Category Archives: Ideias para o Mundo

Peru Recheado

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É por terras do antigo império Otomano que hoje o mundo concentra atenções. Os órgãos de comunicação social não investem, como noutros tempos, nos chamados enviados especiais mas para compensar os espectadores, brindam os mais interessados com um vasto e diversificado naipe de comentadores. Graças a eles, sinal dos tempos, nada nos escapa.

Vamos ao relato, apenas os factos, nada de complicado. Os protagonistas são aviões, turcos e russos. Ao russo, um Sukhoi Su 24, ainda que repetidamente lhe chamem “caça”, é bombardeiro, supersónico é certo, mas já com mais de três décadas no activo. O turco esse sim, um caça, igual aos que por cá temos, um General Dynamics F 16 Fighting Falcon.

Feitas as apresentações, a ocorrência. O avião russo violou o espaço aéreo turco, e após repetidos avisos, foi abatido. É assim, quem brinca com o fogo queima-se. Coerência? Nem por isso, os gregos que o digam, mas adiante. Neste enredo não há anjinhos. Crispação e diz que disse, ou não disse, esgrimem-se argumentos nos palcos habituais: Nas agências noticiosas e até nas Nações Unidas. Cada qual apresenta factos e provas, pois claro. A Rússia ameaça com consequências, a Turquia defende-se com a violação do seu espaço aéreo e com os múltiplos e ignorados avisos.

Face a todos estes factos, a todas estas comunicações e justificações, questiono como será possível que nenhum dos sempre esclarecidos comentadores tenha ainda colocado esta singela questão:

Se o avião russo apenas voou 17 segundos em espaço aéreo turco, como foi possível alerta-lo durante 5 minutos?

Austin Powers

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Parece uma paródia aos enredos dos filmes com agentes secretos, mas na verdade a galhofa é outra. Chama-se Libra. Quer dizer, chama-se soberania e dela nunca os Britânicos abdicaram. Os bifes sabem da poda, são experimentados na coisa. Soberania é com eles, seja para subjugar a dos outros, seja para garantir a deles. Mesmo quando perderam, tiveram sempre engenho e arte para salvaguardar qualquer coisinha. Goste-se ou não, o velho império britânico marcou tanto a história que ainda hoje faz parte do nosso presente. A Commonwealth aí está para o provar.

Repugna-me a subserviência, pelo que também não clamo pela velha aliança, mas confesso que me soa bem este “Yeah baby”. Aquilo que manifestamente me agrada é o exemplo, mesmo quando parece bluff, mesmo quando nem sequer simpatizo com o actual inquilino do nº 10, o Austin Powers. Entre os seus, há quem diga: “É só isso?“. Não sendo tudo, é infinitamente mais que o nada que os países ex-soberanos se atrevem a exigir.

Do outro lado, isto é, deste lado, do lado dos subjugados à soberba de quem manda sem ser eleito, nada. Nem piam. Não me refiro aos nossos, pois estão ocupados, entretidos com as emoções do momento. Uns babam com o entusiasmo de chegarem ao pote, enquanto os outros espumam de raiva por o terem perdido. O mundo que se lixe, pois claro. Acho muito bem! Relevante é o silêncio da prepotência que governa a União Europeia, seja lá isso o que isso for hoje em dia. Tudo quanto se ouve é um apropriado, mas irrelevante “Oh… behave”.

Yeah-Baby

TTIP – Chega de Notícias!

Como consumidor televisivo compulsivo que sou, sobretudo durante dias de mau tempo, estou profundamente indignado. Julgo merecer melhor serviço informativo. Pelo menos mais diversificado, menos repetitivo. A guerra pelas audiências provoca muitas vezes a exaustão de temas. Os exemplos dos incêndios no Verão ou mais recentemente das migrações de refugiados, ilustram bem a causa da minha revolta. Digamos que cansa. Deixa de ser notícia para passar a ser castigo. Muitas vezes me questiono qual terá sido a travessura que fizemos para merecer tal punição. Pior é constatar a ineficácia deste tipo de correctivo. No caso dos incêndios florestais parece que merecemos a advertência ano após ano. Reincidimos, parece.

