Category Archives: Teorias da Conspiração

Difamação pura, dura e absurda, sensacionalista sempre que possível, mas genericamente acéfala e desprovida de respeito por credos, espiritualismos, ambientalismos, etc… Enfim, os “ismos” em geral e a parvoíce em particular.

UnBrexit

As relações bilaterais do Reino Unido com a Rússia remontam ao século XVI, mais precisamente a 1555, ano em que através da “Companhia Russa” foi institucionalizado o monopólio de todo o comércio anglo-russo. Reinavam Maria I do lado britânico e o Czar Ivan IV do lado russo. A monarca britânica, primogénita do segundo dos Tudor e primeiro dos protestantes – o mulherengo Henrique VIII, ficou entre os seus súbitos conhecida como Bloody Mary em virtude da sua vã, mas sangrenta, tentativa de reverter a reforma protestante iniciada pelo pai. Já o Czar de todas as Rússias, Ivan IV ficou para a história conhecido como O Terrível, cuja sagaz mas intempestiva personalidade conduziu, num momento de ira, ao assassinato do seu filho e herdeiro. Enquanto Bloody Mary governou contra o legado de seu pai, foi o próprio Ivan O Terrível que negou o legado ao seu primogénito.

Desde então, Rússia e Reino Unido têm sido tanto inimigos como aliados, conforme circunstâncias e oportunidades. Os contrastes e simetrias mantêm-se: O Reino Unido, uma democracia parlamentar cujo poder executivo é hoje liderado por uma senhora, que tal como Bloody Mary, tenta em vão remar contra a corrente, leia-se Brexit. Enfrenta enormes desafios, quer no plano doméstico, quer no plano internacional; A Rússia, uma democracia autocrática, tem hoje um novo tipo de Czar, tão sagaz como Ivan o Terrível, mas que ao contrário deste não manifesta qualquer tendência para a impulsividade. Frio e implacável como o “General Inverno”, suportado pela oligarquia da energia, tem assumido um papel cada vez mais consolidado como protagonista global.

Eis como a circunstância pode constituir uma oportunidade. Tudo quanto o Reino Unido tem em comum com a União Europeia não foi suficiente para evitar o resultado do referendo ao Brexit. Reverte-lo obrigará a uma mudança de fundo. Nada como um inimigo comum! Se o que somos não nos une, então talvez aquilo que não queremos ser o consiga!

IT Hub: Um Oásis envenenado?

Depois da travessia no deserto Portugal aparenta estar em processo de transformação rumo à conversão num oásis tecnológico. As condições são propícias à instalação de gigantes tecnológicos. Boa localização geográfica, infra-estruturas de excelência, baixo custo de vida, salários muito abaixo dos praticados noutras paragens europeias e provavelmente benefícios fiscais ainda por revelar.

Não há muito tempo a ordem era de desmobilização geral, com muita da nossa mão-de-obra qualificada a emigrar para outras paragens. Agora surgem as oportunidades, vagas e vagas de posições altamente qualificadas por preencher, sem resposta imediata à altura. Provavelmente os salários a praticar não serão suficientemente altos para atrair aqueles que sairam do país encontrando remunerações muito acima das praticadas em Portugal, pelo que só existem dois caminhos possíveis, ou atrair os profissionais insatisfeitos em PMEs e grandes empresas nacionais ou atrair imigrantes de outras paragens para quem os ‘baixos’ salários portugueses sejam vistos como ‘altos’ salários face à sua realidade.

Em termos de emprego, economia e fiscalidade nacional sem dúvida que, a prazo, os ganhos serão muitos a todos os níveis. Poderemos também assistir a uma transformação do ambiente de trabalho das tecnologias de informação para um panorama ainda mais multi-étnico e multi-cultural, o que até casa bem com a nossa portugalidade. No entanto, poderá ser prejudicada a capacidade das nossas empresas. Além do recrutamento agressivo por parte de consultoras, que secando o mercado de talento criam oportunidades para si, as empresas terão agora de competir com gigantes de alto poder de atracção de talento. Existe o perigo real de que percam os melhores profissionais do sector de IT, fragilizando a sua operacionalidade e consequentemente os seus resultados.

Esperemos que, tal como o fizemos na nossa floresta,  não estejamos inadvertidamente a minar este precioso oásis com o plantar de gigantescos e ávidos eucaliptos.

