Category Archives: Desporto
O desporto reflecte a sociedade, naquilo que ela tem de melhor e de pior. Celebramos e criticamos os comandantes e tripulações, os almirantados e adeptos da actividade desportiva em geral e da nacional em particular. Tudo com muito fair play. Que ganhe o melhor!
ZCAP, ZMAR e ZPORTING
Pensamento crítico, escrita e oratória eficazes, um trio incómodo que obriga a medidas extra-ordinárias para proteger a comunidade de perigosos e acutilantes raciocínios. Não é altura de cultivar o livre-arbítrio.
Estes últimos dias foram estranhos. Ainda em Outubro se tinha apresentado um plano de constituição de ZCAPs com capacidade máxima de até 5 500 “utentes” e agora em Maio, passados 6 meses, o governo recorre a outra ferramenta ao seu dispor, que nunca utilizou para activar as unidades de saúde privadas, fazendo-o para tomar o ZMar. Isto para alojar perto de 30 pessoas que viviam em condições que não permitiam o devido isolamento sanitário. Que é feito do plano que daria resposta a milhares?
Curiosamente durante uns dias nos noticiários viveu-se a realidade de Odemira como se fosse nova, tentando conquistar a aceitação da pública em nome dos mais básicos direitos humanos. Os representantes locais estimavam que até 6 000 dos 13 000 trabalhadores não teriam condições de habitabilidade. Isto sim, já é deveras preocupante pois em caso de necessidade, por proliferação de testes positivos ao COVID19, realmente não haveria mãos a medir para resolver o tema, garantindo as devidas condições de isolamento. Projectando este cenário pessimista, só possível de acontecer se for conseguida a execução do plano de testagem delineado, e antecipando o enorme esforço necessário para dialogar com os proprietários das propriedades requisitadas sugiro a concentração de interlocutores focando atenção no património detido por exemplo pela Santa Casa e bancos. Dão resposta à altura, são parceiros de extrema confiança e inclusive detêm imóveis que permitiram alojar centenas devidamente compartimentados no mesmo espaço. Em adenda estando a maioria devolutos não existirá qualquer tipo de prejuízo a particulares e empresas e talvez seja até algo a considerar quando se iniciar o uso de novo brinquedo à disposição.
Ainda a nação digeria os acontecimentos com a grande família de trabalhadores rurais de Odemira, eis que uma outra família desperta de hibernação. A nação Sportinguista, em pleno êxtase, sucumbe aos valores do coração, alicerçados em argumentos da sua razão individual, em detrimento dos valores incutidos pela razão institucional. E desta vez não são só eles que sabem porque não ficam em casa.
Depois de assistir aos canais de informação a sublinhar o carácter vergonhoso da realização da festa do Avante, a irresponsabilidade dos que em família rumam a praias e passeios marítimos em dias de sol, o negacionismo chalupa dos milhares que se manifestaram na World Wide Demonstration Lisboa no passado dia 15 de Março, confesso que fiquei muito surpreso com o tom carinhoso, compreensivo e condescendente com que se referiam à festa e adeptos leoninos, tão ou mais violadores das recomendações feitas pela DGS. Até lhes foi dada ampla cobertura televisiva, direito a dizer o que pensam via voxpop em directo, coisa que jamais ousaram fazer no passado com os executantes de comportamentos desviantes ao sanitariamente correcto. Quem sabe se não foi o evento que servirá de case study à reabertura?
Serena, Katar Moreira
Serena, Katar Moreira, disputa com a direcção do Livre o derradeiro ponto do primeiro Set. Anunciado o Set Point, fez-se silêncio, apenas se ouve o bater das bolas no fundo do corte. Ninguém sobe à rede. Entretanto, o plano de jogo não foi cumprido, o treinador diz-se surpreendido, os fãs mostram-se profundamente desiludidos. Errou no serviço, fez dupla falta: não só se absteve no voto de condenação como falhou a pancada mais emblemática do seu jogo, a Lei da Nacionalidade. Erro de principiante, a falta de pé ao servir poderá eliminar a tenista logo na primeira ronda do torneio.
Resta saber quem se está a tentar ver livre de quem…
A diversidade na representação parlamentar é bem-vinda, quando mais amplo o espectro, melhor. Contudo, a regeneração do sistema político por vezes começa pela regeneração das próprias forças regeneradoras, tumulto que poderá muito facilmente conduzir à sua própria extinção. Tipicamente o eleitor que neles vota é aquele que não se sente representado pelo sistema dito tradicional, tem expectativas elevadas, desiludi-lo é letal. Assim foi com o “Partido dos Reformados”. Ora, quando a eleita não marca a agenda pelo conteúdo, mas sim por sucessivos episódios de superficialidade, como sejam indumentárias de assessores ou considerações de desamor em debates quinzenais, não se lhe augura grande futuro no exigente mundo do ténis profissional. Foi tempo perdido em faits divers, uma presença em Court desperdiçada. A oportunidade para uma primeira boa impressão foi arrasada.
