Como cai um Presidente da República?
O Primeiro Ministro de Singapura, Lee Hsien Loong, vai sofrer corte de 36% passando a ganhar 1,33 milhões de euros ano.
O Presidente de Singapura, Tony Tan, vai sofrer corte de 51% no salário passando a ganhar 907 mil euros ano.
Cavaco Silva, Presidente de Portugal, ganha 84 000 € ano.
Hu Jintao, Presidente da China, ganha 14 130 € ano.
Os dois primeiros ganham fortunas mas têm o seu salário indexado a indicadores económicos que são os seus objectivos como gestores da nação. Conseguiram um crescimento do PIB a quase 15% e uma taxa de desemprego a 2%.
O nosso Presidente não ganha para as despesas mas tem a sorte de viver actualmente num país classificado como lixo com muitas oportunidades de recorrer à coleta de bens deitados fora que podem ser reciclados como por exemplo um banco, parte de uma companhia de electricidade ou uma companhia das águas. Um rendimento extra garantido e bem apreciado.
O Presidente da China à proporção é um miserável, mas capaz de organizar umas poupanças para ir comprando umas pechinchas que um dia há-de voltar a vender banhadas a ouro e cravejadas de diamantes com alta percentagem de chumbo.
Nas últimas eleições presidenciais tinhamos um governo PS a preparar-se para driblar a nação com um conjunto de PECs, um nome diferente para pacotes ou medidas de austeridade. O nosso Presidente assanhou-se e deu indicadores que para um segundo mandato iria ser interventivo e moderador do impacto das medidas na vida dos seus Portugueses não facilitando a vida a José Sócrates. A alternativa era Manuel Alegre, um candidato independente da família socialista, que tinha um discurso mais agressivo e parecia ir chocalhar as águas políticas num momento de pré-crise, ou de crise camuflada, onde qualquer distúrbio poderia empurrar-nos para onde estamos hoje.
Em acréscimo, a tendência das últimas eleições diz que os Portugueses gostam de ver forças políticas distintas nas cadeiras de Primeiro Ministro e de Presidente da República. E assim naturalmente Cavaco Silva ganhou o seu segundo mandato.
Entretanto com o PS a entrar em contradição e a ser forçado à aplicação das medidas necessárias para corrigir as contas, surge um descontentamento social crescente e rapidamente reaprendemos como cai um governo com a concertação dos partidos da oposição que avaliaram ser aquela a hora H para reconquistar as rédeas do poder.
E de repente tudo mudou. Uma guinada à direita, sacudir o capote para a esquerda, fazer o contrário do prometido na campanha eleitoral, a soberania económica de fachada e o caos social instalado. Um retrocesso das condições de vida e do ânimo de viver para milhões. E um Presidente que mudou. Um Presidente que defendia o “deixem-me trabalhar” parece agora gozar com quem trabalha mais por menos. Um Presidente que prometia ser interventivo quanto baste, limita-se a avisar para a inconstitucionalidade e injustiça social de algumas medidas que aprova depois sem o mínimo burburinho, mais não seja que um vetinho estéril para português ver.
Sei que a capacidade de intervenção direta do Presidente é limitada mas os seus discursos podem ser galvanizadores daqueles que estão a ser acossados por medida atrás de medida. Que vinque que o carácter das medidas excepcionais deve ser temporário, que reflita em atos simbólicos as suas críticas prévias sobre as leis que lhe são entregue para aprovação. Parece que a única “força de bloqueio” actualmente em acção é a força das suas mandíbulas cerradas. Temo que tanta ausência de discurso prático o tenha feito perder o discernimento no discurso improvisado. Pior, temo que por improvisação saia o seu pensamento direto sem a censura dos seus acessores de comunicação.
Desculpei os ganhos em bolsa com o BPN, desculpei as giga-jogas com as escrituras da casa na santa terrinha, desculpei os ‘amigos’ envolvidos em casos de corrupção, desculpei um primeiro mandato de mudez mas neste momento não há mais margem de manobra para desculpas a não ser talvez para um Alegre, ou mesmo para um Nobre, que sendo menos politicamente corretos talvez fossem mais socialmente certeiros. Foda-se, pá! Votei em ti, merda! Mea culpa! Mas era para acossares o José Sócrates e não para andares com meninos da família ao colo! E que raio de vícios tens tu que não podem ser sustentados com 10 000 € mês?
Obrigaste-me a aprender como cai um Presidente da República. Aparentemente só é possível a sua destituição via uma de duas formas:
- Mediante Responsabilidade Criminal com condenação de crime praticado.
- Por Renúncia feita pelo próprio em mensagem dirigida à Assembleia da República.
A primeira está fora de questão mas esta segunda só depende do próprio. Haja uma suficientemente grande manifestação social para a sua destituição e acredito que sejas homem para o fazer. Pelo menos o Sócrates foi.
Posted on Janeiro 25, 2012, in Ideias para o País, Teorias da Conspiração and tagged Cidadania, Humor, Politica. Bookmark the permalink. 1 Comentário.
Como disse Saramago, é um “génio da banalidade”. Está longe de ser o mais importante entre nós…
https://aoleme.wordpress.com/2011/11/04/o-portugues-mais-importante-do-mundo/