 

Le Service National Universel

Na Europa dos impérios, os primeiros anos do século XX caracterizaram-se por grandes contrastes de percepção, sobretudo no que à guerra dizia respeito. As populações, esquecidas dos horrores da guerra, deslumbradas pelo progresso tecnológico, viviam confiantes e tranquilas, seguras da paz. Já os governos não. Os mais avisados, que não o nosso, lançaram-se numa corrida às armas que para história ficou conhecido como o período da Paz Armada. A Europa nada temia senão a si própria. O centro do poder económico e militar do planeta era Europeu. O resto do mundo pouco contava, a China dormia, os Estados Unidos da América firmes e convictos nas virtudes do isolacionismo e o Japão dava os primeiros passos na era moderna após a revolução Meiji. Surgido o pretexto, tudo se precipitou tal e qual a explosão sucede ao atear do rastilho. Superficial e sucinto, foi este o contexto que precedeu o primeiro conflito mecanizado da história. Mesmo quando para as populações se tornou evidente a iminência da guerra, prevaleceu a ilusão que a modernidade precipitaria um rápido desfecho, que o tumulto seria violento mas breve. Como sabemos, a realidade foi bem diferente. Tudo mudou, a Europa deixou de ser o centro político do mundo. O conflito entre os poderosos da Europa revelou-se fratricida. Todos perderam.

Pouco mais de um século volvido, eis-nos novamente confrontados com o mesmo tipo de ameaças. Populações convictas da paz assistem passivas a um novo período de paz armada patrocinado pelos seus governos. A França de Macron deu hoje um sinal claro, anunciou o regresso do serviço militar obrigatório.

O empresário perfeito – título póstumo

Imaginemos um grande empresário português que tem a visão de construir o primeiro hipermercado em Portugal, confirmando-se a aposta certeira em termos de investimento. Rapidamente se multiplicam o número de hipermercados surgindo depois centros comerciais de grandes dimensões. Este novo paradigma revoluciona os hábitos de consumo dos Portugueses. Num curto espaço de tempo as ruas das cidades perdem grande parte do seu movimento pedonal, a maior parte do pequeno comércio local, várias praças e mercados municipais, são forçados a encerrar pois não conseguem competir com os baixos preços e concentração da oferta oferecida por estes novos espaços.

Para os consumidores era um maravilhoso novo mundo, nunca se comprou tanto com tão pouco!

Nos bastidores sofriam os fornecedores, esmagados por uma enorme pressão comercial que lhes permitisse ter acesso às, agora únicas, grandes montras de exposição e escoamento dos seus produtos. Alguns cedem, outros ficam condenados à falência, sem nunca faltarem produtos nas prateleiras. O consumidor compra o que houver, isso é garantido.

Nos centros comerciais a estratégia foi outra. Concentrar os mais variados tipos de lojas, provavelmente pagando uma renda justa, com uma pequena contrapartida, ter acesso aos principais indicadores de negócio de cada uma das lojas, porque obviamente essa informação é de vital importância para a gestão sustentável do empreendimento. E assim, durante alguns anos, comerciantes abençoados puderam servir de cobaias num tubo de ensaio que permitiu definir quais os tipos de lojas mais rentáveis naquele novo ecossistema comercial. Uma vez feita a prova de conceito criava-se uma marca própria que substituía as pequenas lojas, num investimento mais do que garantido. E assim os grandes centros comerciais deixaram cada vez mais de ter pequenos comerciantes, concentrando sobretudo marcas próprias e outras grandes marcas, âncoras, contra as quais não valia a pena competir.

Uma vez seca a competição este empresário pôde concentrar-se em desenhar formas de potenciar o consumo, através de contínuas e desorientadoras acções promocionais. Preços em constante flutuação, uns para baixo, outros para cima, numa matemática manhosa cujo resultado para o consumidor só pode ser devidamente percepcionado se olharmos para a curva de evolução dos lucros como uma curva de evolução dos gastos e a compararmos com a curva de evolução dos rendimentos das famílias ao longo dos anos.

Este empresário criou assim um império milionário, tornando-se num exemplo virtuoso. Não só dinamizou a economia através da construção dos seus espaços comerciais, do incentivo ao consumo, do aumento do crédito ao consumo, como garantiu no processo a criação de largos milhares de empregos, conseguindo a concentração da circulação de consumidores e dos agentes que compõem o tecido económico no sector do retalho nacional.

