Je ne suis pas…
Não, não sou Charlie Hebdo. Desconheço até o conteúdo da publicação, dita informativa. Independentemente do seu conteúdo, julgo que não devem existir quaisquer limites à forma de expressão. Verdadeira liberdade é a escolha pessoal. Cada um de nós terá o seu limite, a sua fronteira sobre o que é ou não alvo legitimo de sátira ou de ridicularização humorística.
Conheço França francamente mal. Não visito Paris desde o século passado, mas já então era perceptível que as opções urbanísticas estavam a promover uma verdadeira bomba-relógio social. Os tumultos de 2009 não me surpreenderam de todo. Vi, e vivi, a atitude de um certo xenofobismo gaulês, mas também vi, e vivi a atitude de desafio e desprezo pelas normas por parte dos ditos magrebinos. Senti, que se por um lado são excluídos, por outro, eles próprios fazem gala dessa exclusão. São estrangeiros no local de nascença, bem como nos países de origem das suas famílias. Muitos chegaram à idade adulta sem nunca terem vivido o sentimento de pertença. Perante uma causa que os acolhe e valoriza, terão então finalmente um propósito. O objectivo não foi a “vingança do profeta” em si, mas sim o impacto que o “feito” tem junto de quem os acolheu. Tal como nós, não compreendem quando são instrumentalizados. Meras ferramentas de objectivos maiores, que na verdade poderão ser contrários à moral abraçada. Duvido que algum seja capturado com vida. O seu eterno silêncio interessa a todas as partes, principalmente aos promotores do seu treino militar.
Dizem-nos que é terrorismo, mas parece-me guerra. Haverá diferença? Bem, barbárie é barbárie, seja qual for o rotulo que lhe colocarmos. Então porquê o preciosismo com o rotulo a aplicar ao que se está a passar em França? É uma questão de comunicação – A guerra é mais difícil de explicar a um ocidental, enquanto o terrorismo é algo que se auto-explica: São fanáticos, são loucos e basta. A diferença, a intolerância, o desprezo pela nossa liberdade são alguns dos adornos e adendas ao conceito de extremismo, ele próprio generoso na abrangência, mas por isso mesmo desprovido de precisão. Dá para tudo, mas nunca para qualificar nenhuma das acções ocidentais no mundo, recentes ou antigas. Extremismo é sobretudo uma questão de perspectiva.
E nós, os livres, tolerantes e equilibrados ocidentais? Não será estranha a leviandade com que abraçamos as causas digitais? Não será incómoda a facilidade com que aceitamos as explicações que nos são vendidas?
Na minha opinião, foi uma operação de guerra, idêntica às que ocorrem como rotina na Síria, Ucrânia, Colômbia ou em qualquer outro local do mundo. Com a agravante de na verdade não sabermos quem nos atacou. Qualquer objectivo de retaliação será por isso desprositado.
Posted on Janeiro 9, 2015, in Teorias da Conspiração and tagged Cidadania, Educação, Europa, Politica. Bookmark the permalink. 2 comentários.
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Imaginemos, em Marte…, um país, onde a maioria não é cristã, que existe um jornal que se diverte a ridicularizar o profeta Jesus, dizendo que ele era filho de pai incógnito, que se dava com prostitutas, que durante, pelo menos 3 anos, não trabalhou e viveu sempre à conta, que … Imaginemos, ainda, que um cristão, residente nesse país marciano, sentindo-se insultado nas suas crenças resolvia ir protestar violentamente. Qual seria a reacção do mundo cristão: apoiava-o, porque não são coisas com que se brinque ou condenava-o porque estava a violar a liberdade de expressão dos jornalistas marcianos? Palavra que gostava de saber…