Reconhecimento aos políticos de alta-competição

Num momento em que Portugal se orgulha com os feitos atléticos de alguns desportistas portugueses pareceu-me oportuno relembrar que existem louvores a reconhecer noutras áreas de actividade, particularmente na política de alta competição. Tal como os atletas de alta competição muitos dos políticos dedicam-se à sua causa com sacrifício social, familiar e pessoal. Pertencer às Jotas, servir os aparelhos, é deveras exigente, apesar de a longo prazo poder ser recompensador. Às vezes é preciso descurar os estudos para dar resposta às solicitações dos grandes barões que dominam as portas de entrada e de saída da ribalta. Tal como no desporto milhares o tentam mas apenas alguns demonstram o empenho e talento necessário para exercer continuamente a sofrida actividade política. Isto pode ser demonstrado rapidamente com algumas analogias.

Michelle Brito comenta vitória históricaMichelle Larcher de Brito, os seus pais emigraram quando tinha apenas 9 anos para que pudesse obter a melhor formação possível como tenista de alta competição. É conhecida pelos gritos que solta ao aplicar a sua força e concentração no batimento da bola. Michelle beneficiou claramente dos conselhos dados por este governo. Uma vida de emigrante foi a garantia do seu sucesso.

Muitos políticos assumem cargos governativos e devido à sua falta de experiência, ou capacidade, exercem as suas funções de uma forma que origina nas ruas gritos similares na maioria da população portuguesa. Acabam por ser forçados a demitir-se. Os mais jovens emigram para melhorar a sua formação em política e governação. Voltam melhores e mais fortes para cargos que lhes conferem ainda mais poder onde a tradicional cortiça das instalações os isola dos gritos das ruas passando a ouvir apenas os seus vitoriosos “UHU! Voltei e ganhei!”.

João Garcia, o primeiro português a alcançar o cume das 14 montanhas mais altas do Mundo João Garcia demonstrou que os portugueses têm capacidade de adaptação a ambientes gélidos e austeros conquistando o cume de 14  das maiores montanhas do mundo. Perdeu nesse feito parte do nariz e cerca de oito falanges das mãos, ficando apenas intactos os seus polegares.

Actualmente os nossos políticos debatem-se com a frieza dos números e o ambiente criado pelas políticas de austeridade. Também eles tentam escalar os obstáculos colocados pela enorme montanha que é a pirâmide etária Portuguesa. Felizmente não necessitam de se limitar ao uso dos comuns equipamentos de escalada. Têm a capacidade de inovar e  aplicam doses certas de desincentivo à natalidade, aumento de desemprego nas camadas jovens, baixa de salários, incentivo à emigração e cortes na saúde e apoio social. Estão assim a conseguir moldar a pirâmide etária por forma a que esta se transforme numa confortável e sustentável escadaria. Isto sem perda de falanges, talvez uns quantos anéis, utilizando apenas os polegares para dizer que está tudo bem ao longo do caminho. Ao fazê-lo é também normal perderem a sua cara. Felizmente os grandes políticos desenvolvem várias faces pelo que o sacrifício é apenas momentâneo e em breve nova face estará pronta para voltar a ser dada e aceite.

Portugal consegue duas medalhas e nove finais nos Europeus juniores de canoagemNa canoagem os portugueses estão a dar cartas demonstrando a sua capacidade inata para navegar águas turbulentas com remadas rápidas, seguras e esforçadas.

Os políticos portugueses há décadas que tentam manter Portugal à tona, estimulando a população a remar, remar, remar enquanto eles tentam pensar, pensar, pensar. O barco está sempre a meter água mas até ver o engenho das braçadeiras políticas e financeiras tem permitido iludir a população de que o seu esforço vale a pena e de que é essencial dar folga aos pensadores.

A Death Valley ultra-marathonMais recentemente Carlos Sá realizou um grande feito ao vencer a ultramaratona de Badwater. Um feito enorme! Aparentemente fora do alcance para um normal ser humano. Contudo ele acreditou e esgotando todos os seus recursos físicos atingiu o fim a que se propôs. Tudo isto só foi possível devido ao apoio de uma equipa médica pronta para lhe garantir a sofrida recuperação física já que no final da prova o seu organismo estava tão esgotado que rejeitava a ingestão de alimentos. A morte seria certa.

Também o Portugal democrático fez uma ultramaratona espantosa melhorando meteoricamente em praticamente todos os indicadores que definem um país desenvolvido. Claro que esgotámos recursos acima da nossa capacidade produtiva mas neste momento estamos a ter o merecido apoio da Troika com vista à nossa recuperação. Se os nossos esforçados políticos conseguirem cumprir a receita médica certamente que um dia estaremos prontos para nova ultramaratona. Diz que dói e que é sofrível mas o que arde cura!

Para finalizar, tal como para a maioria dos atletas de alta competição, existem ciclos de preparação de 4 anos para as provas decisivas que garantem os louros do pódio. Nesse período há que gerir esforços, timings, solicitações e opções para melhoria de rendimento. O stress físico e psicológico é uma constante até ao dia em que é feita a contagem de votos e um novo ciclo se inicia.

A principal diferença para com o desporto é que infelizmente na política só interessa quem ganha e mesmo assim muito poucos querem participar.

Contagem dos votos… no AVENTAR

About Nuno Faria

Nascido em 1977, informático por formação, vegano por convicção, permacultor por transformação. Desde cedo que observo e escuto atentamente, remoo pensamento até por fim verbalizar a minha opinião e entendimento, integrando o que faz sentido do que é argumentado por quem de mim discorda. Não sei como aconteceu mas quando dei por mim escrevia sobre temas polémicos, tentando encontrar e percorrer o tão difícil caminho do meio, procurando fomentar o pensamento crítico, o livre-arbítrio e a abertura de coração e consciência. Partilho o que ressoa procurando encorajar e propagar a transmissão de informação pertinente e valores construtivos e compassivos.

Posted on Julho 24, 2013, in Ideias para o País. Bookmark the permalink. 2 comentários.

  1. Gostei. É Pertinente a analogia. Plena de sentido de humor. Ocorre-me uma excepção, a eventual confirmação da regra, saga do Álvaro. Foi, cresceu e melhorou, voltou mas não triunfou. Foi sabotado, ou não tinha mesmo fibra de campeão?

  2. Rui Moura da Silva

    Gostei. Os atletas de alta competição trabalham e sacrificam-se para alcançar as vitórias para a satisfação de todos. Os políticos “trabalham e sacrificam-se” pelos barões para a sua satisfação e destruição dos restantes.

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