É por toda esta criação de riqueza, simplificação de processos, entretenimento das hostes, que, justamente, a classe política lhe presta a devida homenagem. Já aos fornecedores, trabalhadores e consumidores passa-lhes um pouco ao lado de tão alheados que estão, seja na labuta para garantir produção e sustento, seja no desfrutar do grandioso ecossistema comercial que lhes foi oferecido por este homem. Mais uma prova do sucesso da sua visão estratégica de se tornar num dos pilares de uma sociedade cega e inconscientemente consumista.

Uma teoria como outra qualquer

A chuva extinguiu as chamas, mas não apagou os incêndios. Concretizada a adiada demissão, antes que a oposição pudesse (re)apontar a mira para a área da defesa, surgem boas novas à continuidade do respectivo ministro. Pelo menos assim aparenta. Bom timing ou mera coincidência? Não sabemos. As denúncias anónimas têm destas coisas, eternizam as dúvidas sobre os propósitos que lhes estão na origem. Continuamos sem saber se foi roubo, extravio ou ajuste ao inventário, mas o desfecho afigura-se apaziguador dos espíritos mais susceptíveis. Ou talvez não, talvez a ausência de um rigoroso e detalhado relato da ocorrência faça perdurar o sentimento de insegurança na sociedade lusitana. Haja por isso uma narrativa, eventualmente absurda, mas todavia tranquilizadora. Ei-la:

Certa noite de Verão, um grupo indeterminado de indivíduos de má índole deambulavam por uma das freguesias do Concelho de Vila Nova da Barquinha quando esbarraram com um rombo numa antiga e descuidada vedação. Curiosos, penetraram no perímetro e indagaram que oportunidades nele se lhes ofereciam. Alguns edifícios remotos sobressaíram no terreno e quando constataram que a porta estava trancada, concluíram ser ali que o seu prémio se escondia. Arrombada a porta e abertas algumas caixas, muito embora não reconhecendo utilidade prática ao conteúdo, decidiram levar algumas. Depois se veria que destino lhes dariam. Assim foi, a coberto da noite, motivados pelo perverso gozo do furto, optaram por a braço transportar algumas centenas de quilos. Caminharam sem rumo, ao longo de meses e aquilo que começou por ser uma aventura excitante, transformou-se numa desgastante e aborrecida rotina. O sinuoso trajecto percorrido mais não fora que um passeio em círculo. Foi então que o grupo decide pôr fim à desventura e após acesso debate, decide abandonar ali mesmo o seu fardo. Movidos pela inveja, decidem-se pela denúncia anónima, um derradeiro e soez gesto que apenas visou impedir que outros turistas colhessem o fruto do seu “trabalho”…

Içados do Lixo

Meia dúzia de anos volvidos, eis-nos subtraídos ao entulho, içados do lixo pela majestática e impoluta instituição de notação financeira. A agência em causa, que tal como as demais, jamais foi contaminada pela falha, equívoco ou erro, proferiu o seu magnânimo e positivo parecer. Celebremos! A festança será obviamente manchada pelo já habitual debate reivindicativo do mérito entre o actual e o anterior governo da República. Esta disputa tem um, e um só, ponto de convergência entre as partes em contenda. Ambas enaltecem os heróis do feito, nomeados voluntários à força para esta causa, os contribuintes portugueses. Pessoalmente dispenso o gesto de reconhecimento, pois não só é manifestamente hipócrita, como é um atestado de infantilidade que a todos nos passam. Se assim não fosse, os protagonistas não disputariam entre si louros ou glória pela ascensão no nível do aterro das dívidas soberanas.

Insultam-nos com os seus elogios fúteis e a sua descarada falsa modéstia. Falsa quer por falta de humildade dos actores, quer por ausência de fundamento. Os riscos mantêm-se e, como sempre, os avisos repetem-se. Estamos no domínio do menos mau, entusiasmados com pouco. Habituados ao nada, nem questionamos a “dádiva”. Gratos, congratulamo-nos, resignados ao incontornável poder dos mercados e dos seus agentes, não democráticos e por isso ditos idóneos. A economia de mercado de outrora confunde-se hoje com a ditadura da finança. Acabaram os estados soberanos, daí o desinteresse e a abstenção crescente. No fundo, mesmo quando não reflectimos sobre onde reside o verdadeiro poder, sabemos sempre quem manda. É triste que tudo isto se tenha tornado banal.

