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Exterminador Implacável

O “Exterminador Implacável” foi o filme inaugural desta popular saga cinematográfica, uma premonitória visão de um futuro dominado pela tecnologia e onde as viagens no tempo serão (finalmente!) possíveis. Esta civilização das máquinas não temerá quaisquer consequências metafísicas e decidirá alterar o seu presente, manipulando o passado. Enviará um robô humanóide, modelo T-800, vindo do futuro para assassinar o messias salvador da espécie humana. Inigualável e apaixonante narrativa, potenciada pelos sentimentos ambivalentes que este primeiro exterminador provoca na classe média.

Viajar no tempo – Imaginem! Voltar atrás no tempo e alterar o sentido do voto. Não seria bom? Pessoalmente, poupar-me-ia ao desconforto da viagem, pois todo o meu percurso de eleitor é composto por derrotas. Nunca contribui para qualquer vitória eleitoral. Tenho especial orgulho nisso, jamais me abstive e nunca votei em quem ganhou. Estou de consciência tranquila. Por outro lado, sabendo o que sei hoje, talvez pudesse voltar atrás no tempo para votar pela negativa. Se o meu voto é como uma sentença de fracasso eleitoral, poderia regressar para influenciar os resultados, negando com o meu voto a possibilidade de vitória a quem nos tramou. Que bom seria, mas não sendo hoje possível, adiante, que o assunto agora é um filme com muitas explosões. Onde é que eu ia? Ah, sim, o desfecho: depois de eleito e reeleito, o implacável robot foi perdendo o revestimento humano, pack após pack, desnudado até ao chassis, foi detido, perdeu as pernas e caiu no vil metal fundido. Assim terminou este episódio da saga…

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Looney Tunes

Costumavam ser duas épocas bem distintas, demarcadas por fronteiras muito nítidas, mas distinguir a Silly Season da Rentrée Politica é cada vez mais difícil. A tradição já não é o que era. Vulgarizámos o disparate ou baixámos a exigência? Estou inclinado para a segunda: Depois das viagens para assistir a jogos de futebol (oferecidas por quem não devia a quem não as podia aceitar), depois de revelado o acesso da Administração Tributária a algumas contas bancárias e após as inovadoras alterações ao Imposto Municipal sobre Imóveis, julgámos esgotado o estado de graça do actual executivo, mas não, o indulto parece garantido. Porque será? Será magia? Qual o segredo?

Nem magia nem segredo, simplesmente não existe qualquer oposição, apenas pretendentes, bonecos que a cada instante vaticinam a desgraça colectiva. Ignoram, coitados, que os seus planos de emboscada estão para a realidade como a pretensão do Coiote apanhar o Bip-Bip está para a fantasia. Por mais infalível a armadilha, o resultado é sempre o mesmo, isto é, nenhum. Seria até divertido se não fosse tão trágico. Nada pior do que não existir alternativa.

Retemperadas as mentes e reconfortados os espíritos, as personagens desta série de aventuras estão aptas a novas estórias de tragédia e gargalhada, humor negro do melhor que o mundo conheceu. Os protagonistas dos Looney Tunes lusitanos, a saber, António Sylvester Costa, Jerónimo Daffy Sousa, Margarida Tweety Martins, Pedro Bugs Coelho e Assunção Lola Cristas, aguardam, a partir de amanhã, a chegada do seu companheiro de aventuras, o Diabo da Tasmânia.

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Meninos do Coro

Na terra dos bravos, que é também a casa dos livres, realizar-se-ão eleições presidenciais lá mais para o fim do ano, a meio do Outono, no dia em que entre outras efemérides comemorar-se-ão os 585 anos do nascimento de Vlad III, o empalador, concretamente a 8 de Novembro. Coincidência? Talvez, mas uma coisa é certa, será uma data prometedora, um dia importantíssimo, um momento decisivo para toda a humanidade.

A maior economia do mundo vai a votos. Elegerá o humano mais poderoso do planeta. Até hoje foi sempre um homem, mas desta feita e pela primeira vez poderá ser uma senhora, ela própria mulher de um ex-presidente, o maroto Bill… É por isso conotada com o sistema, com o status quo. Do outro lado da barricada, o enfant terrible, o “não-alinhado”, o populista e contundente magnata com nome de pato.

