Que a União Europeia (imagine-se!) errou. Reconheceu que a legislação Europeia é excessivamente intrusiva, que interfere demasiado nos processos legislativos nacionais dos países membros e que por essa razão os cidadãos se afastam cada vez mais do ideal europeu.

Este recado para britânicos, em nítido contraste com a mensagem que ontem nos estava destinada, é tão lúcido como verdadeiro. Traduz a percepção crescente entre os europeus, de um extremo ao outro do campo ideológico. Seja a extrema-direita de leste ou a extrema-esquerda dos periféricos, ninguém quer ser europeu deixando de ser aquilo que nasceu, cidadão do seu país. União não é, não pode nem será, uniformização. Ninguém a quer!

Laivo-de-Clarividencia

 

Noddy, Mário Noddy

O prometido é devido, mesmo que a contragosto, eis-me a cumprir com a palavra dada. Hoje sim, é dia do herói principal destas aventuras. Mais tarde voltaremos às outras personagens. São tantas, tão ricas e diversificadas que a tarefa não se avizinha fácil, mas fica a promessa. Vamos ao que interessa, à ordem do dia.

Reuniu ontem o conselho de estado, em virtude de o cargo de Presidente da República ter sido novamente preenchido após longo hiato de uma década. Estamos portanto na chamada fase do “estado de graça”, consequência do alto patrocínio do factor novidade. Tanta é a ternura nesta nova era dos afectos que os conselheiros foram brindados com um convidado especial. Já se sabe que recebemos bem, que os convivas apreciam o clima e a gastronomia, mas nunca a satisfação do turista foi para nós tão importante.

Abram alas para o Mário! Viva! Chegou e disse, falou e foi-se. Reformar é a ordem. Reformar sem reverter, porque as reformas foram todas óptimas. O crescimento económico bate à porta, em linha com a Europa. Olha que bom! Importante por cá, no país dos brinquedos, são os juros da dívida soberana. Soberana? Confesso que não consigo escrever isto sem me rir. Soberana. Trágico, não é? Como podemos sequer usar a palavra quando é o Noddy que tudo faz? É ele, não os mercados, nem as reformas, que faz baixar os juros, logo, é ele, o Noddy quem manda. Gostamos? Não, mesmo nada, mas também de nada nos serve fingir.

Draghi-Noody

Dia das Mentiras

A origem do Dia das Mentiras está relacionada com a história do calendário, mais concretamente com a chegada do ano novo, o qual era celebrado desde o equinócio da Primavera até ao primeiro dia de Abril. Para nós ocidentais, o ciclo anual não coincidia então com o movimento de Translação da Terra, ou seja, o calendário estava desfasado do ano solar. As mudanças de estação ocorriam em alturas diferentes a cada ano, ora num mês, ora noutro, pelo que a celebração do ano novo era naturalmente imprecisa.

Foi Júlio César quem primeiro se propôs resolver este problema. Começou por decretar o ano da confusão, em 46 a.C., que com os seus 15 meses e 455 dias permitiu acertar o calendário ao tempo natural. No ano seguinte, 45 a.C., foi então implementado o Calendário Juliano, com os seus 12 meses e 365 dias. Mesmo assim, todos os anos sobravam 6 horas, sendo esta a razão para os anos bissextos. De quatro em quatro anos, o mês de Fevereiro tem mais um dia para compensar as 6 horas adicionais dos 4 anos anteriores. Corrigido o problema, as celebrações do ano novo decorreram com exactidão até ao primeiro dia de Abril. Assim foi até 1564, ano em que o Rei Carlos IX de França mandou publicar o decreto “Edict of Roussillon“, o qual está na origem da tradição do dia das mentiras, ao determinar que o ano novo começava a 1 de Janeiro. Desde então que aos tolos se reservam convites para festas que não vão acontecer…

Nascera a tradição do dia de hoje, mas o calendário Juliano continha um problema eclesiástico, pois gerava o desfasamento com o calendário litúrgico, nomeadamente com a celebração da Páscoa. Foi para corrigir este problema que o Papa Gregório XIII promulgou em 1582 a bula “Inter Gravissima”, instituindo o calendário Gregoriano, o qual se manteve em vigor até 1964, ano em que foi implementado o Calendário dos nossos dias, o calendário Pirelli, o qual como sabemos, não tem qualquer problema ou questão. É perfeito!

