Plástico de Cidadania
Fez ontem 30 anos que faleceu em Paris a escritora Simone de Beauvoir. Por cá, em Lisboa, o partido que se diz inteiro e em bloco, tentou homenagear a prestigiada intelectual, activista política e feminista convicta, mas não conseguiu. Acto falhado. Teria sido bonito, mas fracassou. Não foi uma questão de forma, correcta aliás, foi mesmo o conteúdo. Alguém anda com falta de ideias para temas fracturantes. A proposta é de tal forma oca que muitos duvidaram da sua autenticidade. Os outros, aqueles que acreditaram ser real e verdadeira, choraram. Comoção? Não, gargalhada.
Mas rir faz mal? Negativo! É até muito salutar! Faz bem, especialmente em dias cinzentos e chuvosos. Contudo, o progresso social é sobretudo um processo geracional, nada tem de instantâneo, nem mesmo juntando muita água. Há reivindicações que se tornam absurdas, por vezes ultrapassadas pelos próprios acontecimentos e hábitos. Afogam-se no idealismo. A Lei dos Piropos é disto bom exemplo, não por serem agradáveis, mas simplesmente porque estão em desuso. Nós, os jovens na quinta década de vida, não praticamos o lançamento do piropo. Sem a sua proibição, a nossa descendência nem saberia o que foi essa arte de outrora, entre o elegante elogio e a boçalidade. O pretenso simbolismo falha por falta de quem o contemple.
A proposta de ontem padece do mesmo tipo de excesso de sofisticação progressista, mas têm o seu mérito linguístico. Aponta o problema de género e apresenta uma solução. Porém, preciosismo por preciosismo, pois que o rigor seja imaculado. O documento em causa não é de cartão, é de plástico. Proceda-se em conformidade.
Posted on Abril 15, 2016, in Escárnio e mal-dizer, Ideias para o País and tagged Cidadania, Democracia, Humor, Politica, Portugal, Revolução. Bookmark the permalink. 1 Comentário.
Salutar gargalhada essa do “plástico de cidadania” (ou será “cidadania de plástico”?)