Pior só se resolver a frustração com a cartada do racismo.
Lançamento do Martelo
As olimpíadas estão para uma legislatura como os jogos olímpicos estão para as eleições legislativas. Tal como a legislatura é o período de tempo entre cada ida a votos, a olimpíada é o período de quatro anos entre a realização de dois jogos olímpicos. São ambas temporadas de preparação para o momento decisivo, fases de treino ao longo das quais se ensaiam diferentes estratégias e metodologias de treino. É pois com grande espírito de sacrifício que os políticos, quais atletas de alta competição, procuram afincadamente atingir os chamados mínimos olímpicos, a marca que os conduza a nova eleição.
A glória de uma medalha de ouro encontra paralelo na política na tomada de posse como ministro e consigo traz prestígio eterno a quem a conquista. O mundo é feito de vencedores e no desporto, tal como na politica, são os eleitos que ficam para a história. Um medalhado apenas cai em desgraça quando apanhado nas malhas do doping. A batota, tal como o consumo de substancias proibidas, pode por vezes ajudar o atleta menos dotado a obter marcas de excelência, mas nem sempre.
Por vezes, o atleta precipita-se, dá passos maior que a perna e cai em desgraça. O público, tal como os eleitores, não perdoa o uso de estimulantes, narcóticos ou anabolizantes, mas há sempre atletas e políticos dispostos a correr o risco da desonra em troca da esperança de vitória. Alguns, perdidos na melancolia dos dias de glória, quando a aritmética lhes falha, na sua sede de pódio, desesperam…
Lei da Vantagem
A paixão pelo desporto em geral, o fanatismo pelo futebol em particular, faz de nós uma nação peculiar. Quiçá o único sobrevivente da trilogia doutrinária de outrora, o dito desporto rei movimenta milhões e enlouquece os tostões. Os dois clubes rivais, os Milhões e os Tostões, jogam em campeonatos diferentes, mas nenhuma outra partida é alvo de tamanha cobertura mediática. Eis o derby que mais paixões incendeia, a chama imensa da indiferença de todos aqueles que não sabem porque ficam em casa em dia de eleições.
A disponibilidade para analisar o mais complexo dos temas ou polémicas desportivas é total, o empenho em compreender inexcedível, seja a questão financeira, do foro médico dos atletas, ou outra. Nenhum erro desportivo sai impune, livre de críticas ou polémicas. O contraste com a indisponibilidade para outras causas não podia ser mais nítido. No país das Comissões Parlamentares de Inquérito sem fim ou consequência, por mais ruidoso o sintoma, a impunidade dos eleitos é garantida pela inépcia dos votantes. Queremos é desporto!
Os Milhões esses, movimentam-se livremente. Equipa repleta de vedetas, viajam muito pois disputam o campeonato de elite, a liga Offshore. Já os Tostões, equipa sem brilho, integramente constituída por jogadores de natureza infractora, ditos contribuintes, lutam para não descer de divisão. Assim foram os regionais, nenhum cartão ficou por mostrar, nenhuma falta por assinalar! Todos, Milhões e Tostões, conhecem as regras de jogo, mas tal nunca evitará a revolta dos Tostões quando a lei da vantagem é aplicada aos lances de milhões.
Tiro ao Boneco
Pérfido e vil traidor à pátria, ingrato e rancoroso, mesquinho e malfadado, eis o perfil que convém ao vilão do momento mediático. Na hora de glória do filho mais pródigo da nação, na falta de melhor notícia, nada como uma parangona sobre traição à nação e aos seus símbolos, sobretudo aos de carne e osso. Compreende-se. No momento de idolatrar o melhor do mundo, uma vez esgotada a notícia da vitória, nada como o contraste entre a virtude e a ignomínia, uma notícia para execrar outra personagem. Bem, pelo menos à primeira vista porque após leitura tudo se relativiza. O protagonismo coube a um velho desafortunado da nossa história desportiva, ex-seleccionador nacional de futebol, Carlos Queiroz. Parece que entre os seleccionadores com direito a voto na eleição dos melhores, não favoreceu os compatriotas a concurso.
Terá mesmo votado contra? Em rigor, não! Não, porque não lhe coube a decisão sobre o sentido de voto. Foi mandatado. Se em Roma, sê romano, em Teerão sê iraniano. Parece que entre os persas, tal como nas grandes e liberais democracias do mundo, a lógica de um voto por cada homem cede o lugar ao colégio eleitoral, composto por super-eleitores, treinadores da Iran Pro League, que entre si decidiram o voto do treinador português, seleccionador do Irão e injustiçado vilão de mais esta desventura. O caso não é de todo aquilo que aparenta, mas à maioria pouco importarão os factos. Perante a notícia manipuladora, avançará o pelotão de fuzilamento. Vamos ter tiro ao boneco.
