De “Made in China” a “Own by China”
Natal que é Natal não passa sem o facilitismo / pechincha da aquisição de qualquer coisa Made in China. A China há muito que é considerada a fábrica do mundo com o seu atractivo baixo custo numerário em detrimento de um alto custo social e humano. Felizmente, nos tempos mais recentes, as coisas têm vindo a melhorar graças a ONGs que denunciam e pressionam governos, marcas e fabricantes.
Só que o mundo está a mudar rapidamente e os eventos sucedem-se, ou conhecem-se, de forma impressionante. A China, anteriormente vista como um sistema fechado, virado para dentro, encontra-se há algum tempo em expansão contínua de forma subtil. Conquistadora de recursos naturais, marcadora de terreno político, construtora de armas dissuasoras, prepara-se para o assumir de um papel mais activo e preponderante a nível mundial.
Por cá os investimentos sucedem-se, nas ruas vencem claramente o jogo do monopólio da vida real. É impressionante a densidade de lojas chinesas, em detrimento dos pequenos comerciantes que desaparecem em catadupa. A ideia generalizada é a de que a concorrência e as leis do mercado assim o ditam. Os clientes querem barato sendo o preço o seu principal factor de escolha. As lojas chinesas conseguiram criar uma imagem de marca do ter tudo barato a qualidade aceitável captando com isso a preferência de muitos portugueses que fazem compras na onda do desenrasca.
No entanto é ténue a fronteira entre uma imagem e uma ilusão. Senti-o na pele ao comprar uma panela de tamanho XL. Desloquei-me à loja chinesa mais perto, encontrei uma a 20 € e comprei-a sem pensar muito nisso. Na semana seguinte passo num hipermercado e a mesma panela lá estava por 9,99 €! Posteriormente acompanhei colegas a lojas do chinês, com olhar atento, reparando que os preços das roupas estão ao nível das lojas de marcas mais conhecidas dos centros comerciais. Com notória menor qualidade!
Especulo que depois da extinção da concorrência começam a confortavelmente dominar a distribuição local pelo que, beneficiando de diminuição, ou aniquilação, de concorrência, de uma percepção global de qualidade qb e barato, podem agora começar a subir preços testando o limite do suportável pelo cliente. Sendo Portugal hoje em dia considerado por muitas marcas e entidades um laboratório de teste a novos produtos, novas políticas, novas metodologias, temo que também aqui estejamos a ser um bom laboratório de uma ‘invasão’ comercial. Não temos por cá uma típica Chinatown, como acontece noutros países, mas começamos a ser um imenso Chinamarket, acelerador da destruição dos pequenos estabelecimentos de comércio local especializado.
Podemos por exemplo olhar para a nossa tão querida Angola, a fim de um rápido balanço entre o ying e o yang e ponderar que tipo e intensidade de relação queremos com uma futuramente muito mais poderosa China. Porque quanto mais Own by China sejamos menos margem de manobra teremos para qualquer tipo de negociação relativamente a política externa e economia interna.
Como agravante temos ainda o facto dos nossos decisores políticos serem famosos por pensar a um nível de profundidade equivalente ao do seu umbigo, sendo presa fácil para os decisores chineses que são de tal forma estrategos e visionários, em defesa dos seus interesses, que se apossaram até do substantivo “paciência”.
Pré-aviso de que não bastará uma certa serenidade espiritual para os convencer das nossas boas intenções.
Posted on Dezembro 14, 2014, in Teorias da Conspiração and tagged Economia. Bookmark the permalink. 2 comentários.
Difamar a bandeira é crime pah…
Mas sim, de facto quem são os nossos parceiros comerciais diz muito da nossa política externa e do nosso capital político depois para futuras negociações para parcerias económicas quer externas quer internas! Se bem que chamarmos Angola de querida nos tem manchado o nosso bom nome na praça internacional… e nos trará num futuro próximo alguns amargos dissabores internos, se é que eles já não estão a aparecer.
Concordo inteiramente com a ultima parte, é mesmo isso, o ocidente (e nós então portugueses nem se fala) e a China pensam de maneiras muito diferentes e não creio que os compreendamos muito bem. Creio que pensarmos no lucro fácil e no curto prazo nos pode sair caro, porque a China tem pensado no investimento em parcerias e numa perspectiva e mais médio/longo prazo e o longo prazo chegou agora!
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