Arquivos de sites

Os Incríveis

Os-Incriveis

Decidi recordar hoje, no dia da familia, um dos grandes clássicos dos filmes de animação, “Os Incríveis”. O filme relata a saga de uma família de super-heróis obrigada a viver no anonimato. O quotidiano entre os comuns dos mortais não é vida fácil para hiper dotados. O patriarca, o Sr. Incrível é dotado de uma força extraordinária. A matriarca, a Sr.ª Elástica, estica, dobra, faz o que for preciso pelas suas crianças. É nelas que reside esperança para um futuro melhor. Relembremos a prole. Violeta, a filha mais velha tem dois poderes, campos de força e a invisibilidade. Controla ambos com mestria, mas como sabemos, é no meio que está a virtude. É rapaz, chama-se Flecha, é rápido, rapidíssimo! Tão ágil e despachado que consegue correr sobre a água. Por fim, a cria mais nova, o Zezé, cujos poderes são desconhecidos de todos. É como um turista. Talvez lá para o fim do filme se manifeste.

Após muitos anos impedidos de demonstrar os seus poderes, uma grande ameaça ao interesse nacional obriga-os a revelar todas as suas aptidões especiais. Entram em acção para nos salvar do Síndrome, o vilão recalcado. Nem ele sabe o preço que pagará… São uma Famiglia INCRÍVEL!

A Cura

Prevenir é geralmente o melhor remédio. A assertividade da sabedoria popular é virtude da experiência feita. Mas nem sempre o saber empírico é devidamente valorizado. Por vezes, os bons exemplos, os casos de sucesso são mal-amados, desprezados e até inexplicavelmente criticados.

Quando por exemplo o governo aprovou alterações à legislação sobre o álcool, houve logo quem o acusasse de não apostar na prevenção, limitando-se a proibir. Que injustiça! Então não se está mesmo a ver que a proibição é a melhor forma de prevenção? Só quem nunca foi jovem poderá pensar o contrário. O mesmo acontece com a ilustração dos maços de tabaco com imagens tenebrosas. É brilhante! Nunca mais algum cigarro será fumado.

Creio até que poderíamos alargar o método a outros maus hábitos. Poderíamos por exemplo ilustrar as embalagens de fast-food com imagens de obesidade mórbida e slogans simples e directos como “ninguém quer namorar com badochas”. Prevenção, pois então! Poderíamos ainda proibir a venda de qualquer produto com açúcar sem um rótulo preventivo, devidamente ilustrado com imagens em alta resolução de cáries, e com o correspondente aviso: “o açúcar vicia tanto como a cocaína“. Mas não, não podemos, há sempre quem se oponha à prevenção. Daí as terapias dos últimos anos…

Não é fácil gerir o futuro de uma população tão exigente, tão difícil de agradar. Que o diga o biografado do momento. Tantas vezes acusado de falta de experiência, de “carreirismo J”, mas desta feita e por uma vez fala com conhecimento de causa quando nos diz não existir cura sem dores. Quem sabe, sabe.

dores-de-PPC

A Chusma

Peripécias várias, tropelias múltiplas, a embarcação manteve o rumo. O vento e as marés alteraram muitas vezes a rota, mas a experiência de cabotagem do comando providenciou as correcções necessárias. Haja quem enfrente os problemas e sem receios ou subterfúgios diga qual a solução.

A Chusma da Galera moderna e competitiva quer-se magra. Sem gorduras. Linda até morrer!

chusma1

De acordo com a tradição, a Chusma da Galera portuguesa é composta por três tipos diferentes de contribuinte: Os escravos, os condenados e os livres. Como o padre Fernando Oliveira nos ensinou no seu livro “Arte da Guerra do Mar“, a Chusma não deve ser constituída apenas por escravos e condenados. Não é prudente. Assim aconselha a experiência. Quando não são livres, os remadores tendem a combater pelo inimigo sempre que a Galera é abordada, pois “o inimigo do meu inimigo, meu amigo é”. Eis porque desde o séc. XVI, a maioria dos remadores das nossas Galeras é livre, isto é, remunerado pelo seu trabalho. É este o verdadeiro problema! É Chusma, mas não é abundância, é custo.