 

Cerco à Sardinha

Celebrados os feriados dedicados aos Santos Populares, finda a festividade e cumprida a tradição, eis a mais recente demonstração de subjugação da nação. Por cá andamos há mais de 8 séculos, mas aparentemente não nos sabemos governar nem precaver. Felizmente, há quem olhe por nós, há quem nos coloque na linha. Desta feita a sapiência provém de Copenhaga, na Dinamarca, sede do International Council for the Exploration of the Sea (ICES), entidade que aconselha a soberana Comissão Europeia em matérias de pescaria. Segundo o mais recente parecer, parece que estamos a dizimar a espécie cientificamente designada por Sardina pilchardus, vulgo Sardinha. Tal atentado à biodiversidade é perpetrado pela frota portuguesa de pesca de cerco, arte de captura realizada por cerca de 130 pequenas embarcações. Estas terríveis fábricas de destruição, realizam viagens diárias para pescar na vizinhança dos seus portos de origem, fazendo-o até 180 dias por ano, descansando pelo menos 2 dias por semana. Uma inexorável máquina de extermínio.

A indefesa Sardinha, impotente contra a implacável sofisticação destes “navios não-fábrica”, está condenada à extinção. Ao invés de embalado e congelado, imagine-se, o pescado chega a terra fresco! É de uma crueldade atroz. Conclusão? Quinze anos de interdição de pesca! Os ditos cientistas, suportam a sua recomendação em modelos matemáticos e probabilidades. Tudo muito científico…

Contudo, é a própria comunidade científica que reconhece desconhecer as razões para as variações extremas na abundância das pequenas espécies como a Sardinha. Classificado como fenómeno, a variação extrema na abundância destas espécies é uma certeza, mas está por explicar. As relações entre as condições atmosféricas e oceânicas não são claras, nem os mecanismos associados estão identificados, mas há no entanto quem não hesite em invocar a infalibilidade do modelo matemático. Só não é estranho porque é tristemente previsível. Entre nós, a pesca da Sardinha gera perto de 30 milhões de euros por ano, sendo rentável, quer-se extinta. Há muito produto de aquicultura e ultracongelado por importar!

 

Olhos nos olhos

Antes de mais devo dizer que vejo cada vez menos televisão. Noticiários para ser mais específico. No entanto não quer dizer que não seja bombardeado com “informação” através doutros meios de comunicação. Vivemos a era em que a informação é tão abundante que se torna a era de desinformação, se não tivermos o cuidado de a filtrar.

Nos breves minutos de “zapping” há algum tempo que sentia a falta de Medina Carreira na TV. Julguei que tivesse sido afastado como muitos outros, pois na realidade o seu “pessimismo”, pelo qual era conhecido, não o tornava popular. Li um dia alguém a referir-se a Medina como um “senhor que só dizia mal de tudo”.
Devo dizer, que eu próprio quando via a rubrica “olhos nos olhos” com a Judite Sousa, no fim só me apetecia “cortar os pulsos”. E este sentimento devia-se à forma como Medina Carreira falava com números e gráficos, que não deixava espaço para o “ah ele está a inventar”. Duma forma despreocupada, quer colocasse em cheque o Governo, o partido “A” ou “B”.
Poderão alguns apontar que Medina era um dos representantes do sistema bicéfalo que governa Portugal, por já ter sido Ministro das Finanças, ainda antes de eu ter nascido. Mas tal pode ser visto, não como uma cruz que carrega, mas pelo conhecimento que obteve dos meandros da política nacional. Além disso desde há muito tempo que estava afastado de qualquer interesse politico actual ou futuro, o que lhe permitia dizer o que entendesse, agradasse ou não o espectador.
E é precisamente o contrário disto que se vive hoje na gestão de informação dos órgãos de comunicação. Cada entidade (partido, clube de futebol, associação de qualquer tipo), duma forma mais complexa ou simples, gere a informação que quer que chegue às massas. A importância deste departamento invisível, da sua forma de actuação, por vezes pouco ética, é crucial para o sucesso destas entidades.
Colocam-se pessoas a “mastigar” informação, como comentadores “independentes” ou em debates,  conduzindo o espectador a formar uma opinião com pouco esforço cerebral. As suas motivações são organizativas e pessoais, por esta ordem de valor. Mesmo que quisessem ser independentes não conseguiriam, pois provavelmente acabariam por não ter aquele tempo de antena.
O lobby ainda compensa em demasia em Portugal.
Até podemos tentar compreender a abundância do lobismo com base na exploração a que o português foi sujeito, desde os tempos mais remotos da história do nosso país. Mas não podemos aceitar que tenhamos de pertencer a uma organização para nos sentirmos protegidos nos nossos direitos e disso tirarmos benefícios. Quando cada lobby puxa para o seu lado e os governos movem-se conforme os seus próprios lobbys, perde o país, perde o cidadão comum.
Lamento o desaparecimento de Medina Carreira pois são raros aqueles que como ele opinam, não alinhados com o modo vigente do pro ou contra, sem um objectivo pessoal. Ouvi-lo era credibilizar um pouco a informação.
Sim, talvez para alguns pudesse parecer um louco revoltado, mas para mim via bem melhor com um olho fechado e outro semicerrado do que a maioria das pessoas com os dois bem abertos.