1Abril

Je suis Deutsche Bank

Amigas, prezados senhores, excelentíssimas senhoras, companheiros em geral, classe média em particular, este alerta é para vós. Vocês que a tempo resgataram o depósito à ordem no BPN, que oportunamente soltaram amarras da vossa poupança aplicada a prazo no BES, que assim sacrificaram o juro e rumaram a águas mais seguras, vós a quem nem o Banif lesou, quais velhos lobos-do-mar, sábios na arte de evitar as tempestades, eis chegado o momento de repensar a rota. O refúgio nas margens do Meno talvez não seja agora muito avisado. Vem lá borrasca da grossa. Alerta! Nada será como antes. A prudência aconselha agora o cofre, o colchão ou mesmo a roupa interior.

Feito o aviso, estou certo que mandatado por todos vós, não posso deixar de aqui exprimir toda a nossa compaixão e empatia para com todos os contribuintes que a esta causa serão chamados, sejam eles quem forem, estejam eles onde estiverem. Nós sabemos o quanto custa, mesmo que nem sempre seja claro o que é mais difícil: o anúncio que tudo está bem, a surpresa que afinal não está, o choque do valor a pagar ou as subsequentes investigações e comissões de inquérito. Coragem, tudo passa, leva tempo, mas passa. Resistam, não sejam piegas, consolidem, resgatem, façam o que for preciso. Lembrem-se, é para o vosso e o nosso bem. O sistema é perfeito, nunca se esqueçam. Nunca falhou. Vide os nossos casos de polícia…

Todos, todos somos um e a uma só voz diremos: “Je Suis Deutsche Bank”.

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O Retrato Oficial

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Após algumas semanas de ansiedade, chegou finalmente o dia da apresentação do entediante Orçamento de Estado no Parlamento. Que alivio. Vamos finalmente deixar de assistir ao jogo de parada e resposta entre a dramatização e a desdramatização. O processo apenas serve um propósito – desviar as atenções e banalizar a soberania abdicada. Dirão os euro-crentes que a mesma foi voluntária, que consta de tratados, assinados claro está sem nenhuma arma apontada à cabeça. Uma arma não, mas o Pacto Fiscal Europeu foi assinado em Março de 2012. Por vezes, sobretudo quando conveniente, a emergência financeira é esquecida. Enfim, todo este processo de normalização por anestesia serve apenas para nos habituarmos à ideia do fim da soberania Nacional, para a termos como banal. Para meu profundo desagrado, está a resultar.

Opto então por comentar outro assunto. Prefiro as boas notícias. Preparados? Aqui vai: faltam apenas 28 dias para terminar o mandato do actual Presidente da República! É ou não é uma boa noticia? É excelente! Mas há mais. Há pelo menos mais uma boa noticia: Antecedendo o instante da sentida despedida, será apresentada a mais recente e valiosa peça do acervo do Museu da Presidência da República, mais uma maravilhosa pintura para a Galeria de Retratos Oficiais.

Depois do conservadorismo de artistas como Columbano Bordalo Pinheiro, Henrique Medina e Eduardo Malta terem feito escola, a tradição foi rompida pela originalidade de Júlio Pomar, logo seguido pelo retrato contemporâneo da autoria de Paula Rego. Sei, de fonte insegura, que o Presidente cessante vai manter esta tendência de ruptura com os cânones do retrato presidencial. Vai inovar. Desta feita, a obra fala por si. O autor permanecerá anónimo, mas o seu mérito é inegável. O quadro caracteriza o retratado tão bem como aos seus concidadãos, aqueles que por voto ou omissão o elegeram tantas vezes. Celebremos.

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