Chusma2

Na verdade, apenas os condenados e os escravos são competitivos: remam a troco de nada, um pouco de pão e água. Os livres, esses privilegiados, apenas necessitam de remar a primeira metade do ano para pagar os impostos sobre o trabalho. Na outra metade, tudo que ganham é para si e para as obrigações fiscais que restem, sejam taxas, coimas ou até mesmo contribuições por empatia

A Chusma quer-se treinada, síncrona na voga, submissa e disciplinada. A Chusma aceita o seu karma porque há equidade nos deveres e direitos. Correntes e grilhões para todos, chicotadas para os mandriões. Vida dura, mas nenhum contribuinte é piegas. Não pode.

Chusma3

 

Rocky 7

Rocky-VII

O mais recente filme da mítica saga “Rocky” conta-nos uma história para crianças, que sem surpresa, relata mais uma esquiva do nosso herói. É lendário o seu jogo de pés. Há até quem diga que pensa com os ditos, tal a rapidez com que transforma um desequilíbrio em apoio para golpear. Converte qualquer fraqueza em força. A sua combatividade é internacionalmente reconhecida. É um sábio e sapiente pugilista, nada devendo aos gigantes da modalidade.

Mesmo quem não aprecia a personagem, reconhece-lhe o mérito desportivo. Um homem de invulgar resiliência, um lutador! Não há golpe que o derrube. Há alguns anos, resistiu estoicamente a um rude (e baixo) golpe no estômago. Agora mais experiente, afirmou não se surpreender. Pudera, a experiência fez dele um pugilista de outro nível, de uma outra estirpe. Interpelado por jornalistas, explicou que a vida de desportista é mesmo assim, por vezes muito treino e sacrifício não garantem os resultados. Não obstante é necessário continuar a trabalhar, tudo mudando para que tudo fique na mesma, i.e., Lixo.

murro

Cofres Atestados

Os cofres estão atestados, mas de quê? Com Diamantes? De barras Ouro? De lingotes de Prata? Não. Então? De Euros, de dinheiro! Mas como, fabricámos? Não, não podemos. As impressoras foram desligadas quando aderimos ao Euro. Mas porquê, estavam velhas? Estavam, mas não foi por isso. Foi por causa da inflação, esse perigoso flagelo, tão justamente temido pelos nossos amigos alemães. Está explicado. Não se cria moeda e pronto. Muito bem, haja rigor, haja disciplina. E a Criação monetária pelo Sistema de Reserva Fraccionada? Isso são contos para crianças, um não-assunto, uma palermice. Esclarecidos? Óptimo.

o_cofre_cheio

Estamos preparados, estamos aptos para resistir a qualquer investida especulativa sobre a nossa divida soberana. O dinheiro ficará nos cofres para cumprir todas as obrigações a tempo e horas, sem falhas. Nessa altura voltam a ficar vazios? Não, se os juros se mantiverem baixos, não. E se subirem? Não sobem porque o BCE não deixa. Podemos ficar descansados. Tranquilidade é a palavra de ordem. O problema nunca foi a divida, essa está boa e recomenda-se, o problema foi a falta de liquidez, a falta de guito. Havendo, está tudo bem, mesmo que se queime algum, está tudo bem, é apenas dinheiro.

Não sei explicar, mas enquanto escrevo isto, não consigo deixar de pensar no principio dos vasos comunicantes. Provavelmente estou só a meter água.

furnalha

A ajuda de Xerxes

Trinta e dois súbitos apelaram ao Rei Xerxes por mais simpatia para com a Grécia. Soberano, Xerxes explicou o equívoco. Esclareceu os ignorantes que o Império Aqueménida é aquele que mais ajuda a Grécia. O esforço do império em prol dos gregos é em termos relativos o maior do mundo. Magnânimo, encerrou o assunto. Eis demonstrada a vantagem de quem tem acesso privilegiado à informação e ao saber. Infalível!

