Amadores e Contra
Esta segunda-feira detive-me uns minutos a ver o Prós e Contras da semana. O tema “A comissão parlamentar do caso GES”. O segmento a que assisti focava-se no problema criado com a trapaça de induzir grandes e pequenos investidores a investir em larga escala no papel comercial do GES. Os principais temas em cima da mesa referiam-se à inação dos reguladores, que toleraram este tipo de produto com venda alavancada em acção comercial abusiva, e à flutuação dos termos da resolução proposta para de alguma forma reembolsar os lesados no futuro.
A conversa e polémica não são propriamente novas, com avanços e recuos, mas o pormenor que me chamou a atenção foi o facto de ninguém do Banco de Portugal, do Novo Banco, da CMVM, do antigo BES, alguém ligado ao processo, às entidades envolvidas, se ter disponibilizado para participar no debate materializando a facção dos Prós. Ou seja, os defensores da solução encontrada, os executores das partilhas entre o Novo e o Mau, os decisores de quem recebe bóia de salvação e de quem é atirado borda fora como náufrago colateral, não estão dispostos a beneficiar do prime-time para dar a cara, para expôr argumentação justificativa da sua acção e esclarecer directamente os lesados, e o público em geral, relativamente à inevitabilidade e adequação do cenário actual.
Especulo que os administradores de topo destas entidades sejam especialistas em matérias complexas que fogem ao entendimento dos comuns dos mortais. Sobretudo dos clientes das entidades bancárias e financeiras de confiança e falidas. Seria uma maçada ter de lidar com eles assim, aos magotes em praça pública, a falar de fait-divers pessoais. Para estes administradores é difícil traduzir grandes números de capital agregado em infímas parcelas de cumprimento de compromissos assumidos com base em poupanças seguras, parcelas que se traduzem em despesas de habitação, alimentação, medicamentos, etc. Os números são residentes dos sistemas informáticos, ficam lá sossegados quando desligamos o PC, não são inconvenientes a andar atrás de nós na rua a chamarem-nos mentirosos e gatunos. Na verdade eles amam sistemas de informação pois com arte e engenho será fácil construir uma narrativa que conclua que tudo não passou de uma série de bugs informáticos, imputando as culpas a um qualquer operador ou responsável técnico que tenha anuído à execução de ordens superiores.
No fundo eles são os donos disto tudo, que decidem quem vai a jogo e quais as regras, são uns reguilas que quando encostados à parede têm estofo e à vontade para esquivas como “não fui eu” e “não me lembro”. Para quê reguladores quando temos tão bons reguiladores?
Portugal é muito isto. Uma gestão cobarde e opaca executada por especialistas da complexidade teórica das coisas que se revelam demasiado amadores relativamente à realidade prática das coisas simples.
Posted on Abril 2, 2015, in Escárnio e mal-dizer and tagged Roubalheira. Bookmark the permalink. 1 Comentário.
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