Os truques do Downsizing
Aumento da taxação de impostos, retenção de subsídios durante dois anos no estado, empresas públicas e similares, aumento das taxas moderadoras sobre serviços de saúde, encerramento de unidades de saúde pouco rentáveis, diminuição de participação em medicamentos, fim das SCUTS, diminuição de montante e/ou prazo de pagamento de reformas e outros tipos de subsidiação (entre outros o do desemprego), privatizações de empresas estatais monopolistas que fornecem serviços básicos à população, etc. Tudo isto para quê?
Em 2012 aumentam os preços de uma enorme gama de produtos alimentares, com IVA revisto, fala-se de aumentos de pelo menos 4% em gás, electricidade e água e os produtos petrolíferos encontram-se em nova espiral de subida de preços. Somando a isto o aumento do custo com portagens e o aumento das despesas de saúde para quem delas necessite, como quantificar a perda real do poder de compra tendo em conta todas estas variáveis? Para muitos Portugueses o orçamento familiar vai ser alvo de revisão forçada e será preciso escolher se se vai destapar os pés ou a cabeça.
Numa altura caracterizada por desemprego de longa duração a diminuição do período de apoio só irá aumentar o número de desempregados sem subsídio. Com a diminuição de serviços médicos e o aumento das listas de espera, que curiosamente estavam em contracção, quantas pessoas correm risco de vida ou prolongamento de vida sofrível porque os tempos não estão de feição? Quantos pensionistas deixarão de fazer medicação adequada com a reformulação em baixa da reforma e da comparticipação em medicamentos?
E o impacto das SCUTs terá sido bem avaliado? Foi estudada a dinâmica social e profissional dos seus utentes? A maioria não poderá suportar estes custos e voltará às velhinhas nacionais aumentando tempo de deslocação, acidentes e transferindo a despesa de manutenção de estradas para a já tão esburacada Estradas de Portugal. E os concessionários das SCUTs com menos tráfego e necessidades de manutenção terão o seu quinhão garantido com as compensações acordadas com o Estado para o caso do volume de utentes não ser o esperado. É como se pagássemos duas vezes sem ter o benefício da melhor solução de deslocação. Será que esta correlação será feita em análises futuras?
Diria que para um governo frio e calculista apenas o grupo dos desempregados poderá ser problemático. Porque é gente activa que fica sem ocupação, capaz de se indignar e ir para as ruas estrilhar. Os outros, pensionistas e utentes regulares do serviço nacional de saúde, a médio prazo têm grande probabilidade de deixar de fazer número. Afinal com menos 42 mil cirurgias entre Setembro e Novembro de 2011 vs Setembro e Novembro de 2012, diminuição de 20% da actividade cirurgica num ano e o bastonário da Ordem dos Médicos a alertar que se está a acumular mensalmente atrasos de semana e meia nas listas de espera, não devem haver muitos pacientes em espera capazes de sobreviver a tal austeridade. Pelo lado social e familiar é mau mas para os números do OE é coisa para ajudar bastante.
Quando uma pessoa está há demasiado tempo sem ter oportunidade de produzir começa a ficar irrequieta e capaz de se mobilizar, sobretudo porque não tem nada a perder para além de um certo anonimato. Talvez por isso o governo tenha emitido fortes sinais de que para os próximos tempos o melhor é mesmo emigrar, procurar soluções no exterior. Com um certo paternalismo, é certo, mas com o sincero desejo de que desta forma consigam diminuir despesas com estes ‘fardos’ e ao mesmo tempo manter uma certa aparência de satisfação e paz social.
Os empregados esses têm que se manter com juízo, comer o pão que o diabo amassa, tal é a pressão causada pelos largos milhares disponíveis para ocupar o seu lugar, ainda por cima a melhor preço, e a falta de outras opções. Dois anos sem subsídio são suficientes para criar esquecimento de que alguma vez existiram e gerar conformidade com as necessidades dos novos tempos. E as horas de produtividade exigidas a mais hão-de vir de algum lado nem que seja das horas dedicadas à esfera familiar, social e pessoal. Talvez a mitológica, famosa e atribulada vida vestibular existente em ambientes hospitalares se comece a extender a outras áreas de actividade.
Os trabalhadores Portugueses assemelham-se neste momento a Lemmings enfileirados a caminho da falésia com a secreta esperança que após o sacrifício do pelotão da frente se chegue à conclusão que o equilibrio no ecossistema está restabelecido e afinal o seu sacrifício pode ser evitado. RIP e obrigado aos menos afortunados.
Mas o pior ainda há-de estar para vir. O SOS China é uma bóia de salvação para o curto prazo mas sendo-lhes concedido suficiente poder de decisão, a médio prazo existe o real perigo substituição de fornecedores e da invasão de uma mão-de-obra barata não tão qualificada, não tão sindicalizada nem ciente dos seus direitos, mas que cumpre prazos e dá brilho aos orçamentos de obras.
Para o estado tudo vai bem. Menos despesas diretas com as SCUT, menos despesa com subsidição de desemprego (com menos inscritos nos centros de emprego), menos despesa com saúde (com transferência de muitos utentes em fila de espera para as estatísticas de óbitos), menos despesa com pensionistas, menos empresas públicas (inclusive as mais rentáveis e base de serviços essenciais à população) , na globalidade um gigantesco downsizing de sucesso para o livro de contas de 2012 e 2013.
Para os Portugueses em geral não se sabe bem. Vão encaixando downsizing atrás de downsizing aparentemente sem sentir grande necessidade para um achocalhante uprising capaz de retribuir um pouco da austeridade.
PS – Resisti ao ímpeto de aplicar downsizing ao tamanho deste post porque considerei que todos os parágrafos produzidos tinham direito à publicação independentemente de terem maior ou menor ROI em termos de leitura.
Posted on Janeiro 15, 2012, in Teorias da Conspiração and tagged Economia, Humor, Politica. Bookmark the permalink. Deixe um comentário.
Deixe um comentário
Comments 0