Será uma disputa entre o calculismo cínico e a ignorância exacerbada, um concurso do quanto pior melhor. Um nítido reflexo da capacidade cognitiva dos eleitores e não dos candidatos. A anestesia do consumismo obriga a campanhas baseadas em propostas de choque, em ideias que despertam atenção, por mais estúpidas, absurdas ou contraditórias que possam ser. Resultam. Se assim não for, ninguém comparece para votar. É a sociedade dos temas fracturantes, que nada mudam, mas que mascaram uma realidade simples: a globalização não favoreceu a população de nenhum país. Clama-se por mudança. Não se sabe bem para quê, mas por todo o mundo os eleitores procuram alternativas. Eis a oportunidade, a contingência que os meninos do coro souberam sempre explorar e aproveitar – a ilusão de mudança.

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Dão-se Alvíssaras

A detalhada, profunda e rigorosa investigação jornalística ao denominado “escândalo” dos “Panamá Papers” decorre com normalidade. Pelo menos até prova em contrário… Aguardemos, afinal, se chegámos ao Verão sem novidades de relevo, podemos perfeitamente esperar mais uns tempos. Pelo menos até à mudança da estação. Por certo que mais dia, menos dia, mais semana menos mês, importantes conclusões serão noticiadas, sem precipitações ou sensacionalismos, como é salutar! Entre nós não há acusações infundadas, nem processos de intenção, nem pensar. Credo! Tanto Pokémon para caçar, tanto disparate para noticiar, porquê antecipar?

Decididamente, não há pressa. A curiosidade inicial perdeu-se, dispersou-se por outros temas, é verdade, mas pelo sim, pelo não, ou na falta de motivo válido, talvez por palermice e infantilidade, possamos, quiçá, lançar uma campanha lá para o Natal, um apelo aos investigadores para emergirem, respirarem um pouco de ar puro e connosco partilharem o fardo, o tenebroso peso do conhecimento à tanto tempo sob reserva. Aqui deixo a ideia, dêem-se alvíssaras a quem conseguir fazer chegar alguma informação, por pouca ou escassa que seja, ao Ministério Público.

A menos que tudo não tenha passado de um embuste, de um truque de entretenimento, um falso escape à indignação com a liberdade oferecida aos capitais. Será? Façamos o teste, analisemos o que mudou desde então, desde do momento em que estoirou a bronca, o dia da revelação! Há legislação nova? Novos meios ao dispor das autoridades, ou está tudo na mesma? Também aí se dão alvíssaras! Alguém nos diga qual foi a evolução.

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Aldeia Cósmica

Partiu de Cabo Canaveral a bordo de um potente foguetão Atlas V. Após quase 5 anos de viagem, a sonda Juno chegou finalmente à orbita do gigante gasoso, o Planeta Júpiter. O maior planeta do sistema solar e nosso maior protector, recebeu a sonda Juno com um estrondoso e arrepiante rosnar – O som do vento solar ao chocar com a magnetosfera de Júpiter, segundo explicaram os cientistas. Prodigioso! A nossa “cobertura de rede” alarga no Cosmos. Parece que lentamente a ficção cientifica se vai transformando em realidade do quotidiano. Vivemos tempos extraordinários, presenciamos momentos únicos da história da nossa espécie. O Cosmos é o nosso novo horizonte.

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De volta à Terra, constatamos que apesar da nacionalidade norte-americana da sonda Juno, é à União Europeia que cabe liderar o planeta. É verdade, apenas a comissão europeia e apenas ela parece ter acesso aos grandes líderes da galáxia, quiçá do universo, e com eles pode até trocar ideias sobre os mais mundanos dos temas, como sejam as eventuais sanções aos modestos países Ibéricos, ou sobre o divórcio do Reino Unido da União Europeia. Para o provar, Jean Claude Juncker afirmou ontem que os líderes de vários planetas lhe manifestaram profunda preocupação com as consequências do brexit.

Os mal-intencionados dizem hoje que se tratou de um lapso, um eventual resultado da inabalável crença do presidente da comissão europeia nas propriedades hidratantes da bebida tradicional da Caledónia, mas eu discordo. Acredito que ele está mesmo em contacto, ligado ao mais alto nível da liderança cósmica…

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Laivo de Clarividência

Nem sempre é nítido o contraste entre o absurdo e o óbvio. Vivemos tempos estranhos. Apenas o viral é real. Tudo o mais não existe. O virtual até já impõe agenda aos media, mas grosso modo prevalece o princípio da exclusividade absoluta da verdade: a televisiva. Se o noticiário não relatou não aconteceu.