Ou não? Terá Xerxes cometido um erro? Uma não-verdade? Aposto que não. Por certo que a explicação existe. Humildemente, lanço o meu apelo: Ó grande Xerxes, tu que tanto tens reformado o estado, tu que estabeleceste os limites, tu que nunca nos mentiste, esclarece-nos com o teu conto para adultos.

xerxes

Milho aos Pombos

Ele garante que lhe garantiram, ele surpreende-se com o que já sabe, ele fala quando nada tem a dizer e cala-se quando muito há por explicar. Atempadamente nos explica e avisa. Apela aos consensos em geral e à continuidade da paz podre em particular. É um legitimo porta-voz da subserviência ante os mercados. milho-ao-pombosCelebra os feitos nacionais e critica despudoradamente os inventores da democracia. Lá na sua azáfama consegue condecorar os seus, e borrifar-se para o galardoado com um Grammy. Ninguém fala nisso porque não só está no seu direito de preservar ódios de estimação, como (reconheço) é brilhante na gestão do tempo. Normalmente basta-lhe fingir de morto um mês. Compreendo, é o presidente da minoria que nele votou (aproveito para agradecer a quem se absteve).

Enfim, tanto que fica por relatar sobre o seu rasto. Juro que a cada dedicatória penso: é a ultima, já não há pachorra. Eu bem tento, mas hoje não contenho o ímpeto. Não é que o homem resolveu dar milho aos pombos? Já se sabe que quem o feio ama bonito lhe parece, mas há limites, ou pelo menos deveria haver. Saberá quão perigosas podem ser estas aves?

HSBC – Reportagem em directo

JRS_Genebra

Formatado na BBC, pivô de noticiário televisivo há mais anos em actividade, o homem-sensação, aquele que em directo nos relatou a primeira guerra do golfo, mantém hoje intactas as qualidades de sempre.

Esteve na Grécia. Acompanhou as eleições, mas teve tempo para mais. Para muito mais. Sério, integro e vertical, trabalhou! Relatou as descobertas após intensa investigação. Descobriu paralíticos que andavam, corrupção diversa e o ócio generalizado. Não fica calado perante a verdade. Doa a quem doer. Nada teme. Escreve livros sobre tudo, mas não diz nada. Não obstante, como jornalista é um exemplo de seriedade.

Hoje está na Suíça. Consta que pernoitou junto à margem do rio Ródano, em plena doca “des Bergues”. O telespectador merece e corresponde ao espírito de sacrifício do jornalista. Aguardamos (todos!) com enorme expectativa o imparcial e rigoroso relato que esta noite nos fará sobre a criatividade helvética, bem como o nome dos nossos 200 concidadãos que se deixaram enganar pelos malandros de Genebra. Aposto que também nos falará dos perdões fiscais domésticos.

Decididamente um directo a não perder…

Concorrência

Entre nós, país civilizado, ocidental, democrático e genericamente “livre”, existem os chamados reguladores sectoriais. São muito importantes, pois garantem a equidade entre os agentes dos diferentes sectores, bem como a salvaguarda dos direitos dos consumidores. Sobre todos eles paira a soberana Autoridade da Concorrência (AdC). Assim é há 12 anos. É ou não é uma maravilha? Haverá algo mais bonito que o regular funcionamento das instituições?…

Fomos ontem brindados com um extraordinário exemplo de zelo por parte da AdC. Em ano de eleições, e que por mera coincidência antecede a liberalização dos mercados energéticos, eis a coima inspiradora. Não é todos os dias que uma empresa é penalizada por conduta imprópria. Nada de sensacionalismos, nada de precipitações. A AdC observou pacientemente a actuação do prevaricador durante os últimos 15 anos. Saliente-se, a penalização é uma medida extrema, mas ponderada. O valor da coima não foi definido arbitrariamente, e muito menos tendo em vista os títulos dos jornais. Nem pensar. Apesar de o comunicado não explicar os critérios na definição do valor, estou certo que a AdC não está a fazer concorrência a nenhuma das instituições nacionais. Seria um contra-senso, aliás, inédito entre nós!

Bom, e então qual o crime? Parece que uma grande e poderosa empresa tem feito batota. Impede os seus revendedores de competirem entre si. Já se sabe, as pequenas e médias empresas em Portugal são sempre muito rentáveis. É. Pagam milhões em IRC. E porquê? Bem, porque têm margens de comercialização imorais. Uma vergonha! É necessário, é urgente promover a concorrência entre elas. Só assim poderão baixar os preços. Bem, a AdC sempre vai avisando que tal pode não acontecer, mas ninguém lhe poderá retirar o mérito de tentar. Aposto que a grande empresa vai pagar a coima (se é que já não pagou), e vai obviamente alterar as suas más práticas o quanto antes.