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Não compreendo no entanto, que mal fizemos nós este ultimo fim-de-semana para merecer este massacre a propósito de uma arruada em Berlim: Telejornais, canais informativos, programas de opinião e comentário não falaram de outra coisa! Foi terrível! Sempre, constantemente, segundo a segundo, repetindo que cerca de um quarto de milhão de pessoas saiu à rua na capital da Alemanha para se manifestar contra o acordo transatlântico TTIP.  Foi no Sabado. Diz quem se manifestou que algo está a ser feito nas nossas costas, que os dirigentes europeus não estão mandatados para fechar tal acordo.

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Mas se nós por cá, bem comportados como sempre, nada temos a opor, por que motivo havemos de ser massacrados com isto? Não teremos nós direito a conhecer mais pormenores sobre a vida privada dos jogadores ou treinadores de futebol nacionais? E na falta de noticias sobre desporto, não existirão factos da nossa política doméstica ainda por noticiar? De tudo isto somos privados devido à monopolização do tempo informativo pela manifestação anti-TTIP. Uma vergonha.

Estamos perante mais um nítido caso de excesso informativo, pois com certeza que o tema é irrelevante… Chega, parem de dar a mesma noticia!

De refugiados a emancipados

Ao cruzar os números da vergonha europeus com os números da vergonha americanos é impossível não ficar completamente indignado com a perpetuação do problema e todo o desperdício de verbas e vidas humanas.

Temos grandes potências mundiais a embarcar em guerras libertadoras que depois abandonam os povos libertados num caos político, militar e social, que os condena ao êxodo ou subjugação às acções de novos grupos organizados que parecem surgir do nada.

Para além da destabilização directa dos países que sofrem intervenção no terreno, criam-se focos de problema nos países circundantes com a pressão inerente ao acolhimento de enormes massas de refugiados. Posteriormente as mesmas potências beligerantes lavam as suas mãos gastando verbas exorbitantes através da ONU na criação de zonas tampão denominadas “campos de refugiados” onde são garantidas as condições mínimas de sobrevivências.

Aparentemente tudo isto é uma máquina muito bem oleada. Certamente que alguém lucrará com o contínuo esforço financeiro inerente à guerra e à sustentabilidade dos campos de refugiados.

Certo é que passaram décadas onde se comprova que existe um ciclo contínuo de miséria humana e destruição de estados soberanos. Talvez porque a guerra noutras paragens, por ideais comuns mas em terras que não as nossas, é desprovida do verdadeiro sentimento de reconstrução e compromisso ad eternum, do deixar de herança às próximas gerações um território e uma sociedade evoluídas. Estas são o tipo de guerras de toca e foge. Basicamente destrutivas e incapacitantes de um pretenso inimigo que acarreta ao mesmo tempo o desamparo e desnorteio por parte dos que residem naquelas paragens.

Julgo que tal como acontece a muitos outros níveis é chegada a altura de repensar como melhor investir estas verbas gastas em guerras ciclícas infrutíferas e no estancar/cuidar de populações em fuga. Do meu ponto de vista deveria ser criado um organismo mundial militar que ao invés de fazer a guerra em territórios alheios permitisse sim capacitar uma população de o fazer de forma autónoma. Formação militar e de engenharia (para a reconstrução), instrução de valores sociais e democráticos, capacidade de resistir a incursões terroristas. Como? Simples. Em casos de ameaças a estados legítimos, através do poderio de força militar, este organismo mundial teria legitimidade para criar um campo logístico no próprio território do país em perigo. A criação do campo de refugiados, da zona tampão fortificada, seria executada no próprio território e não num país vizinho. Um forte de defesa intrasponível, possível devido ao poderio de uma coligação mundial. E dentro desse forte ao invés da população refugiada marinar em desesperança poderia ser instruída e capacitada para a realização autónoma da defesa e reconstrução do seu país.

Com isto transformaríamos refugiados em emancipados capazes de lutar as suas batalhas, ganhar ou perder as suas guerras, mantendo a sua dignidade e o seu orgulho nacionalista. Dispostos a morrer na luta pela sua nação ao invés de pela miragem da salvação do bom acolhimento por parte de países desenvolvidos.

As grandes potências ocidentais já demonstraram ser boas a ganhar guerras mas muito más a criar condições para a manutenção de uma paz e estabilidade duradouras (parece que só funcionou nos territórios onde vivem). Talvez esteja na altura de acreditar que dados os meios adequados também outros povos serão capazes de resolver os seus assuntos de forma definitiva pelas suas próprias mãos.

keep calm and get ready for war