Exposto o abstracto, vamos ao concreto. O exemplo: Num laivo de clarividência, o presidente da comissão europeia, o homem da terra da competitividade fiscal, o luxemburguês Jean-Claude Juncker disse ontem o óbvio! Por cá não passou, pois foi dia de propaganda sobre avisos e críticas à soberania lusitana, logo não houve espaço mediático. Assim se vende em permanência a ideia que nós, entregues a nós próprios, só fazemos asneiras. Resumindo, em dia de divulgação de ameaças, esqueceram-se de nos informar sobre as palavras de Junker. Que disse ele? Que a União Europeia (imagine-se!) errou. Reconheceu que a legislação Europeia é excessivamente intrusiva, que interfere demasiado nos processos legislativos nacionais dos países membros e que por essa razão os cidadãos se afastam cada vez mais do ideal europeu.

Este recado para britânicos, em nítido contraste com a mensagem que ontem nos estava destinada, é tão lúcido como verdadeiro. Traduz a percepção crescente entre os europeus, de um extremo ao outro do campo ideológico. Seja a extrema-direita de leste ou a extrema-esquerda dos periféricos, ninguém quer ser europeu deixando de ser aquilo que nasceu, cidadão do seu país. União não é, não pode nem será, uniformização. Ninguém a quer!

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Plástico de Cidadania

Fez ontem 30 anos que faleceu em Paris a escritora Simone de Beauvoir. Por cá, em Lisboa, o partido que se diz inteiro e em bloco, tentou homenagear a prestigiada intelectual, activista política e feminista convicta, mas não conseguiu. Acto falhado. Teria sido bonito, mas fracassou. Não foi uma questão de forma, correcta aliás, foi mesmo o conteúdo. Alguém anda com falta de ideias para temas fracturantes. A proposta é de tal forma oca que muitos duvidaram da sua autenticidade. Os outros, aqueles que acreditaram ser real e verdadeira, choraram. Comoção? Não, gargalhada.

Mas rir faz mal? Negativo! É até muito salutar! Faz bem, especialmente em dias cinzentos e chuvosos. Contudo, o progresso social é sobretudo um processo geracional, nada tem de instantâneo, nem mesmo juntando muita água. Há reivindicações que se tornam absurdas, por vezes ultrapassadas pelos próprios acontecimentos e hábitos. Afogam-se no idealismo. A Lei dos Piropos é disto bom exemplo, não por serem agradáveis, mas simplesmente porque estão em desuso. Nós, os jovens na quinta década de vida, não praticamos o lançamento do piropo. Sem a sua proibição, a nossa descendência nem saberia o que foi essa arte de outrora, entre o elegante elogio e a boçalidade. O pretenso simbolismo falha por falta de quem o contemple.

A proposta de ontem padece do mesmo tipo de excesso de sofisticação progressista, mas têm o seu mérito linguístico. Aponta o problema de género e apresenta uma solução. Porém, preciosismo por preciosismo, pois que o rigor seja imaculado. O documento em causa não é de cartão, é de plástico. Proceda-se em conformidade.

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Sandokan Costa

Finda a sua carreira na marinha mercante, o escritor Emilio Salgari criou várias personagens inspiradas nas suas viagens pela costa asiática. Um destes heróis navais, foi o famosíssimo Sandokan, o pirata do século XIX. Na realidade o “Tigre da Malásia” nasceu em Verona. Foi um verdadeiro precursor do género Western Spaghetti. Entre nós, celebrizou-se na década de 70 do século passado, quando a televisão estatal passou a produção da sua congénere transalpina. A geração à qual pertenço recordar-se-á facilmente da musica desta série, mais provavelmente da versão em português, infantil e algo brejeira, de rima fácil em torno de roupa interior de senhora…

O saudosismo é um dos negócios dos nossos dias. Hoje, qualquer sucesso do passado tem direito a um novo começo. Seja detergente, filme, série televisiva ou modelo automóvel. Basta a embalagem ser parecida. Resulta! Há quem compre!

