O Tempo da Denise
Paulo Portas desertou, vai dedicar-se aos negócios e reúne elogios lá fora, nos negócios estrangeiros, pasta conseguida após várias tentativas governativas.
Segue-lhe Assunção Denise Cristas, lufada de ar fresco e mudança, dizem, porque é mulher! Como se a condição de género fosse por si só etiqueta de qualidade! Mantém-se tudo, incluindo a condição de irrevogável, não se tivesse demitido Assunção Denise Cristas juntamente com Mota Cocas Soares na sequência da birrinha de Paulo Portas, para depois ter voltado atrás.
Assunção Denise Cristas é, ao contrário do que uma aparente mudança de visual para melhor possa parecer, a continuidade, uma mudança na embalagem mas com o mesmo conteúdo. Cristas incorpora toda a condição de classe do CDS. Mãe enquanto ministra, família numerosa, passou uma imagem paternalista enquanto ministra, foi vista junto dos pescadores e agricultores, a pisar a uva, com as mãos na terra e no trabalho duro.
Tem no entanto a enormíssima responsabilidade politica da actual lei das rendas, e de ter transformado o mau em péssimo. Foi uma das suas primeiras obras , e a Grande Obra, enquanto ministra. Era, na altura urgente, mexer o mais rapidamente possível numa das lei mais odiadas pelas burguesia urbana proprietária em Portugal. A Lei das Rendas anterior era injusta e responsável por muitos prédios devolutos. A Lei das Rendas actual é responsável por prédios vazios e pelo ainda maior esvaziamento do centro da cidade. Os custos sociais desta lei ainda estão por apurar, mas aqui e ali vamos vendo o seu resultado. Na baixa lisboeta e por outras partes da cidade, a vida difícil dos comerciantes, tornou-se impossível de continuar mediante acções de despejo. Fecha loja abre hotel. Fecha loja abre grupo franshizado. Fecha cultura, fecha pedaço identitário de todos nós, abre espaço homogéneo em todo o mundo: Mac Gordo, Gelados XPTO, Hamburgueria da Tia, Trapos Daqui, Cueca Dali… E assim se faz o turismo, que Portugal está na moda, os portugueses é que não! E dos prédios arrendados, exército de gente que saiu, para a terra, para o subúrbio a 30 quilómetros…
Não será porém isso que lhe criará mácula. Existem feridas que são ignoradas em Portugal, e não sendo faladas, não tendo visibilidade suficiente na comunicação social, é como senão existissem.
Mota Cocas Soares, outro actor do governo CDS, é também rosto que fica responsável por esta nova era, assim como Nuno Melo, depois da saída sempre estratégica do mestre Portas.
A pastinha de Mota Cocas Soares não poderia ter sido melhor: Trabalho e Segurança Social. Em período de crise, de desemprego e de insegurança social, Mota Cocas Soares tinha a pasta da impossível ajuda social e da ferramenta de combate às desigualdades. Mas ele não se atrapalhou, tornou tudo ainda pior e subsidiou salários através da Segurança Social, praticamente criminalizou o desemprego com as presenças regulares nas juntas de freguesia, e juntamente com a retirada de apoio a milhares de desempregados, e o apoio a tantos outros empregados, ajudou os patrões a empregarem por um lado e a desempregarem por outro.
Acho portanto que estão ambos preparados para esta empreitada de oposição a um governo PS apoiado nas esquerdas radicais. Experientes nas trocas e baldrocas, vão-se mostrar daqui para a frente dispostos a tudo para minorar os danos colaterais que essas esquerdas radicais possam causar, estando ao serviço da Nação para facilitar a vidinha ao Costa “naquelas coisas” em que essas tais forças de esquerda radicais teimam em ser desagradáveis e pouco flexíveis.
Posted on Março 17, 2016, in Escárnio e mal-dizer. Bookmark the permalink. Deixe um comentário.
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