Grand Prix
O cancelamento do Grand Prix de Lisboa causou grande tristeza, desalento e até alguma revolta entre os milhares de Tiffosi que se deslocaram à capital para vibrar com as emoções da competição. Os entusiastas suportaram e sobreviveram a grandes privações e desventuras, como voos lowcost, serviços de táxis ou até à compra de bilhetes de metropolitano para no fim se verem obrigados ao regresso, sem o justo premio do evento desportivo. Mais de duas décadas após a primeira corrida que opôs um Burro a um Ferrari, o conceito comprovou o seu enorme potencial de atracção turística. Diz a sabedoria popular que a forma mais sincera de elogio é a imitação, mas nem sempre é possível reeditar os grandes eventos de outras eras. Burros habituados às condições de stress do transito urbano são hoje raros, pelo menos entre quadrúpedes.
Parece então que alguém se desobrigou de comparecer ao compromisso. Os promotores falam em censura, as autoridades municipais dizem que tudo não passou do regular funcionamento das instituições, no caso as sanitárias e de saúde animal. Preocupações com o estado do tempo e a impossibilidade de ferrar o animal para piso molhado estão na base do aviso das autoridades competentes. Por outro lado, as associações de defesa dos direitos dos animais, acusaram os promotores de atentarem contra a dignidade do animal humilhando-o na via publica. Devo dizer que discordo deste argumento – Se alguém sairia humilhado neste evento, seria obviamente o Ferrari, que aliás, foi bloqueado por falta de titulo de estacionamento válido…
Abstenção da coerência
Este foi um FDS de derby lisboeta com milhões alienados pela ‘grandiosidade’ do embate entre Sporting e Benfica e como sempre as bancadas abarrotadas, as audiências no pico.
A minha relação com o futebol passou por vários estágios. Até ao início da adolescência ignorei-o, depois joguei-o, tornei-me fã e sócio de um clube: o Glorioso. Cheguei a ter passe durante 2x ou 3x épocas não falhando um jogo. Depois deixei de ir ao estádio mas tentava não perder a transmissão dos seus jogos, até que progressivamente comecei a dar aquelas 3 horas por jogo (contando com o pré e pós) como perdidas. As coisas que eu poderia fazer nos dias acumulados que gastava a ver futebol. E cortei de vez com esse mundo de fantasia e idolatria. Num ápice libertei-me dos calendários de jogos, das novelas futebolísticas e de todo o entretenimento montado à sua volta. O bem que me fez e sem qualquer tipo de ressaca!
O que me surpreende nos dias de hoje é a falta de coerência de muitos milhares ?milhões? de adeptos portugueses que alegam não se interessar por política, não votar, porque os políticos são todos iguais, corruptos e mafiosos. Ou seja, a retaliação para com a máfia política é a ausência na participação consciente e activa no único acto que poderia afectar directamente essa máfia.
A incoerência vem do seu comportamento para com o futebol. Nos últimos anos foram revelados factos irrefutáveis de que o futebol é corrupto, é mafioso em todas as suas vertentes. Presidentes de clubes, agentes desportivos, árbitros, jogadores, em todas as camadas é gritante a existência de mais um sistema criminoso. No entanto no futebol não existe retaliação para com esta realidade. Ao invés da abstenção na ida aos estádios e no assistir aos jogos na verdade existe assiduidade e atenção tão segura que permite a assinatura de contratos milionários apenas para garantir direitos de transmissão.
Talvez do que Portugal precise seja da substituição dos agentes políticos pelos agentes futebolísticos. PS, PSD, CDS, etc, substituídos por uns superiormente representados SLB, SCP, FCP, etc. Seguramente que os apoiantes de cada partido/clube iriam querer demonstrar a sua supremacia sobre os eternos rivais rumando às urnas em grupos organizados, entoando cânticos entusiásticos, pelo que mesmo que isto nenhum benefício trouxesse ao país ao menos teríamos muito maior legitimidade para o empossar dos seus governantes. E assim teríamos presidentes de clubes a presidir a nação em simultâneo, comentadores desportivos como deputados em acesos debates parlamentares sobre estatísticas e falhas de execução das políticas do último defeso, misters e jornalistas a elaborar estudos de pormenor e projecções detalhadas sobre os próximos desafios, sempre que um banco fosse desfalcado prontamente se resolveria a situação com a contratação de grandes craques, e por fim os adeptos/eleitores atentos, interessados, com alto nível de exigência, levando ao rolar de cabeças quase imediato sempre que os resultados não apareçam.
Assim de repente parece-me um sistema funcional! Talvez até mais do que o de hoje! O melhor de tudo é que esta concentração de gente honrada, o uso de linguagem fácil e acessível, levaria ao aumento do interesse da população e a tal valorização do Canal Parlamento que acredito que viria a ser possível pagar a dívida externa só com a venda da exclusividade dos seus direitos de transmissão.
Se nada disto vos fizer sentido experimentem passar por um ano de castidade futebolística e voltem a reler este post. Tenho a certeza que é post para golo, nem que seja um auto-golo ou mal anulado.