Assistimos há já alguns meses às novas aventuras do pirata António Sandokan Costa. Comanda o navio sem nome, a que alguns chamaram “Gerigonça”. Negoceia, manobra no fio da navalha entre a bonança e a tempestade. A primeira lição da navegação à vela é sobre uma singela palavra, a paciência. Até aqui tudo bem, ou pelo menos, menos mal, mas eis senão quando começam as garantias. Sensação déjà vu! São este tipo de certezas que têm precedido as inevitabilidades, os novos bancos e as soluções in extremis que prejudicam apenas e sempre os mesmos, nós, os contribuintes. Sabemos que a declaração de indubitável solidez do sistema antecede a sua falha, geralmente catastrófica.

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Carranca Costa

Há milhares de anos que a superstição faz parte do quotidiano de qualquer marinheiro. Quando a vida fica à mercê da intempérie é natural que a crença menos convencional prevaleça. Mas por vezes tem explicação racional. Nunca pronunciar após embarque, sob nenhuma circunstância o apelido do ex-primeiro-ministro, é um dos exemplos. Coelho é aquele-que-não-deve-ser-nomeado, é animal maldito. Outra superstição perfeitamente sensata é aquela que exclui o embarque de flores e plantas, pois consomem um recurso valioso, a água doce. Já a moeda de prata sob o mastro tem uma explicação mais mística, remonta ao tempo dos romanos e visa pagar o trânsito das almas, evitando que se eternizem penadas em caso de tragédia. Monstros marinhos e criaturas mitológicas como as Sereias têm também o seu lugar neste universo tão povoado como misterioso, mas a figura mais proeminente é naturalmente a carranca, majestática à proa.

O Mar financeiro, deixado à sua sorte, tende para o equilíbrio. Dizem. Entre nós, povo marinheiro, a barca de supervisão chama-se Banco de Portugal. Independente, regula, previne e decide. Contudo, a cada afundamento, fica a ideia que alguém não fez o que era suposto, que ficou aquém do que devia. Ninguém explica que num sistema que funciona ao segundo, afirmar que os bancos centrais são Reguladores só pode ser uma piada de mau gosto. Perante tamanho eufemismo, alguns, mais mesquinhos, contestam as remunerações a bordo do Banco de Portugal, mas não é isso que me move. Negativo. Venho isso sim, lembrar porque é tão bem pago.

Passo a explicar: Carranca Costa, como qualquer antecessor ou sucessor, é útil para branquear problemas e falhas do sistema. Deu a cara, ilibou o anterior governo e agora é novamente útil como alvo do novo executivo. Singela e sucintamente, é pago para arcar com a culpa e ficar calado!

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O Retrato Oficial

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Após algumas semanas de ansiedade, chegou finalmente o dia da apresentação do entediante Orçamento de Estado no Parlamento. Que alivio. Vamos finalmente deixar de assistir ao jogo de parada e resposta entre a dramatização e a desdramatização. O processo apenas serve um propósito – desviar as atenções e banalizar a soberania abdicada. Dirão os euro-crentes que a mesma foi voluntária, que consta de tratados, assinados claro está sem nenhuma arma apontada à cabeça. Uma arma não, mas o Pacto Fiscal Europeu foi assinado em Março de 2012. Por vezes, sobretudo quando conveniente, a emergência financeira é esquecida. Enfim, todo este processo de normalização por anestesia serve apenas para nos habituarmos à ideia do fim da soberania Nacional, para a termos como banal. Para meu profundo desagrado, está a resultar.

Opto então por comentar outro assunto. Prefiro as boas notícias. Preparados? Aqui vai: faltam apenas 28 dias para terminar o mandato do actual Presidente da República! É ou não é uma boa noticia? É excelente! Mas há mais. Há pelo menos mais uma boa noticia: Antecedendo o instante da sentida despedida, será apresentada a mais recente e valiosa peça do acervo do Museu da Presidência da República, mais uma maravilhosa pintura para a Galeria de Retratos Oficiais.

Depois do conservadorismo de artistas como Columbano Bordalo Pinheiro, Henrique Medina e Eduardo Malta terem feito escola, a tradição foi rompida pela originalidade de Júlio Pomar, logo seguido pelo retrato contemporâneo da autoria de Paula Rego. Sei, de fonte insegura, que o Presidente cessante vai manter esta tendência de ruptura com os cânones do retrato presidencial. Vai inovar. Desta feita, a obra fala por si. O autor permanecerá anónimo, mas o seu mérito é inegável. O quadro caracteriza o retratado tão bem como aos seus concidadãos, aqueles que por voto ou omissão o elegeram tantas vezes. Celebremos.

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