Voltar às Bases – Serviço Militar Obrigatório
O buzz do momento é o revivalismo dos cantares revolucionários. O “Grândola Vila Morena” cantado simbolicamente no parlamento e nos eventos onde participam membros do governo. Evoca a revolução dos cravos que apesar de ter tido essa canção como parte da banda sonora foi executada e perpetuada por operações militares. Faz toda a diferença a troca de uma letra em canÇão para canHão. Uma diferença capaz de ganhar batalhas.
Temos milhões de desempregados, milhões de Portugueses à espera de dias melhores. A descrença reina. Os mais espevitados abalam para outros países. Os que ficam marinam numa sopa social indefinida, sem uma concreta definição do seu sentido de orientação e da sua capacidade concretizadora de reais mudanças.
Com um mercado de emprego estagnado há cada vez mais magotes de jovens a sair do seu percurso escolar ou académico com entrada directa no marasmo e falta de oportunidades.
Olhando para toda esta conjuntura e para o recente anúncio de cortes nas despesas militares atrevi-me a pensar num movimento contrário. No final do meu percurso académico fui à inspecção militar obrigatória e ‘escapei’ ao serviço por ter já um contrato assinado para iniciar carreira profissional. Nessa altura o mercado estava ávido de mão de obra qualificada e absorvia praticamente todas as fornadas que saiam das Universidades. Cumprir o serviço militar obrigatório era visto como algo tedioso, um verdadeiro empecilho ao futuro.
Nesta altura isso não se verifica. Não há mercado. E também se perderam muitos valores e muita gana. Já lá vão as gerações offline. As gerações que passavam mais tempo na rua do que na net. As gerações que ao brincar suavam, sujavam, lutavam, choravam e amadureciam um pouco mais rápido. Agora caminhamos para os seres digitais. Alimentados a centenas de canais de TV, a milhares de jogos de computadores/consolas, a smartphones, a relações à distância cada um na segurança e conforto do seu quarto ou de uma redoma bem montada a dar ares de total liberdade e arbitrariedade. As gerações de hoje revolucionam nas redes sociais, deslumbradas com o volume de likes, assinantes de petições e minutos acumulados em reportagens relâmpago nos telejornais. Mas perderam o contacto directo com a Terra, deixou de se sentir com frequência o choque e solidez de uma violenta queda ao solo, deixou de haver a necessidade constante de superação perante condições adversas surgidas do nada e sem ponto de fuga possível. A descrença antes de ser nacional é pessoal. Uma pessoa foi formada toda a vida num ambiente propício para ser X e não crê que possa facilmente ser Y, Z ou XPTO.
E por isso, neste momento particular, parece-me que o serviço militar obrigatório poderia ser uma boa forma de servir de continuidade à formação pessoal dos homens e mulheres após final do percurso escolar ou académico. Sendo uma fusão de treino militar com escola de ofícios, aumentando a auto-estima dos seus formandos bem como desenvolvendo-lhes novas valências e competências. Uma recruta militar que obrigue os seus formandos a viver mais tempo no mundo offline, a explorar os seus limites físicos e mentais, a cooperar com tudo e todos sem hipótese de fuga para o coito mais próximo.
Em termos de fundos, necessários para concretizar a logística deste programa, poderia ser feito o desvio de verbas aos programas de apoio a jovens desempregados. Para cortar na despesa, e ao mesmo tempo servir de acção formadora, muitas das tarefas ‘domésticas’ e de manutenção seriam executadas pelos próprios, inclusive o cultivo hortícola para o máximo de auto-suficiência. No fundo existiria uma deslocalização de parte das acções de formação para os quartéis. O aumento de consumo de bens como fardas, calçado, alimentos, etc, seria também um incentivo a alguns sectores nacionais que se assumiriam como fornecedores destes novos polos de consumo. Seria um meio de injecção de capital na economia de uma forma distribuída ao invés de concentrá-lo em empresas prestadoras de serviços, como acontece actualmente com muitas acções de formação em que por vezes parece mais importante zelar pelos interesses do prestador do serviço do que pelos interesses reais para os formandos e para o país.
Para concluir não queria deixar de notar que na maior parte dos casos vejo que quem fala do serviço militar cumprido fá-lo com uma certa nostalgia de bons velhos tempos e com orgulho da superação de obstáculos tendo sido um período marcante na lapidação da sua personalidade. Mais, vejo-lhes uma centelha de quem já fez coisas complicadas e estaria preparado para o fazer novamente se assim fosse preciso. Perdido por 1 perdido por 1000.
E esta centelha seria o principal ganho para o país. O de transformar uma manada de insatisfação submissa num enxame de operativos capazes de iniciativa real sem necessidade de grandes holofotes. Homens e mulheres confiantes na sua capacidade de sobrevivência perante qualquer adversidade. Custaria bem menos do que dois submarinos. Seria tão mais produtivo para Portugal. Ter um governo perfeitamente ciente que a maioria da população dispõe das capacidades necessárias para mudar usando as canções meramente como música de fundo.
Para quem naturalmente vá ter fortes anticorpos a esta ideia ‘retro’ só lhes queria lembrar que uma outra canção foi usada na revolução. Pensando em quem disse ou vai dizer adeus ao emprego, adeus à casa, adeus à família, adeus ao país ou simplesmente adeus à vida deixo-a aqui porque também ela é história apesar de menos querida pelos revolucionários.
Posted on Fevereiro 25, 2013, in Ideias para o País and tagged Militar. Bookmark the permalink. 1 Comentário.
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