Parada de Montalvo

Ali tão perto da cidade do Entroncamento, o Polígono de Tancos é igualmente pródigo em fenómenos, especialmente do género militar. Há pouco mais de um século, o então ministro da guerra, General Norton de Matos classificou a instrução do tragicamente célebre CEP – Corpo Expedicionário Português como o “Milagre de Tancos”. Em apenas 3 meses, o exército português transformou jovens agricultores em aptos e combativos guerreiros. Tamanho feito foi consagrado a 22 de Julho de 1916 numa cerimónia que ficou conhecida como “A Parada de Montalvo”. Perante as mais altas individualidades do estado, bem como dos embaixadores dos países aliados, desfilaram ordenadamente as unidades de Cavalaria, Artilharia e Infantaria. Contudo, nenhuma manobra de propaganda, por mais bem orquestrada, poderia alguma vez ocultar o grau de impreparação destes 20.000 portugueses para a guerra de trincheiras onde foram lançados. Deram corpo à expressão “carne para canhão”.

Desfila hoje, em parada mediática, outro fenómeno – Foram roubadas armas ao Exército português. Foi em Tancos! Debate político e público intenso, mas pouco imaginativo. Todos debatem o tema nos mesmos termos, escrutinando apenas as questões burocráticas ou processuais, deixando as perguntas óbvias por fazer. O intenso frenesim noticioso, repleto de factos, dados e detalhes, relata-nos uma acção relâmpago, perpetrado pela calada da noite, mas quais os indícios concretos que assim foi? Qual o hiato de tempo entre o roubo e a sua detecção, alguém sabe? Data do último inventário? Terá sido um acto único ou uma prática continuada?

Talvez os inquéritos (quiçá) já em curso possam esclarecer estas dúvidas, talvez haja até quem já esteja a investigar o destino destas armas…

 

Crise de Julho

Um venerável ancião, senhor de vastos recursos e riquezas, muito influente junto dos seus vizinhos, foi certo dia afrontado por um pequeno estado soberano. Insignificante quando comparado com o ultrajado império, o insolente reino apoiara os terroristas que assassinaram o sucessor e herdeiro de Francisco José I, Imperador da Áustria, Rei da Hungria, da Croácia e da Boémia. A Casa dos Habsburg-Lothringen, dinastia com mais de dois séculos, vingar-se-ia da afronta. A Sérvia pagaria pela sua ousadia. Violenta e breve, a punição seria exemplar, circunscrita e regeneradora. Outra potência, o Império Alemão, dera o seu aval e incondicional apoio ao plano disciplinador. Aos sérvios foi então enviado “o mais formidável documento”, ponderado e redigido para ser inaceitável, um ultimato com um único propósito, a guerra. Aquela que seria uma contenda local, rápida e decisiva, culminou no primeiro dos conflitos militares mecanizados à escala global, a Primeira Guerra Mundial, a mais mortífera, devastadora e ruinosa até então. Um monumental exemplo de estupidez humana.

Se nas próximas semanas este exemplo com mais de um século parecer actual, não estranhe, é mera coincidência. Corre hoje, noutras e longínquas paragens, um ultimato a um pequeno reino. Insolente, terá apoiado o terrorismo, terá também afrontado uma poderosa dinastia com mais de dois séculos, também ela liderada por outro nobre ancião, rico em recursos e influência. Uma vez mais, perspectivam-se interesses locais e pontuais, negligenciando a imprevisibilidade das consequências à escala global. Esperemos que ao contrário do que afirmou Einstein, apenas o universo seja infinito e a estupidez humana encontre limite a tempo.