Onomatopeias Anacrónicas
Rumava aos fiordes quando numa conversa informal recorreu a uma onomatopeia, um involuntário “pum!“. Todos os presentes disfarçaram com elegância. Talvez por isso ninguém percebeu se falava da agricultura ou se seria apenas uma graçola. Na dúvida, ninguém disse palavra. Entretanto compreenderam que falava das leis eleitorais, essas anacrónicas linhas que tanto mal promovem no país. Um dos presentes, alguém com um olfacto mais sensível, terá compreendido que a onomatopeia mais não foi do que o prenúncio da obra em si, isto é, a promulgação da proposta de alteração à lei da cobertura eleitoral. Será um momento solene. Ele sempre manifestou grande carinho para com estas propostas de consenso.
Aproveitou a conversa informal para recordar os tempos idos, esses gloriosos anos em que chefiou o executivo. Nesses dias, quando os grandes da nação, na sua suprema abnegação à causa pública ainda não eram empresários de sucesso, desses que com exigência e método viram mundo. Não, à época o seu foco era outro, muito menos egoísta, absolutamente centrado no nosso bem-estar. Foram bons tempos, mas acabaram. Agora, coitados, apenas se podem ajudar a si próprios. Resignados assistem ao sacrifício de outros. A benemérita missão está hoje confiada aos jovens de outrora.
Filhos pródigos, não resistem ao elogio aos seus mentores. Por vezes, o entusiasmo é tanto, que lá se liberta mais um “Pum!“. Compreende-se a onomatopeia, pois poucos empreenderam como estes homens, poucos contribuíram tanto para a criação da nossa pujante indústria exportadora de bens transaccionáveis. Contudo, nem sempre os elogiados apreciam a atenção. Quem dá à nação como eles deram, não visa reconhecimento ou honrarias. Não, tudo quanto procuram é sossego. Sossego e discrição. Deu tanto trabalho passar despercebido que a ribalta nesta altura da vida não os seduz.
Respeitemos a sua vontade, por mais anacrónica que seja.
Posted on Maio 4, 2015, in Geração "à rasca", Mentalidade Tuga, Teorias da Conspiração and tagged Eleições, Humor, Politica, Portugal, Roubalheira. Bookmark the permalink. 1 Comentário.
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