Estou de tal forma animado com a faceta inclusiva das nossas instituições reguladoras e de supervisão, que até já estou entusiasmado com o futuro. Só de pensar que daqui a (apenas) uma dúzia de anos a ERSE ou mesmo a AdC vão descobrir que o Sistema Petrolífero Nacional (SPN) apenas dispõe de duas refinarias, e que só por mero acaso são ambas da grande empresa agora severamente penalizada. Sejamos humildes, primeiro corrigem-se os grandes males, como o cartel da venda de botijas do gás, só depois nos poderemos debruçar sobre essas questões menores a montante, como a transformação de matérias-primas.

tiro-no-pe

TAPada de luva branca

Uma greve anunciada para um período de pico de actividade culmina com uma requisição civil imposta pelo governo a fim de impossibilitar a sua ocorrência. Pelo meio vejo uma entrevista a um sindicalista da TAP onde o jornalista lhe atira de forma agressiva “Acha moralmente ético os sindicados agendarem a greve para esta altura do ano provocando prejuízos de milhões de euros, dando má imagem ao país e afectando o Natal e Ano Novo de milhares de famílias portuguesas?”

A resposta foi pronta, denunciadora de que a falta de moral e ética tem estado na gestão da TAP, apontando as negociatas concretas em que a TAP foi utilizada como peã de negócios ruinosos. Perante a resposta imediata e esclarecedora que fez o jornalista? Explorou essas acusações? Não, isso seria pedir demais, limita-se a repetir a sua pergunta uma e outra vez como se não fosse importante o que levou a tão grande demonstração de intransigência por parte dos trabalhadores da TAP.

Voltando ao desfecho, a requisição civil, pergunto-me se ela também ocorreria caso a TAP fosse já uma empresa privada. Porque no fundo o que se passou foi um patrão ‘especial’ a utilizar os seus super-poderes para contornar uma situação delicada naquela que é a sua especialidade, os limites da constitucionalidade. No fundo estão a negar aos trabalhadores o seu direito à manifestação justificando que permitir-lhes a concretização da greve teria resultados catastróficos para a empresa e para o país.

A meu ver os trabalhadores estão a ser tratados como um bando de egoístas, imaturos e inconscientes que, focados no seu benefício pessoal, não pensam nem protegem o interesse corporativo e nacional. O que só vem realçar a debilidade da nossa democracia. Uma democracia em que permitimos, toleramos com excessivo poder de encaixe, que uma mão cheia de gestores e políticos arruinem bancos, atirem ao tapete a maior empresa de telecomunicações nacional da qual dependem várias infra-estruturas tecnológicas nacionais, contraiam contratos de PPPs ruinosos com vinculação de décadas, desperdicem milhões de fundos europeus distribuídos de forma corrupta, etc, tudo isto com impacto de milhares de milhões de euros na economia portuguesa.

Faltará algum mecanismo similar à requisição civil para obrigar estes gestores e políticos a executarem as suas funções sem colocarem em greve uma série de competências, valores éticos e morais cuja ausência atenta claramente aos interesses das suas empresas e nacionais?

Se as elites podem tomar decisões ruinosas para o país porque não poderá hipoteticamente a classe trabalhadora de uma empresa cometer um acto lesivo para a mesma? Aos sindicatos devem ser fornecidas pelas administrações as informações que permitam aferir da saúde e estado da gestão das suas empresas. Em posse dessa informação caberá a si decidir como agir. Porque não há-de ser possível a um sindicato decidir cometer um acto lesivo a uma empresa? Será um privilégio apenas reservado ao topo da pirâmide? A que propósito?

Vivemos um tempo conturbado em que os trabalhadores esperam que no mínimo os seus sacríficios se reflictam em respeito pelos mesmos e na condução de uma gestão exemplar. Se a greve é o expoente máximo da indignação, da insatisfação, não é uma requisição civil que vai contribuir de todo para a apaziguação. Vem apenas confirmar que para este governo mais do que sermos um povo capaz de suportar a austeridade mantendo produtividade e empenho há que parecê-lo a qualquer custo, mesmo que o de mais uma lasca da nossa democracia.

Resistir à requisição civil anti-democrática contra os trabalhadores da TAP!