Novas oportunidades ou os cinco minutos de fama.

Numa das minhas incursões desastradas a um centro comercial, dou por mim estarrecido e estupefacto ao ver uma dezena e meia… talvez mais, de senhoras entre os quinze e os cinquenta anos, avolumadas junto a uma loja, estranho ver uma quantidade significativa de pessoas generosamente alinhadas e perfiladas, como se de algo estivessem á espera.

Primeiramente, numa veloz fracção de segundo pensei… Mais uma promoção daquelas que o marketing fez o favor de preparar e bem, ou os resultados não estariam á vista, mas aquela visão de relance fez-me fixar algo de estranho, mas comum a todas as presentes.

Tinham realmente mais que um pressuposto que as unia, sem com certeza se terem cruzado na vida antes, tinham um adereço comum, muito provavelmente prévia e cautelosamente preparado, todas empunhavam um curriculum vitae.

Estava portanto a assistir a poucos metros, a uma sessão no mínimo sui generis, pondo simples desempregadas á merce de penetrantes olhares indiscretos, simultaneamente com empregadores sujeitos a comentários algo desenquadrados.

Senti-me ali como um condutor viajando por uma qualquer autoestrada, que se depara com um aglomerado desajustado de peões imóveis, quando deveriam todos estar em circulação, mesmo que com velocidades díspares, mercê do objectivo final da viagem, ver montras para ocupar o tempo ou analisar o produto para depois o adquirir.

Parei por uns instantes, com a finalidade de, como uma máquina, fazer parar o tempo e ter a certeza do que estava a presenciar, efectivamente estas humildes criaturas, algumas com um olhar tão incrédulo quanto o meu, sentindo-se invadidas pelas expressões de quem tinham de se desviar, formavam uma fila em volta de um daqueles sofás utilizados para ver quem passa, saborear o gelado que se comprou numa área de serviço da mesma via rápida, ou tão somente, esperar alguém que foi numa rapidinha fazer uma compra.

Mantinham uma distancia, sem que precisassem de nenhum dístico dizendo, “aguarde aqui a sua vez”, era mais ao estilo de barreira psicológica, para não interferir com a actividade nem perturbar as já mais que pasmadas candidatas.

Faziam-se ali mesmo, no sofá do meio da avenida, entrevistas de emprego, num ambiente cosmopolita pois então, que isto do desemprego é mesmo uma oportunidade, permitindo aos candidatos conhecerem métodos inovadores, oferecendo-lhes de imediato a preparação para as condições de trabalho sobre pressão, começando desde o primeiro minuto de contacto com uma eventual entidade patronal a perceber que nos dias de hoje, tudo corre ao minuto e á vista de todos.

Entendo que desta forma a entrevistadora se aperceba imediatamente das mais valias da candidata, ou não fosse a função pretendida a de empregada de balcão, daí talvez esta primeira forma de abordagem, confrontando estas pessoas com uma exposição mediática ao primeiro momento, permitindo-lhes assim os tais “cinco minutos de fama”.

A isto podem também chamar de empreendedorismo, pois inovar é preciso e emprego é coisa que hoje em dia faz efectivamente, falta a muita gente.

Contrariando todas as práticas de seleção e métodos de entrevistas, de quem se quer concentrado no que vai dizer e atenção de quem está a ouvir, podendo mesmo por em causa ambas as partes, o candidato por nervosismo e o empregador por má análise, eventualmente perdendo quer uma, quer outra, uma fulcral parceria lucrativa.

A sociedade gestora daquele centro comercial, que certamente controlará até ao mais ínfimo pormenor toda a logística e operacionalidade das lojas, deve ser felicitada por apoiar tamanho evento, pois deu o seu contributo para a dinamização da economia local, não tendo cobrado, penso eu, aluguer do espaço.

Posted on Maio 30, 2012, in Geração "à rasca", Teorias da Conspiração and tagged , , , . Bookmark the permalink. Deixe um comentário.

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